[71] De Volta Aos Mares
Após receber as vigas de madeira, grande parte da estrutura do Luna já estava começando a ser refeita. Com a ajuda do primo, Jungwon registrava cada parte que era modificada, em seu próprio diário de bordo.
Cada página continha uma imagem ilustrando como tudo começou, ou melhor, recomeçou. Ele fez questão de deixar registrado toda a ajuda que recebia, para que todos que um dia tivessem acesso àquele diário, soubessem daqueles que estavam ao seu lado desde sempre.
— Tenho que pagar o restante pro Doug — Jungwon comentou. — Ele disse que iria pro Black Swan, mas esperei ontem o dia todo e ele não apareceu. Pelo visto deve ter esquecido.
— É aquele rapaz da madeireira? — Sven perguntou.
Estavam eles dois, Dahyun, Arata e Hyun ocupando uma das mesas da taberna onde Yue conseguira um trabalho, por intermédio do Representante. A Beta serviu algumas bebidas para o grupo, suco para o pequeno Ômega, obviamente.
— Ele mesmo. — Jungwon respondeu, fechando o livro. — Você o viu?
— Sim. — Sven trocou olhares risonhos com Arata. O Ômega estava consigo quando o curioso fato ocorreu. — O Lian quase mordeu ele.
— Oh, Deus…
— Ele cheira a sândalo e eu nunca tinha notado o aroma dele antes. — Arata disse. — Se o rut está próximo é melhor que procure os médicos.
— Ele vai fazer isso. Voltarei ao navio para me certificar. Esses Alfas parece que tem a cabeça de vento — Jungwon ignorou o olhar indignado de Sven. — Vem comigo, Hyun?
O mais novo assentiu, e seguiu com o lúpus até a madeireira, onde acertaram com Doug o restante do pagamento. Posteriormente, ambos retornaram para o Black Swan.
Absolutamente todos os compartimentos do navio estavam com um odor intenso de sândalo, até mesmo pelo convés, embora não muito. Assim como Arata, quem nunca havia notado aquele aroma antes, dessa vez com certeza não passaria batido.
O Ômega mais jovem, pelo fato de nunca ter passado pelo heat, não era capaz de identificar a diferença. Assim como Sarah e Eunji, que ainda não experimentaram o seu primeiro rut. As crianças seguiam pelo navio imperturbáveis ao cio de qualquer Alfa ou Ômega, tal como aqueles que já haviam sido marcados.
Por este motivo, assim que pisou no convés do navio, Jungwon percebeu que Jackson sequer havia sentido a intensidade dos feromônios do jovem Alfa. Ao contrário dele, que sentia todas as células do seu corpo sendo atraídas para o andar inferior da embarcação, onde Lian se encontrava.
— Oi Jack…
— Tudo certo com o Luna?
— Sim. Estamos indo muito bem com os reparos.
— Ótimo — o Alfa sorriu para ele. — Quero vê-lo navegando outra vez.
— Espero conseguir ser digno.
— Eu não conseguiria imaginar ele sendo capitaneado por outros. Ele passou todo esse tempo no fundo do oceano, esperando por alguém digno, e encontrou.
— Você é fofo e gentil às vezes, sabia?
Jackson ergueu as sobrancelhas, sentindo-se meio encabulado. Poucos conseguiam fazê-lo remover a máscara de cavalo arisco, que dá coices em todo mundo. Apenas Jisung, seus gêmeos, e até mesmo Jungwon conseguiam presenciar com mais frequência aqueles momentos.
A fim de mudar a situação, Jackson buscou por algo à sua volta, pelo chão. Quando encontrou, lançou o objeto achado na direção do Ômega.
— Ai! — Era uma escova usada para polir os canhões. — Retiro o que disse.
— Hum… — Tentou manter-se sério, mas acabou rindo. Jungwon também.
Todas as vezes em que o Alfa reclamar da “selvageria” da filha, Jungwon pretendia lembrá-lo de que ela era uma cópia exata da personalidade dele.
O aroma de Lian estava mais acentuado, até mesmo no pavimento superior. O Ômega observou Jackson, que ainda permanecia alheio àquela mudança.
— Jack, tem um Alfa no rut aqui no navio…
— E eu com isso? — Não importunando seu pequeno Hyun, o Alfa não estava muito interessado em saber. — Não é da minha conta.
— Acontece que se você pudesse sentir o aroma dele, do jeito que estou sentindo agora, seria sim, muito da sua conta…
— Então é melhor você ficar longe dele — Jackson o fitou com um olhar atento.
— Não é disso que estou falando. Não corro perigo. O fato é que… — Ele respirou fundo, antes de continuar: — Hoje, o Black Swan inteiro está cheirando a sândalo. Isso te remete a alguma coisa?
O olhar do Alfa ficou preso em Jungwon. Enquanto o encarava fixamente seus pensamentos estavam longe, evidentemente focando em uma única pessoa, a primeira que chegou a sua mente de imediato.
Sândalo era o aroma daquela que o colocava para dormir todas as noites, e contava histórias envolvendo lutas de espadas. Que o envolvia em seus braços em meio às tempestades, sempre que o pequeno Jackson ficava preocupado com a segurança de seu pai, em alto mar.
Era o aroma daquela que nunca temeu a ninguém. A valente florista, destemida e grosseiramente sincera, que conquistou o coração de um forte Ômega lúpus. A sogra de Jisung, avó dos pequenos Hyun e Sarah, que recebeu seu nome como homenagem. A Alfa do lendário Capitão Francis Bonny, e mãe de Jackson.
— Não pode ser… — o mais velho murmurou, após um tempo.
— Eu a senti, Jack. Quando soube que o amava.
— Quem? — Ele franziu o cenho.
Jackson teve contato com Jay constantemente, e sabia que o aroma do Alfa era de amêndoas. Mas era com ele que Jungwon se relacionava… A mente do Alfa trabalhava em diversas suposições ao mesmo tempo.
— Promete que não vai se afobar e chegar nele? Ele nem sabe também…
— Eu fiz isso com você?
— Tem razão… Eu só não quero que ele fique assustado, é muita informação.
— O nome, Jungwon.
— Lian. — Informou, assim que o outro insistiu. — Zhang Lian, pra ser mais exato.
Jackson abriu a boca, com as sobrancelhas franzidas, lembrando-se de que o único episódio em que mais percebeu a presença dele, foi quando Jungwon se sacrificou para salvar sua vida. Ainda assim, o momento foi tão grave, que ele só pensou em buscar pela flor de tulipa, e trazer o Ômega de volta.
— Você nunca percebeu o cheiro da sua mãe pelo navio, Jack? Francamente…
— Eu não saio cheirando os Alfas da tripulação. — Parecia uma resposta muito malcriada, mas era a única verdade.
Jungwon é filho dos capitães, sobrinho de seu Ômega, por isso ele teve um contato muito maior com o mesmo. Lian, por sua vez, estava mais preocupado em ficar perto de Jungwon e Jay, e em não ser executado.
Eram tantos piratas o encarando de maneira hostil, que acabaram todos parecendo muito iguais, para si. Abaixo dos capitães e contramestres, ninguém mais estava em maior evidência.
— Você disse que o ama.
Só então Jungwon percebeu a informação que havia soltado sem querer. Agora não tinha como voltar.
— Por favor, ninguém pode saber ainda. Não, até que seja seguro meu pai não morrer do coração…
— Que coisa — Jackson começou a rir.
— Para com isso, não tem graça. Ele realmente pode morrer, sabia?
— Não estou rindo disso — o Alfa havia se lembrando de como Sarah havia deixado este mundo. A tristeza de ter sentido pela marca a perda repentina e violenta de seu Ômega, a fez definhar até que sucumbiu. Agora não encontrou apenas Jungwon, mas também outro Alfa. Jackson estava rindo porque sentiu-se feliz, de certo modo. — Deixa pra lá… E não se preocupe, vou fingir que não sei dessa informação.
— Obrigado. — Jungwon suspirou aliviado. — Ele se vê apenas como Lian. É como ele realmente é e espero muito que continue assim.
— Ele já tomou o chá?
— Foi por isso que voltei mais cedo. Esqueci completamente…
Jungwon girou e desceu as escadas correndo, ignorando os chamados de Jackson. O fato dele ser um Ômega poderia facilmente intensificar a situação. Sem falar que, se o rut do Alfa fizesse Jungwon entrar no heat, por consequência, cabeças iriam rolar.
Bateu na porta onde Lian voltou a dividir com Jay e Taesung, desde que Yue deixou o navio para viver em Nabuco. Antes mesmo de abrir, ele podia sentir a febre do lobo Alfa do outro lado.
— Pode entrar… — até mesmo a voz de Lian estava diferente, mais marcante.
Assim que Jungwon abriu a porta e entrou no quarto, encontrou o Alfa sozinho deitado na cama. Estava com os olhos fechados, respirando profundamente, sem camisa e com suor cobrindo seu corpo.
— Você ainda não tomou o chá, seu doido?
— Tomei…. há pelo menos meia hora.
— Então já era pra ter funcionado. — O Ômega tocou a testa dele e assustou-se com a temperatura. Lian estava muito quente. — Deixa eu ventilar isso aqui.
Enquanto se manteve de costas, tentando abrir a janela emperrada pela oxidação, Jungwon não percebeu o Alfa levantar-se da cama silenciosamente.
— Por que fazer manutenção nessas janelas, não é mesmo? — O Ômega resmungou sozinho, quase quebrando o vidro com um soco. — Que ódio!
Pousou a mão no cabo da pistola, muito tentado a dar um tiro naquela vigia emperrada, mas parou assim que se deu conta que estava silencioso demais.
Virou-se devagar, tendo a visão do Alfa em pé e de frente para si, entre ele e a porta. Lian não tirou os olhos dele quando levou a mão para trás e fechou a porta.
— O que você tá fazendo?
O Alfa não teve pressa para responder. Antes disso, admirou o corpo dele de cima a baixo, deleitando-se, com longo suspiro, aquele tentador aroma do lobo Ômega.
— Nos dando mais privacidade — o Alfa ergueu a vista devagar e parou encarando os olhos de Jungwon.
O Ômega desviou a atenção no mesmo instante. Olhou para o chão, em seguida para a cama e depois para o Alfa novamente, o qual abriu um sorriso com os lábios ainda unidos, ou seja, sem exibir os dentes.
— Talvez seja melhor que eu vá embora… — Jungwon olhou para a porta atrás dele, depois para ele quando o mesmo passou a se aproximar.
— Você acha? — Lian parou diante dele. Tão perto que não havia nenhum centímetro de distância entre os dois.
Peito contra peito, Jungwon curvou o corpo para trás, com as mãos apoiadas na cômoda colada às suas costas, abrindo um pouco de distância entre os dois, mas que Lian prontamente fez questão de diminuir, inclinando seu corpo para frente.
O Alfa colocou suas mãos em cima do móvel, ao lado das de Jungwon, com o nariz quase encostado no dele. Lian olhou para a boca do Omega e depois para os olhos. O mais novo fez o mesmo, esperando que juntasse seus lábios.
Mas Lian fechou os olhos e resvalou a ponta do nariz na bochecha dele, descendo devagar até encontrar a linha da mandíbula. Jungwon sabia o que tinha que fazer, mas simplesmente não conseguia. Estava difícil resistir com a boca dele explorando seu pescoço.
Quase 45 minutos após tomar o chá, o motivo de ainda não surtir o efeito esperado foi porque o Alfa não ingeriu o correto, mas um de coloração bastante parecida que Taesung confundiu, quando Lian procurou a enfermaria.
— Isso não é uma boa ideia… — Jungwon murmurou, sentindo as mãos do Alfa subirem pelos quadris, parando na cintura.
O dedo polegar do Alfa movia-se suavemente, para cima e para baixo, por cima do tecido que ansiava arrancar. De repente, o segurou com firmeza e ergueu seu corpo, colocando-o sentado em cima da cômoda.
— Por que? — Estava entre as pernas do Ômega.
— Porque você… — parou de falar durante o tempo em que Lian tocou os lábios dele com o polegar. Quando o Alfa levou a mão até a nuca dele e o aproximou, ele prosseguiu: — Não devia fazer isso.
— Não? — Mal terminou de falar e já sentiu a boca do mais velho roçando a sua. O Ômega não foi muito convincente quando negou com a cabeça. — Então me impeça.
Jungwon teve noção de muitas sensações naquele momento. O coração do Alfa batendo forte contra seu peito, o jeito que o segurava cheio de atitude, o desejo e até mesmo a ereção dele contra seu órgão.
Antes mesmo que ele tentasse dizer mais alguma coisa, Lian o beijou. A língua abriu caminho entre seus lábios macios, explorando a boca com segurança e vontade. Jungwon sentiu seu corpo reagir intensamente aos toques dele, em particular, entre suas pernas. Estava sem fôlego e quase fora de controle.
O aroma de amêndoas que o fez voltar à realidade. A porta nem ao menos estava trancada. Se fosse o Capitão Jeon no lugar de Jay, Lian estaria morto agora mesmo.
— Vocês tem ideia do-... — Foi interrompido pelo dedo de Lian que encostou suavemente em seus lábios.
Jay notou através dos olhos dele cor de âmbar, o rut muito presente e perceptível. Regressou alguns passos conforme o outro Alfa avançava, até que o teve encurralado contra a parede. A mão se moveu e segurou o queixo dele, mantendo-o olhando para si.
— Por que está tenso? — Suas expressões, tão de perto, eram como de um lobo faminto.
O mais novo virou o rosto, tendo o Ômega ainda sentado na cômoda e olhando para ele também. Tentou manter-se firme mesmo com o outro Alfa pressionando o corpo contra o dele, e a boca explorando a região do pescoço.
— Vai na enfermaria — Jay indicou. Lian acreditava que tomou o chá, se estava naquela situação não era exatamente por sua vontade, mas seu lobo tomando o controle do rut. — Eu tô sentindo uma coisa me cutucando e não é o cabo de uma arma…
O Ômega juntou grande determinação para descer do móvel e caminhar para fora do quarto, quando, ao invés, sua vontade era apenas ficar e ser beijado, tocado e tudo mais o que quisessem fazer com ele.
Quando chegou na enfermaria, encontrou o cunhado sentado e com os pés apoiados em uma mesa, balançando a cadeira para trás e para frente. A maioria da tripulação estava pela Ilha, aproveitando a estadia, isso inclui Seokjin e Sungjae.
— Onde está meu tio ou seu pai? — Jungwon perguntou assim que entrou no cômodo.
— Foram ajudar alguns locais — respondeu, distraído com o ramo de alguma flor. — O único médico da Ilha não tá dando conta.
— O chá não fez efeito no Lian. Ele ainda está no rut.
No mesmo instante ouviu-se o estrondo quando a cadeira em que o Alfa estava caiu de costas, indo de encontro ao chão. Taesung se levantou, massageando um dos ombros.
— Ai…
— Ele deve ter bebido alguma coisa errada.
— Impossível. Eu mesmo entreguei a ele — o Alfa pegou o recipiente que ainda estava em cima da mesa, apenas para confirmar. Teve uma surpresa desagradável quando virou o rótulo para si. — Eita…
— Eita o que? O que você deu a ele? — Taesung virou o frasco para ele. Estava escrito “Sálvia”. — Meu Deus… o que a gente faz?
O Alfa deixou o frasco na mesa e seguiu até as prateleiras, onde passou o dedo em diversos recipientes e finalmente escolheu dois. Confirmou o nome escrito no rótulo de um deles: Vitex. Ele abriu e preparou uma dose, adicionando um pouco do que havia na outra substância.
— O que é isso?
— Podemos dizer que vai deixar ele mais calminho… — disse, entregando o conteúdo ao Ômega.
Jungwon não questionou mais do que isso, o mais novo parecia certo do que estava fazendo. Ele apenas deixou a enfermaria esperando que pudesse ajudar o Alfa.
— Seokjin vai me matar… — Taesung refletiu, ergundo a cadeira caída no chão.
Alguns minutos após tomar a verdadeira solução, Lian agarrou-se em sono profundo. O pescoço de Jay tinha a marca superficial de uma mordida, indícios de que o mais velho tentou marcá-lo, mas obviamente não surtiu o efeito esperado.
— Não pensei que ele fosse fazer isso. Meu corpo reagiu ao dele e eu fiquei bem molinho. De repente senti a mordida. — Jay explicou. Jungwon riu. — Vai rindo mesmo…
— Desculpa. É um pouco engraçado e fofo ao mesmo tempo.
— Não entendo porque ele fez isso. Eu não sou Ômega.
— Ele deve ter sentido que você é dele. Quis marcá-lo como dele.
Jay sorriu, observando o mais velho dormindo tranquilamente em sua cama, depois olhou para o Ômega. Com marca ou não, em seu coração sua vida e sua alma pertenciam aqueles dois.
Com a embarcação praticamente vazia, ninguém levou em consideração o que havia acontecido. O rut de Lian foi contido e não chegou aos ouvidos do Capitão Jeon o que ocorreu. Mas Seokjin ficou enfurecido ao saber que seu aprendiz mesclou dois tipos de remédios para consertar um erro.
— Uma dose errada e você poderia ter matado ele! — O Beta exclamou. — O que foi que eu te falei sobre proceder sem a minha supervisão?
— Desculpa…
— Um descuido desse pode custar a vida de uma pessoa!
— Eu sei…
— Não, você não entende isso! Por este motivo eu não queria te ensinar. Você é novo demais pra isso! Onde eu estava com a cabeça?!
Seokjin saiu da enfermaria e caminhou pelo corredor, de um lado para o outro. Sungjae viu seu filho mais novo sentar em uma cadeira, não estava chorando mas parecia quase. Ele deixou o local para conversar com o Beta do lado de fora.
— Jin… — Ele Interveio. — Você não está sendo muito duro com ele?
— Ele precisa entender as complicações do que fez. Você sabe o que pode acontecer quando um aluno age sem a supervisão de seu mestre.
— Então conte a ele. Compartilhe sua experiência. Sei que ele é muito novo e cometeu um erro, mas ele realmente leva isso muito a sério.
Seokjin avaliou e decidiu seguir o conselho do Ômega. Ele retornou à enfermaria, onde encontrou Taesung ainda sentado, refletindo. O Beta puxou uma cadeira e sentou próximo a dele. Sungjae permaneceu no corredor, junto à porta, observando de longe.
— No meu segundo ano da escola de medicina, cometi um erro que custou a vida de uma pessoa gestante e seu bebê — Seokjin foi direto. O Alfa ergueu as sobrancelhas, prestando bastante atenção. — Pensei que já sabia o bastante, e que para aquele procedimento eu não precisava da supervisão de um médico. Era algo simples que custou a vida de ambos. Ainda lembro do rosto dessa pessoa, e do nome que pretendia dar ao bebê.
— Eu sinto muito…
— Você deve tá pensando, nossa, mas já fazem anos… Bom, não é algo simples de esquecer, e eu não quero que você passe por isso.
— Desculpa, Jin. Isso não vai se repetir. Eu prometo.
— Ótimo. — A expressão sombria do Beta se dissipou, Taesung respirou mais aliviado. — Quero que você me escreva um relatório do que fez, e um texto sobre porque não deve fazer isso sem a minha presença ou do seu pai.
— Tá bom.
— Agora.
— Estou indo. — O mais jovem se levantou e deixou o local.
Sungjae sorriu para o filho ao encontrá-lo na saída, e fez o mesmo para Seokjin. Depois, ele examinou Lian para certificar-se de que o Alfa estava bem.
🏴☠️
ALGUNS MESES haviam se passado desde que os reparos na estrutura do Luna haviam se iniciado. As velas foram adicionadas e após mais alguns saques, o navio se encontrava ancorado no porto, ao lado do Black Swan. Embora ainda tivesse poucos canhões, era seguro que ele estava pronto para navegar.
— Ele é gigante — Jungkook o avaliou do embarcadouro. A bandeira ostentava o emblema de uma Lua crescente. — Quem desenhou?
— O Hyun — Jungwon respondeu.
— Ele realmente pegou o sentido da coisa — o Alfa expressou. — Parece que tem uma Lua pairando sobre o navio.
— Ele superou minhas expectativas. Ficou muito lindo.
— De fato.
— Você tem que ver a Lua cheia e sangrenta que ele desenhou, pros ataques mais extremos.
— Falando nisso, você precisa recrutar. Uma bandeira é muito importante, mas o navio não é nada sem a sua tripulação.
— Eu sei, pretendo fazer isso hoje a noite, em todas as tabernas.
— Muito bem. — Jungkook estudou o filho, cheio de entusiasmo, antes de continuar: — Estabeleça suas regras. Talvez leve algum tempo até que você conquiste o respeito de todos, mas deixe claro as condições e punições. Não hesite em mostrar quem manda.
— Farei isso.
Jungkook sorriu para ele. Se fosse possível sentir ainda mais orgulho, pode-se dizer que ele estava transbordando. Eunji e Jungwon, valiam mais do que todo tesouro que conquistou em toda sua vida.
Ainda havia muito a se preparar. Jungwon retornou para o Black Swan, com a intenção de reunir-se com Jay e Lian, mas encontrou Jimin sentado no convés superior, sozinho e quieto. Eram raros os momentos em que o Ômega se isolava. Quando acontecia, era porque o mesmo estava refletindo sobre alguma coisa.
— Algum problema? — Se aproximou do mais velho e sentou ao seu lado.
— Não… — Sorriu para ele, mas não conseguiu manter por muito tempo. — Não pensei que esse dia chegaria tão rápido. Quer dizer, você vai nos deixar…
— Não vou te deixar, pai… — Jungwon o abraçou suavemente, de lado. — Só vou estar em meu próprio navio.
— Eu sei… — Mas ainda assim, seu pequeno Ômega estava saindo debaixo de suas asas. — Estou muito feliz por você. Não poderia estar mais orgulhoso. Mas se dependesse de mim, você e Eunji não sairiam de perto.
— Vamos navegar juntos ainda. E veja só, agora serão dois capitães Ômegas pelos mares.
— Meu bolinho… — Jimin acariciou o rosto dele, com um sorriso verdadeiro. — Você tem bons Alfas ao seu lado, mas a tripulação será nova.
— Ficarei atento.
— Não permita que te subestimem, e mostre ao mundo quem você é.
Depois da breve conversa, Jungwon encontrou-se com seus Alfas, para informá-los sobre a sua decisão a respeito das regras. O Ômega manteve os mesmos princípios que aprendeu com os pais, Jay e Lian concordaram com tudo o que foi dito.
Logo mais a noite, os três seguiram para uma das tabernas que já estava cheia de clientes. Grande parte pertenceu a algum lugar, seja de uma tripulação pirata que perdeu o navio, ou membros de embarcações mercantes que foram chutados por seu comandante.
— Olá! Boa noite! — Jungwon subiu em uma cadeira, para que todos pudessem vê-lo. — Um minuto de sua atenção, por favor!
A barulheira e risos espalhafatosos deram lugar aos olhares curiosos que se dirigiram ao Ômega. Jay estava em pé ao lado dele, enquanto Lian ficou mais a vontade encostado na mesa com os braços cruzados, próximo a eles.
— Estou recrutando Alfas, Betas e Ômegas para fazer parte da minha tripulação.
— Você não é o filho do Capitão Jeon? — Alguém perguntou.
— Sou, mas tenho o meu próprio navio, e por isso preciso de pessoas valentes para fazer parte da minha tripulação..
— Hmm… Eu vi um navio ancorado no porto hoje cedo. Com uma bandeira de Lua crescente.
— Você disse Lua crescente? — Uma outra comentou. — Este foi o símbolo do Luna, navio de Francis Bonny.
Ouviram-se murmúrios a respeito disso. Jungwon esperou até que todos estivessem cientes de que o Luna realmente havia retornado, para esclarecer:
— Ele me pertence agora.
— Como você conseguiu?
— Isso não importa.
— Claro que importa! esse navio não é visto por aí há décadas.
— Hoje é o seu dia de sorte então. Pode ir lá pro cais se quiser, e admirá-lo.
— E como funciona se eu quiser me juntar a sua tripulação?
Jungwon comunicou suas regras e obrigações. As punições para atos de desobediência e crimes contra qualquer membro da tripulação. Nada muito diferente do que já era visto em outras embarcações, sendo assim, algumas pessoas aceitaram fazer parte do Luna.
Estava longe do que Jungwon pretendia, mas era de se esperar. Com um capitão novo e sem experiência em liderança, eles acreditavam que qualquer um poderia chegar e tomar o navio, não confiavam em sua soberania e a maior parte, senão todos, estava de olho em seu lugar.
— Quando vamos partir?
— Qual será a rota?
As perguntas vieram uma atrás da outra. Jungwon desceu da mesa para responder a cada uma delas. Os demais que não quiseram participar da tripulação, voltaram a se distrair entre si, até ouvirem o que o Ômega anunciou:
— Estamos com pouca força de fogo, por isso, vamos saquear junto ao Black Swan durante algum tempo.
Todo mundo parou o que estavam fazendo, dirigindo-se de uma só vez para a mesa em que Jungwon estava reunido com seus novos companheiros. Todos desesperados para fazer parte da tripulação.
— Eu quero!
— Sai da minha frente seu idiota, eu também quero!
— Por favor, diga que ainda tem vaga!?
— Eu quero! Eu quero! Eu quero! — Dizia o coral.
A taberna em peso estava ao redor do Ômega, ansiando por fazer parte da tripulação. Ainda assim, Jungwon suspirou um pouco sentido. Não estavam ali por causa dele, mas sim pela chance de saquear junto ao Black Swan.
Todos foram aceitos, assim como em demais tabernas. O Luna era um navio muito grande e necessitava de muitas pessoas para operá-lo.
Com o passar do tempo, obviamente, muitos seriam expulsos ou executados, mas quem se mostrasse verdadeiramente interessado em fazer sucesso, estaria garantido naquela tripulação durante longos anos.
🏴☠️
Na manhã seguinte, os novos marujos estavam ansiosos para zarpar. Eles transitavam pelo convés do Luna manuseando os cabos e velas, seguindo as ordens de Jungwon, transmitidas por seu contramestre:
— Mantenha todas as velas auxiliares.
— Quer apostar corrida com os peixes? — Adrian e outros riram.
— Olha bem alí — Jay mostrou uma direção. Eles viram o momento em que velas negras foram soltas ao vento. — Se quiser alcançá-lo em velocidade, vai precisar de todo quarto de nó.
Os marujos trocaram olhares mais sérios. Não era hora para brincadeiras. Estavam ao lado do Black Swan e não queriam ser deixados para trás. Embora maior em tamanho, as velas do Luna eram provisórias, “emprestadas” de um navio mercante, e não eram capazes de fazê-lo alcançar sua velocidade máxima.
— Não baixe sua guarda — Jungkook aconselhou em relação a nova tripulação, enquanto seu filho ainda estava no Black Swan.
As duas embarcações estavam deixando o Porto de Nabuco, seguindo em direção ao Sul, com o itinerário estabelecido para as Índias. O caminho que leva para tal reino, era repleto de navios que levam e trazem cargas de todos os lugares.
— Não se preocupe. — Jungwon disse. Tendo em vista que já estava segurando uma corda que o levaria para o Luna, ele adicionou: — Meus Alfas estarão comigo.
— Seus o quê?!
— Você entendeu... — O Ômega sorriu afoito, mas não esperou uma resposta quando cortou a corda e foi lançado diretamente para o convés do Luna.
Jimin piscou boquiaberto, sem acreditar que seu filho riscou a faísca e deixou o incêndio para ele apagar.
— O que ele quis dizer com aquilo, Jimin? — Chamou pelo nome. Pelo tom da voz, não parecia muito satisfeito.
— Exatamente o que ele disse.
Jungkook observou Lian guiando o leme, Jay estava ao seu lado. Ele desceu o olhar até o filho passando pelo convés até entrar na cabine. Voltou a olhar para cima e teve a visão dos Alfas outra vez. A ficha foi caindo progressivamente.
— Você sabia… — Virou-se devagar para Jimin.
O Ômega fez cara de inocente, mas nada disse. Jungkook mudou seu olhar para Hoseok, transmitindo suas intenções.
— Vai lá, ataque o navio do seu filho — Jimin o desafiou. — Só não esqueça que ele está a bordo.
— Eu tiro ele de lá em dois tempos.
— Boa sorte, se você acha que consegue deixar este navio.
— E quem aqui acha que é capaz de me impedir? — Jimin o encarou de modo a evidenciar que ele próprio seria capaz. — Hum.
— Você aceitou o Jay sem problemas. Qual a dificuldade em aceitar o Lian também?
— Jay é um Alfa responsável e consciente. Aquele outro é um atrevido sem vergonha!
— Posso imaginar meu pai dizendo a mesma coisa quando soube que eu estava com você.
— Foda-se o seu pai.
— Tenho certeza que o Lian pensa o mesmo a seu respeito. — Jungkook riu, seguindo em direção a cabine. Jimin virou-se para os contramestres com um semblante sereno: — Com licença, tenho que impedir que meu Alfa ponha fogo no Black Swan e mate todos nós.
Continua…
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