[67] Revelações

Nos próximos dias, os três permaneceram espreitando a casa onde Yue era mantida sob vigilância dia e noite. A Beta nunca deixava a residência, não tinha permissão nem mesmo para passear pelo jardim. 

As observações que fizeram nos dias anteriores continuaram as mesmas, pelo menos em relação aos guardas. Durante a madrugada, obviamente, as ruas ficavam desertas e os únicos que eram vistos, com pouquíssima frequência, não estavam sóbrios o suficiente para significar algum alerta.

Os três subiram em uma construção à direita e atravessaram para o telhado, através dos galhos de uma árvore que existia entre a hospedagem e a casa de Yue. Ocultaram-se por trás de uma chaminé, passando despercebidos pelo guarda que estava na sacada do prédio vizinho.

Jay e Jungwon aguardaram vigiando os arredores enquanto Lian descia pelas calhas, apoiando os pés no peitoril de uma das janelas. Ele conseguiu se equilibrar segurando na madeira decorativa ao redor, com a mão, já com a outra utilizou um punhal para forçar a fechadura. 

A janela estalou quando foi aberta, o Alfa entrou rapidamente quando um dos guardas que estava na sacada da própria casa, decidiu verificar de onde viera o barulho.

— Olá? — Ele olhou para a janela que estava aparentemente fechada e franziu o cenho. — Senhora Zhang?

— E agora?! — Jay sussurrou. Ele e o Ômega esconderam-se novamente, atrás da chaminé.

— Shh — Jungwon murmurou. — Fique olhando.

— O que foi? — O oficial que estava no telhado vizinho perguntou para o da sacada.

— Pensei ter ouvido alguma coisa.

— São os gatos — o guarda mostrou os felinos deitados em cima de um alpendre, perseguindo uma gata que estava em seu período de acasalamento. — Estão correndo pelos telhados há dias.

Jay olhou para o Ômega e sua expressão tranquila. Por isso Jungwon não estava preocupado, ele também havia notado a movimentação dos gatos e estava certo de que poderia usá-los como uma distração.

— Gatos idiotas. — O oficial da sacada voltou ao seu lugar, mantendo a conversa com o outro: — Sabia que amanhã é meu dia de folga…?

Enquanto os guardas se distraíam tagarelando, Jay desceu sendo um apoio e auxiliando o Ômega também. Lian já estava na janela quando ajudou Jungwon a entrar e também o outro Alfa logo em seguida.

Estavam certos de que não havia nenhum guarda dentro da casa, visto que os oficiais que contaram durante os dias de vigilância não passavam de dez durante a noite. Todos já haviam sido vistos do lado de fora, nos telhados, sacadas e nas portas da casa.

— O quarto dela fica depois das escadas. — Lian comunicou, indo na frente, sendo seguido pelos outros dois.

Contudo, ao passarem pelo corredor, eles notaram que havia uma iluminação por baixo da porta de um dos quartos de hóspedes. Trocaram olhares confusos, imaginando que Yue poderia estar acordada devido a insônia que teria surgido, por causa da situação em que se encontrava.

O mais velho empurrou a porta sendo o primeiro a entrar no cômodo. Jungwon foi o segundo e antes que Jay fosse o próximo o Ômega mirou com uma pistola apontada na direção da Alfa, que estava sentada em uma poltrona, com um livro no colo e um castiçal apoiado na mesa de cabeceira.

Jiang não se moveu. Ela olhou para Lian, depois para o Ômega que segurava a pistola ameaçadoramente e depois para o Alfa atrás dele.

— O que faz aqui? — A voz de Lian fez a Alfa voltar a encará-lo.

— O Almirante pediu. Ele sabe que você está aqui e que veio atrás de sua mãe.

— Eu acho melhor você não soar o alarme — Jungwon avisou. 

— Vai fazer barulho com o disparo — Jiang fechou o livro mas voltou a ficar imóvel quando Jungwon encaixou o dedo no gatilho.

— Não se mova. — O Ômega ordenou, porém, franziu as sobrancelhas quando Lian tocou em sua mão e suavemente o fez abaixar a arma. 

Fora da ameaça, Jiang finalmente se levantou e abraçou o Alfa, que considerava como um irmão mais novo. Lian retribuiu fortemente enquanto os outros dois trocaram olhares confusos.

— Se você ficar, o Almirante vai te ajudar! Ele pode fazer alguma coisa!

— Nem mesmo você acredita nisso — Lian desfez o abraço e encarou a Alfa, que estava chorando. — E não é o que eu realmente quero.

— Eu devia te bater — Jiang ameaçou. — Colocou o meu na reta e agora tá me fazendo chorar.

— Desculpa por ter te envolvido nisso tudo. 

— Tudo bem — ela passou o dorso da mão no rosto, secando as lágrimas. — Vá, salve sua mãe e a leve para um lugar seguro. O Almirante está fazendo o possível usando sua influência para mantê-la fora do julgamento, mas o Imperador…

— E você?

— Não se preocupe, estou aqui apenas para fazer companhia a Zhang Yue. Não tenho ordens para impedir qualquer menção de fuga, logo, não serei punida quando acontecer.

— Obrigado, Jiang. 

— Vai logo — ela olhou através da janela de vidro, — daqui a pouco vai amanhecer e a guarda vai triplicar.

Os dois se abraçaram uma última vez, Jiang voltou a sentar na poltrona enquanto os demais deixaram o cômodo, seguindo finalmente para onde Yue descansava.

Antes de entrarem no quarto, Lian notou o olhar emburrado do Ômega, e quis saber o motivo primeiramente, antes de prosseguirem com o objetivo:

— O que foi?

— O quê?

— Por que você tá assim? — Lian olhou para Jay e depois para o Ômega novamente. 

— Nada.

— É que você pareceu bastante íntimo daquela Alfa… — Jay foi sincero, expressando o que Jungwon estava ocultando.

— Ciúme? — O mais velho perguntou, mas Jungwon apenas suspirou desviando o olhar. Lian voltou a encarar o outro Alfa: — Você também!?

— Eu só não esperava por isso — Jay deu ombros. 

— Certo… — Lian segurou a vontade de sorrir, fechando os olhos e concentrando-se respirando profundamente. Quando voltou a abri-los, ele comunicou: — Eu prometo que vou explicar do que se trata a minha relação com a Jiang, mas depois que a gente terminar isso aqui, pode ser?

— Tem razão — Jungwon desfez o semblante irritado. — Perdi o foco por alguns instantes… sinto muito. Vamos.

Jay também assentiu e, com isso, Lian abriu a porta devagar, tendo a visão de Yue deitada na cama dormindo serenamente, sem imaginar que seu filho estava adentrando no quarto, acompanhado de dois piratas.

O Alfa caminhou até sentar na beira da cama, enquanto Jay e Jungwon aguardaram próximos à porta. 

— Mãe? — Lian sussurrou, movendo o cabelo dela que estava caído no rosto. Ela sorriu com os olhos fechados e se moveu um pouco, mas não acordou. Ele voltou a chamá-la novamente, um pouco mais alto: — Mãe!

A Beta enrugou a testa abrindo os olhos logo em seguida. Seus olhos demoraram a se situar na escuridão do cômodo, mas ela percebeu que havia mais alguém ali. O aroma de sândalo entregou a presença do mais novo.

— Lian? — Ergueu o corpo devagar. Forçando a visão um pouco mais, a silhueta escura sentada ao lado dela foi se tornando mais visível, Yue levou a mão até sentir a palma encostar no rosto do filho. 

— Estou aqui. 

A voz tão familiar despertou os sentidos da Beta de uma só vez. Yue começou a chorar extensivamente quando o abraçou com força, sendo correspondida na mesma intensidade.

Jungwon puxou o Alfa que estava consigo pela mão e encostou a porta suavemente, até que os dois se encontravam sozinhos no corredor. 

— Jay, pra esse resgate dar certo eu preciso que confie em mim.

O mais novo entendeu perfeitamente o que aquele pedido significava, e não estava disposto a conceder. É óbvio o quanto confiava em Jungwon, mas o que ele estava prestes a fazer era pedir demais.

— Não.

— Jay…

— Nem mesmo ouse, Jungwon! — Interrompeu, sendo firme.

— Por favor, será que dá pra me escutar, pelo menos?! Eu vou-...

— Não. — Interrompeu outra vez.

— Mas…

— Eu já disse-...

— Hyunsik!! — Jungwon ergueu a voz. 

Dessa vez, o Alfa demorou a reagir. Ele não confundiu o nome que Jay usou no disfarce, apenas. Aquilo foi além. O nome lhe veio à mente através de memórias antigas, que Jungwon nem ao menos sabia que tinha, mas estavam lá dentro, armazenadas em seu lobo.

— Do que me chamou?

— Você me deixou confuso! — Jungwon bateu na própria cabeça quando a sacudiu. — Eu quis dizer Jongseong… — Jay permaneceu com um olhar bastante intrigado. 

— Ela pode descer pela janela também.

— Yue é uma civil, Jay. Ela não vai conseguir fazer isso sem chamar atenção e nos revelar — Jungwon explicou. — Vai com o Lian e a mãe dele pela porta da cozinha. Krazinho está esperando por vocês no cais. Eu estarei logo depois.

Jungwon o beijou rapidamente, e saiu em silêncio conforme seguia de volta para o mesmo quarto em que entraram na casa. Ele conseguiu sair pela janela e desceu através das calhas de madeira que conduzem a água da chuva. 

Seu alvo agora era o oficial que guardava a porta da cozinha. Respirou profundamente antes de seguir com passos firmes até exibir sua presença para o Alfa. 

 — Ei! — Chamou, tendo a atenção do guarda para si. — Você sabe quem sou eu?

O oficial estreitou os olhos, caminhando alguns passos na direção do Ômega. Ele parou quando o reconheceu, com os olhos arregalados e levando a mão até sua arma.

— É o filho dos capitães do Black Swan!

Jungwon sorriu, satisfeito.

— Então por que você não tenta me pegar? — Desafiou, com os olhos brilhando prateados.

O Alfa puxou a pistola, mas foi surpreendido quando o mais novo correu. Como ele poderia pedir o apoio de outros oficiais, se os que mantinham a guarda durante a madrugada eram minoria? Não podiam deixar seus postos, nem mesmo ele deveria fazer isso. Mas o Ômega apareceu diante de seus olhos, caso o capturasse, acreditava que iria até mesmo subir de grau para algum cargo próximo do Almirante.

Com isso em mente, ele correu atrás do Ômega já planejando seu discurso quando fosse promovido. Jungwon utilizou como rota de fuga as ruas mais sinuosas que encontrava a sua frente, seguindo o cheiro do mar para ficar mais perto do cais assim que se livrasse aquele Alfa.

Neste ínterim, Jay acabara de explicar a Lian e sua mãe, o passo que Jungwon planejou e executou sozinho. Acontece que aquele Ômega era mais parecido com o Capitão Jimin, do que as pessoas realmente percebiam.

— Não devia ter deixado!

— E o que você queria que eu fizesse?! Amarrar ele na escada?! — Lian fez uma expressão como se fosse exatamente isso que Jay deveria ter feito. O mais novo cruzou os braços, indiferente. — É mais fácil ele fazer isso comigo.

Yue riu. Até mesmo Lian cedeu e riu também.

— Faremos o que ele disse — Jay decidiu. — Eu confio nele. 

— Eu também confio, mas essa situação é bastante conflituosa.

— Estamos perdendo tempo discutindo quando ele já deve ter criado a abertura que precisamos.

Não tinham outra escolha a não ser seguir com os planos do Ômega. Assim como Jungwon havia dito, a porta da cozinha estava livre para que pudessem deixar a residência. 

Ainda não havia sinal do amanhecer quando os três chegaram no cais onde encontraram o local completamente vazio. Os galeões da Marinha estavam ancorados no Porto mais ao lado, há cerca de 500 metros. O cais pertencia aos pescadores, e nenhum deles tinham permissão para executar suas funções enquanto o navio pirata estivesse na costa.

— Mãe, é melhor a senhora fechar os olhos.

— Por que?

— Confie em mim, não vai querer ver isso…

Yue respirou fundo com medo do que aconteceria mas, confiando plenamente em seu filho, estava disposta a fazer tudo o que ele indicar.

— Espera — Jay pediu, removendo uma faca que ganhou de Sven do cinto e posteriormente entregando o objeto a ela. — Diz pro Capitão que estamos bem, e que logo estaremos de volta.

A Beta assentiu, abraçou o filho mais uma vez recebendo dele um beijo na testa. Assim como ele indicou, ela fechou os olhos e não abriu mesmo quando alguma coisa úmida enroscou-se em volta de seu torso e a removeu do chão. Ela segurou a faca com bastante força e só voltou a abrir os olhos quando sentiu seus pés apoiados em chão firme.

Não teve tempo para reagir ao fato de estar a bordo de um navio tão escuro e sombrio quanto a própria noite, quando ouviu uma voz que vinha do alto da cesta do mastro:

— Quem é você?! — Havia um Ômega ruivo mirando uma flecha na sua direção. Assustada, Yue deu um passo para trás sentindo as costas batendo contra o parapeito do navio. Uma flecha foi lançada ficando presa na madeira ao lado, exatamente para onde ela pretendia correr. Baekhyun já estava com outra encaixada no arco quando advertiu: — A próxima será no meio de seus olhos.

— Sou mãe do Lian! — Conseguiu responder, respirando mais aliviada quando viu o Ômega abaixando o arco.

Dentro de alguns minutos, os líderes do navio e parte da tripulação que estava acordada, se encontrava reunida no convés. O Capitão Jeon analisou a faca oferecida pela Beta, constatando que o objeto realmente pertencia a Jay, assim como ela informou momentos atrás.

— Sou o pai do Jungwon. — Jimin expôs. — Você está segura aqui.

— Obrigada!

O Capitão sorriu para ele, em seguida, pediu para que seu irmão a levasse para um dos cômodos nos andares inferiores. Jisung acompanhou a Beta conforme conversava com a mesma, conseguindo as informações sobre as últimas ações dos garotos.

Ainda no cais, Lian queria sair procurando pelo Ômega enquanto Jay insistiu que deveriam esperar naquele lugar, assim como Jungwon determinou.

— Ele disse pra gente ficar

— Por que você é tão obediente?

— Estou aqui pra fazer valer o que ele decidiu! 

Lian não pôde deixar de sorrir. Embora fosse tão novo, Jay soou como se já fosse um contramestre bastante experiente, ferrenho, e é claro, extremamente fofo.

Sendo assim, Lian sentou em cima de uma das caixas vazias que os pescadores utilizavam, e aceitou de bom grado obedecer às instruções do Ômega.

🏴‍☠️

Ao passo que fugia do miserável perseguidor que não o perdia de vista de modo algum, Jungwon entrou em uma esquina e encontrou uma janela cujas cortinas esvoaçantes indicavam que estava aberta. Não pensou duas vezes quando subiu ligeiro, caindo do outro lado no momento em que o oficial apareceu. 

Confuso, o Alfa olhou ao seu redor e investiu em uma direção onde acreditava ser mais provável que o Ômega tenha seguido. 

Dentro do cômodo, que se revelou ser um gabinete, Jungwon encontrou a fraca iluminação que provinha de uma única vela, em cima da mesa. O Almirante, vestindo roupas casuais, estava sentado atrás dela, com as mãos apoiadas no móvel e olhando para o Ômega com o mesmo espanto que o próprio.

Jungwon pretendia puxar suas adagas para uma luta, mas parou com as mãos no cabo de cada uma quando o Alfa indicou que fizesse silêncio. Sempre observado pelos olhos atentos do Ômega, o Almirante se levantou devagar e seguiu até a porta, onde estipulou para dois oficiais que estavam do outro lado:

— Um Ômega suspeito passou correndo em direção ao mercado. Rápido! Ele está fugindo!

Os oficiais acataram a ordem de seu superior de imediato. O Almirante fechou a porta calmamente, encontrando o Ômega ainda o observando próximo a janela.

— Por que está me ajudando?

O Alfa não respondeu. Ele seguiu até sua mesa onde abriu uma das gavetas e removeu um envelope, onde logo em seguida levou até o mais novo.

— Entregue isso para o Lian — o Ômega largou uma das adagas para receber o envelope —, e diga ao seu pai que já paguei a minha dívida.

Embora Jungwon pudesse golpeá-lo por trás, o Alfa deu-lhe as costas para retornar à sua mesa. O Ômega encarou o envelope e depois olhou para o Almirante, que agora servia para si mesmo uma dose de alguma bebida.

Jungwon não se lembrava da promessa de dívida feita pelo Almirante para o Capitão Jeon, quando ainda era o Tenente da Marinha, pelo motivo de o pirata ter mantido Lian em segurança até a batalha que aconteceu em Raran. 

Assim como Jungkook devolveu Lian para ele, sem qualquer retaliação, da mesma forma, o Almirante estava deixando o filho do Capitão seguir livre, de volta para seus pais.

A reação do Almirante pegou o Ômega de surpresa. Talvez era esse o motivo pelo qual Lian gostava tanto do Almirante, ao ponto de considerá-lo um pai. Porque ele realmente era.

Sem mais delongas, Jungwon espiou a rua, pulando a janela quando sentiu que estava em segurança, seguindo na direção do cais com a mesma cautela de sempre. Ele encontrou os Alfas esperando por si, e quase sentiu que seus órgãos seriam espremidos quando ambos o abraçaram de uma só vez.

— O plano de vocês é me matar sufocado, não é? — Resmungou com certa dificuldade, devido ao abraço duplamente potente.

— E o seu é nos matar do coração aos poucos — Lian rebateu. — Onde você estava com a cabeça?! 

— Focada em salvar a sua mãe — o Ômega seguiu até um dos botes e entrou. — No Black Swan vocês podem me dar todo o sermão que julgarem necessário, agora vamos embora daqui antes que o pior aconteça.

Os dois concordaram e subiram no bote logo depois. Enquanto o Kraken ajudava-os a se aproximar do Black Swan, Jungwon entregou para o Alfa o envelope dado pelo Almirante. Ele franziu o cenho mas guardou o conteúdo em um dos bolsos assim que viu o barco encostar no casco negro do navio pirata. 

No momento em que os três olharam para cima, tiveram a visão do Capitão Jeon com os braços cruzados, encarando-os de volta. Era impossível ler exatamente o que dizia sua expressão, mas estava quase como se estivesse prestes a enviar algum marujo à prancha.

Jungwon foi o primeiro a subir através da escada de corda, e quando chegou no topo da subida, sorriu cínico para o Alfa. Jungkook ainda o acompanhou com um olhar rígido até seu filho ser acolhido pelo abraço do Capitão Jimin. 

— Não deixa ele expulsar os meninos do navio, pai… — Jungwon sussurrou.

— Não se preocupe — Jimin murmurou de volta. — Já cuidei disso.

Jungwon sorriu com alívio. O Capitão Jeon voltou a encarar os dois Alfas que ainda discutiam qual seria o próximo a subir:

— Pode ir, Lian. Eu acho que vou ficar por aqui mesmo…

— Estamos fodidos de qualquer jeito — Lian argumentou, rindo de nervoso. — Ficar aqui protelando só vai piorar. Sobe na frente, caso ele te jogue pra fora do navio eu te dou apoio.

— Jogar pra fora do navio?!!

Enquanto isso, Jungwon tentou intervir pelos Alfas, mas acontece que a situação dele também não era das melhores.

— Você tá assustando eles, pai — ele tentou, apoiando as mãos no parapeito ao lado do Capitão. — Talvez se você se afastar um pouquinho pra eles subirem…

Jungkook sequer deu atenção ao pedido do filho, permanecendo com seu olhar duro e implacável sobre os Alfas.

— Sobe, Jay! — Lian insistiu, mas o outro voltou a negar balançando a cabeça. — Então tá. Eu vou na frente.

— Não faz isso… — Jay sussurrou, mas Lian seguiu adiante.

O Alfa subiu seguro de que ao menos não seria morto. Assim que encontrou o Capitão Jeon lá em cima foi logo abrindo a boca para se explicar, mas o lúpus cortou antes que algum som fosse articulado:

— Calado! 

Alguns piratas que assistiam a cena riram se divertindo. Lian fechou a boca novamente e subiu a bordo do navio, aguardando próximo ao Capitão Jimin, onde era mais seguro.

Agora só restava o tenso Alfa que já não tinha para onde correr. Jay respirou fundo quando segurou na escada e começou a subir paulatinamente. Evitou olhar para o Capitão quando chegou lá em cima, mantendo a cabeça baixa.

Sem dizer uma palavra, Jungkook deu meia volta e rumou para a cabine. Jay, Lian e Jungwon sabiam que deveriam ir também, mas esperaram pelo Capitão Jimin para seguir até o cômodo, todos juntos a ele.

— Muito bem, acabou o espetáculo! — Namjoon comandou. — Subam a âncora e icem as velas…

No interior do camarote, os três que desobedeceram as regras estavam lado a lado, ouvindo primeiramente a advertência feita pelo Capitão Jimin:

— Vocês três quebraram a nossa confiança, estamos desapontados. Com você principalmente, Jungwon. Eu não esperava esse comportamento precipitado vindo de você. 

— Desculpa — o Ômega expressou. — Entendo completamente. 

— No entanto — Jimin continuou: — levando em consideração que eu teria feito o mesmo quando tinha a sua idade, eu compreendo seus motivos e aceito o pedido de desculpa. 

— Obrigado! — Jungwon sorriu abertamente.

— Da minha parte não haverá qualquer punição. Isso é tudo. 

— Só isso? — Jungkook questionou boquiaberto.

— O que mais você quer que eu faça? — Jimin deu de ombros. — Ele entendeu em que parte errou. O motivo que os levou a fazer isso é totalmente compreensivo. É a mãe dele, Jungkook!

— Eu só não entendi qual é a parte em que nós temos alguma coisa a ver com isso. 

— Está claro que nós dois temos pontos de vista bem diferentes. Eu vou decidir a melhor rota com o Tae enquanto você conversa com os meninos, pode ser?

Jungkook assentiu. Jimin deixou a cabine indo em busca do navegador. Jungwon incentivou os meninos, pretendendo deixar o cômodo logo a seguir, contudo, Jungkook demonstrou que ele não sairia dessa assim tão fácil:

— Pra onde você pensa que vai? 

O Ômega parou, confuso.

— Mas o…

— Jimin é o seu Capitão? Sim — Jungkook completou. — Mas acontece que eu ainda sou o seu pai. Sente-se e espere. Vamos conversar!

O Ômega sorriu nervoso, obedecendo. Ora, ser filho dos capitães era ainda pior. Se não fosse punido por ser um marujo, seria por ser o filho. 

Voltando-se agora para os Alfas, Jungkook passou a caminhar ao redor deles, com as mãos atrás das costas, observando por alguns instantes, antes de iniciar o sermão: 

— Quando você foi aceito nessa tripulação, Namjoon deixou bastante claro todas as regras — estava se referindo a Lian. Depois, negou com a cabeça quando olhou para Jay. — E você, Jongseong… Logo quem eu mais confiava.

O lúpus parou diante do mais jovem. Jay sequer tinha coragem para levantar a cabeça, e não era apenas por medo. Ele estava realmente envergonhado, agora que estava diante de seu Capitão.

— Aquela prancha viu mais Alfas e Betas sendo condenados por insubordinação, do que vocês poderiam contar. E agora estão aqui, por um fio de caminhar sobre elas. Jimin pode ter sido complacente com o Jungwon… — ele voltou a caminhar, parando atrás dos meninos. — Mas eu não serei. Não tolero desobediência e os dois sabem muito bem disso. 

A alma do mais novo estava quase deixando seu corpo, com todo aquele suspense e o clima tenso. O Capitão andava e se expressava tão apático que chegava a ser mais assustador, do que se ele estivesse gritando. Calmaria significa tempestade.

Lian percebeu a inquietação do mais jovem, encontrou sua mão e segurou com firmeza. Jay olhou para ele, surpreso, recebendo um sorriso confiante do mesmo. Sentiu uma onda de calor reconfortante percorrendo seu corpo, apenas com o aperto em sua mão. 

Lian estava passando para ele toda sua confiança, e Jay compreendeu que, embora fosse punido, não estaria sozinho. Lian deixou claro enquanto segurava sua mão. Estavam juntos, seja lá o que acontecer.

— Pensei muito em algumas punições que os ensinassem a respeitar as regras do navio. Porém, levando em consideração um pedido do meu Ômega e apenas por isso, aplicarei um castigo mais leve.

— Obrigado, Capitão! — Jay liberou o ar que estava prendendo nos pulmões, mas iria lamentar  logo a seguir:

— Os dois, sozinhos, serão responsáveis pela limpeza do navio, do porão ao convés, incluindo a latrina, durante um mês.

— Mas o Black Swan é enorme — Lian avaliou.

— Então é melhor acordar bem cedo... — Jungkook aconselhou. — Ou será que preferem a prancha?

— Não! Limpeza está ótimo. — Jay sorriu nervoso.

— Devemos limpar os dormitórios também? — Lian perguntou. Jungkook percebeu quando ele olhou para Jungwon e depois para si, mantendo um pequeno sorrisinho: — Até mesmo dos Ômegas?

Lian quase lamentou ter feito a pergunta, pelo modo que o Capitão olhou para ele. Mas ele gostava de brincar com fogo, e estava fazendo isso logo com o Alfa mais ofensivo daquele navio. Porém, o lúpus manteve-se impassível quando modificou o castigo:

— Agora serão dois meses.

O sorriso espirituoso deixou as expressões de Lian, mudando para uma fala dissimulada:

— Eu só fiz uma pergunta!

— Três. 

— Mas…

— Quatro. — Os números eram infinitos, para a felicidade de Jungkook. Quanto mais aquele Alfa ousasse provocá-lo, mais sofreria com o tempo do castigo. — Quer adicionar mais alguma observação?

Liam fechou a boca e negou com a cabeça. Seu atrevimento seria um grave problema para si, caso não começasse a controlar a língua e também suas ações. Em contrapartida, era muito tentador provocar as pessoas, principalmente quando percebeu o ciúme e proteção que Jungkook possui sobre seu filho.

— O castigo começa a contar a partir de amanhã. Agora vão, antes que eu mude de ideia.

Os Alfas deixaram a cabine sem expressar mais opiniões. Lian ainda sorriu para o Ômega antes de ir, enquanto Jay mirou a porta e não desviou os olhos ansiando atravessá-la o mais depressa possível.

— Desculpa, acabei te envolvendo nisso — Lian expressou, já no convés. 

— Tudo bem — o mais novo ergueu a mão junto a do Alfa, que ainda segurava a sua. — Estamos juntos, não é?

Lian assentiu, apreciando a gentileza do Alfa. Jungwon e ele se apaixonaram facilmente por sua personalidade quase sempre amável, sua postura protetora e também a capacidade de apoiá-los, embora muitas vezes não fosse de acordo com suas escolhas.  

Ansioso para rever a mãe, Lian desceu a sua procura enquanto Jay foi o portador da feliz notícia que os piratas esperavam. Todos ficariam livres durante 4 meses, de suas obrigações para com a limpeza do navio. 

— Você não acha que isso é muito tempo? — Era justamente sobre isso que Jungwon estava conversando com seu pai na cabine.

— Não, e deveria aumentar mais um mês já que o Jimin não puniu você.

— Eles vão ficar exaustos…

— Vocês não sabem o que é exaustão de verdade. Eu já trabalhei até as minhas mãos ficarem em carne viva. Já vi companheiros sendo chicoteados até a morte por terem perdido a consciência durante o serviço pesado. Limpar o Black Swan não é nada comparado a isso, mas se você estiver incomodado pode se juntar a eles.

— Nossa, pai… você tá muito bravo. 

— Estou. Agradeça ao seu pai por eu não ter sido mais severo.

— Quando ele quebrava as regras constantemente você não agia assim.

Jungkook riu, servindo vinho para si mesmo. Ele voltou a ficar sério quando afirmou:

— Há um abismo entre Jimin e eles. — O Alfa tomou um pouco da bebida, pensando nos milhares de pontos que o levavam a pensar assim. A começar pela boca de Jimin, o sorriso, os olhos, a voz suave, seu corpo…

— Posso ir agora? 

— Não. Ainda não disse qual será o seu castigo.

— Eu não sou mais criança e você deveria respeitar a decisão do meu Capitão…

— É mesmo? — O Alfa sorriu novamente, bebendo um pouco mais. — Limites, Jungwon. Está precisando aprender um pouco sobre eles.

— Deve ser por isso que eu sou tão parecido com você. Quem seria capaz de impor limites no grande Capitão Jeon? 

— Você poderá agir assim, quando estiver sob o comando do seu próprio navio. Aliás, é sobre isso o seu castigo. Você não vai participar de nenhum saque durante esse mês.

— Mas isso vai atrasar o conserto do Luna em semanas!

— Pensasse nisso antes de bancar o salvador dos fracos e oprimidos.

— Você também vai sair perdendo. Pense comigo… quanto antes o Luna estiver pronto para navegar, mais tempo você pode ficar roubando pelos mares. Sua capacidade de carga será duplicada, tanto para os suprimentos quanto para o tesouro.

Jungkook ergueu uma sobrancelha, muito interessado naquela conversa. O Ômega concluiu com chave de ouro:

— Sem falar nas armas que serão adicionadas nele. Você poderá voltar ao outro lado do mundo mais facilmente com o apoio de um navio tão grande como o Luna.

O outro lado do mundo, o Mar Tenebroso, onde a tripulação do Black Swan navegou apenas uma vez, mas puderam conhecer os bens existentes naquela região. 

A disputa entre diversos reinos pelas riquezas do Brasil encheram os olhos do Capitão, mas na época ele estava focado apenas em conquistar o Imperium.

— Você sabe bem como negociar. — O Alfa sorriu, virando a caneca para tomar o restante do vinho. 

— Aprendi com os melhores.

Jungkook suspirou, cheio de orgulho, quando ocupou sua cadeira atrás da mesa.

— Muito bem, você já pode ir.

O Ômega deixou a cabine com o sentimento de que seu objetivo estava prestes a ser alcançado. Ele conseguiu se livrar do castigo porque, mais do que implacável, o Capitão Jeon era estratégico.


🏴‍☠️


Amanheceu há poucos minutos, mas a noite e madrugada haviam sido de tal modo cansativos que fez Jungwon e os Alfas adormecerem facilmente, mesmo com todo o barulho feito pelos piratas conforme realizavam suas atividades.

O lúpus dormiu pensando no nome que havia confundido com o de Jongseong. Hyun desceu da cama para cobrir o primo, depois subiu em sua cama novamente para continuar colorindo alguns desenhos, sua distração favorita.

Jungwon estava deitado observando algumas nuvens passando lentamente, sob o céu azul de uma tarde muito agradável. O barulho das ondas e a areia macia em suas costas, indicavam que estava na praia.

— Olha só aqueles cocos ali. Devem ter água bem docinha, não acha?

— Com certeza. — Jungwon respondeu. Quando se deu conta que não estava sozinho, arregalou os olhos e virou a cabeça para o lado. — Fran!?

— Eu mesmo! — O Ômega mais velho olhou para ele e sorriu. 

— Por que nunca mais apareceu em meus sonhos?

— É algo que está em seu subconsciente. Eu não controlo isso.

— Isso significa que eu sonho com você nos momentos em que preciso?

— Podemos dizer que sim. Aliás, a sua cicatriz ficou muito bonita.

Jungwon notou que alguns botões de sua camisa estavam abertos, exibindo a marca por onde foi atingido pela espada de Fritz. 

— Você também passou pela morte, mas porque apenas eu recebi uma segunda chance?

— A minha Era já passou há muito tempo, Jun. O seu pai fez história, agora é a sua vez de conquistar o mundo. 

— Você… o meu pai… — Jungwon ponderou. — Não tenho certeza se consigo ser tão grande quanto os dois.

— Pois eu não tenho dúvidas de que o grande Capitão Jimin me superou, e que um dia você será ainda maior.

O Ômega mais jovem sorriu para ele. Ainda que tivesse algumas dúvidas quanto ao futuro, não podia negar que sentia uma força absurda em seu interior, que seria capaz de levá-lo a níveis nunca antes conquistados.

— Fran… — ele ficou em silêncio após chamá-lo pelo apelido, nesse meio tempo, o Capitão também não proferiu nenhuma palavra, até que Jungwon prosseguiu: — Você conheceu alguém chamado Hyunsik?

O nome citado levou Francis a sorrir docemente. Ele virou o rosto para frente e admirou o céu enquanto se deleitava com algumas lembranças de sua vida passada. 

— Francis? — O chamou outra vez, devido a falta de resposta.

O Ômega suspirou, antes de responder:

— Foi o Alfa mais gentil que conheci em toda minha vida. 

  

Jungwon ergueu o corpo para se sentar mais à vontade, e ter uma melhor visão do mais velho.

— Pode me contar um pouco mais sobre ele?

Francis também ficou sentado, para dar início ao seu depoimento:

— Aconteceu quando eu ainda era muito jovem. Meu pai tinha medo de morrer e me deixar sozinho, por isso, arrumou um casamento para mim com um oficial da Marinha — ele fez uma pausa e uma careta, em relação às forças armadas, depois continuou: — Seu nome era Hyunsik. 

— Hyunsik… — Jungwon sussurrou.

— Talvez, se tivesse dado a chance, eu teria visto o quão incrível ele poderia ser. Na verdade eu já tinha uma ideia, já que ele foi o primeiro que me viu como um igual, e não me julgou por ser um Ômega. Mas eu fui ignorante e não permiti. Bom, eu odiava a Marinha… mas se tivesse a oportunidade só mais uma vez, eu teria permitido.

— Você lembra do aroma dele?

— Não. — Francis foi sincero. — Embora tenha sido o primeiro que me ensinou a lutar, não tive tanto contato com ele.

— Seria algo como amêndoas? 

— É… — o nome trouxe mais lembranças. — Era exatamente isso. O lobo de Hyunsik cheirava a amêndoas.

Os olhos de Jungwon tornaram-se úmidos, pois este se tratava do mesmo aroma que Jay possuía. Não era uma simples coincidência.

— Eu acho que o encontrei…

— Hyunsik? — Francis inclinou-se interessado. Jungwon assentiu confirmando. — Quem?!

— O meu namorado! — Respondeu com um sorriso que vertia amor em todos os sentidos da palavra. 

— Você o encontrou… — os olhos dele estavam brilhando. — Você permitiu…

— Ele é sim, muito incrível! Mais do que possa imaginar. Eu sinto ele bem aqui — Jungwon apoiou a mão na altura do coração —, e o amo incondicionalmente.

— Estou tão feliz que não tenha cometido os mesmos erros que eu. Você está vivendo o amor que eu recusei há muitos anos, Jungwon. Você permitiu…

— Eu seria um tolo se negasse. O Jay é… — suspirou, mordendo os lábios em meio a um sorriso tímido. — Como eu posso definir em palavras…?

— Não precisa. Eu sei exatamente como é. Você sente, é algo tão grande que não há como explicar. Vivi isso com a Sarah. 

Com isso, Jungwon desistiu de tentar explicar o que era o amor que tinha por Jay. Francis entendia. O rumo da conversa levou o mais novo a se lembrar da Alfa, e logo outra dúvida surgiu em sua mente.

— Fran? — Tendo a atenção do outro, ele perguntou: — Você lembra do aroma dela?

— Da Sarah? — Jungwon confirmou balançando a cabeça. — Perfeitamente.

— Pode me dizer qual era?

Francis fechou os olhos e respirou profundo. Era como se pudesse sentir o cheiro dela naquele momento.

Ele abriu os olhos e sorriu quando respondeu sem qualquer dúvida:

— Sândalo.

Continua… 


Sim, o Jay é a reencarnação daquele Alfa gentil que pretendia se casar com o Francis, ele meio que o encontrou novamente no futuro e dessa vez conseguiu conquistar o coração do Ômega.

Já a Sarah reencarnou como um Alfa da Marinha. O Lian. Por isso ele se sentiu tão atraído pelo Jungwon, e por isso o Jungwon sentiu aquela conexão tão forte com ele (quando adultos). A ligação que eles sentiram no pomar, quando se beijaram, não foi do nada, há essa ligação entre os dois. Eu não revelei antes porque queria que tivesse sido aqui, neste capítulo.

Eu estudei com uma menina espírita pra entender melhor esse trisal. Eu perguntei a ela se “almas gêmeas” podem se apaixonar por outras pessoas. Ela disse que na doutrina espírita que ela crê, não existe essa coisa de almas gêmeas que nasceram pra ficar exclusivamente uma com a outra. 

Ela disse também que duas almas que viveram uma relação de amor intenso em uma vida (Francis e Sarah), podem tanto continuar sentindo essa ligação nas próximas encarnações (Jungwon e Lian), quanto criar um novo vínculo de amor com outras almas (Ambos com o Jay)

Jungwon cresceu com o Jay, os dois se apaixonaram e aprenderam juntos, nesta vida, o que é o amor.

O Lian apareceu de repente, ele e Jungwon (adultos) sentiram essa ligação entre si e se apaixonaram novamente

O Lian provocava o Jay pq acha fofo como ele fica todo marrentinho e sem jeito, mas isso definitivamente fez ele se apaixonar pelo Jay também.

E se, assim como eu, você chorou neste capítulo, não se preocupe porque vai chorar no próximo também 😭😂 chorrindo… só não posto o cap 68 agora pq ainda não está pronto.

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