[63] Butter
Quando eu coloco nomes de música nos capítulos é pq não consegui encontrar um título legal pro capítulo 👉👈
Meu dia foi muuuuito corrido, mas aqui está, como prometido, ignore os erros pq não foi revisado e tenha uma boa leitura:
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Após anoitecer, o grupo de piratas que permaneceram no Black Swan, jogavam cartas a luz de uma lamparina. Sabe-se que os demais que foram se divertir pela Ilha, não iriam retornar para a última refeição daquele dia, sendo assim, Junbuu, Jared e Arata só tinha de preparar pouca comida.
— Você só tem que fazer uma coisa — Junbuu estava resmungando. — E mesmo assim erra!
Jared estava atrás do velho Beta, imitando-o. Arata tentava segurar o riso, mas era praticamente impossível. Até mesmo o jeito de andar era igualzinho.
Os piratas foram chamados para o compartimento em que faziam suas refeições, assim que o cozinheiro e seus ajudantes concluíram o serviço.
Haviam poucos piratas, por isso, o recinto naquele momento se encontrava quase praticamente vazio. Estavam os dois Capitães, os contramestres, todos os Ômegas e cerca de 20 Alfas e Betas.
— Até os Capitães comem aqui? — Lian admirou. Estava sentado entre Jay e Jungwon.
— Quando meu pai tá muito cansado ele come na cabine — Jungwon se referiu ao pai Alfa. — Mas geralmente sim, todos fazem suas refeições aqui. Por que?
— Na Marinha é bem diferente. O Almirante e todos os superiores comem no gabinete do comandante. Oficiais inferiores comem todos juntos em um lugar como este.
— Alguns capitães comem sozinhos em suas cabines. Uma refeição muito melhor que a do restante da tripulação — Jay comentou.
— Como você sabe?
— Meu pai comentou. — O mais novo respondeu, se referindo a Sungjae.
— Assim como em um galeão da Marinha. Navios mercantes que transportam pessoas da alta sociedade também são assim.
— Meu pai era um nobre. — Jungwon disse. — Ele viajava nos melhores navios e comia do bom e do melhor, até ser capturado pelo Black Swan e fazer suas refeições no porão.
Lian olhou na direção em que o casal líder do Black Swan estava sentado. Jimin possuía uma postura requintada, assim como seu irmão, distinguindo-se dos demais que ocupavam aquela mesa. Seu Alfa era um pouco mais rústico na maneira como se comportava.
Jimin se parecia com um marido de algum nobre bastante poderoso. Era um relacionamento bastante improvável, visto que piratas geralmente não constituíam famílias.
Assim que terminaram suas refeições, alguns piratas continuaram naquele recinto, para ajudar o cozinheiro a limpar o local. Se eles começaram a ter mais higiene a bordo daquele navio, isso se dá apenas a mudanças feitas pelo Capitão Jimin. Ratos se multiplicam rapidamente e o loiro os odiava com todas as suas forças.
— Ajuda a gente aqui, Jay. — Sven acenou para seu sobrinho. — Tá ficando muito preguiçoso, hein!
Obviamente era uma brincadeira. O Alfa nunca foi preguiçoso, se tratando de ajudar com os serviços do navio. Antes que pudesse se juntar ao tio, Jungwon segurou em sua mão e avisou que estava indo para seu quarto.
Jay assentiu, juntando-se ao grupo que ficaria para limpar o recinto. O Ômega seguiu caminho contrário, quando se levantou e rumou pelo corredor adentro. Lian o seguiu, acompanhando-o até seu quarto.
Jungwon sentiu-se ligeiramente agitado com o Alfa entrando no cômodo consigo, muito à vontade. Não que seguisse as regras de seu pai, o próprio insistia que Jay ficasse em seu quarto, no entanto, com o mais novo o Ômega tinha um certo domínio, com Lian era diferente…
— Esse mapa é lendário… — O mais velho comentou, tocando no papel emoldurado na parede.
Estava de costas para o Ômega, admirando o mapa original do Imperium. Jungwon manteve em seu colo um diário onde iniciou seus registros pessoais assim que o Luna retornou do fundo do Pacífico. Registrava nele cada planejamento para o navio, para início, a limpeza do casco coberto por corais.
— As últimas palavras dele diziam que apenas uma tripulação digna encontraria seu tesouro — Lian comentou.
— Como você sabe?
— Está nos registros da Marinha. — O Alfa virou para ele e sorriu. — Também há muito sobre o Capitão Jimin, e tenho certeza que haverá sobre você.
— Quem sabe… — deu de ombros.
— Sobre mim estará registrado como o maior traidor da China. Lian, a vergonha de um povo…
— Pare com isso. — Jungwon pensou por um momento, antes de continuar: — Imagine que daqui há duzentas e noventa e quatro anos, algumas pessoas irão encontrar o diário de bordo e ler sobre você. Eles saberão que existiu um Alfa muito valente ao ponto de ir contra um Império, para defender aquilo em que acreditava.
Lian mostrou um sorriso genuíno. Aquele Ômega era a mistura das coisas mais preciosas que poderiam existir. Era inteligente e gentil. Bonito e decididamente atraente. Se não mudasse o foco de seus pensamentos agora mesmo, faria algo que poderia se arrepender mais uma vez.
— Você disse que seu pai era um nobre — mudou de assunto. — A qual família ele pertencia?
— Park, eu acho.
— Hmm... Acho que já ouvi falar. — Refletiu, sentando a vontade em cima da cômoda. — Migraram para o Japão após a queda do governador. Começaram a ser perseguidos devido a… — parou de falar, sentindo um gosto amargo no fundo da garganta.
A família dos traidores que deixavam seus reinos, era duramente perseguida para pagar os crimes cometidos pelos desertores. Possivelmente aquele era o destino de Yue.
— Sua mãe ficará bem — Jungwon entendeu o temor do mais velho. — O Almirante cuidará dela. Ele é um bom Alfa… certo?
— Sim. O problema é que ela é sobrinha do Imperador, e eles não pensarão duas vezes antes de sacrificar a minha mãe para limpar o nome da família. Não posso deixá-la pagar sozinha pelos meus crimes.
— Amanhã você enviará uma correspondência para ela.
Lian assentiu, poderia funcionar. Mas ele sabia que se tratando do Imperador, eles poderiam obrigar Yue a escrever mentiras, para enganar e atraí-lo. Mas independentemente de qualquer coisa, ele se entregaria se isso significasse salvar a Beta.
Batidas foram ouvidas na porta, a alma do Ômega saiu do corpo por alguns segundos, e só retornou quando percebeu que quem estava do outro lado querendo entrar, era Jay.
— Por que você está tão agitado? — Jay observou a respiração hiperativa do Ômega.
— Pensei que fosse meu pai.
— Eu cheiro a rosas agora?
— Ei, vai com calma — Lian pediu. — A gente só tava conversando.
— Vocês sabem que o Capitão Jeon não permite Alfas no quarto do Jungwon — apoiou as mãos nos quadris.
— E o que você tá fazendo aqui? — O Alfa mais velho cruzou os braços.
— Ora, eu só… eu… e-eu só queria ter certeza de que as coisas estavam certinhas por aqui.
— Certinhas? — Jungwon inclinou a cabeça para o lado. — Do que você tá falando?
Jay espiou o corredor uma última vez para ter certeza de que ninguém estava por perto, para entrar de vez no quarto do Ômega. Cruzou os braços assim como o mais velho e o encarou, quando acusou:
— Esse enxerido sabe bem do que eu tô falando.
— Sei?
— Uhum! Lá no cais, não tá lembrado?
— Aaaah… você tá falando de quando eu te-... — Lian foi interrompido quando o mais novo pressionou a palma da mão em sua boca.
— O que tá acontecendo aqui? — Jungwon estreitou os olhos.
— Nada! — Jay praticamente arrastou o outro Alfa consigo para fora do quarto. O mais velho mal conseguia rir, com a boca coberta. — Depois a gente conversa…
Jay fechou e segurou a porta com apenas uma mão, antes que Jungwon os seguisse pelo corredor. Com isso, o Alfa mais velho conseguiu se soltar e ficou assistindo o Ômega tentando abrir a porta e Jay em dúvida se largava a maçaneta ou não.
— Se você não deixar ele sair vai ser pior… — Lian aconselhou, encostado na parede.
Jay analisou a situação. O Ômega não parecia disposto a deixar ele fugir sem uma explicação, pelo modo que tentava puxar a porta e abrir. Ele calculou a distância até seu quarto e quando entendeu que não daria tempo de correr, cedeu:
— Eu vou soltar, não fica puxando. Você pode se machucar — avisou, com voz suave.
Estava esperando receber de volta um grito irritado. Mas a força contrária que estava sendo feita na porta desapareceu. Devagar, o Alfa foi abrindo até ver Jungwon parado de braços cruzados e aparentemente calmo.
— Eu ia te falar, mas com todos esses conflitos acabei deixando de lado… — Jay espiou a passagem que dava acesso àquele lugar. — Deixa eu te contar sobre isso amanhã, eu tô sentindo que o seu pai pode aparecer aqui do nada.
Jungwon olhou para Lian um pouco mais atrás, depois para o Alfa mais novo. Tinha suspeitas do que havia acontecido pelo olhar desconfiado deles, mas não revelou. De certa forma, não se achou no direito de fazer cobranças, o Alfa disse que contaria no dia seguinte, então resolveu esperar.
— Tudo bem — o Ômega relaxou. — Mas eu quero saber.
— Você saberá… — Jay inclinou-se devagar para beijá-lo suavemente no rosto, depois na boca e finalizou com um último na testa. — Durma bem, tá?
Jay sabia como desestabilizar o coração teimoso do Ômega. Sabia exatamente como fazê-lo ficar mais calmo e manso. Mesmo que sua voz de Alfa tivesse qualquer efeito sobre ele, não era com esse instrumento que ele o faria. Não era com agressividade que ele conseguia domar a “fera”, era com jeitinho e carinho.
Assim que Jay se afastou um pouco, Jungwon olhou para Lian esperando que o Alfa fizesse o mesmo. O Alfa encarou de volta e sorriu. Ora, por que diabos ele esperou por isso? O Ômega perturbou-se em pensamento.
Jay era como um oceano tranquilo, onde ele poderia flutuar sem medo das tempestades, olhar para o céu e admirar as estrelas. Lian era como uma onda forte que surge do nada, arrastando para além da profundidade daquele oceano. Se o Alfa mais novo era suave, em contrapartida, o outro era intenso.
Pensar muito a respeito fazia a mente do Ômega girar confusa. Ele não tinha dúvidas do amor que sentia por Jay, a incerteza aparece quando se tratava do que sentia pelo mais velho. Embora, no fundo, ele já sabia o que estava acontecendo.
— Então… boa noite, meninos. — Jungwon fechou a porta.
Se ao menos o Capitão Jeon permitisse só uma vez que ele dormisse no quarto do Ômega. Jay seria capaz de prometer se comportar. Não faria nada além de dormir sentindo seu calor acolhedor.
O Alfa virou-se para o outro, encontrando o mais velho muito próximo. Deu um passo para trás, ficando encostado na parede, mesmo assim o outro ainda estava perto demais.
— Você não respeita muito o espaço pessoal, certo? — Brincou, tentando não ficar tenso com o mais velho tão próximo.
— Não. — Foi cinicamente sincero. — Eu estou chateado…
— Por que?
— Você não passou pra ele o recado que eu pedi.
— Recado? — Jay indagou chocado. — Você chama aquilo de recado?
— Sim. — Deu de ombros.
— Seus recados são muito salientes pro meu gosto.
— De qualquer forma, foi um recado — se aproximou um pouco mais.
— Lian?
— Hm?
— Você tá muito perto.
— Onde eu vou dormir?
— Hmm… — olhou para os lados em busca de uma saída e afastou o Alfa, empurrando-o pelos ombros. — A maioria aqui não gosta muito de você, então pode dormir comigo.
— Me parece ótimo. — Lian seguiu o mais novo até o quarto que o mesmo dividia com Taesung. — Só por causa disso eu posso te perdoar por ter esquecido o meu recado.
— Pra começo de conversa, beijos não são recados — ele abriu a porta, esperou o mais velho passar para entrar logo em seguida. — Tomara que o Jungwon faça picadinho de você quando souber que me beijou.
Os dois olharam para o lado, ao mesmo tempo, assim que escutaram que também havia uma outra pessoa no quarto. Taesung olhou para Lian e depois para o irmão, com as sobrancelhas erguidas e a boca aberta.
— Hmmm. Então foi por isso…
— Calado. — Jay interrompeu a reflexão do mais novo. — Não é o que você tá pensando.
— Não, não — Taesung levantou da cama e o enfrentou, ligando os pontos. — Até sobre o relacionamento entre Alfas você queria saber.
— Sério? — Lian viu que a conversa ficava mais interessante à medida que o menor se expressava. — O que mais?
— Eu vou te contar tudo — Taesung sorriu ardiloso.
— Que ótimo. — Jay sentou na cama irritado. — Juntaram-se os dois pra acabar com meu juízo.
Fingiu que estava mexendo em alguma coisa muito importante na cabeceira da cama, apenas para ficar de costas para eles. Jay sempre teve a referência de Alfa e Ômega vinda de seus pais, cresceu a bordo de um navio em que dois Alfas se relacionavam, mas ainda era algo distante para ele.
Seu primeiro interesse amoroso foi um Ômega. Nunca passou pela sua cabeça que um dia poderia vir a se interessar por um Alfa, nunca foi um desejo. Nunca houve um momento em que tenha visto um Alfa e sentido qualquer tipo de atração.
Mas com o Lian foi diferente. Talvez, fosse devido ao fato de que ele era diferente de qualquer outro Alfa que já tenha conhecido. Seu aroma não o repudiava, muito pelo contrário. Combinava perfeitamente com o mais velho, o sândalo é forte e intenso, assim como sua personalidade.
— O que você quer saber primeiro? — Taesung sentou confortavelmente para dar início ao seu rico depoimento sobre o comportamento do irmão.
Apesar disso, Lian não estava tão interessado naquilo, de fato. Primeiro, porque não queria constranger o Alfa. Coação foi uma violência psicológica que ele mesmo sofreu, não era nada agradável viver com este fardo. Segundo, Lian já tinha noção de muitas coisas, o próprio Jay já deixava isso bastante claro.
— Não precisa. Se ele ainda estiver interessado, sabe a quem perguntar.
Jay olhou para trás, curioso a respeito do mais velho. Quando viu que este já o encarava, virou o rosto para frente outra vez. Era fofo o jeito que ele tentava esconder seu interesse. Aquela casca marrenta se assemelha a uma bolha de sabão, que pode estourar a qualquer momento com apenas um toque do mais velho.
— Vocês vão ficar conversando a noite toda? — Jay finalmente se levantou, ficando de frente para eles novamente. — Temos muito o que fazer amanhã. Jungwon precisa de ajuda com o Luna.
Aquilo não foi apenas um jeito de escapar do rumo daquela conversa, ele realmente estava preocupado em levantar disposto na manhã seguinte. Indícios de que seria um bom contramestre, preocupado com a situação do navio e pensando nos planos de seu Capitão.
Neste caso, seria Jay mais ferrenho que Namjoon?
Apenas o tempo poderá revelar…
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No dia seguinte, o primeiro que acordou não foi Junbuu ou algum de seus ajudantes, mas um certo Ômega bastante ansioso. Jungwon estava com um pão na boca, segurando um bloquinho com a mão e anotando algo com a outra.
— Vai acabar se entalando. — Jungkook avisou, foi o segundo a aparecer no convés.
— Hum huumhum humm, hum hum…
— O quê?
Jungwon fechou o bloquinho com uma pena marcando a página, mordeu o pão e o engoliu antes de responder:
— Eu disse que estou planejando o conserto do Luna, para hoje.
— E o que você anotou aí? — O Ômega entregou a ele o bloquinho, o Alfa leu e analisou, entregando-o de volta logo em seguida. — Priorize a limpeza dele primeiro. Os corais no que sobrou do casco esconde que está muito pior do que aparenta.
— Certo… — Jungwon abriu o bloquinho e riscou algumas frases. — O que mais?
— Já pensou em como será organizado?
— Como assim?
— Quem vai limpar qual parte, e o quê.
— A gente limpa o que der.
— Organização, Jungwon — o mais velho sorriu. — Pense…
O Ômega encarou o horizonte, ponderando, enquanto seu pai saiu de perto para ter com seu contramestre, que junto a outros piratas já havia despertado para iniciar um novo dia de trabalho.
No momento, Jungwon contava com Jay e Lian para realizar os consertos do Luna. Não era exatamente um capitão, ainda, mas já podia contar com pelo menos dois para fazer parte de sua tripulação. Ele esperou um pouco mais até que os Alfas acordassem, para seguirem juntos até a enseada onde o navio estava.
O navio estava na areia, na margem da praia. Agora que estava completamente fora da água, era possível ver a enorme fenda no centro dele, fruto de uma explosão em seu interior. As partes da popa e proa da embarcação estavam menos destruídas. Os cabos estavam estragados e as partes metálicas corroídas.
— Vocês ficam aqui esperando — Jungwon decidiu. — Eu vou analisar as condições dele para que nenhuma viga de madeira solta de repente caia sobre a cabeça de vocês.
— Vai deixar ele se arriscar sozinho assim antes mesmo de ser o nosso capitão, Jay?
— Claro que não.
— Pena que eu não pedi a opinião de nenhum dos dois. Eu já decidi o que será feito, esperem aqui.
— Pena que nós somos dois, e você apenas um. É melhor mudar sua decisão para uma que inclua a gente nisso e seja menos arriscado pra você. — Lian respondeu. — De outro modo, não vamos deixar você dar um passo sequer na direção desse navio.
— Isso é um motim?!
— Pode chamar do que você quiser. — Lian suspirou, tranquilo.
— Jay?!! — O Ômega virou-se para ele, esperando apoio.
— Eu acho que o Lian tem razão…
— Você é um mau exemplo para ele! — Jungwon apontou para o Alfa mais velho.
— Não precisa fazer isso sozinho — Jay afirmou. — Sei que está com pressa para se mostrar um bom capitão, arriscando-se antes que os demais. Mas aqui você tem dois Alfas que estão dispostos a entrar de cabeça com você, ficar aqui de braços cruzados não faz parte disso.
Jay expressou o mesmo que Lian estava querendo dizer mas, de um jeito mais suave. Com isso, Jungwon compreendeu que não seria capitão apenas dando ordens, mas entendendo a necessidade de sua tripulação, naquele caso, a necessidade dos Alfas era ajudar e proteger o seu futuro capitão.
— Tá, eu aceito as condições — o Ômega cedeu. — Quero os dois juntos olhando as camadas inferiores que ainda estão inteiras. Eu fico com os pavimentos superiores, já que sou mais leve.
— Olha quem tá vindo ali — De repente, Jay afirmou, apontando.
Jungwon e Lian olharam na mesma direção e viram Eunji, Hyun e Sarah correndo até eles ao longo da margem. Os três esperaram as crianças se aproximarem.
— Olha, Sarah, é o navio do vovô — Hyun admirou.
— Não é do vovô, é do Jungwon — a menina corrigiu.
— Desculpa.
— Tudo bem, Hyun. Ele pertenceu ao seu avô também. — Jungwon passou a mão nos cabelos do Ômega e bagunçou. — O que vieram fazer aqui?
— Te ajudar — Eunji respondeu. — Esse navio é muito grande pra fazer isso sozinho.
— Não estou sozinho.
— Eu sei, mas vocês eram apenas três. Com a gente, já fica em seis!
Jungwon sorriu abertamente para a mais nova. Ele observou as três crianças, que estavam lado a lado e muito ansiosas para auxiliá-lo no que fosse preciso. Ele não tinha certeza se o Luna poderia navegar novamente, nem ao menos possuía uma tripulação. Não tinha muitos ao seu lado mas, os que tinha, eram realmente os melhores.
— Ah, e ainda tem isso aqui — Eunji entregou a ele um saquinho. — Não é muito, mas acho que pode ajudar pelo menos um pouquinho.
— O que é isso? — O Ômega encontrou algumas moedas de ouro dentro, e olhou confuso para as três crianças.
— Pra você consertar o Luna. Papai disse que vai custar muito caro. Você vai precisar de todas as moedas que conseguirmos.
Os olhos do Ômega, que já estavam marejados diante da ajuda dos três, não aguentaram o volume das lágrimas e transbordaram descendo pelas bochechas. Jungwon caiu de joelhos na areia, diante da irmã, e apoiou as mãos em seus pequenos ombros.
— Você é o que tem de mais precioso nesse mundo, sabia?
A Alfa sorriu para ele, encarando os olhos escuros do Ômega. O sorriso que ela possuía em seus olhos tinha a mesma característica que seu pai Ômega.
Eunji não se parecia apenas fisicamente com ele, mas também herdou traços fortes de sua personalidade. Se Jungwon cresceu implacável como Jungkook, Eunji era tão gentil e generosa quanto Jimin.
— Olha só, mais uma coisa que temos em comum — a atenção foi movida para Sarah, quando a mesma comentou com sua prima. — Um irmão chorão.
— Até parece que você nunca chorou, hum. — Jungwon riu, passando as costas das mãos nas bochechas, para secar as lágrimas.
— Não mesmo.
— Mentirosa! — Hyun apontou para o rosto da irmã. — Você chorou quando o papai contou o que havia acontecido com o Jungwon.
— Isso foi suor — Sarah rolou os olhos. — Tava muito calor naquele dia.
— Você tava suando pelos olhos? — Jungwon riu ainda mais, lembrando-se que o mesmo fato curioso aconteceu com Jackson.
— Obviamente… — ela mudou de assunto. — Vem cá, quando o serviço vai começar?
— Eu e os meninos vamos verificar se é seguro transitar pelo navio, vocês esperem aqui.
As crianças obedeceram, acomodaram-se na areia e esperaram sentados enquanto os mais velhos exploravam a embarcação. Tudo o que estava solto já havia despencado durante o transporte do navio, do fundo do Oceano até a Ilha de Nabuco. Era completamente seguro pelo menos limpar e remover os corais.
— Muito bem — Jungwon decidiu ao retornarem a praia —, ajudem o Lian a limpar o convés superior. O Jay e eu vamos ter uma conversa em particular.
— Vamos?
— Sim. Pensa que esqueci?
Jay sorriu nervoso, mas o acompanhou até alguns rochedos que se encontravam entre o bosque e a praia. Jungwon encostou-se nas pedras com os braços cruzados e esperou.
O Alfa era sempre muito transparente. Não era de meias palavras, portanto, foi direto e sincero:
— Lembra daquela madrugada sangrenta?
— Sim.
— Então… lá no cais, o Lian me beijou.
Jungwon descruzou os braços e abriu a boca, mas fechou-a logo em seguida. Ele abriu mais uma vez e fechou novamente. Queria dizer muitas coisas, mas não sabia exatamente o quê. Em vista do silêncio, Jay afirmou:
— Tudo bem, pode me xingar ou bater você se quiser.
— Não vou fazer isso.
— Então diz alguma coisa.
— Estou pensando… — o Alfa franziu o cenho, mas esperou em silêncio, enquanto o outro tentava entender o motivo. — Por que ele faria isso?
— Ele disse que era um recado pra você. Mas é claro que era só uma desculpa pa-...
— Espera… você não me deu o recado.
— Sério? Eu disse que ele me beijou, Jungwon, e você se preocupa com o recado?
— Mas…
— Se você quer tanto isso, eu posso te dar agora.
— Ele tá aqui, pode fazer isso pessoalmente — o próprio Jungwon percebeu o que havia dito, corrigindo-se antes do Alfa reagir: — Quer dizer, não! Não foi o que eu quis dizer. — Jay cruzou os braços e estreitou os olhos. — Para de me olhar assim!
Jay continuou olhando para ele, em silêncio. “Seja sempre sincero”, foi o que Taehyung disse. Mesmo temendo a reação do mais novo, Jungwon decidiu, ali, seguir os conselhos do Beta e expressar o que estava sentindo.
— Escuta… — o Ômega continuou. — Realmente não foi o que eu quis dizer, mas foi o que senti. O Lian tem uma coisa que… eu não sei. Eu amo você, sei em que terreno estou caminhando. É como um jardim enorme, que foi cultivado desde que nascemos. Mas ele…
— Continue.
— Ele me atrai como o calor do sol, e quando ele chega muito perto eu tenho medo de me queimar, e incendiar esse jardim que construí com você.
O Alfa fechou os olhos por alguns segundos e suspirou antes de abri-los novamente.
— Digamos que eu entenda um pouco… — Jungwon cobriu a boca com a mão. Não estava julgando pelo fato dele ser um Alfa, mas porque Jay sempre se mostrou contrário às investidas de Lian. — Me sinto um tanto inquieto quando ele tá perto… quando tá perto demais…
— Inquieto em que sentido? — Jungwon o encarou curioso.
— Ansioso. Eu nunca senti isso antes, com nenhum outro Alfa. Por mais que eu tente ignorar, ele consegue me deixar um pouco atraído. É irritante que ele consiga fazer isso com tanta facilidade.
— Já pensou em não lutar contra?
— Você já?
— Estamos sendo sinceros aqui, certo? — O Alfa assentiu e ele continuou: — Quando você me toca, me abraça e me beija, eu desejo que ele faça o mesmo.
— Em meu lugar?
— Não… Deus, isso é tão indecente…
— Nós dois? — Até o mais novo corou, arregalando os olhos. — Nós dois te abraçando e-...
— Para! — O Ômega cobriu o rosto, quase pegando fogo de tão envergonhado. — Não precisa descrever.
— Bom… — Jay desviou o olhar, fazendo como o mais velho pediu.
Contudo, em sua mente, a cena continuava desenrolando-se. Era quase automático como tudo ia acontecendo, ele na frente, Jungwon no meio, Lian logo atrás. As mãos se encontrando conforme tocavam o Ômega…
— Jay! — Foi interrompido no momento em que Jungwon o chamou: — No que você tá pensando?!
— Nada... Hum hum — pigarreou, limpando a garganta. — O que você quer fazer agora?
— Voltar pro navio. A não ser que você queira fazer alguma coisa… — Jungwon sorriu, desviando o olhar.
Jay segurou no queixo dele, virou seu rosto delicadamente para si e trocou olhares entre os lábios e os olhos do Ômega. Percebendo um sorriso nitidamente convidativo, o Alfa não demorou quando encaixou a mão em sua nuca e o beijou logo em seguida.
As mãos do Ômega deslizaram pelas costas dele, movendo-as de modo que acariciava o mais alto com um gesto amplamente pacificador, inconscientemente deixando os dois mais à vontade após aquela conversa.
— Estão nos esperando… — Jungwon tentou sair, mas o Alfa abraçou mais firmemente.
— Será que não podem limpar sozinhos só mais um pouquinho?
— Não… — sorriu entre alguns beijinhos que o Alfa deixava em seus lábios. — Realmente precisamos ir.
Muito a contragosto, o Alfa cedeu, acompanhando o mais velho conforme seguiam de volta para o local em que o Luna encontrava-se exposto.
Há cerca de alguns metros do navio, eles encontraram outros Alfas do Black Swan ajudando a remover os corais impregnados na embarcação. Billy e Jared mantinham sua concentração nas crostas formadas nas partes inferiores do casco. Sven e Hoseok estavam um pouco mais atrás, enquanto Yoongi ajudava as crianças com toda a parte traseira.
— Vieram ajudar! — Os olhinhos do Ômega brilharam.
— Ah, imagina! A gente adora limpar navios — Billy sorriu falsamente.
— Até parece — Jay riu.
— Sejamos sinceros — Jared revelou —, ninguém gosta de trabalhar, porém, entre limpar o Luna com tranquilidade e ouvir os gritos de Namjoon, estamos aqui.
— Mesmo assim — Jungwon curvou fazendo uma reverência. — Muito obrigado.
Os Alfas sorriram para ele e retornaram a limpeza das crostas.
Avançando um pouco mais para dentro do navio, através de uma fenda no meio do casco, Jay viu seu tio Sven rindo enquanto conversava com Hoseok, e juntou-se a eles com entusiasmo. Ele e Taesung adoravam o tio.
Enquanto isso, Jungwon seguiu avaliando o quanto já haviam removido os corais de boa parte do navio, levando em consideração o tamanho do Luna e os poucos minutos em que ficou ausente com o Alfa.
Haviam poucas tábuas inteira no pavimento do convés, sendo preciso equilibrar-se para não cair nas camadas inferiores. O Ômega caminhou com atenção para não pisar em falso, até chegar diante da cabine. Assim que abriu a porta, Jungwon descobriu que não foi o único que pensou em explorar aquele cômodo.
No momento em que o viu, Lian estreitou os olhos e posicionou as mãos como quem estava se preparando para uma luta, o que fez o mais novo rir.
— Para com isso, eu não vou te agredir.
— O Jay está bem?
— Ele tá ótimo. — Rolou os olhos, sorrindo mais uma vez. Depois, mudou as feições para algo mais sério. O Alfa notou, desfazendo sua pose de defesa para encará-lo quando o Ômega voltou a falar: — Por que você faz isso?
— Do que está falando?
— Você sabe… fica flertando com a gente.
— Ah, isso…
— É tão divertido assim pra você? Porque pra mim é bem confuso.
— Confuso? — Lian inclinou a cabeça para o lado e franziu o cenho. — Achei que tivesse sido o mais claro possível. China, Marinha, traição, pirata… entendeu?
— Você tá brincando, né? — Jungwon suspirou ainda mais confuso.
De repente, o Alfa avançou vagarosamente até ele. À medida que se aproximava, o Ômega recuava sem mover os olhos dele, até sentir suas costas contra algo sólido. Permaneceu no mesmo lugar, enquanto o mais velho se aproximava.
— Não estou brincando… — Parou diante dele, observando suas expressões. Os olhos do Ômega permaneceram fixos encarando os de Lian, não movendo sua atenção mesmo quando o Alfa tocou suavemente em sua bochecha. — Estou apaixonado.
Nenhum centímetro do corpo do Ômega se moveu, exceto seu coração, que batia apressadamente. Um pequeno filme se passou na mente dele, lembrando-se dos momentos que passou com o Alfa, desde que o mesmo retornou a Nabuco como um oficial da Marinha.
No dia em que foi beijado pelo Alfa no depósito do pomar de maçãs, acreditou que tudo havia ficado esclarecido desde então. Para Lian, contudo, aquele sentimento desenvolveu-se tão naturalmente que foi fazendo suas escolhas baseado no que sentia, e lá estava ele, de oficial da Marinha à pirata.
Jungwon sentiu-se patético por não ter percebido algo tão óbvio. No entanto, talvez, ele enxergou apenas o que sua mente tentou criar, que não havia nada além da mais pura e inocente amizade. Agora que Lian tornou indubitável o que de fato sentia pelo Ômega, não havia espaço para projeções.
— Você ainda está aqui? — Lian riu da expressão que o Ômega fez ao perceber que havia ficado em silêncio por um longo tempo.
— Estou. É, bom… agora tudo faz sentido.
— É mesmo?
— Sim. Quer dizer, não. — Jungwon franziu a sobrancelhas quando o encarou novamente. — E o Jay? Por que você o beijou? Não venha me dizer que foi um recado pra mim.
Lian sorriu ainda mais, antes de suspirar pensativo e mover-se da frente do Ômega, abrindo espaço para que ele pudesse sair da parede.
— O Jay… tá, eu confesso. No início foi muito divertido provocá-lo, porque ele quase enfiou uma espada no meu olho.
— Aquilo foi atraente em um nível absoluto.
— Que sádico você, não?
— Não é isso. Não quis vê-lo machucado — Jungwon explicou. — O Jay geralmente é tranquilo e pacifista, mas quando tá irritado ele se impõe de um jeito tão… por isso é muito tentador quando ele está ameaçando alguém.
— Que safado… — Lian expressou, chocado. O Ômega riu. — Mas eu concordo.
— Você disse que no início era apenas para se divertir… — Jungwon o lembrou, para que ele continuasse. — O que mudou?
— De tanto provocá-lo eu fui reparando no jeito encabulado e marrento dele, de lidar com a situação. É muito adorável. — Lian olhou pelo buraco na parede da cabine, depois suspirou, voltando a encarar o Ômega: — Se você quiser eu posso fazer uma lista cronológica de como consegui foder com a minha vida.
— Por que diz isso?
— Bom, estou apaixonado por um Alfa e um Ômega, mas não posso ter nenhum dos dois, porque eles já possuem um ao outro. — respondeu de maneira muito óbvia. — Pode resolver esse enigma?
— Não é um enigma, você só não sabe das outras partes… — Jungwon não queria dar falsas esperanças para o Alfa, mas se Taehyung disse para ser sincero, não deveria ser apenas com Jay, ele devia isso a Lian também. — A minha, por exemplo.
— Estou ouvindo — o Alfa voltou para perto do Ômega. Perto demais… Jungwon voltou a ficar atento quando recuou.
— Certo, mas o problema não é apenas esse. Eu tenho medo do que eu possa fazer, não você — Jungwon parou de recuar, avançando até ficar diante do mais alto. — Eu o tenho sim, mas também quero você. Só não sei pra onde isso vai nos levar. O Jay parece sentir o mesmo, mas se recusa, você sabe…
— Você está dizendo que me quer.
— Com todas as letras.
— E que o Jay parece sentir o mesmo…
— Não quero iludir você. Estou sendo sincero, assim como um bom amigo mais velho me aconselhou. Alguém que entende bastante o que estou sentindo.
— Então, só pra deixar claro, você não está me prometendo nada mas eu posso, digamos, conquistá-lo aos poucos?
— Se for naturalmente, sim. Não quero que ele se sinta forçado a nada. Situações ou investidas que o deixe constrangido estão fora de cogitação.
— Entendo. — Assentiu, com seus braços ligeiros indo abraçar o Ômega. Jungwon o deteve. O Alfa franziu o cenho, confuso. — Você disse que…
— Sim. Mas o Jay e eu estamos muito conectados, Lian… — Jungwon sorriu, astuto e misterioso. Apoiou as mãos nos ombros do Alfa e ficando na ponta dos pés, sussurrou em seu ouvido: — Você me terá, quando o tiver também.
Lian permaneceu parado, apenas observando o Ômega se afastar tranquilamente. Se ele pensava que tinha o controle de tudo, Jungwon mostrou-lhe naquele momento, que não era exatamente assim.
Ao término daquela conversa, Jungwon finalmente se juntou aos outros para, de fato, começar a limpar o Luna. Lian, por sua vez, teve seus pensamentos multiplicados por mil, não era loucura da sua cabeça, o Ômega realmente retribuía aos seus sentimentos. Jay, por outro lado, era a grande questão a ser resolvida.
Após limparem boa parte do pavimento do navio, Jungwon decidiu que, para aquele dia, já era o suficiente. Ele agradeceu a cada um pelo auxílio, e todos prometeram retornar no dia seguinte ara continuarem a limpeza.
As crianças foram levadas pelos piratas de volta ao Black Swan, enquanto Jungwon e Jay acompanharam Lian até o centro, para que o mesmo enviasse uma correspondência a sua mãe.
Continua…
Próximo capítulo (amanhã 26/08) eu espero que o JK não infarte 😬
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