[48] Incógnita

Quando eu inicio parte do texto em itálico significa que aquela cena é um sonho. Quando o texto sai do itálico e volta ao normal, é porque a pessoa que sonhou naquela cena acordou, ok? Eu devia ter explicado isso antes, mas não percebi que ainda tinha algumas pessoas que ficavam sem entender nessas partes. 👉🏽👈🏽

Eu me confundi nas contas hehe, não é nesse capitulo que o Jungwon acaba com 18 anos, é no próximo. Eu sou muito ruim com matemática 🤡🤣 bem nesse nível mesmo...

Boa leitura: 


Após algumas semanas invadindo e pilhando os navios mercantes que inocentemente desciam em direção ao sul, o Black Swan encontrava-se carregado de várias caixas com tulipas plantadas. Estavam separadas por cores, quase perdendo seu vigor.

— Eu não vejo nada demais nessas flores. — Thon disse fazendo uma pausa.

— No entanto, elas valem muito mais do que você — Namjoon afirmou. — Eu não disse que podiam parar para descansar agora. Volte ao trabalho!

Enquanto os Alfas levavam e empilhavam as caixas na popa, Jisung ensinava Rubi, Esmeralda, Hyuk, Jared, Billy e também as crianças, a como separar o bulbo e armazená-lo adequadamente.

— Cortem o caule bem na base — o contramestre mostrou como se faz. — Agora enrole em um pedaço de papel, desse jeito… Pronto. Esse bulbo vai permanecer assim por algumas semanas, e só há necessidade de regar se ficarem murchos, o que é pouco provável que aconteça. Porém, pode acontecer, então preciso que cada um de vocês verifique os bulbos a cada uma semana até chegarmos em Nabuco.

— Entendi… quem diria que um dia estaríamos cuidando de flores. — Jared riu. — Não estou reclamando, elas não fedem a bunda de marujo como os baús. Eu poderia saquear flores por mais tempo.

— Elas têm um cheiro suave — Billy comentou.

— E são muito delicadas então, por favor, cuidado para não danificar. — Jisung indicou. — Lembrem-se, cortem o caule rente ao bulbo o mais próximo possível. 

— Isso evita que os bulbos apodreçam com mais facilidade, não é tio Ji?

— Exatamente! — Ele observou o mais novo segurar o ramo com delicadeza e cortar o caule. — Perfeito, Jungwon. Parece até que você já faz isso há anos.

O menino sorriu enrubescido e encarou a flor de cor amarela. Os demais conversavam enquanto separavam os bulbos, mas ele, aos poucos, foi ficando cada vez mais distante em seus pensamentos. No fundo de sua memória ele viu uma Alfa de cabelo longo e preto, removendo algumas folhas secas de um ramo de tulipas. 

Jungwon sorriu com os olhos fixos na flor, enquanto a lembrança se passava sem sua mente. O Ômega a enxergava como se fosse ele sentado ali, ao lado dela. De repente, a Alfa sorriu para ele e Jungwon suspirou. 

— Oiiii?! — Jay balançou a mão na frente do rosto do Ômega. Jungwon piscou algumas vezes e a imagem da Alfa se desfez em sua memória. Só então percebeu o mais novo lhe chamando. — Estava no mundo da lua? Eu te chamei três vezes e você nem respondeu.

— Desculpa. O que você disse?

— Te chamei pra me ajudar a pintar meus desenhos.

— Ah, seus desenhos… — Jungwon tentou mas não conseguiu disfarçar a falta de interesse. — Sabe o que é… Eu tenho que terminar algumas lições que meu papai mandou. 

— Tudo bem, Jun — o mais novo sorriu, compreensivo. — Eu vou pintar sozinho mesmo, vou te dar o mais bonito.

— Obrigado... — A culpa queimou seu coração, mas os desenhos do Alfa eram feios. 

Naquele momento ele imaginou que seria perda de tempo colorir algo que não havia beleza. Sentiu-se mal pelo Alfa, mas depois poderia recompensar de um jeito mais produtivo.

Com essa atitude, Jungwon os deixou na popa e seguiu direto para a cabine dos pais. Estava sozinho. O menino passou os olhos pelas prateleiras em busca de algo para se distrair. Tinha alguns livros que já havia lido, pergaminhos enrolados contendo localizações, castiçais e alguns outros objetivos de valor.

Dentro de um baú ele encontrou algumas caixas pretas. Curioso, ele abriu uma delas e encontrou runas do sol. Aos seus olhos não havia nada de especial nelas, então as descartou. Abriu outra encontrando mais runas. Aquelas caixas foram recuperadas do Submundo, antes que fosse completamente destruído. Na terceira caixa ele finalmente encontrou o peculiar brilho prateado, eram lindas aquelas runas lunares. 

Jungwon admirou-as por um tempo, e logo depois guardou as runas exatamente como estavam. A seguir, ele subiu na cama dos pais e deitou esticado sobre o colchão. Ele suspirou encarando o teto, completamente entediado.

Haviam algumas manchas na madeira que cobria a cabine, ele permaneceu encarando as marcas e sem perceber acabou adormecendo momentos depois.

O convés do Black Swan… não, aquele navio não era o Black Swan. Ele era muito maior, entretanto, possuía um número menor de canhões. Todas as velas estavam soltas ao vento, ninguém estava no leme, mas o navio seguia suavemente.

A princípio Jungwon imaginou que estava sozinho. Ele passou por baixo de uma bandeira cuja insígnia representava uma lua crescente, pronto para descer e procurar pelos marujos. Contudo, ele viu uma figura sentada na proa, de costas para si.

Sem pensar duas vezes, o menino seguiu na direção em que o indivíduo estava. Assim que chegou mais perto, ele sentiu seu próprio aroma vindo do Ômega que estava sentado. Era ele, o Capitão Francis. 

— Olá, Jun. — Ele sorriu assim que viu o mais novo. — Posso te chamar assim? — O menino assentiu. — Que bom. Pode me chamar de Fran, se você quiser.

Jungwon caminhou até o outro lado e sentou de frente para o mesmo, sempre atento ao que ele estava fazendo. Havia um vaso quebrado na frente do mais velho, ele estava colando os pedacinhos.

— Você quer ajuda?

— Sim, obrigado.

Jungwon encaixou alguns pedaços quebrados de porcelana nas partes que faltavam. Ele observou o vaso agora inteiro, enquanto o outro Ômega suspirava satisfeito.

— E então? — Francis exibiu o vaso, buscando saber a opinião do menor. — Pode ser sincero.

— É um pouco feio…

— Tem razão, é horrível.

— Então por que consertou ele?

— O que você acha?

— Hm… Ele é valioso?

— Sim… pelo menos para mim.

Jungwon reparou no formato e figuras do objeto mais uma vez. Não havia sequer pedras preciosas incrustadas nele, parecia ser um simples vaso com gravuras tão estranhas quanto os desenhos do seu amigo Jay.

Ainda observando aquele artefato, Jungwon sentiu-se outra vez inexplicavelmente nostálgico. Assim como quando estava lidando com a tulipa amarela.

— Fran… você conhece alguma Alfa de cabelos negros?

O Capitão sorriu quando olhou para ele.

— Sim. Foi ela quem fez este vaso. É a minha Alfa.

— Ai, céus… — o menino cobriu a boca, olhando para os lados. — Ela está aqui? Me desculpe! Não quis ofender.

— Não se preocupe. — Francis riu divertido. — Por que você acha que ele é tão valioso para mim?

— Foi feito por alguém que você gosta. 

— E isso te lembra alguma coisa?

Jungwon pensou um pouco antes de responder:

— O Jay. Ele me chamou pra colorir os desenhos dele, mas… eu criei desculpas porque não acho que sejam bonitos.

Francis ficou em silêncio, apenas observando, enquanto mais jovem refletia. Ele gosta bastante de passar as tardes colorindo com o Alfa, muitas vezes nem mesmo percebia o tempo passar.

O tempo, recurso mais precioso que alguém pode ter. Oferecer o tempo, é o mesmo que entregar parte de sua vida, por isso, o tempo é o presente mais valioso que podemos dedicar a uma pessoa especial. Jay era a pessoa especial de Jungwon. 

O Ômega levou em consideração apenas o objeto material. Todavia, ele entendeu que não é a beleza que determina o valor das coisas, mas o tempo que dedicamos a elas. 

— Acho que agora compreendo o valor desse vaso — Jungwon afirmou. — E também o que preciso fazer.

— Pode me fazer um favor? — Sem esperar o Ômega responder, Francis encaixou uma tulipa roxa na mão dele. — Leve com você quando voltar.

— O que eu faço com ela?

— Entregue ao Jack e diga a ele para não destruir dessa vez.

Jungwon franziu o cenho com muitas indagações surgindo em sua mente. Mas o Capitão ignorou a expressão confusa do menino e olhou para cima. Jungwon fez o mesmo. 

Quando se deu conta, estava deitado na cama de seus pais, encarando as marcas na madeira da coberta.

Assim que ergueu o corpo da cama, notou que havia algo em sua mão direita. Ela estava fechada, guardando uma tulipa roxa. 

— Não me lembro de ter trazido isso comigo... — Ele coçou a cabeça um pouco confuso. Somente quando se situou e lembrou do sonho que teve, Jungwon percebeu porque estava com aquela flor. — Uau… nossa! 

Era de fato espantoso que um item de dentro do seu sonho, tenha vindo parar no mundo material. O Ômega analisou a flor, parecia ser como outra qualquer; seis pétalas de uma textura aveludada, aroma suave. A única coisa que a diferenciava das demais era que veio de seu sonho, das mãos do próprio Francis Bonny.

Ninguém acreditaria se ele contasse, em vista disso, decidiu entregar a flor para o Alfa sem revelar a sua verdadeira origem. Ele apenas faria a entrega e daria o recado.

O armazenamento das cargas já havia sido feito quando Jungwon deixou a cabine, as muitas caixas com bulbos de tulipas agora aguardavam seu destino acomodadas no porão. 

O menino desceu pela escotilha a caminho dos dormitórios, torcendo para que Jay ainda estivesse colorindo seus desenhos. Antes disso, ele bateu na porta do cômodo em que seu tio Jisung compartilhava com Jackson, e agora também com os gêmeos.

— Eu trouxe-...

— Shh! — O Alfa indicou. — Eles estão dormindo.

— Pra você. — Jungwon abaixou o tom da voz, entregando a tulipa para ele. — E dessa vez não destrua.

— Quê? Hey, espera aí…

Jackson franziu as sobrancelhas ao receber a flor. Jungwon girou para sair do quarto, contudo, antes que conseguisse pisar no corredor, o Alfa agarrou sua camisa e o puxou de volta.

— Jack!

— Shh! Silêncio… — ele indicou os gêmeos com a cabeça. — Que história é essa? 

— Eu tenho que ir ver o Jay. — Ela explicou voltando ao baixo tom. Jackson suspirou indiferente. Jungwon entendeu que não sairia dali sem uma explicação. — Vi seu pai em meu sonho. Ele pediu pra te dar a tulipa e mandou o recado. Está satisfeito?

— Pra quê?

— Eu não sei. Ele adora um enigma. Posso ir agora?

Jackson assentiu. Jungwon saiu do cômodo e o deixou ponderando enquanto ainda analisava a flor. Ela iria murchar, mas se desfazer dela agora resultaria em sua destruição imediata. Ele não tinha certeza do que fazer com ela, em função disso, o lúpus atendeu o pedido de seu pai e guardou a flor dentro de uma pequena arca na prateleira mais alta.

Dois cômodos ao lado Jungwon parou na porta que estava aberta, Jay estava sentado no chão terminando de pintar o sol em um de seus desenhos. Na verdade, o Ômega não tinha certeza se aquilo era mesmo o sol, ou uma batata com bichinhos ao redor.

— Você ainda quer minha ajuda pra pintar?

O Alfa olhou para cima, estava de tal maneira concentrado que não havia percebido o Ômega no batente. O sorriso foi imediato. Jay buscou entre as folhas espalhadas pelo chão, e o entregou o desenho que considerava mais bonito. 

— Eu fiz isso pra você.

— Por que desenhou uma aranha? — Jungwon observou o desenho, confuso.

— Não é uma aranha… é o Kraken.

— Oh! Desculpa, eu olhei errado. 

Jungwon sentou ao lado do Alfa e ambos se dedicaram a colorir as artes do mais novo pelo restante daquele dia. Durante aquela atividade, o Ômega se deu conta que a verdadeira beleza daqueles desenhos, era estar ali, com o Jay. 

🏴‍☠️

Das seis semanas que o Black Swan levou para chegar em Nabuco, nas últimas duas, Esmeralda encontrou alguns bulbos começando a murchar. A Ômega contou com a ajuda de Rubi e Hyuk para regá-las. 

O desembarque na ilha ficou por conta dos Alfas. As caixas com os bulbos foram colocadas no deque, para logo em seguida serem levadas pelos funcionários do Representante, caso o acordo fosse concluído. 

Namjoon estava se decidindo quem, além de Chanyeol, ele levaria consigo. Baekhyun ou Yoongi. Ambos possuíam as habilidades que o contramestre procurava. 

— Por que não jogamos os dois em uma jaula? Quem matar o outro primeiro é o melhor assassino. — Fritz propôs.

— Eu tenho uma ideia melhor — o ruivo girou para ela. — Ficamos você, o Yoonie e eu em uma ilha deserta. Quem assassinar você primeiro, vence.

— Boa! — Emma bateu palmas. 

— Ora, parem com isso seus nojentos. — Fritz rolou os olhos. — Se pensam que vão se livrar de mim tão facilmente, estão enganados.

— Só tem um jeito de descobrir quem é o melhor… — Billy fez suspense. — Colocamos um encarando o outro, quem piscar primeiro perde.

Para a surpresa de Namjoon, os piratas concordaram. Yoongi e Baek foram levados para a proa, um de frente para outro, encarando-se inexpressivos e intensamente. Quem estava ao redor, esperava ansioso pelo primeiro que iria piscar os olhos. 

— Eu mereço! — Namjoon acertou a própria testa. 

— Eu vou com vocês. — Jisung parou ao lado dele. 

— Ótimo. — O Alfa suspirou aliviado. — Não estou nem um pouco disposto a lidar com essas toupeiras agora. 

— Tomara que o Capitão veja e acabe com essa palhaçada. — Fritz desceu a rampa em direção ao deque.

Namjoon, Jisung e Chanyeol fizeram o mesmo. Estava nos planos do Ômega entrar no gabinete, sentar e conversar, mas o outro contramestre tinha uma visão mais prática da coisa. 

Assim que adentraram no prédio em que o Representante se encontrava, o Alfa não esperou que seu acesso ao escritório fosse autorizado, em sua mente, Yuri procurava maneiras de enganá-los. 

Assim que Caolho entrou na sala de Yuri para anunciá-los, Namjoon não quis dar tempo ao Representante de pensar em qualquer estratégia, invadindo o gabinete de supetão. 

— Seus planos foram por água abaixo! — Namjoon jogou verde, esperando o Alfa se entregar.

— Do que está falando? — Yuri se levantou confuso. 

— Vai negar agora?! — Namjoon puxou uma pistola e mirou nele.

— Não! Meu Deus! — Havia uma Ômega grávida no gabinete, e também uma pequena Beta, ambas sentadas em uma sofá no canto do cômodo.

A discussão ficou mais instável quando o Representante desembainhou sua katana de caçador. Os Alfas rosnavam um para o outro, com ameaças. Jisung foi o único que deu atenção ao temor da Ômega. Chanyeol apenas assistia totalmente imparcial.

— Por favor, guardem as armas. — Jisung tentou.

— Está assustando minha Ômega, seu imbecil! — Yuri deu a volta na mesa. — Vou separar a cabeça do seu corpo, já que não utiliza seu cérebro!

— Vamos conversar…

— Vem que eu te mostro! 

— Chanyeol, ajuda! — Jisung amparou a Ômega, ao passo que prestava atenção nos dois Alfas que discutiam ferozmente. — Faz alguma coisa!

— Por que? — O Alfa estava se divertindo com aquela confusão. 

— Celina, vai ficar tudo bem. — Jisung sorriu para ela, demonstrando tranquilidade. — Eu vou resolver isso, tá bom?

A Ômega assentiu, sentando no sofá novamente, com a filha abraçada a ela. Jisung girou na direção dos Alfas, e quando eles estavam prestes a entrar em vias de fato, o Ômega se colocou entre eles. 

Estava tão furioso que seu lobo se mostrou visível, e seus olhos se tornaram mais claros que o natural quando rugiu:

— Parem, os dois! Porra! E guardem essas armas! — Yuri ergueu as sobrancelhas, Namjoon também ficou surpreso. Ambos fizeram como o Ômega solicitou. Jisung respirou fundo, voltando à postura recatada de sempre. — Obrigado. Agora, por gentileza, sentem-se e vamos conversar como pessoas civilizadas que somos.

Yuri contornou a mesa novamente e se sentou na cadeira logo atrás dela. Namjoon fez o mesmo sentando de frente para ele, trocando olhares arredios com o Representante. Jisung estava ao lado dele.

— Alguém vai me explicar o que está acontecendo aqui? — Yuri cruzou os braços.

— Encontramos três assassinos durante a viagem. — Jisung revelou. — Eles foram enviados para lidar com nossos capitães, mas o Baek, Jackson e Yoongi deram conta de dois, e o próprio Capitão Jeon cuidou do terceiro.

— Eles devem ter adivinhado o nosso plano — Namjoon soltou. — Ou alguém lhes passou a informação.

— Já entendi… Escutem, eu não tenho nada a ver com isso.

— É o mesmo que alguém culpado diria. — Namjoon riu. — Chanyeol, faça as honras.

— O quê?! — Yuri se alarmou quando viu o Alfa se aproximar. 

— Não vai tocar nele. — Celina se adiantou na frente de Chanyeol. — Eu não vou permitir!

— Eita…? — Hesitou diante da grávida.

— Isso é tão ridículo… — Yuri suspirou. — Certo. Pode fazer. 

— Não! Eu sei quem ele é.

— Leve a Lis para casa. Está tudo bem.

— Yuri…

— Meu amor, faça o que estou dizendo. 

— Celina, vem aqui um minuto? — Jisung a guiou para fora do gabinete. Longe da audição dos Alfas, o Ômega declarou: — Eu já estive nessa situação e te garanto que sei o quanto é estressante momentos de conflito. Faz mal pra gente e para o bebê também. 

— Você e o Jackson…?!

— É… gêmeos… Mas isso é conversa para uma outra ocasião. Agora eu preciso que você vá para casa. Não vou permitir que façam qualquer mal a Yuri, você tem a minha palavra.

— Mas aquele Chanyeol-…

— Você sabe como os Alfas são orgulhosos. — Jisung a interrompeu com suavidade. — Yuri não ficará satisfeito até esclarecer as coisas. O melhor a fazer é levar sua filha para casa e relaxar um pouco.

— O que você faria se fosse o Jackson?

Jisung não deu uma resposta imediata. O que ele faria? Mataria qualquer um que fosse uma ameaça para seu Alfa. Mas não podia responder isso a Celina. 

— Eu pensaria nos meus filhos. — Não era de todo mentira. 

— Tudo bem, eu vou… Foi bom te ver.

— Estou feliz que esteja bem, Celina. 

Os Ômegas se abraçaram, e tomaram rumos diferentes. Jisung retornou para o gabinete esperando encontrar os Alfas se agredindo silenciosamente. Mas para a sua surpresa, estavam os três sentados, conversando.

— E então? — Ele se aproximou desconfiado.

— Estou convencido de que não foi ele. — Namjoon informou. 

— Que bom… Mas se não foi o Yuri, quem teria sido?

— Seu Capitão criou uma vasta fila de inimigos — o Representante comentou. — Os mercadores do Submundo não deixariam barato o que fizeram. Eles até tentaram tomar o Forte, mas sem Barba-Negra eles não foram capazes.

— Mas com a Ordem… — Apenas com o olhar, Chanyeol lembrou a Jisung o que eles eram capazes de fazer.

Yuri revelou aos piratas algumas informações que obtivera sobre os desprezíveis comerciantes. Posteriormente, a troca pelas tulipas foi realizada. 

Retornando para o navio, os contramestres informaram a situação para o Capitão Jeon. Jimin estava dormindo no momento, e quando acordou, Jungkook o deixou ciente do cenário que estava diante deles. 

— Será que não temos um minuto de paz? — O Ômega se levantou da cama devagar, segurando na cabeceira enquanto a outra mão estava apoiada na região lombar. 

— Você tinha razão quando pensou em matar todos eles… — Jungkook iniciou, registrando a troca das tulipas. — Foda-se a Marinha…

O Alfa continuou com seu monólogo, Jimin estava se concentrando apenas em respirar. Ele fechou os olhos e puxou uma grande quantidade de oxigênio. 

— Jimin? — Jungkook o chamou novamente.

— Espera um minuto… — O Ômega ergueu a palma, mantendo os olhos fechados. 

 — Você está bem? — Se aproximou preocupado.

— Estou! — Jungkook notou que a região entre as pernas dele estava úmida. Ele o ajudou a sentar na cama novamente, e quando moveu-se para ir chamar os médicos, Jimin agarrou em seu braço com força. — Não vá, por favor…

— Não vou deixá-lo — Ele o beijou na cabeça de um jeito carinhoso. — Eu só vou chamar o Sungjae, bem ali da porta. 

Jimin olhou na direção indicada e assentiu, balançando a cabeça. Jungkook o deixou por um breve momento. Nem sequer saiu da cabine, como havia prometido. Sem fazer alarde, ele designou que um bucaneiro fosse até a enfermaria, e logo retornou para junto de seu Ômega.

— Estou aqui — o Alfa percebeu como os batimentos dele estavam acelerados, além da sensação de aflição, e também as dores das contrações. Após ajudá-lo a remover as calças, ele segurou no rosto do Ômega com as duas mãos, e encostou suavemente a testa na dele. — Estou aqui com você, meu coração.

Jimin inalou devagar e profundo o suave cheiro de rosas. A ansiedade foi diminuindo aos poucos à medida que o sentia, não apenas fisicamente. 

Seokjin entrou na cabine, seguido do médico Ômega. Jimin estava sentado entre as pernas do Alfa, suas costas estavam confortavelmente apoiadas no peito dele. Jungkook segurava em sua mão confortando-o. 

Seokjin abriu espaço para o outro médico passar. Sungjae o encarou confuso. 

— Você não vai me auxiliar. Você é um médico e ele é o seu Capitão. — O Beta disse, indicando a passagem ao outro. 

Sungjae assentiu e colocou-se em posição para o parto. A princípio, as contrações do Ômega eram irregulares e com menos intensidade, mas à medida que seu colo alcançava uma maior dilatação, as dores foram se tornando mais fortes.

Estava sendo mais árduo e cansativo aquele trabalho, fisicamente falando. Era uma Alfa lúpus, logo necessitava uma energia maior do Ômega. Todavia, não era algo que ele deveria encarar sozinho. 

Por este motivo, a forte ligação que possuía com seu Alfa foi determinante naquela situação. Jungkook podia e estava vivenciando todo sentimento que Jimin experimentava naquele instante; a ansiedade, a felicidade e até mesmo as contrações. 

O Ômega relaxou o corpo sabendo que seu Alfa estava bem ali. O abraço ao redor do seu corpo era como um incentivo, e o moreno lhe retirava o excesso de dor. Jimin suspirou, seguindo as instruções de Sungjae. 

Os primeiros gritos de choro confirmaram o nascimento da bebê. Jimin sorriu, descansando ainda dentro do abraço do Alfa. Jungkook o acolheu carinhosamente, e também sorriu quando o Ômega virou o rosto para olhá-lo.

Assim que tomou a menina em seus braços, Sungjae notou algo de diferente na pequenina, mas não demonstrou. Ele se afastou momentaneamente levando a bebê consigo, fazendo sinal para que o Beta fosse com ele.

— Parece desigual… 

— Do que está falando? — Seokjin inclinou para olhar o rosto da bebê de perto. — Eles podem-…

— O que estão cochichando? — Jungkook inquiriu. 

— Quero ver minha filha. — Jimin os encarava ansioso.

Os médicos trocaram olhares. Sungjae atendeu o pedido do Ômega e levou a pequena até ele. Jimin sorriu emocionado ao recebê-la em seus braços. A felicidade que sentia naquele momento não o impediu de reparar algo distinto na filha.

— Por que um dos olhos dela é mais claro que o outro?

— Quando o bebê nasce é normal que seus olhos sejam acinzentados, ou tenham uma coloração diferente… — Seokjin buscou por palavras que pudessem agradar. Mas não era isso que Jimin e Jungkook esperavam, por isso, o Beta mudou sua narrativa: — Vi acontecer uma única vez. Enquanto estudava medicina, uma criança nasceu com os olhos de cores diferentes. Acreditaram que mudaria com o tempo, mas à medida que ela crescia seus olhos se tornavam mais evidentes, um era verde e o outro castanho.

— O que aconteceu com ela? — Jungkook perguntou.

— Eu não tenho certeza. Os mestres levaram para fazer pesquisas… Nunca mais a vi. O assunto se tornou proibido após um tempo. 

— Mas ela parece… — Jimin olhou a menina e sorriu. — Tão forte.

— Mas ela é. — Sungjae confirmou. — O Jin e eu vamos realizar alguns exames na enfermaria. Não temos respostas para tudo, mas estamos aqui para o que ela precisar.

Jimin assentiu. Ele ainda acariciou a filha, e sussurrou para a mesma que tudo ficaria bem. Jungkook o ajudou a entregar a pequena para Sungjae. 

— Qual o nome dela? — O médico Ômega questionou.

Capitão Jeon olhou para Jimin, acreditando que ele já havia escolhido um nome, como fez com Jungwon. Mas Jimin esperou que ele escolhesse dessa vez.

O Alfa aproximou a mão para tocar a menina, mas a pequena agarrou seu dedo primeiro. A mão dela era pequenininha e frágil, mas seu aperto era firme. Assim como seu aroma com essência suave de lírio, leve e intenso.

— Eunji. — Jungkook nomeou a Alfa. — Combina com ela.

— Muito bem, Eunji — Sungjae sorriu para ela. — Vamos ver com os titios, como você está.

— Não se preocupe, Jimin. Não será nada doloroso sou invasivo.

— Não estou preocupado com isso, Jin. Confio em vocês.

Seokjin sorriu assentindo. Jungkook acompanhou ele e o outro médico até a porta, onde do lado de fora Jungwon transitava impaciente e de expressão irritada, por não terem deixado ele entrar.

— Minha irmã! — Ele pulou ao redor dos médicos, tentando ver. — Eu quero ver! Eu quero ver!

— Calma, menino! — Seokjin o conteve. — Venha conosco, talvez você possa ajudar.

— Ajudar com o quê? — Ele seguiu os médicos escada abaixo, a caminho da enfermaria.

Na cabine, Jungkook auxiliou o Ômega com sua higiene pessoal. Embora Jimin estivesse com um semblante tranquilo, o Alfa sentia pela marca sua verdadeira emoção naquele momento.

— Está preocupado. — Ele posicionou uma almofada limpa para que o Ômega apoiasse as costas quando sentou na cama já com lençóis trocados. — Fale comigo, coração. O que te aflinge?

— Os olhos da Eunji. É visível como são diferentes. Um é muito mais escuro que o outro. É um pouco… — Ele fez uma pausa respirando fundo. — Um pouco assustador pensar no que pode ser. E se algum daqueles olhos esconde alguma coisa terrível? E se ela for cega? E se…

— Shh… — Jungkook suavemente pousou um dedo em seus lábios. — Talvez ela apenas queira ter um pouco de nós dois. 

— Nossos olhos. — Jimin sorriu, o Alfa assentiu.

— E quanto a cegueira ou o que quer que esteja por trás disso, você acha mesmo que isso poderá detê-la? — Ele encaixou a mão no rosto do Ômega, passando o polegar por uma lágrima. — Você é a prova de que somos donos do nosso próprio destino.

Jimin inspirou profundamente, seu Alfa tinha razão. Para um Ômega que teve a vida inteira planejada pelos outros, Jimin mostrou que não existe destino que não possa ser feito. De noivo infausto e dócil de um oficial da Marinha Real, agora, ele era chamado de Capitão por uma tripulação de piratas. 

— Jungwon e Eunji… — o Alfa prosseguiu. Jimin esperou que ele continuasse confortando-lhe, mas para a sua surpresa, Jungkook indagou: — Ele gosta de adagas, o que você acha que ela vai escolher?

O Ômega levou alguns segundos para assimilar a pergunta. Com a boca e os olhos entreabertos, ele piscou algumas vezes até reassumir o controle.

— É melhor você ir lá fora e tirar o seu cavalo da chuva. 

Jungkook riu. Ele também estava um pouco preocupado com a heterocromia de Eunji. Eles viviam em uma época onde a informação era escassa e tudo que fosse diferente do que era considerado “normal”, era tido como maligno. 

Distrair o Ômega também era uma forma de concentrar sua atenção em outras situações. Temer o desconhecido é natural de todo ser humano, a incerteza faz parte da vida. Porém, esse sentimento pode ser enfrentado com mais facilidade quando se está rodeado de amor e muita coragem.

Continua…

Os olhos da Eunji. O cabelo dela também será loiro, como o do Jimin.

Já adianto que ela vai sofrer preconceito por causa dos olhos ;-; mas a amizade dela com a Sarah, olha... 🤧🤧🤧

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