[47] Bandeira Vermelha
Uma explicação rápida pra quem não entendeu sobre as cores das bandeiras:
Além das bandeiras com desenho representando a tripulação, os piratas também içavam bandeiras com cores específicas, com o objetivo de transmitir mensagens aos navios que estavam prestes a abordar.
A bandeira branca transmitia rendição.
A preta significava que a tripulação teria piedade do navio que iriam atacar.
A bandeira vermelha informava que não haveria piedade no ataque e tampouco fariam prisioneiros.
Mas por que eles avisavam suas vítimas antes dos ataques? O objetivo da maioria dos piratas eram os espólios, quanto mais intacto o navio ficava maior a chance de encontrar itens valiosos ainda inteiros.
Então, eles aterrorizavam a tripulação que pretendiam atacar, ou transmitiam que teriam clemência, ambas as opções em busca de realizar uma abordagem com pouca resistência, causando medo ou dando esperança de sobreviver. Assim eles teriam pouca perda de recursos e esforços.
Boa leitura:
Após um longo tempo longe daquela região, o Black Swan finalmente ancorou mais uma vez próximo ao Porto de Chennai. O mercado daquela cidade enchia os olhos de qualquer viajante, vindos de todas as partes do mundo.
Todas as velas foram descidas, para que o navio pirata passasse despercebido durante a estadia. Todo o itinerário meticulosamente planejado pelo navegador, poderia ser comprometido caso a tripulação não seguisse a única condição imposta por Jungkook: não chamar atenção.
Se a notícia de que o Black Swan estava ancorado na costa se espalhasse, os comerciantes ficariam atentos às suas mercadorias, e muito provavelmente nenhum navio mercante arriscaria ser saqueado pela tão conhecida tripulação.
Quase todos os piratas desembarcaram em direção à cidade, Capitão Jimin e alguns outros permaneceram no navio para guardar a embarcação, ou simplesmente porque pretendiam descansar para os intensos ataques que fariam nos dias seguintes.
O Ômega lúpus estava admirando de longe as cores do mercado vibrante, com a mão apoiada no parapeito do navio e a outra no ventre. Ele estava em seu sétimo mês de gestação, lembrando-se que foi nesse mesmo período que prematuramente deu à luz ao seu primeiro filho.
— Por favor, minha Alfinha, fique aí dentro só mais um pouquinho — ele sussurrou. Jungkook estava parado um pouco atrás, observando a cena em silêncio. Jimin continuou conversando com sua filha: — Estamos muito ansiosos pra te receber. Jungwon, o seu irmãozinho, já possui uma lista de coisas que deseja te ensinar. O seu pai também. Ele acha que vai te levar no ferreiro, no primeiro mês depois que você nascer. — Jimin franziu o cenho ao sentir a menina se mexendo em seu ventre. — Não, ele não vai. — Ela mexeu outra vez. — Não vai mesmo.
— Parece que ela discorda de você — Jungkook se revelou. O Ômega ergueu as sobrancelhas e olhou para trás. — E está de acordo com os meus métodos.
— Ouvindo conversa alheia, Jeon Jungkook? — Jimin apoiou as mãos na cintura. — Francamente…
— Não adianta mudar de assunto — o Alfa sorriu quando se aproximou. — Ela já deve tá querendo nascer, pra treinar comigo e Jungwon.
— Não! — A reação de Jimin não foi de raiva, mas de medo. — Ela não pode nascer agora!
De maneira automática, a mente dele associou o sofrimento que passou em seu primeiro parto, ao tempo de gestação que estava no momento atual. Com isso, Jimin sentiu uma tensão se espalhar pelo seu corpo, que o fez permanecer estático, abraçando o próprio ventre.
O Alfa sentiu a aflição dele e o abraçou com doçura. Jimin fechou os olhos e suspirou o aroma suave e intenso de rosas, ele ficou sereno ouvindo a voz de Jungkook suavemente:
— Estou aqui. Você consegue me sentir? — Ainda com os olhos fechados, Jimin balançou a cabeça positivamente. — Não vou a lugar algum. Irei permanecer com você quando nossa princesa nascer. Dessa vez você vai sorrir.
Jungkook separou o abraço e o beijou na testa carinhosamente. O Ômega abriu os olhos e sorriu quando viu o mesmo sorrindo para si também.
— Você não vai com eles? — Jimin se referiu aos piratas que se espalharam pelo mercado.
— Estou esperando o Jungwon.
— Ele desceu com o Baek e o Chanyeol.
Jungkook encarou o nada e ponderou sobre a conversa que teve com o filho.
— No que está pensando?
— Nada… — Jimin o observou desconfiado, e antes que ele iniciasse as indagações o Alfa foi ligeiro. — Estou indo, até mais tarde.
Jimin acompanhou o Alfa descendo a rampa até o deque, seguindo entre os muitos comerciantes que ofereciam suas especiarias. Sempre que ancorava em Chennai, ele costumava comprar um tipo de vinho que só era vendido naquele lugar.
Enquanto isso, Jungwon seguia pelas ruas da cidade colorida com Chanyeol de um lado e Baekhyun do outro. O menino não se cansava de fazer perguntas, e os dois mais velhos respondiam cada uma delas.
— Uau, você treinou ele e agora ele é mais forte que você. — Jungwon disse, o Alfa sorriu confirmando. O menino virou-se para o Ômega: — Você também resiste a voz de um lúpus?
— Não. Isso apenas seu pai conseguiu. — Baek disse sentindo-se orgulhoso. — Por enquanto, hm? Porque eu soube do Jack que tem um certo garotinho querendo fazer o mesmo.
— Eu quero, mas meu pai acha que sou muito novo, e o Jack também.
— Bobagem. — Chanyeol suspirou. — Se eu fosse um lúpus ajudaria você agora mesmo.
— Está falando sério?!
— Eu faço essa coisa há muito tempo, consigo identificar os limites das pessoas só de observá-las. A questão é que seu pai e o Jack estão ligados a você, emocionalmente.
— Você não gosta de mim? — A voz de Jungwon soou triste.
Baek acertou um soco no braço do Alfa.
— Ai! O quê? — Ele passou a mão no local atingido e olhou para o ruivo. Baekhyun indicou o menino com a cabeça. Chanyeol entendeu e começou a se explicar: — Ah… Claro que eu gosto. O que quero dizer é que não deixo esse tipo de coisa me influenciar.
Baekhyun parou a caminhada e se abaixou diante do mais novo, apoiando as mãos nos ombros dele. Jungwon o encarou nos olhos.
— Ele já me torturou de formas que você nem imagina e eu resisto a todas elas.
— Nem todas… — O Alfa comentou.
Chany e ele entreolharam-se, conversando através do olhar. O Alfa transmitiu em linguagem muda alguma informação na qual o ruivo não se lembrava.
Baek, por sua vez, sentiu o rosto esquentando quando suspirou, tentando não sorrir quando se lembrou de um tipo de tortura que não conseguia resistir.
— Cala a boca, Chanyeol. — Ele o repreendeu.
O Alfa sorriu, virando para o lado em que algumas pessoas circulavam pelo mercado. O ruivo voltou sua atenção ao menor:
— Você pode tudo o que quiser. Seu pai e Jackson sabem disso, não estão te subestimando. Não se preocupe, sua vez chegará.
— Obrigado. — Jungwon sorriu para ele.
Os olhos do Ômega mais velho correram na direção do outro lado da rua, logo atrás de Jungwon. Ele continuou com a expressão inalterável quando viu um caçador olhando diretamente para eles.
— Baek… — Chanyeol o chamou.
— Eu vi. — Ele se levantou devagar, ainda encarando o caçador. — Eu cuido disso, leva ele pro navio.
Jungwon ficou confuso quando viu o Ômega atravessar a rua, apressando os passos assim que uma breve perturbação aconteceu do outro lado.
— Pra onde o Baek foi? — Jungwon franziu o cenho quando o Alfa segurou em sua mão e o guiou pelo caminho contrário. — Por que estamos voltando? O que ele foi fazer?
— Assassinato. — Chanyeol foi sincero.
O sorriso despreocupado do Alfa deu lugar a um semblante sério, conforme ele analisava o ambiente ao seu redor. O fato levou Jungwon a entender que a situação era séria, assim ele seguiu em silêncio até chegar no Black Swan.
Jungkook estava em algum lugar da cidade, logo o Alfa foi em busca de Jimin, que estava na enfermaria conversando com Sungjae. Taesung e Jay estavam brincando, Jungwon se juntou a eles e Chanyeol falou com o Capitão:
— Há caçadores aqui, e não são comuns.
— Comuns? — Os Ômegas trocaram olhares preocupados.
— Caçadores assim são enviados apenas para lidar com os alvos considerados grandes…
— Jungkook. — Jimin sussurrou.
— Você também. — Sungjae tocou no ombro dele. — Nem pensar que vou deixar você sair desse navio.
— Baek está resolvendo. — Chanyeol contou. — Sei do que é capaz de fazer, mas ele tem razão, é melhor que continue aqui. Você está grávido e esses caçadores são assassinos, ou seja, a elite da Ordem.
— Baek também foi um assassino — Sungjae lembrou. — Não se preocupe, ele vai cuidar disso, não é Chanyeol?
— Sim. — O sorriso despreocupado retornou. — Ninguém melhor para lidar com esse problema do que ele e Yoongi.
🏴☠️
Yoongi estava acompanhado de Jackson, Taehyung e Hoseok, em uma das tabernas de Chennai. Eles conversavam animadamente quando Baekhyun surgiu com a mão apoiada na costela, sentando-se bem ao lado do navegador.
— Deixa eu fazer uma pergunta a vocês — o ruivo iniciou —, quando foi a última vez que vocês viram três assassinos reunidos em um só lugar?
Nunca, era a resposta. Jackson e Yoongi trocaram olhares. Os Capitães Jeon e Jimin eram considerados os atuais maiores da pirataria, não havia ninguém acima deles. A recompensa oferecida pela prisão de ambos chegou a mesma quantia ofertada pela captura de Francis Bonny.
Capitão Jeon, pelas suas investidas e ataques a navios mercantes e galeões, durante anos sendo bem sucedido. Capitão Jimin, pelo papel que vem desempenhando nos últimos anos, sendo responsável pela queda de ninguém menos que Barba-Negra, além de seu asqueroso irmão e a dona do leilão, capitã Signora.
Em sua primeira tentativa de capturá-los, a Ordem enviou três caçadores assassinos. Mesmo assim, como o Ômega ruivo contava, não foi suficiente para sequer chegar perto dos capitães alvo.
— Um deles eu mandei pro inferno… Hmm — Ele gemeu com a mão no abdômen. — Isso dói pra caralho.
— Eu vou atrás dos outros. — Yoongi se levantou.
— Vou com você. — Baek tentou se levantar mas foi impedido pelo amigo.
— Nem pensar. — O Ômega franziu o cenho, Yoongi ignorou e ainda indicou a Hoseok: — Se ele tentar me seguir, atira nas pernas dele.
— Eu vou junto. — Jackson acompanhou o espadachim.
— Acho melhor o Jin ver isso — Taehyung falou com o ruivo.
— Vem, eu te ajudo. — Hoseok se ofereceu.
Baekhyun se apoiou nos ombros dos dois, aliviando vagamente a sensação desagradável de dor a cada passo que dava. Ele fraturou duas costelas, e Seokjin o estabilizou assim que foi recebido na enfermaria do navio.
Yoongi e Jackson lidaram com um dos assassinos que estava à espreita do Capitão Jeon, enquanto o próprio líder eliminou o terceiro, quando este atacou-lhe.
Ambos os capitães, os contramestres, Jackson e Yoongi se encontravam na cabine discutindo o atual cenário. Sarah e Hyun também estavam no cômodo, brincando na cama.
— Isso não foi uma coincidência — Namjoon comentou. — Só pode ter sido aquele Representante. Ele nos meteu nessa região.
— Confio em Yuri de olhos fechados. — Yoongi deixou claro.
— Até onde eu sei, ele não disse nada sobre ancorar em Chennai. Apenas os saques. — Jackson também se manifestou a favor do ex-caçador.
Sarah atirou um brinquedo no chão, gostou do barulho que fez e repetiu o processo com outros dois. Hyun não ficou satisfeito quando um dos seus foi jogado pela Alfa e fez um bico pronto para chorar.
— Desculpem… — Jisung pegou o filho no colo quando ele roubou a atenção de todos, com sua choradeira.
— De quem foi a ideia idiota de atrasar os saques? — Jackson questionou e todos voltaram ao foco.
— Billy e Jared. — Namjoon respondeu. — Vou chamá-los.
— Não há necessidade, neles eu confio. — Capitão Jeon interrompeu, olhando para Yoongi. — Mas esse Representante eu não conheço.
— Já sabem a minha opinião. — O Alfa loiro cruzou os braços.
— A sua, muito bem dito — Namjoon ressaltou. — Essa amizade com ele atrapalha seu julgamento.
— Pense o que quiser. — Yoongi deu de ombros.
— Sendo seu amigo ou não, se ele nos traiu, eu vou exibir a cabeça dele em uma estaca na entrada do Forte.
— Isso não vai nos levar a lugar algum — Jisung opinou, agora com o pequeno Ômega sereno em seus braços, distraído com um botão fora do lugar. — Yuri parecia muito interessado no lucro das tulipas.
— Lucraria ainda mais com a recompensa dos capitães.
— Você sempre foi tão desconfiado assim? — Jimin indagou. — Calma, homem.
— É mais forte do que eu… — O Alfa deu de ombros. — Mas não podem me julgar, eu tenho pontos.
Todos concordaram. Por mais que alguns fatos indiquem a inocência do Representante, as pessoas são ambiciosas. Ter uma Ômega grávida e uma filha não era suficiente para inocentá-lo.
Contudo, a sólida confiança que Yoongi e Jackson depositavam em Yuri baseava-se no histórico do Alfa. Sempre contaram com ele, até mesmo na situação em que derrubaram a Ordem, em Busan. Yuri arriscou não apenas sua reputação com os caçadores, mas também a vida para ajudar Jackson e Jisung.
A situação era problemática, e agora a decisão caberia aos dois líderes do Black Swan.
— Estou de acordo com o que você estabelecer. — Jimin expressou a Jungkook. — Minha posição pode ser um pouco controversa.
— Por que?
— Eu estou mais emocional ultimamente. Não quero tomar decisões baseado nisso.
Jungkook suspirou, observando o lúpus por alguns instantes. Sentia-se orgulhoso do capitão que Jimin estava se tornando. Mesmo após declaração do Ômega, ele afirmou:
— Eu ainda quero saber a sua opinião.
Jimin sorriu para ele. Era bom sentir a confiança do Alfa em si. Ele não era “menos capitão” por estar grávido, Jungkook acabou de deixar isso bastante claro.
— Não acredito que ele tenha nos traído, mas não tiro a razão de Namjoon desconfiar.
Todos aguardaram em silêncio enquanto o Capitão Jeon caminhou pensativo pela cabine, com exceção de Hyun e Sarah, que fazem barulhinhos, mas não eram altos o suficiente para atrapalhar o raciocínio do Alfa.
— Não pode jogar os brinquedinhos do seu irmão — Jackson repreendeu Sarah, enquanto recolhia os objetos no chão. A Alfa sorriu, acreditando que ele estava brincando com ela, e atirou o brinquedo no chão novamente. — Você acha que eu sou uma piada?
— Ela quer brincar. — Jimin explicou. — Jungwon fazia isso sempre.
— Vamos roubar as tulipas. — Jungkook decidiu. — Foram apenas três?
— Não há outros. — Jackson deu a certeza.
— Então ninguém irá reportar a falha da missão a tempo. — Jungkook disse, Jackson e Yoongi confirmaram. — Levaremos as tulipas como combinamos, preparem os suprimentos. Eu quero água em maior quantidade.
— Não precisa transportar as tulipas no solo, Capitão Jeon — Jisung argumentou. — Os bulbos sobrevivem durante estações longas, sem necessidade de regar.
— Precisa esperar até elas ficarem amareladas, depois corta o caule e… — Jackson parou quando notou que todos olharam para ele. — Ajudei minha mãe algumas vezes.
— Vocês dois ficam responsáveis pelo armazenamento.
— Devemos partir imediatamente?
— Não. — Jungkook olhou pela janela. — Amanhã.
Todos saíram da cabine, até mesmo Jimin, para dar uma volta pelo cais. Namjoon foi o único que permaneceu, o Alfa era inexoravelmente ferrenho. Não é à toa que ele era o contramestre do Capitão Jeon.
— Eu estou com os dois pés atrás. Não confio nesse Representante.
— Você não confia na própria sombra. — Jungkook girou para ele.
Namjoon riu.
— Quero me encontrar com ele em seu lugar.
— Tudo bem, faça a troca com ele. Leve Chanyeol também, se ele entender que fomos traídos, então você pode lidar com o Representante a sua maneira.
— Chanyeol foi um caçador, é amigo dele. Seu julgamento também pode ser afetado por isso.
— Eu não teria tanta certeza disso. Ele não é o tipo de pessoa que se deixa enganar.
— Tem razão.
Com isso, Namjoon finalmente se retirou do cômodo, descendo até o porão para se certificar de que as provisões seriam suficientes. Não estava totalmente de acordo, por ele, o mal seria cortado pela raiz matando o Representante, antes que ele se tornasse um problema maior. Porém, respeitaria a decisão dos capitães.
A tripulação distraiu-se pelas tabernas e bordéis, e também pelo mercado durante o breve tempo em que estiveram ancorados naquele porto.
Na manhã seguinte, os piratas retornaram para o navio e, seguindo os comandos de Namjoon, prontamente a tripulação içou as velas e o Black Swan estava navegando rumo ao curso dos grandes navios mercantes, aqueles que levavam seda, especiarias e o cobiçado objeto pelo qual estavam ali, tulipas.
— Galeão à bombordo! — Jared rugiu da cesta.
Jisung observou pela luneta, logo depois a entregou a Namjoon, que estava ao seu lado. O navio era de grande porte e possuía um arsenal de canhões acima da média.
— Há oficiais à bordo — Namjoon avaliou —, mas com certeza é um navio mercante.
— Estão fortemente armados. — Jisung comentou.
Capitão Jeon estava um pouco mais atrás, Hoseok e Arata já preparavam os aparelhos para serem usados e posicionavam cada pirata. Não era necessário aguardar uma ordem direta, a invasão seria feita, eles estavam ali para saquear.
Chaerin assumiu o controle do leme quando Jungkook indicou que se aproximasse do galeão. Jungwon estava ao lado do pai Alfa, quando Jared avisou ainda do alto da cesta:
— Içaram a bandeira branca.
Os olhos de Jungwon brilharam. Jimin ainda não permitia que o menino participasse dos ataques, sempre exigia que o mesmo se escondesse nas camadas mais baixas junto com as outras crianças. Contudo, se o navio mercante havia se rendido, talvez ele pudesse acompanhar a invasão do convés do Black Swan.
— Pai, eu posso ficar aqui?
Antes de responder, Jungkook estudou através da luneta a movimentação no galeão. Os marujos pareciam agitados, observando o Black Swan com espanto. Acima deles tremulava ao vento uma enorme bandeira branca, sinalizando sua rendição imediata.
— Pode, mas não vá pro galeão.
O mais novo pulou contente, correndo para subir e sentar na balaustrada de frente ao navio mercante. Jisung o emprestou a luneta que ganhou de Jackson, e assim o pequeno Ômega pôde observar com mais clareza o galeão brevemente distante.
— Assuma o controle da invasão e seja breve — o Capitão indicou a Namjoon. — Assim que terminar, iremos em busca do próximo.
O contramestre assentiu. Jungkook girou na direção da cabine, disposto a descansar um pouco antes de iniciar as anotações sobre aquele saque.
Os marujos que se encontravam no galeão sorriam vitoriosos. Aquela rendição era apenas um disfarce para que o navio pirata se aproximasse sem atacar. Assim que o Black Swan entrou na área da mira do galeão, com a bandeira branca ainda erguida, as escotilhas dos canhões do navio mercante foram removidas sob a ordem do comandante.
— Capitão! — Jared exclamou.
Jungkook estava na porta prestes a entrar na cabine, quando olhou para trás e viu seu filho na mira do navio inimigo. Ele correu para salvá-lo, ouvindo os comandos de Hoseok. Os piratas preparavam os canhões, enquanto o comandante do galeão já soltava a ordem de fogo.
A criança Ômega encontrava-se estático e ainda sentado na balaustrada. Seus olhos fixaram-se nos canhões do galeão e as mãos tremiam segurando a luneta com força. Sabia o que iria acontecer, mas simplesmente não conseguia se mover.
Jungwon sentiu algo lhe puxando para trás, segundos antes de uma bola de ferro atravessar o local em que ele estava sentado. Suas costas foram de encontro ao chão e havia um corpo sobre o seu, protegendo-o dos estilhaços que caiam após o estrago feito.
Jungkook avaliou se Jungwon estava bem. O menino estava encolhido logo abaixo de si, mas não havia se machucado. Os atiradores do Black Swan devolveram o ataque, a estrutura do navio pirata rangeu quando os canhões dispararam contra o galeão.
Capitão Jeon se levantou com os olhos completamente vermelhos, ainda protegendo o filho enquanto ordenava a Chaerin que se aproximasse do galeão. Mais tiros foram trocados e as embarcações balançaram. A timoneira girou o leme e os navios moveram-se em uma dança mortal, lado a lado sobre o Oceano Índico.
Quando chegaram próximos à passagem para as camadas inferiores, Jungwon separou-se de seu pai e seguiu em segurança com Jisung, até o dormitório onde os gêmeos estavam chorando. Jackson e as duas crianças Alfas tentavam tranquilizá-los.
Enquanto isso, o Capitão Jeon subiu na balaustrada assim que uma longa viga de madeira foi inclinada entre as duas embarcações. Ele avançou disparando contra a tripulação do navio mercante, com uma pistola em cada mão.
Os marujos abandonaram os canhões, fugindo desesperados à medida que o Capitão Jeon se aproximava, com seus olhos ainda vermelhos e com visível fúria. Alfas e Betas retrocederam quando ele pulou no convés do galeão, abrindo caminho conforme o lúpus passava em busca do comandante.
Capitão Jeon parou diante de um oficial cujo uniforme exibia mais insígnias militares do que os demais. Ele agarrou o pescoço do Alfa e enfiou o cano da pistola em sua boca, quando o mesmo abriu-a em busca de ar. O comandante engasgou sentindo o ferro quente inflamar violentamente no inferior de sua garganta.
— Ah, seu idiota! — Jungkook rosnou. — Meu filho quase foi atingido!
— Ghurn… — O comandante tentou articular alguma coisa.
Jungkook removeu a pistola e o acertou com uma coronhada na cabeça, fazendo o Alfa cair estatelado. Os piratas haviam rendido a tripulação e aguardavam pelas ordens de seu líder.
— Cortem o cabo dos botes! — Jungkook indicou. — Levem todas as cargas pro Black Swan.
Namjoon e outros Alfas cuidaram do saque, enquanto os demais fizeram como o lúpus disse e cortaram os cabos que prendiam os botes. A intenção do Capitão Jeon era que não houvesse nenhuma escapatória, enquanto estivesse destruindo o galeão de longe.
Aquele navio iria afundar e junto com ele os diabos miseráveis que ousaram fraudar a rendição, que quase custou a vida do pequeno Jungwon.
Jungkook chutou com força o rosto do comandante, quando este tentou se reerguer. O Alfa caiu mais uma vez, enquanto sangue escorria de sua face. O Capitão continuou batendo no Alfa diante da tripulação rendida, até que o mesmo não mais se movia.
— Seja racional! — Um dos rendidos se pronunciou. Sua voz carregava prepotência. — Nós fomos estratégicos.
Outros fizeram barulho, apoiando.
— A culpa não é nossa se deixou seu filho no meio do fogo cruzado. — Este se arrependeu do que falou no momento que viu o Capitão mirando a pistola em sua testa. O disparo veio em seguida e posteriormente seu corpo caiu.
— P-piedade… — o marujo prepotente sussurrou. Ele grunhiu em desespero quando Jungkook olhou em sua direção. — Por favor, tenha misericórdia!
— Eu deveria ser mais racional e estratégico... — Capitão Jeon riu. — Por exemplo, afundar este navio, para que não avise a Marinha sobre o ataque?
— N-não! Por favor!
— Não? — Jungkook sorriu, porém, seus olhos transbordavam ira. — Em geral, eu não me importo se vão alertar a Marinha ou o caralho a quatro. Mas temos um problema aqui…
— Não temos problema algum, Capitão Jeon. Nos rendemos! Seus Alfa estão levando nossas cargas.
— Se renderam uma ova! — Scott rugiu. — Nos atacaram covardemente depois de anunciar a rendição.
— Houve um equívoco!
— Realmente houve, só que da minha parte... — Jungkook se referia a cor da bandeira que o Black Swan içou. — Mas eu vou mostrar a vocês o que acontece quando tentam passar a perna em mim.
Das vezes que Jungkook viu a bandeira vermelha ser hasteada, na grande maioria delas ele estava sob os comandos de Alma Negra. Depois que assumiu o comando do Black Swan, Jeon costumava utilizar a preta, para poupar recursos e também porque não era um desvairado sanguinário, como foi seu antigo capitão.
Ao contrário do que sua fama terrível de impiedoso e violento fala, o Capitão Jeon não matava pessoas para se divertir. Ele o fazia para se defender ou quando a tripulação que seria saqueada não cooperava.
O lúpus agarrou e puxou a bandeira branca, rasgando-a de imediato e jogando no chão. Ele pisou no tecido alvo, que encharcou-se com o sangue que jorrou dos corpos jogados no pavimento, mudando para um tom escarlate. Ele apanhou o tecido novamente, ergueu para que todos vissem e logo em seguida ditou para a tripulação com sua voz de comando:
— Bandeira vermelha!
A mensagem foi clara e os piratas compreenderam de imediato. Alfas e Betas do galeão berravam em desespero diante da morte iminente. Os botes que foram largados de maneira desleixada foram levados pelas fortes ondas e já se encontravam distantes, outros viraram para baixo no momento da queda.
Não havia para onde fugir, a não ser pular diretamente no oceano. Foi justamente o que os marujos que conseguiram escapar do massacre fizeram, mas mesmo assim não conseguiram escapar. A criatura marinha que rondava submerso entre os navios criou um vórtice, puxando os Alfas e Betas para o centro da massa de água.
O Kraken não apareceu visível, mas os piratas, principalmente o Capitão Jeon sabiam que aquele movimento nas águas foi causado por ele. Não compreenderam exatamente porque ele estava fazendo aquilo, mas foi pelo motivo de terem atacado o Black Swan deliberadamente, enquanto Jungwon estava em sua mira.
Nenhum daqueles que foram puxados pelo vórtice viram a luz do dia novamente. Após o saque, assim que o Capitão Jeon e sua tripulação retornaram ao Black Swan, Hoseok e Arata causaram graves avarias no galeão, mandando a embarcação e os corpos de seus tripulantes para o fundo do oceano.
Continua…
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