[22] República Pirata
No dia de sua humilhante derrota para os piratas, o Almirante Zhang reuniu-se com os oficiais-generais da Marinha de guerra. Precisavam calcular as perdas e reerguer-se, mas a economia do reino estava em declínio devido aos inúmeros investimentos que o Imperador fez para criar um navio que deveria ser considerado imbatível.
Lian permaneceu em seu escritório de estudos durante boa parte da manhã, pensando no que poderia ter acontecido às duas crianças que ele ajudou a fugir. O Alfa era um pouco medroso, mas demonstrava grande carinho pelo Ômega, e este, por sua vez, deixou Lian muito impressionado com suas habilidades. Seja lá quem o treinou, ele era muito melhor que seus professores de luta.
Curioso a respeito de Jungwon, ele buscou entre seus livros um que falasse um pouco mais a respeito do gene lupino, mas encontrou apenas exemplares falando sobre matemática, filosofia e outros assuntos considerados mais importantes pelo seu pai.
- Mãe? - Lian saiu procurando pela Beta.
Yue estava dando as últimas ordens para os seus criados, quando ouviu seu filho descendo as escadas. Ela mantinha uma pose segura e estável, mas seu olhar era de um pânico contido e silencioso.
- Lian, as crianças fugiram. Você não tem nada a ver com isso não é, filho? - O Alfa não respondeu. Yue continuou: - Os criados acabaram de me contar. Quando seu pai souber... - Ela fez uma pausa, apoiando a mão no rosto, com os olhos fechados. Yue tomou uma profunda respiração e ajeitou sua postura novamente, para em seguida dar atenção ao filho: - O que você queria mesmo?
- Hm... eu só queria saber onde posso encontrar um livro que fale sobre os lúpus.
- Não sei. Veja se tem algum no escritório do seu pai.
O menino assentiu, seguindo para o gabinete do Almirante. A sala era tal como a de um político, com uma mesa cheia de papéis importantes, algumas cartas de corso, um tinteiro e algumas penas também. No lado esquerdo da mesa, próximo a janela, estava o diário de bordo do Black Swan fechado, e mais ao lado, uma pintura da família Zhang.
Lian buscou por todas as estantes de livros - eram muitas -, acabou encontrando um que falava sobre os Alfas lúpus. Não era a mesma coisa, mas ele decidiu que tomaria emprestado para ler.
Enquanto descia da pequena escada, um livro que estava fechado em cima da mesa do Almirante, chamou sua atenção. Era um diário de bordo. Lian sentou na mesa do pai e abriu o livro, curioso para saber de seu conteúdo. Na página que foi aberta, havia registros sobre um ataque que haviam feito a um navio mercante.
Conforme lia as informações daquele diário, Lian sentia cada vez mais vontade de se tornar um oficial da Marinha, para acabar com as atividades violentas dos piratas. Mas a leitura o deixou entretido de tal forma que não percebeu quando seu pai abriu a porta do escritório, fechou e seguiu caminhando silenciosamente até estar diante da mesa.
- Está estudando para aquilo que pretende se tornar? - A voz do pai fez o menino sobressaltar. - Embora não tenha sido para isso - ele apontou para o diário -, que eu criei você.
- Não, pai...
- Não lhe dei permissão para falar. - Lian abaixou a cabeça. - Estou me perguntando em que parte eu errei...
Zhang deu a volta na mesa. Agora estava ao lado do filho, que estava sentado em sua cadeira. O Alfa mais velho abriu a primeira gaveta, e retirou de dentro uma vara. Automaticamente, Lian puxou suas mãos para escondê-las em seu colo, embaixo da mesa.
- Você ficou bastante tempo com eles, eu fiquei sabendo. Foi o último a vê-los, e seus lençóis foram os únicos utilizados para acobertar a fuga deles. O que tem a me dizer sobre isso?
- Nada.
Zhang moveu o braço acertando a vara na boca do filho. O garoto estremeceu na cadeira ao sentir o golpe na boca e a ardência nos lábios aumentar gradativamente. O choro ameaçou arrombar a porta do desespero, seus olhos lacrimejaram de imediato. Ele ergueu a mão e tocou os lábios feridos, com os dedos trêmulos, sentindo o sangue escorrer.
- A próxima palavra que sair da sua boca será uma verdade - Zhang exigiu. - E eu acho bom você não chorar.
O menino engoliu o choro e segurou a dor. Ainda que fosse angustiante, os lábios latejando e a vontade de sair correndo, ele permaneceu sentado, respondendo a inquisição do Almirante.
Mesmo que ainda fosse uma criança, Lian estava acostumado a violência na hora de ser disciplinado pelo pai, e mesmo sendo castigado tão duramente, ele teria ajudado Jungwon e Jay novamente. Não estava arrependido do que fez, e esperava que os meninos tivessem encontrado o caminho até a tripulação.
Após o rigoroso interrogatório, Zhang fez com que o filho conhecesse mais uma vez o peso de seu braço através da vara, e o deixou trancado no que chamava de "quarto da disciplina ". Um cômodo sem móvel algum, apenas quatro paredes e uma janela no alto de uma delas, que o permitia tomar sol pelo menos durante certa parte do dia, se ficasse em um canto específico do quarto.
🏴☠️
Alguns dias após tomar Nabuco, os piratas se organizavam como uma república democrática. Não haveria líderes como na época de Fenn Barba-Ruiva, mas era preciso alguém que falasse em nome de todos, como um porta-voz.
O nome mais cotado era o de Edward Teach, porém, alguns queriam que o líder do Black Swan se tornasse o representante deles em Nabuco. Mas o Capitão Jeon estava longe de querer se tornar aquilo, ele não era um Alfa de negócios, sua vida estava a bordo de um navio, atacando e saqueando.
- Já que a ilha não tem um líder, quem vai cobrar as taxas sobre as vendas? - o capitão Tatsu perguntou.
- Não haverá - disse Barba-Negra. - A guerra acabou recentemente, todos estamos voltando a nos reerguer. O comércio ocorrerá livremente pela ilha, se quiserem negociar.
- Eu não tenho paciência para isso. - Jungkook afirmou logo.
- E eu, caralho, que nem sei contar mais do que os dedos das mãos. - Um outro resmungou, fazendo alguns rirem.
- Eu me ofereço para fazer negócios pelas senhoras e senhores. - Barba-Negra disse. - Mas como não trabalho de graça, posso cobrar um valor pelo serviço prestado. Apenas cinco por cento dos lucros.
- Só isso?!
Barba-Negra assentiu.
- Como eu disse, estamos nos reerguendo para fazer de Nabuco a nova fortaleza pirata. Não é porque vencemos esta guerra que a Marinha vai desistir de vez da ilha. Não, eu sei que eles vão tentar recuperar Nabuco. Não agora. Mas vão. - Edward explicou. - Precisamos garantir que a nossa fortaleza continue sendo nossa e para isso, é claro, vamos ter de nos ajudar.
- Gostei! - um pirata levantou uma caneca com bebida. - Viva Barba-Negra!
- Não. - O próprio Edward o corrigiu, também erguendo uma caneca. - Viva Nabuco, a nova república dos piratas!
Todos ergueram seus copos, comemorando o surgimento de novos horizontes. Mal tendo Barba-Negra explicado que eles precisavam de cada moeda para se reerguer, os piratas já estavam gastando fazendo a festa. Mas ninguém disse nada a respeito, eles mereciam aquela folga depois de anos em conflitos com a Marinha Real.
Alguns capitães voltaram para seus navios, a fim de calcular os danos à estrutura das embarcações ou planejar novas rotas. O Capitão Jeon foi um deles. Ele seguiu para o Black Swan com seu contramestre, para juntos terem uma certa noção do estrago feito ao navio. É claro que só teriam uma ideia mais exata dos gastos com a mecânica, mas a Beta ficou na taberna junto a tripulação. Outro dia ela poderia complementar os relatórios de Jungkook e Namjoon.
A farra estava longe de acabar. Dizem que uma das habilidades mais requeridas em um bucaneiro é beber sem se embriagar, para não causar problemas a tripulação. Mas havia aqueles que não se importavam em perturbar tripulações às quais não pertenciam.
Alguns do Black Swan estavam conversando e bebendo rum em um lado da taberna. Um Beta de um navio chamado Vulture, passou por Baekhyun e aproveitando o aglomerado de pessoas, apertou o traseiro dele com força quando o pressionou contra uma parede.
O pirata ruivo moveu-se ligeiro quando puxou a katana e decepou a mão do outro. O Beta caiu apoiado pela parede, gritando enquanto encarava com horror o antebraço sem a mão jorrando sangue sem fim.
- AAARGH! - Os que estavam mais próximos se afastaram e fizeram um círculo em torno do pirata ferido. - Esse maldito! Esse puto maldito!
- Quem fez isso com você? - Um Alfa da mesma tripulação que ele, perguntou sacando sua pistola.
- Aquela cadela ruiva, alí - o pirata apontou com o queixo.
- Leve-o para o médico - o capitão do Vulture indicou. Quando virou-se para se ver com Baekhyun, encontrou um Alfa em sua frente, barrando o caminho. - Saia da minha frente.
- Você não vai querer... - Chanyeol ergueu as sobrancelhas, rindo.
- É mesmo? Vai fazer o que? - O capitão soou ameaçador.
- Eu? Nada. - Chanyeol deu de ombros, indicando o Ômega ruivo. - Mas ele...
O pirata olhou para Baekhyun, o Ômega estava muito irritado, resmungando enquanto Dahyun dava um jeito de limpar o sangue que espirrou no braço dele.
- E o que você tem a ver com isso? - o capitão do Vulture rosnou.
- Ele é meu Ômega - com a revelação de Chanyeol, o capitão mudou para uma postura mais defensiva. - Oh, não. Não me entenda desse jeito. Estou falando que conheço ele o suficiente para saber que é melhor você dar meia volta e não o incomodar.
- Não incomodar?! Ele atacou um membro da minha tripulação! - Um pirata se aproximou do capitão e cochichou em seu ouvido. O capitão não disfarçou quando olhou de Chanyeol para Yoongi, de Yoongi para Baekhyun e do Ômega para Chanyeol novamente. Ele ponderou. - Hum, caçadores virando piratas. O mundo de hoje está uma verdadeira bosta!
O capitão deu meia volta e saiu sendo seguido por alguns de sua tripulação, derrubando cadeiras pelo caminho por onde passava. Ele foi diretamente para o estaleiro até o navio de velas negras, onde solicitou falar com o Capitão Jeon.
Jungkook estava atualizando o livro de registros provisório quando permitiu que o capitão do Vulture entrasse na cabine. Ele estava tão furioso que ignorou a presença de um Ômega loiro sentado na beira de uma pequena cama com um livro no colo, e um Ômega criança, de cabelo preto, que dormia em sono profundo.
O capitão do Vulture chegou esbravejando:
- Um membro da-...
- Abaixe o tom - Jungkook o interrompeu, para que o falatório dele não acordasse Jungwon.
- Um membro da sua tripulação atacou um dos meus bucaneiros - o Alfa falou mais baixo. - Exijo que algo seja feito.
Capitão Jeon fechou o livro e encaixou a pena dentro do tinteiro. Ele apoiou as mãos em cima do livro e respirou profundamente, encarando o outro capitão.
- Aqui você não exige nada. - Jungkook deixou claro. - Quem foi?
- Um Ômega ruivo. Ele amputou a mão de um Beta do Vulture.
- Por que ele fez isso? - Jimin se levantou da cama e guardou o livro na estante. Em seguida, ele foi até a mesa do Capitão Jeon. - O que seu Beta fez com ele?
- Nada... sei lá, parece que a mão do Beta esbarrou sem querer na bunda dele. Algo assim.
Jimin cruzou os braços e riu negando com a cabeça, olhando para Jungkook. O Capitão Jeon relaxou na cadeira, como se não estivesse com a mínima intenção de punir Baekhyun.
- Não vai fazer nada? - o Alfa perguntou indignado. Olhando de Jimin para o Capitão Jeon.
Jungkook deu de ombros e Jimin tomou a palavra:
- Eu conheço bem como esses bucaneiros tratam um Ômega. Eu coloco minha mão no fogo como esse Beta deve ter tocado no Baek sem a permissão dele.
- Tudo vira uma bagunça quando se permite que Ômegas entrem para a tripulação. - o capitão do Vulture resmungou. - Trocam a razão pela emoção.
- Você perdeu seu tempo vindo aqui - Jimin ignorou a fala preconceituosa do Alfa. - Nenhum Ômega será punido porque se defendeu de algum pervertido, seja de qualquer tripulação.
- Vai permitir que ele fale no seu lugar? - O Alfa falou com Jungkook, apontando para o Ômega.
O Capitão Jeon não respondeu. Ele olhou para Jimin, esperando ele concluir. O Ômega encostou-se na mesa, ainda com os braços cruzados e um semblante sério.
- Mantenha sua tripulação na linha - Jimin afirmou. - Porque meus Ômegas tem permissão para fazer muito pior do que decepar uma mão se alguém mexer com eles. - Ele olhou para a região íntima do Alfa, para logo em seguida encara-lo novamente. - Se é que me entende.
O capitão do Vulture não disse mais nada. Ele arregalou os olhos e saiu da cabine, indignado por ter sua exigência ignorada, por um Ômega que se meteu em seus negócios. Ele e sua tripulação foram guiados para fora do navio por Namjoon.
Dentro da cabine, Jimin pegou o livro de registros e começou a folheá-lo para se distrair. Ele não percebeu o modo como Jungkook estava olhando para ele, até que recolocou o livro sobre a mesa novamente.
- Por que está me olhando assim?
- Você fica muito sexy falando daquele jeito. - Ele riu da expressão que Jimin fez e afastou a cadeira da mesa, indicando que o Ômega sentasse em seu colo.
Jimin ergueu as sobrancelhas, chocado. Ele olhou para trás e viu o filho ainda dormindo tranquilamente, em seguida, estudou o Alfa dos pés a cabeça e com um sorriso sugestivo, caminhou até a porta da cabine.
Haviam muitos detalhes a serem vistos com os consertos do navio, mas o Capitão Jeon ignorou todos eles deixando o livro para trás e seguindo o Ômega dele.
Continua...
Eu ando meio sumida pq consegui um emprego e com isso, pude pagar um curso que queria fazer há muito tempo. Estou muito feliz 🥰 até a próxima 💜
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