Thamara

Segunda feira, 05/06/2017, 20h00min horas.

Um mês se passou desde a morte do pai do Lucca. Um mês em que Lucca se afundou totalmente em uma espécie de depressão. Um mês em que o Lucca se isolou de todos os amigos que tinha. Um mês em que a Lívia vive pelejando para ajudá-lo a voltar a ser quem sempre foi. Um mês tendo discussões com o Charles por isso. Um mês em que Lívia estava sofrendo tanto quanto Lucca. Um mês em que ela não enxergava a verdade que todos já notavam... Inclusive seu namorado Charles.

Estávamos em horário das nossas reuniões do nosso grupo no colégio, por incrível que pareça muitas meninas da escola frequentavam ao nosso grupo, e eram muitas mesmo! De diversas idades.

Todas nós, sentadas em volta de uma mesa enorme, uma olhando para a cara das outras. – E aí? Quem vai começar? – perguntou Lavínia, esperando alguma menina se manifestar para contar seus problemas.

- Acho que seria uma boa se a Lívia começasse hoje. – disse Mirela, os olhares foram direcionados a Lívia, que estava com os olhos arregalados, se dando conta naquele exato momento, de que a amiga achava que ela precisava de ajuda.

O pior era que realmente precisava.

- Eu não tenho nenhum problema. – defendeu-se.

- Todas nós temos. Se abre pra gente Lívia, só queremos te ajudar, isso não vai sair dessa sala e você sabe disso. – disse Mi.

Lívia suspirou fundo, parecia que havia concordado em falar sobre tudo o que a incomodava.

- Tudo bem. Eu começo.

Assentimos e ficamos caladas, esperando que ela começasse a falar.

- Desde que o pai do Lucca morreu, uma parte dele também se foi com o pai, ele não tem ânimo para mais nada, não conversa mais com seus amigos como antes, incluindo a mim, vive sozinho e isolado, quando alguém chega para conversar, ele não da continuidade no assunto e deixa o papo morrer, fazendo com que essa pessoa se afaste. E eu não suporto mais vê-lo todos os dias no colégio, desse jeito, pois eu sei que ele está sofrendo ainda, esse isolamento é uma consequência do sofrimento que ele sente pela perda do pai, e isso me dói muito, mesmo que ele não admita e que outras pessoas não acreditem, isso é uma depressão, pode não ser como as outras, mas é de qualquer maneira, ele está deprimido e nota-se isso só de olhar nos seus olhos. Eu tento ajudá-lo, conversar com ele, mas ele sempre me afasta... E tem o Charles que está com muitos ciúmes da minha preocupação pelo Lucca, brigamos direto por causa disso, ele não consegue entender que eu me importo com o Lucca e que sou a amiga dele, por isso luto para vê-lo bem, Charles não entende isso... Fica com esse ciúme bobo que acaba nos afastando de um modo ou outro. Esse é o meu problema e isso tudo está conseguindo me deixar completamente maluca e cheia de insônia. – ela terminou de dizer, seus olhos estavam inundados de lágrimas, mas ela as cortou com suas mãos, antes que pudessem descer por seu rosto.

- Você acha que se importa tanto com o Lucca apenas por ele ser o seu amigo? Ou o Charles tem razão em sentir ciúmes dessa preocupação com outro garoto? – perguntou Lavínia, as perguntas sobre os nossos problemas faziam parte do objetivo do nosso grupo.

Lívia pensou antes de responder, era como se não quisesse admitir a verdade para si mesma.

- Pode se abrir Lívia, só queremos te ajudar a solucionar o seu problema. – disse Josi.

- O Lucca é meu amigo sim, mas ele também sempre foi o garoto por quem eu fui apaixonada, tivemos um rolo e eu me apaixonei mais, só que não deu certo, então, eu acho que é normal que eu me preocupe tanto com ele, não acham?

- É normal se preocupar com um amigo sim, concordamos com isso, mas você sofre todos os dias vendo o Lucca desse jeito, o que significa que você se importa de mais com ele, e até poderíamos dizer que é uma preocupação de amigos, se caso você não deixasse o Charles totalmente para escanteio por causa do Lucca. – disse Mirela.

- O que está querendo dizer com isso? – Lívia perguntou, arqueando as sobrancelhas.

- Eu como sua amiga, vejo como você está tratando o Charles desde a morte do pai do Lucca, e mesmo que você não perceba, a verdade é que você está totalmente afastada do seu namorado, não o beija por vontade própria, não o abraça, não conversa muito com ele, é sempre o Charles que toma as iniciativas e quando ele faz isso você logo arruma um jeito de ir a algum lugar, deixando-o sozinho. Está a todo o tempo falando do Lucca para a gente e de como está sofrendo em vê-lo se afundar, você vive indo atrás do Lucca, e quando foi que você foi atrás do Charles? Talvez o Charles esteja percebendo o que todo mundo aqui já percebeu há séculos. Você ainda é completamente apaixonada pelo Lucca, e sofre com isso, porque você simplesmente o ama, pois se você amasse ou gostasse do Charles, iria querer passar um tempo com ele, coisa que vocês não fazem mais. – Mirela terminou de dizer.

- Vocês todas acham que eu realmente não gosto do Charles e sim do Lucca? – ela perguntou, mostrando espanto.

Todas fizeram um "Sim" com a cabeça, deixando - a em choque.

- Mas eu não tenho tanta certeza disso. – disse ela.

- Você pode até gostar do Charles, mas você ama o Lucca. E talvez você não tenha certeza, porque não quer admitir, não quer ter problemas por gostar de um cara complicado como o Lucca, pois com o Charles é tudo mais fácil e calmo, totalmente o oposto do que seria o seu relacionamento com o Lucca. – disse Lavínia.

- E como eu ajudo o Lucca?

- Com o seu amor, e talvez o convencendo a frequentar um psicólogo. – respondi.

- Alguém mais quer dar algum conselho a Lívia? – perguntou Larissa.

Ninguém se manifestou, então, começamos a ouvir o problema de outra garota.

...

Durante o intervalo, segui Peter até o ginásio e resolvemos sentar na última arquibancada, fiquei sentada entre suas pernas, e suas mãos me envolviam em um abraço.

- Nesse final de semana, meus pais vão viajar para o Rio de Janeiro, visitar os meus avós, vamos ficar sábado e vamos voltar mais para o final da tarde de Domingo, e eu quero muito que você vá comigo. O que acha? – ele pergunta, com os olhos esperançosos.

- Eu vou adorar ir! Quero muito mesmo, só que eu preciso pedir autorização aos meus pais e talvez o meu não permita... – disse.

- Ele é tão autoritário assim?

- Não muito. Ele só me protege de mais, acha que se me deixar solta de mais, alguma coisa de ruim pode acontecer comigo, e sem contar que ele não suporta a ideia de me ver entrando em um carro. – falei.

- Isso é um problema, pois vamos viajar de carro. – disse ele.

- Um problemão...

- Você acha que seu eu conversar com o seu pai, ele pode considerar a ideia até sexta?

- Eu vou tentar conversar com ele, se não adiantar, você entra em ação, pode ser? Mas você vai ter que fazer um discurso bem convincente para ele permitir em! – disse e ri.

- Pode deixar comigo, vou dar o meu melhor. – ele disse, mostrando seu sorriso perfeito que me fazia suspirar, pegou meu rosto e seu lábio finalmente havia tocado no meu. Nos beijamos intensamente, eu estava começando a ficar sem ar, quando ele desceu o lábio por meu pescoço, e me arrepiei ao mesmo tempo que fiquei em choque, não um choque que significa uma coisa "ruim", mas sim um choque que significa algo "bom".

Eu gostei, gostei muito, mas como era a primeira vez que um rapaz beijava o meu pescoço, eu fiquei nesse "choque bom". Melhor, veio do Peter, ele sempre foi tão "certinho" comigo na nossa relação, era só beijos e abraços e esse momento foi à primeira vez que ele havia tido coragem para beijar meu pescoço e isso de certo fato acabou me surpreendendo.

Acho que ele percebeu que eu fiquei sem reação, em absoluto silêncio, e antes que continuasse a trilha de beijos por meu pescoço, ele parou, e com o rosto praticamente colado ao meu, olhou nos meus olhos e falou comigo.

- Eu fui longe de mais? – perguntou.

- Não. Está tudo bem! Eu gostei. – disse, um pouco sem jeito e até envergonhada com a situação.

Ele sorriu e segurou no meu queixo. – Então... Eu posso continuar? – ele quis saber e eu senti meu rosto inteiro queimar por dentro.

- Pode. – disse.

Mas ele riu novamente. – O que foi? – quis saber o motivo da risada. Eu tinha feito ou dito algo engraçado e não estava sabendo?

- É que é muito fofo e engraçado, você ficou totalmente vermelha quando te perguntei se eu podia continuar. – disse ele.

- Ah... É isso. Não dá para controlar. – disse e acabei deixando escapar uma risada.

- Eu te amo Thamara, amo muito. – ele disse e voltou com a trilha de beijos em meu pescoço, e eu me permiti sentir todas as coisas que uma namorada apaixonada deveria sentir enquanto era beijada no pescoço pelo o namorado.

E posso garantir que eu senti coisas inexplicáveis!

...

De noite, enquanto meus pais assistiam a TV, fui em direção a eles, eu tinha que tentar convencer o meu pai a permitir que eu fosse passar o final de semana no Rio de Janeiro com o Peter e sua família.

Eu sabia que não seria uma tarefa nada fácil, mas eu precisava tentar. Minha mãe eu sei que permitiria, meu pai é mais "complicado".

- Pai.

- Sim meu anjo, o que deseja? – perguntou ele, todo doce.

-Peter e eu somos namorados. – tentei começar assim.

- Sim, mas disso eu já sei.

- E ele vai passar o final de semana no Rio de Janeiro na casa dos avós, ele vai junto com os pais, e ele queria muito que eu fosse com ele, e eu também quero muito ir com ele, o senhor permitiria que eu fosse? – soltei tudo de uma vez. Eu estava nervosa pra caramba!

Papai arregalou os olhos e mamãe tampou a boca totalmente surpresa. Ai Meu Deus! O que os dois estariam pensando naquele momento?

- Está dizendo que você quer passar o final de semana junto com o seu namorado em outra cidade? – papai perguntou, parecendo incrédulo.

- Sim. Algum problema?

- Claro que tem Thamara! E muitos!

- Quais?

- Como quais? Ora... Vocês dois vão ficar sozinhos lá, esse é o problema!

- Mas pai, não vamos fazer nada de mais, só beijos e abraços. Eu juro!

- Não jure nada Thamara! – papai falou nervoso.

- Meu amor, não tem nada de mais, a Thamara tem juízo, não irá fazer nada de errado, confie mais na sua filha, ela sempre foi responsável, acho que está na hora de começarmos a soltá-la um pouquinho mais, ela vive presa dentro de casa, só sai com as amigas e com o namorado, ela também precisa viajar de vez em quando, conhecer o mundo. – mamãe disse, tentando ajudar.

- Thamara é ingênua e me preocupo com ela.

- Nossa filha não é tão ingênua assim meu amor, ela sabe de tudo o que precisa saber na idade que tem, ela é uma boa garota e não vai nos decepcionar, mas se prendermos ela de mais, um dia, ela pode acabar se revoltando e fazendo as coisas escondidas.

- Vão de quê?

- Carro.

- De jeito nenhum! Minha filha não entra em carro jamais! – ele elevou o tom de voz.

Mamãe bufou e eu arregalei os meus olhos, assustada com a reação dele.

- Mas pai... O que é que tem? Todo mundo anda de carro! Não é só porque eu sofri um acidente de carro quando eu era criança que significa que eu vou sofrer de novo! Não posso deixar de andar de carro por medo de acontecer um acidente, aliás, eu não tenho medo nenhum! Quem tem medo é o senhor, e eu que tenho que sofrer com os seus medos? – me exaltei um pouquinho.

- Eu tenho medo sim, porque eu quase vi minha filha morrer! Isso é pouco Thamara? Eu não quero te perder, eu não suportaria essa dor. – ele disse.

- Pai... Eu não morri. Estou viva, e como qualquer garota adolescente, eu quero e preciso andar de carro, moto, viajar, sair para festas... Não posso ficar isolada em casa por medo de algo acontecer comigo, preciso viver pai. Essa ordem de que eu não posso andar em um carro é absurdo, todas as minhas amigas andam de carro, esquece esse acidente pai, isso já passou, e você não teve culpa alguma do que aconteceu, foi apenas um acidente, e graças a Deus nada de ruim nos aconteceu de verdade. – disse.

Ele estava mais calmo, como se estivesse pensando nesse assunto pela primeira vez na vida.

- Eu ainda não sei Thamara, mas prometo que vou pensar a respeito. – ele disse.

- Por favor, pensa com carinho, o senhor sabe que essa ordem é absurda e que exagera nos cuidados sobre mim, eu vou me cuidar. – falei.

- Eu vou pensar Thamara. Eu te amo muito filha, por isso, exagero.

- Eu também te amo pai, mas eu não posso mais continuar vivendo dessa forma. – disse, e antes de entrar no meu quarto, abracei os dois e beijei em seus rostos.

Eu estou confiante de que meu pai vai acabar permitindo que eu vá nessa viajem com o Peter, e que ele também vai esquecer essa ordem de não entrar em carros e que minha vida vai ser menos complicada, pois alguma coisa me diz que ele percebeu que estava exagerando com todo esse zelo protetor.

Uma coisa é proteger, outra é sufocar. E querendo ou não, com todas essas ordens, eu estava quase sufocando, e pra ser sincera, acho que eu só não sufoquei, porque minhas amigas e meu namorado acabaram entrando para colorir a minha vida.

A minha vida mudou completamente com a chegada deles, e eu agradeço muito por isso.

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