Mirela
Bom dia leitores! Desculpa a demora por postar outro capítulo, é que eu estava muito apertada na faculdade, mas quando as férias chegar, vai melhorar!
Espero que gostem do capítulo e me contem o que estão achando, beijos <3
Sábado, 13/05/2017, 23h00min horas.
Os finais de semana ficam muito mais gostosos quando se tem um amor na sua vida! E eu estava ansiosa pela noite, Caleb havia me chamando para ir à pista de skate vê-lo competir novamente, naquela mesma pista que fui da outra vez, quando ainda não namorávamos.
As nove da manhã saí de casa para ir visitar minha irmã e minha avó na casa delas, ficava um pouco longe da minha casa, mas não era um trajeto perigoso não.
- Vá com cuidado querida. – alertou mamãe, enquanto me puxava para um abraço carinhoso e protetor.
- Sempre. – respondi e beijei seu rosto, fui até o papai e o abracei.
Quando eu estava em frente a casa delas, atravessando a rua para chegar, alguém gritou meu nome. – Mirela!
Parei na calçada e me virei para olhar, era ele, tinha me esquecido completamente dele.
- Oi... É... – eu havia esquecido o nome dele.
Ele riu. – Iago. – completou, estendo sua mão para me cumprimentar.
- É isso aí! Iago. Ei... Mas como sabia que eu era a Mirela e não a Lavínia? – quis saber.
- Lavínia não usaria o tipo de roupa que você usa, o estilo é diferente, você se veste mais como riquinha, patricinha, e a Lavínia é mais despojada. – ele disse.
Novamente reparei em seus olhos diferentes, um azul e outro verde. – Está encarando meus olhos... – ele disse, sorrindo de lado.
- Desculpa! É que é diferente. – disse.
- Tudo bem, isso acontece muito mais do que você imagina.
- Você é o namorado da minha irmã, não é? – perguntei.
- Namorado não é bem a definição para nós dois, quer dizer, eu seria o namorado dela com todo o prazer, mas, sua irmã insiste que somos só ficantes, e que quando ela quiser termina comigo, mas eu deixei claro a ela, que ninguém brinca comigo, e normalmente sou eu que uso as garotas e não o contrário. – ele falou.
Fiquei assustada e arregalei os olhos. – Uau... Se não se gostam deveriam terminar então. – disse.
Ele arqueou a sobrancelha e se aproximou mais de mim. – Você terminaria comigo?
- Oi? É... – fiquei sem falas, eu não sabia o que responder, esse garoto era louco, só pode!
Parecia estar se divertindo com o meu constrangimento, pois ria muito. – Eu sou bonito, não acha? Sua irmã sabe disso, por isso ela me mantém.
- Eu tenho namorado me deixa fora desse assunto. – disse nervosa com a conversa, era a conversa mais estranha que eu tive em toda a minha vida.
- Você não curte caras como eu, não é? Você é a típica riquinha que nunca se envolveu com rapazes fora do seu padrão. – ele disse, e passou a língua por seu lábio, me olhando com divertimento.
- Eu não sou tão rica assim, e eu não tenho nada contra caras como você. Meu namorado é normal, como todos nós. – disse.
- Pode até não ter nada contra "caras" como eu, mas eu duvido que a princesinha já tenha se envolvido com algum cara parecido comigo, piercings, tatuagens, cabelo no ombro, gato, gostoso, e com uma realidade mais distante que a sua. – ele dizia, se aproximando mais, quando vi que ele iria tocar em meu rosto, tomei providência.
- Se afaste. Eu tenho namorado e o amo. – disse. E Iago não me encostou, mas seu sorrisinho sínico continuava em seu rosto.
- Não respondeu a minha pergunta. Já se envolveu sim ou não?
- Não. Não me envolvi. Satisfeito?
- Claro princesinha.
Revirei os olhos. – Não seja bobo. Eu realmente não entendo o relacionamento que a minha irmã tem com você, mas eu não acho que seja bom o que os dois estão fazendo, um dos dois vai se machucar com essa história. Deveriam ficar com alguém por amor, e não por desejo. – disse.
- A princesinha é romântica. Bem diferente da irmã mesmo. Não se preocupe Mirela, sua irmã não tem um coração para amar, então, não tem como ela se machucar. – ele disse e essas palavras ficaram em minha mente.
Como assim? Ele quis dizer no geral? Ou só na parte que o envolvia?
- Eu desisto. Tchau, e obrigada por ter me ajudado a encontrar a minha irmã gêmea. – agradeci, afinal, se não fosse por ele, talvez eu jamais soubesse.
- Até. Não tem que agradecer, foi só uma confusão! – ele brincou e eu ri, acenei com um tchau, e bati na porta da casa da minha família biológica.
Quem me recebeu foi a minha avó. – Mirela! Que saudade minha linda! – exclamou ela, toda contente em me ver, foi logo me puxando para um abraço mega apertado e me enchendo de beijos carinhosos.
Eu sentia um grande carinho pela a minha avó biológica, não tinha como não amá-la, sempre carinhosa e fazia o possível para me mimar.
- Olá vovó! Também estava com saudades. – disse, e sorri enquanto nos abraçávamos.
- Vou preparar um café quentinho para você! Gosta?
- Claro! Eu amo café, sou completamente viciada. – disse.
- O seu pai biológico era viciado em café também! – disse ela naturalmente, e nesse momento eu percebi que eu não conhecia o meu pai biológico, não sabia nome, e nem quem ele foi, e se minha avó estava falando dele, era porque ela o conheceu. Caminhei atrás da vovó até a cozinha para sondar esse mistério, eu nunca quis saber quem eram meus pais, mas de repente, fiquei curiosa.
- Vovó. – chamei. Ela estava colocando a água para ferver.
- Sim, meu amor?
- Você conheceu o meu pai biológico? – tentei.
Ela sorriu, enquanto colocava duas canecas de açúcar na água.
- Claro. Conheci sim.
- E quem era ele? Qual o nome? Onde ele está?
- São muitas perguntas querida. Tem certeza que quer saber? Eu quero te contar, mas só se você quiser.
Fiquei pensativa por alguns segundos, me questionando se eu realmente queria saber a respeito, se eu dissesse não, me arrependeria depois, disso eu tinha certeza.
- Quero saber sim. Tenho certeza. – disse.
Ela suspirou e se aproximou de mim. – Pois bem. O seu pai era o filho da minha melhor amiga de infância, eu o conheci desde que ele era um bebê, ele e sua mãe eram da mesma idade, os dois cresceram juntos, quando entraram na adolescência, começaram a se envolver, se apaixonaram, acho até que sempre foram apaixonados, mas só perceberam na adolescência mesmo. Os dois eram felizes juntos e era uma relação que me agradava, e agradava a minha amiga também, pois eu sabia que ele era um bom rapaz, e ela sabia que minha filha era uma boa moça.
- Continua. – pedi.
Antes de continuar, vovó foi olhar se o café já estava fervendo, ainda não, ela voltou para perto de mim.
- Mas sua mãe começou a andar com as pessoas erradas, ficou amiga de umas garotas estranhas que usavam drogas e faziam barbaridades... No começo sua mãe, era só amiga mesmo, não fazia nada errado, mas quando os dois tiveram a primeira grande briga da relação, sua mãe em um momento de raiva, aceitou drogas dessas garotas, e foi assim que o vício dela começou, sua mãe ficou totalmente estranha, mudou completamente, seu pai percebeu que algo estava errado e foi atrás, para tentar conversar, mas ela, muito orgulhosa, o expulsou e disse que estava tudo terminado e que não queria nunca mais ver ele. Os dois ficaram separados por algumas semanas, até que um dia, ele a encontrou tendo uma overdose no meio da rua à noite, ele correu imediatamente, chamou a ambulância, e lá no hospital, os médicos disseram que limparam tudo, e que por pouco ela não perdia o bebê. Ficamos todos assustados, não sabíamos que ela estava grávida, seu pai ficou surpreso e feliz ao mesmo tempo, ele sabia que era dele, e sabia que se ele não ajudasse a mulher que ama a superar o vício, ela poderia morrer e seu filho também.
Vovó deu uma pausa, e tirou a água do fogão, para coar para a garrafa de café. Mas continuou a falar, enquanto fazia o processo.
- Sua mãe não se viciou apenas em drogas, mas em bebidas alcoólicas também. Então foi muito difícil para ela parar enquanto soube da gravidez, seu pai a ajudou no processo, ele dava forças a ela, ela estava limpa por ele e por vocês duas. Naquela época ainda não sabiam que eram gêmeas, mas um dia... Tudo mudou. – ela disse, enquanto fechava a garrafa de café.
- O que aconteceu? – perguntei.
- Sua mãe tinha ficado devendo dinheiro aos traficantes, a gravidez estava até mais avançada nesse dia, ela tinha ido ao médico fazer a ultrassom, tinha descoberto que eram gêmeas, e ela estava indo em direção a casa do seu pai para contar a novidade, quando, ela entrou na casa dele, o viu jogado no chão da sala, todo ensanguentado, ainda com os olhos abertos, mas quase morrendo. Ela gritou desesperada, se ajoelhou, começou a chorar e a perguntar o que tinha acontecido, ele disse com dificuldade que o traficante tinha vindo cobrar pelo dinheiro, e que mesmo após ele pagar, o cara deu dois tiros nele, sua mãe ficou desolada, se sentiu culpada, e só chorava. Antes que ele fechasse os olhos, ela contou que eram duas meninas gêmeas, ele sorriu com um misto de doçura e tristeza, doçura por saber que seria pai de gêmeas e tristeza por saber que ele não veria suas filhas nascerem e nem crescerem.
E então ele disse para sua mãe que a amava e que também amava suas duas filhas, disse que foi muito feliz e que estaria sempre zelando por vocês três. E após ele dizer essas últimas palavras, acabou morrendo. Sua mãe não enlouqueceu por pouco, ela ficou em estado de choque com a morte dele, e ficou muito deprimida, após o parto a depressão ficou maior, e ela fez o que você já sabe, entregou as duas para um orfanato sem o meu consentimento, acho que ela bebeu nesse dia, após ter feito o que fez, e depois se arrependeu, mas voltou para buscar apenas uma. Está certo, que éramos muito mais pobres na época, mas eu daria um jeito de alimentar vocês duas, eu ajudaria a minha filha nisso, ela voltou com uma em seus braços e não quis me dizer em que orfanato tinha deixado a outra menina, no caso, você. Após alguns dias, sua mãe chegou em casa dizendo a mim que era para eu esquecer da minha outra neta, que ela já havia sido adotada e por uma família rica, ela não sabia por quem, eu fiquei aliviada em saber que minha neta estava com uma família de condições e que a trataria bem, mas fiquei triste, porque eu queria ter te criado. Mas pelo menos, você está aqui comigo hoje. – disse ela, seus olhos começando a brilhar, e os meus inundados de lágrimas com essa história trágica que ela tinha acabado de me contar.
Meu pai era um homem bom, e morreu da maneira mais injusta, morreu sem conhecer as filhas, tudo o que ele sempre fez enquanto esteve vivo foi amar a minha mãe biológica e a suas filhas. Um maldito traficante tirou a oportunidade que ele tinha de viver para ver e criar suas filhas, como o mundo é injusto e cruel.
Fiquei tão abalada que chorei alto, vovó me abraçou para me confortar. – Não chore querida, infelizmente coisas assim acontecem na vida. Pensa que seu pai sempre foi bom e que adoraria ter te visto crescer, além de que ele está lá em cima, zelando por você e pela Lavínia. – ela disse.
- Isso é tão injusto... Pessoas boas não deveriam morrer por serem boas. – disse.
- Pessoas boas são compensadas, mesmo que seja após a morte, o que importa são as coisas boas que o seu pai fez enquanto estava vivo, foi o amor que ele deixou para este mundo, foi à vontade e a coragem que ele teve de salvar a sua mãe desse mundo obscuro no qual ela se encontrava.
- Eles se amavam muito? – perguntei, enquanto nos soltávamos lentamente.
- Desde crianças. Amavam-se tanto, que ás vezes eu tinha medo por eles, medo de que esse amor causasse sofrimentos. Mas as coisas já aconteceram, não tem porque ficarmos remoendo isso.
- Qual era o nome dele? – quis saber. Dando-me conta que em hipótese alguma ela mencionou o nome dele.
- Humberto. Mas todos o chamavam de Beto.
- Beto... Obrigada vovó, por ter me contado a verdade sobre ele. – agradeci.
- Seu pai biológico, era um homem muito bom, acho que a sua bondade vem dele. Lavínia tem o temperamento mais parecido com o da mãe, mas você, você é tão generosa quanto seu pai foi em vida.
Fiquei feliz em saber que meu pai era bom, e não um perdido que eu imaginava, fiquei extremamente triste em saber dessa história, mas também aliviada, agora eu sabia que ele morreu pelo nosso amor, para nos proteger. E eu deveria honrá-lo, e sempre ser uma garota boa, a filha na qual ele sentiria orgulho de ter criado, se tivesse tido a oportunidade.
- Eu vou ver a Lavínia, posso subir para o quarto dela? – perguntei, limpando meu rosto e terminando de beber uma xícara de café, que a vovó havia me oferecido.
- Claro, meu amor. Essa é a sua casa também, nunca se esqueça disso. – disse ela. Sorri e subi a escada que dava no andar de cima, a casa tinha andar de cima, não significava que era uma mansão, definitivamente não era, mas era uma casa pequena e a certo ponto espaçosa e bonitinha. Dava para viver muito bem na casa.
O quarto da minha mãe biológica ficava ao lado do quarto da Lavínia, escutei vozes alteradas da Lavínia, vindo de seu próprio quarto. Aproximei o ouvido da porta para poder escutar.
- Você é a culpada por eu ser assim mãe! Será que não vê?!
- Eu sempre te dei amor Lavínia! Sempre procurei ser a melhor mãe do mundo, eu não entendo onde eu errei, eu parei de beber por você, parei com tudo de sujo o que eu já fiz na vida, por você! E é assim que me agradece?
- Não mãe! Você errou quando trouxe aquele homem para dentro de casa naquela época! Eu odiava ele! Ele fazia questão de te afundar mais! E você insistia em continuar naquela relação! – Lavínia gritou.
- Mas ele nunca te fez nada Lavínia! E já terminamos há tanto tempo! Você tem raiva de mim por isso? Apenas por isso?!
- Não! Eu tenho raiva da nossa pobreza! Por que não me deixou no orfanato junto com a Mirela?! Pelo menos assim, eu teria crescido em uma família rica e me pouparia da vergonha de ter uma mãe como você!
- Como pode falar isso? Você... Não tem coração Lavínia?
- Quem não tem coração é você, que matou o papai! É por sua culpa que ele morreu! O seu vício em drogas o levou a morte! É você que não tem coração!
Abri a porta imediatamente, estava assustada com todas as grosserias que a Lavínia estava dizendo para nossa mãe biológica.
- Já chega Lavínia! Você não deve falar assim com a sua mãe, com a mulher que te deu a luz. – disse, olhei para Lorelai que se encontrava em choros e com os olhos arregalados, estava sofrendo.
Lavínia me encarou com raiva, pela primeira vez na vida. – Não venha se meter, você não pode defendê-la, por que não cresceu sendo a filha dela! Você nunca passou por necessidades, nunca sofreu na sua vida, então não me venha dizer como devo ou não tratar a minha mãe! – ela gritou totalmente descontrolada.
- Eu me meto sim, por que ela também é a minha mãe! E eu não vou deixar você dizer essas coisas horríveis para ela! Não enquanto eu estiver presente! E o papai não morreu por culpa dela, foi um acidente, a vovó me contou tudo. Você deveria pensar no peso que as palavras causam, principalmente quando são destinadas a mulher que te deu a luz, a sua própria mãe!
Então agora ela é a sua mãe?! Não seja hipócrita, você não queria nem saber da Lorelai!
-Eu conheci o outro lado da história, vi, percebi o quanto ela deve ter sofrido na vida, principalmente depois que viu o amor da sua vida morrer em sua própria frente! Não deve ter sido nada fácil Lavínia, ver o homem que você ama morrer, e você não poder fazer nada para impedir. Ela ficou deprimida, estava grávida, vulnerável, pessoas cometem erros na vida, o erro dela foi ter se envolvido com porcarias, pessoas perigosas e ter nos abandonado, mas ela se arrependeu e voltou atrás para buscar uma de suas filhas, ela pensou que não teria condições de criar as duas, ta, é difícil aceitar, mas já passou, foi um erro? Foi. Mas já passou, e foi um erro pensado no nosso bem, ela só queria que fôssemos criadas por uma família que nos dessem tudo, ela não suportou ficar sem nenhuma, e te levou com ela, e eu fiquei. Não tem como mudar isso Lavínia, apenas perdoar. Eu sei que você passou por necessidades, mas ainda assim, não é justo tratar a sua mãe dessa forma. – falei.
Lavínia limpou as lágrimas do rosto e saiu correndo do quarto, me deixando sozinha com a Lorelai.
Caminhei até ela, ajudando-a se levantar, ela tinha ficado tão abalada com a discussão que acabou caindo de joelhos no chão.
- Você está bem? – perguntei, mesmo sabendo que a resposta era não.
- Fisicamente sim. Obrigada, da para ver que você é uma garota boa. Sabe você me lembra ele, o seu pai biológico. O seu jeito bondoso, até o brilho do seu olhar lembra o dele. – disse ela, enquanto me olhava com admiração.
- A vovó também disse isso. – disse e sorri.
- Você me odeia muito, não é?
- Claro que não. Eu não te odeio. Você não teve culpa da morte dele e eu entendo que você só tenha buscado uma filha, sei que deve ter doído muito ter me deixado no orfanato. Deve ter doído ter olhado para a Lavínia e imaginar onde a sua outra filha de aparência igual estaria. Eu sou feliz com os meus pais adotivos e eu amo eles, eu não consigo imaginar minha vida sem eles, mas isso não significa que eu não queira criar laços com vocês, você é a minha mãe biológica, é a minha família também, e eu conheci a sua história melhor hoje, sei que sofreu muito na vida, e eu quero, eu preciso ter uma relação de mãe e filha com você também. Eu preciso do seu amor, eu quero ser amada por você também. E me de desculpa por ter te tratado tão mal quando te conheci. – disse.
Lorelai estava chorando, mas acho que era de emoção. – Eu te amo desde o momento em que soube que estava grávida de gêmeas, te amei quando nasceu, te amei quando parti, e continuando te amando até hoje, eu que tenho que te pedir desculpas, foram as minhas escolhas quando mais nova que fizeram o meu destino, se eu tivesse seguido os conselhos da minha mãe na época, eu jamais teria me envolvido no caminho das drogas e talvez, o nosso destino tivesse sido outro.
- Não pensa mais nisso. Eu não quero que você se culpe mais. – disse, e a abracei. Foi um abraço forte, o nosso primeiro abraço, foi intenso, carinhoso, confortante, amoroso, foi o abraço que nós duas precisávamos naquele momento.
Fiquei mais um tempo na casa dela, conversamos bastante, fiquei sabendo de tantas coisas dela, que eu nem imaginava, não do passado, mas do presente.
Mamãe e papai tinham razão quando me diziam que eu não devia sentir ódio da minha família biológica, eles estavam certos, e eu não sinto, eu nunca senti. Eu só queria me manter afastada, mas isso me machucava, e machucava a Lorelai também, pois no fundo, eu sempre quis conhecê-la melhor, só não admitia isso para mim mesma.
...
Durante a noite na pista de skate.
Lívia e Thamara estavam na minha casa, iríamos juntos para a rua, encontrar os meninos na pista de skate. Mamãe nos levaria de carro até lá.
- Se meu pai souber que eu andei de carro, eu não quero nem ver... – disse ela, nervosa com a possibilidade do pai descobrir.
- Não se preocupe Thamara, ninguém aqui vai contar, e seu pai exagera em. – eu disse e ela riu.
- É ele realmente exagera Mirela.
- Será que o Lucca vai estar na pista? – perguntou Lívia.
- E por que quer saber isso? Vocês dois não estão mais juntos, esqueceu? – lembrei-a.
- Eu sei Mi, claro que eu não esqueci. É que eu não quero vê-lo por lá, ainda mais se ele estiver acompanhado da chata da Nayeli.
- Ciúmes.
- Não é ciúmes.
- É ciúmes sim. – Thamara teve que concordar comigo.
- Talvez seja. Mas isso não importa. Eu convidei o Charles, não quero ficar de vela lá.
- Hum... Charles?! – impliquei e ela riu.
- Eu acho que a Lívia está sentindo coisas pelo Charles. – disse Thamara, entrando no jogo, tudo para ver a Lívia irritada, é hilário!
- Não viaja Thamara, sua abusada. – reclamou ela, fazendo beiçinho.
- Mas conta pra gente, você está sentindo algo pelo Charles mesmo? – insisti.
- Não sei. Ele é legal, e nos aproximamos, eu o acho lindo, mas não sei. Eu ainda gosto do Lucca.
- Mas pode ser que você venha a se apaixonar pelo Charles, se acontecer, não reprima seus sentimentos. Só vivendo essa paixão que você vai descobrir de quem realmente gosta. Se é mesmo do Lucca ou do Charles. – eu disse.
- Porque eu não posso ser normal e gostar apenas de um? – ela pergunta e ri.
- Talvez pelo fato de você nunca ter sido normal. – arrisquei. E Thamara e eu fizemos cócegas nela, mas fomos interrompidas pela mamãe.
- Vamos meninas? Tenho que voltar para namorara o seu pai Mirela. – disse ela.
- Eca mãe! – disse e rimos.
- Que eca o quê! – falou mamãe fazendo uma careta super engraçada.
Quando chegamos à pista, Josi nos viu e caminhou até nós três. A cumprimentamos com abraços, Josi tinha ficado muito íntima da gente, o que era estranho, antigamente ela nos odiava, e a gente também não ia muito com a cara dela, mas o importante, é que agora tudo mudou.
- Que bom que vocês chegaram! Estamos todos lá para o meio, vem. – ela chamou-nos.
- Todos, você se refere a... – Lívia dizia.
- Lucca, Nayeli, Peter, Caleb, Cauã e a Emma.
- Emma? – perguntou Thamara.
- Não se preocupe, ela está com outro grupo de amigos, bem longe do Peter. – respondeu Josi.
- O Charles não chegou? – perguntou Lívia.
- Ainda não.
- Calma Lívia, ele vai chegar. Ainda é cedo. – disse. E seguimos com Josi até todos eles.
- E seu relacionamento com o Cauã? – resolvi perguntar.
- Está ótimo Mi! Graças a você. Obrigada. Eu estou muito apaixonada por ele.
- Não tem que me agradecer, era para acontecer. – disse, e ela sorriu.
- Aposto que era. – concordou com um olhar travesso.
Assim que chegamos perto de onde eles estavam, Peter foi na direção da Thamara, e Caleb na minha.
Ele me puxou para um abraço e em seguida me beijou. Escutei risinhos ao fundo.
- Ainda bem que você chegou, daqui a pouco irei competir. – ele disse.
- Quem são seus concorrentes?
- Lucca e Peter que eu conheço, o resto são uns meninos que nunca vi na vida. – ele disse.
- Você vai arrasar, seja lá qual for o resultado, você é vencedor só por ter tentado. – disse, ele sorriu e voltou a acariciar meu rosto.
- Eu amo você. – ele disse. Pela primeira vez na vida. SIM! Ele disse que me amava pela primeira vez desde que ficamos juntos, e ele falou sem que eu jogasse pressão, foi por livre e espontânea vontade.
Caleb me amava. E eu também o amava. E eu tinha certeza dos meus sentimentos.
- Eu também te amo Caleb. E estou feliz que você tenha dito a mim.
Ele sorriu, aproximando o rosto do meu. – Como eu não poderia dizer? Se é a verdade. Eu amo você, e eu tenho certeza do que sinto por você, eu jamais pensei que um dia fôssemos ficar juntos, mas, ficamos e com isso, resultou no amor que eu sinto por você, toda vez que te vejo, que te toco, que converso com você, que te beijo, abraço, parece que meu amor cresce mais e mais. É uma coisa louca, mas incrivelmente bom. – ele disse, olhando no fundo dos meus olhos.
Eu estava tão emocionada e feliz. – Eu amo você. Muito. – repeti e o beijei mais uma vez.
Tivemos que nos afastar contra nossa vontade, pois já estavam anunciando os competidores e ele tinha que se posicionar no seu lugar para competir na pista.
- Vai lá, boa sorte. – disse.
- Eu já sou sortudo por ter você em minha vida. – ele disse e piscou o olho para mim com um sorriso malandro, e seguiu para a pista.
Ficamos assistindo aos meninos competirem, fiquei ao lado das meninas assistindo a competição.
Após o término da competição, depois de alguns minutos, anunciaram o vencedor. E eu vibrei por ele, ao perceber que o meu Caleb havia ganhado!
Ele correu em minha direção todo contente e me pegou no colo, me rodopiando para todos verem. – Ai Meu Deus! – gritei e ri contente por ele, ele me desceu ao chão e me deu o maior beijão.
- Parabéns! Você merece. – disse, após o término do nosso beijo.
- Obrigado linda. Estou tão feliz! – ele gritou, seus olhos brilhavam de alegria, parecia uma criança entusiasmada por ter ganhado um doce.
Os meninos vieram dar parabéns ao Caleb e eu disse que iria beber água, mas que já voltava.
Demorei mais que o esperado para voltar, pois aquele lugar era imenso e acabei esquecendo onde ficava o bebedouro, e sim, ficava bem longe do centro da pista. Quando enfim, consegui voltar, avistei Caleb todo feliz conversando com o nosso grupo de amigos, estava me aproximando, quando uma menina de cabelos escuros até o pescoço, encorpada, olhos castanhos claros, era muito bonita, me parou, segurando no meu braço.
- Preciso falar com você. – ela disse.
- Acho que eu te conheço, você é alguma amiga do Caleb? – perguntei, ela não me era estranha.
- Sim, eu sou uma amiga dele.
- O que deseja? – perguntei ingenuamente.
- Eu sinto muito ter que te contar isso assim, mas... Nunca achou estranho que um garoto que mal te dava bola do nada começasse a se aproximar de você e a ser gentil?
- Não. Essas coisas acontecem. – disse. Já não gostando nada do rumo dessa história.
- Sim, acontecem. Mas não foi o seu caso.
- O quê? O que você quer?
- Te contar a verdade. É sério, desculpa, mas... O Caleb só se aproximou de você por causa da Thamara. – ela disse.
- Como assim?
- Quando ele viu que a Thamara tinha se tornado sua amiga, ele te usou para se aproximar da ruivinha, ele queria a Thamara e não você. O Caleb só se aproximou de você para ficar mais fácil de conversar com a sua amiguinha. Se ele se apaixonou ou não por você, não é problema meu, eu só tinha que te dizer a verdade. – ela disse, com satisfação ainda.
Meu mundo inteiro caiu naquele momento. Fiquei sem falas. – Desculpa, mas você precisava saber. – ela disse.
Olhei para a direção do Caleb, assim que seu olhar encontrou o meu, ele correu até mim. – O que você falou para ela Carolina?! – ele gritou, ficando de frente para nós duas.
- Apenas a verdade. – ela disse e saiu de perto, se afastando. Ele olhou perplexo para mim, estava nervoso e seu semblante demonstrava medo.
- É verdade? Você se aproximou de mim com o objetivo de chegar até a Thamara? – perguntei incrédula.
- Desculpa! Eu... Eu me apaixonei por você Mirela! Eu te amo! O que isso importa agora? Eu não sinto mais nada pela Thamara, você mudou isso! – ele disse desesperado.
Meus olhos se inundaram de lágrimas. Era mesmo verdade. Como eu nunca percebi isso antes?
- Eu não acredito Caleb! Você é um idiota! Como você teve coragem de me usar assim?!- gritei, o empurrando.
- Isso foi antes! No inicio, com a nossa convivência, eu fui me apaixonando por você, desde que nos beijamos pela primeira vez eu senti coisas por você! Eu te amo Mirela, amo de verdade, acredita em mim, eu sei que eu não devia te feito isso, mas as coisas mudaram, eu amo você, por favor, esquece isso. – ele me pediu, pegando em minhas mãos.
- Não Caleb! Não da para esquecer isso, eu fui usada por você! Se aproximou de mim com o objetivo de ficar com a minha amiga! No que estava pensando Caleb?! Me deixa em paz! – gritei, e saí correndo daquele lugar, corri em direção a saída e sentei na calçada, chorando horrores.
Segundos depois, Lívia, Thamara e Josi me encontraram e me levantaram, me puxando para um único abraço.
- Vai passar Mirela. Vai ficar tudo bem. – disse Lívia.
- Somos suas amigas e estaremos sempre ao seu lado. – completou Thamara.
- O meu irmão foi um idiota, mas as coisas vão se ajeitar. Estaremos ao seu lado para o que precisar. – disse Josi.
Chorei entre elas e murmurei um: "Obrigada meninas".
Elas ligaram para minha mãe vir nos buscar, e por incrível que pareça, foram todas dormir na minha casa.
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