Mirela



Quinta feira, 27/04/2017, 13:00 hora.

A escola sempre me fez bem, é verdade, sempre gostei da escola e continuo gostando, alguns me chamam de louca, eu não tiro a razão deles, afinal, não é qualquer adolescente de 15 anos que ama frequentar a escola! Mas comigo, sempre foi diferente. Estudo em um colégio particular, onde meus pais pagam um valor bem alto, para que eu tenha a melhor educação possível, um colégio, onde fico na parte da manhã e da tarde, só volto para casa á noite, é puxado, a maioria dos professores são rígidos, a escola é cheia de regras chatas, é cansativo sim, porém, é nesse colégio onde fico a maior parte do meu tempo, a escola é como se fosse a minha casa, as pessoas daqui são praticamente a minha família. Essa é a parte onde fica óbvio que sou uma garota carente de carinho da família, não é mesmo? Pode ser que eu seja sim, pelo menos não minto, como muitos desse colégio, que fingem ter a melhor família do mundo, sendo que a verdade, verdadeira, é outra, completamente diferente.

Não os culpo, eu também já fui assim um dia, dos meus 11 aos 13 anos eu também mentia sobre minha família, enchia a boca para contar para todas as minhas amiguinhas que meus pais eram perfeitos e me amavam muito, mas não é verdade. Não que eles não me amem, não é isso, eles devem me amar muito, afinal, se não me amassem não haveria motivos para terem me adotado quando eu era apenas uma recém nascida. Acontece que, os dois não são perfeitos, decidiram pagar esse colégio para mim, quando eu tinha apenas 11 anos de idade, no começo foi difícil para mim, ter que me adaptar a ele, passar dois turnos inteiros dentro de um lugar que não era a minha casa, e longe dos meus pais, mas com o tempo eu fui me acostumando a isso, e a escola, eu enxerguei esse lugar com outros olhos, depois que vi que eu era amada por muitos daqui e que eu tinha me tornado a garota mais popular do colégio, tudo ficou melhor, a minha vida ficou melhor, é ótimo ser considerada a garota mais estilosa, bonita, e legal de todo o colégio, todos me conhecem e muitas meninas querem se tornar minhas amigas, pedem a minha ajuda para moda, porque de moda eu entendo muito! Claro que eu sou amiga de todas, eu amo ter amigas, quanto mais, melhor.

É dentro da escola onde passo os dias mais felizes da minha vida, porque quando volto para casa, ás 18:00 horas, tudo muda.

Meus pais nunca me trataram mal e nunca me bateram, o que acontece, é outra coisa. Os dois são tão concentrados no trabalho, que acabam se esquecendo de que tem uma filha para cuidar e perguntar como foi o dia, dar amor, essas coisas que os pais costumam fazer com os filhos, quando isso acontece aqui em casa, eu vibro de alegria por dentro, mas é raro acontecer.

Os dois decidiram pagar esse colégio para mim, justamente porque viviam tão ocupados com o trabalho, e eu estava entrando na pré- adolescência, é aquela famosa fase, onde o adolescente precisa de muita atenção e cuidado, eles sabiam disso, por isso me colocaram lá, Vanessa e Gustavo, sabiam que não conseguiriam dar conta de mim, sem uma ajuda, e a escola foi a melhor solução que eles encontraram, não precisariam se preocupar comigo enquanto estivessem no trabalho, eu já teria um lugar para ficar durante o dia todo, só cuidariam de mim a noite, isso era fácil, no começo eu realmente fiquei com raiva por eles terem feito isso comigo, mas dizem que tudo na vida é questão de costume, e estavam certos. Eu estava acostumada, não me fazia mais mal.

O colégio São Bernardino, localizado em São Paulo, a alguns quilômetros de distância da nossa casa, foi á solução da vida dos meus pais. Um colégio integral, tão típico de pais ocupados, não é mesmo?

Nem acredito que estou escrevendo mesmo nesse diário! Isso é tão infantil, tão coisa de menininha, tão incrivelmente estúpido.

Me pareceu o certo a se fazer, quando ganhei ele a duas semanas atrás da minha mãe. Vanessa ainda pensa que sou uma criança, uma menininha de oito anos de idade, ela me deu o diário de presente, dizendo que seria ótimo para eu guardar os meus momentos dentro dele, ela disse que é importante ter lembranças, tentou me convencer que o diário é o melhor objeto para guardar memórias...

Juro que eu não iria escrever nada aqui, mas era um presente da minha mãe, e eu queria fazer um bom proveito dele.

Jamais pensei que eu fosse escrever em um diário, que ninguém saiba disso, se não serei caçoada por um bom tempo!

15:00 horas.

Era educação Física, eu estava na arquibancada sentada, juntamente com a minha melhor amiga, a Lívia.

Somos amigas desde que eu entrei aqui, Lívia veio estudar aqui, no mesmo ano que eu, caímos na mesma sala, e desde então, não nos desgrudamos mais.

- Mirela, você está escrevendo em um diário? – perguntou ela, me olhando com os olhos curiosos, o sol batia em uma parte de seu rosto, iluminando sua pele negra, e seus olhos escuros, que refletidos ao sol, ficavam tão claros, que chegava a hipnotizar.

- Sim. – admiti. Eu não sentia vergonha em confessar uma coisa dessas para ela, Lívia é a minha melhor amiga, e entre amigas, não devem existir segredos.

- Que legal! Porque eu também comprei um, semana passada, estou escrevendo nele! No começo eu achei meio bobo, mas é legal, eu gosto muito. – disse ela, rindo como uma criança que acaba de ganhar doce ou algum presente.

Fiquei contente em saber que ela também estava escrevendo em um, significava que eu não era a única adolescente no mundo que escreve em diários.

- Que legal Lívia! Ainda bem que eu não sou a única. – disse, rindo. Ela me deu um cutucão de repente, bem exagerado em meu braço, arregalei os meus olhos e olhei para ela, sem entender nada, procurando por uma resposta rápida.

- Olha... – disse ela baixinho.

- Olhar o quê? – perguntei, enquanto procurava alguma coisa estranha na quadra.

Ela bufou e chegou mais perto do meu ouvido. – Deixa de ser lesada Mirela... olha para o Caleb. – disse ela.

- Para quê?

- Ele está olhando para você sua boba! Do que adianta ser a garota mais popular do colégio se não usa isso a seu favor em? – disse ela, caçoando de mim, fiz logo o que ela tinha pedido, olhei em direção ao Caleb, ele estava olhando na nossa direção mesmo, ele sorriu para mim de longe, acenando com um "tchau", eu sorri de volta para ele, retribuindo o aceno, e voltei com o olhar para a Lívia, que me olhava com um sorriso travesso.

- Ele está super na sua Mirela. – ela disse, cruzando os braços.

- Você acha? – quis saber, Caleb não era o garoto mais popular do colégio, mas era um sonho, de tão lindo que é. Sério, ele é uma graçinha, eu sempre tive uma quedinha por rapazes magros, não sei explicar, mas enquanto as minhas amigas são loucas por rapazes como o Lucca ( o garoto mais popular do colégio e com um físico perfeito, todo encorpado, saradinho ) , eu sou louca por rapazes como o Caleb ( Magrelos, ou um magro com corpo, não interessa se seja um magro encorpado ou um magro magrelo, gosto dos dois tipos ).

Claro que eu também acho rapazes como o Lucca, muito bonitos, mas não entrava em comparação com o Caleb, não para mim.

O Caleb estuda comigo desde o ano passado, mas foi só no início desse ano, que ele começou a reparar em mim, eu sempre reparei nele, mas o fato de eu ser popular nunca importou para ele, pois nem se quer dirigia uma palavra a mim. Era como se eu não existisse para ele, isso me incomodava um pouquinho, mas tentei desencanar, afinal, não existe só o Caleb no colégio, mas esse ano, as coisas pareceram mudar, ele olhava muito para mim e a Lívia tinha certeza de que ele estava fim.

- Claro Mirela, ele acabou de sorrir e acenar para você, quer prova maior que isso sua boba?

- Isso não quer dizer nada Lívia, talvez ele só estava sendo educado. – respondi, e voltei a olhar os meninos jogando basquete. As meninas jogavam no outro lado da quadra, mas eu não estava a fim naquele momento, por isso só fiquei sentada na arquibancada.

O ginásio era enorme, as arquibancadas eram gigantes, se parecia muito com os ginásios dessas escolas de filmes americanos, isso sempre foi o que eu mais gostei no colégio. A escola toda em si, parecia de filme americano, enorme e muito chique.

Também... com a fortuna que cobram, tem que ser lindo mesmo. Sou muito fã desses filmes juvenis americanos, e os não americanos também! Eu me identifico com eles, sou apaixonada.

- Fala sério Mirela! Você é linda, loira, do olho azul, magra, sexy, e popular. É claro que o Caleb está completamente na sua! – disse ela, elevando um pouco a voz.

- Fala baixo Lívia... – a repreendi.

- Relaxa, não da para escutar, e eu nem falei alto não.

- Ele nem me olhava no ano passado. – fiz questão de lembrá-la.

- Esquece o ano passado amiga, foca nesse ano, o presente. Sério, não entendo o que você vê no Caleb. Prefiro mil vezes o lindo do Lucca.

- O Caleb não é feio, ele é lindo. – disse.

- Ele é lindo sim, mas nem tem um físico tão lindo assim, amiga...

- Eu não ligo para o corpo, e você sabe que eu adoro caras magros.

- Se bem que o Caleb não parece ser exageradamente magro mesmo não... – disse ela, olhando para ele de longe.

- Tira o olho ta. – disse e ri, ela riu junto.

- Fica tranquila, ele não faz o meu tipo.

Comecei a rir, e de repente, avistei uma garota entrando no ginásio, estava sozinha, ela era ruiva, encorpada, cabelo grande, não dava para ver bem, mas parecia ter o olho verde e algumas sardas. Estava meio longe, a ruivinha estava com a cara fechada, parecia brava.

- Que garota estranha. – comentou Lívia.

- Ela não é estranha, é bem linda. – disse.

- É linda, mas é estranha sim, olha para ela, sozinha e com cara de poucos amigos, parece até uma nerd excluída.

- Você a conhece? – perguntei. A garota ruiva havia se sentado mais a frente na arquibancada. E as outras meninas da nossa sala, estavam olhando para ela, cochichando e rindo. Eu não sabia o motivo das risadas, mas não concordava com isso.

- Não. Nunca vi mais branca. – disse Lívia.

Me levantei, decidida a ir até a garota de cabelos vermelhos. Eu não iria permitir que continuassem rindo da menina, o bom era que as meninas da minha sala, me respeitavam, e se me vissem falando com ela, parariam com os deboches.

- Mirela! Onde vai? – gritou Lívia, mas eu já estava descendo os degraus da arquibancada, indo em direção a menina ruiva.

- Olá! – disse, estendendo a minha mão para ela.

- Oi. – respondeu ela, meio seca, mas pegando na minha mão.

- Qual o seu nome?

- Thamara. – ela respondeu.

- Seu nome é lindo. Você é nova no colégio?

- Sim.

- Quer se juntar a mim e a Lívia ali em cima? Para conversamos melhor. – falei, sorrindo para ela.

Ela olhou para Lívia e em seguida para mim. – Claro. – ela disse, e se levantou, me acompanhando até lá em cima, nos sentamos ao lado da Lívia. Apresentei as duas, e tentei puxar uma conversa legal.

- Então Thamara... por que veio para cá, quase no meio do ano? – perguntou Lívia.

- Meus pais pensam que eu sou perigosa, uma ameaça para as pessoas que estão ao meu redor, por isso me matricularam aqui, disseram que nesse colégio eu me tornaria alguém melhor, que os meus maus comportamentos sumiriam de mim. – ela respondeu, tanto eu como a Lívia ficamos com os olhos arregalados, sem saber direito se o que ela tinha falado era sério ou uma brincadeira para nos assustar.

- Como é? – perguntei.

Ela riu. – Ruivinha, não tem graça, do que está rindo? – perguntou Lívia, sem paciência.

Lívia sempre foi mais esquentada do que eu, eu sou calma, e ela é uma bomba relógio, prestes a explodir a qualquer momento.

Thamara continuou rindo, mas dessa vez, voltando a falar. – Relaxa meninas! Eu não vou matar vocês duas. A não ser que me peçam. – disse ela.

Ok. Essa garota já estava me assustando! – Brincadeira meninas! Vocês não tem senso de humor não? – perguntou ela, insistindo na brincadeira de mau gosto.

- Olha aqui menina, começa a se explicar agora, ou então vaza daqui. A ideia de ser sua amiguinha foi da Mirela e não minha, eu não tenho o bom coração da Mirelinha não, então, para de fazer essas brincadeiras que não tem graça nenhuma. – falou Lívia, bem séria. Thamara ficou sem jeito instantaneamente.

- Lívia. Não fala assim com ela. – a repreendi.

- Eu não tenho paciência nenhuma com garotas assim Mirela!

- Olha aqui, eu não pedi para ser a amiga de nenhuma de vocês duas, eu estava quieta no meu canto, e veio a Mirela para falar comigo, não sei porque se aproximaram de mim, se não querem de fato serem minhas amigas, eu não preciso da amizade falsa de ninguém, eu já tinha isso de sobra no meu antigo colégio, eu vou indo. – respondeu Thamara, se levantando e indo embora para longe de nós duas.

- Vai mesmo sua estranha! – Lívia gritou. Me levantei inconformada com a atitude da minha amiga.

- Qual o seu problema Lívia?! – disse furiosa, e fui correndo atrás da Thamara. Ela estava saindo do ginásio, peguei no braço dela, fazendo- a se virar para mim. Assim que me viu, revirou os olhos e cruzou os braços, mostrando estar sem paciência para conversas.

- Olha, desculpa o jeito da Lívia, ela é esquentada mesmo. Sempre foi, ela não é má, é só que ela não te conhece e ficou com medo do jeito como você falou, sobre ser perigosa e tals... não vamos começar com o pé esquerdo vai, eu realmente quero ser sua amiga, e a Lívia também quer, só que para isso, precisamos te conhecer e precisa explicar sobre esse lance de ser perigosa, meio que nos assustou. – disse e ela riu.

- Sério que a garota mais popular do colégio quer ser a minha amiga? O que eu tenho de especial? – perguntou ela.

- Como sabe que eu sou a mais popular? Você acabou de chegar aqui.

- Foi só notar o jeito como aquelas garotas pararam de rir de mim assim que você chegou, e também é só olhar para você, suas vestimentas, é de uma completa patricinha.

Acabei rindo. Eu não sabia que eu me vestia como uma patricinha, mas eu sabia que ela não tinha falado por mal, e alguma coisa dentro de mim, me falava que Thamara era uma garota legal.

- Bom, falando sobre os risos das meninas, porque elas estavam rindo de você? Você é linda, não entendo porque elas fizeram aquela maldade. – disse.

Thamara suspirou e me puxou para um canto, para conversarmos melhor. – É que eu tenho uma cicatriz na minha barriga, logo acima do meu umbigo, e tem muitas fotos dela rodando por vários celulares, com certeza elas viram, praticamente todo mundo já viu. No meu antigo colégio, eu estava me trocando no vestiário, e as meninas da minha sala tiraram uma foto minha, só de sutiã, com a intenção de que todos vissem a minha cicatriz, elas enviaram a foto para um monte de gente, até ela se espalhar pelo colégio inteiro e até fora do colégio. Com certeza, o pessoal daqui também já viu, e foi aí que tudo começou, as risadas, os deboches, os apelidos maldosos, eu simplesmente não aguentei e explodi naquelas garotas, eu fui atrás delas e bati na garota que tinha tirado a foto primeiro, bati muito, ela foi parar na enfermaria, eu a machuquei bastante, meus pais ficaram sabendo, fui expulsa, e aí meus pais começaram a achar que eu era perigosa de mais, e que eu tinha que melhorar o meu jeito, deixar de ser agressiva. Me matricularam aqui, é isso. – ela disse e deu um meio sorriso.

- Uau... você é má! – disse e ri.

- Não ficou com medo? – ela perguntou, se divertindo com as minhas risadas.

- Não. A garota mereceu apanhar, mas realmente, você tem que controlar esse seu temperamento agressivo. Mas, elas foram malvadas com você, esse foi o jeito que você encontrou para se defender, seus pais exageraram um pouquinho, mas, que mãe e pai que não exageram com os filhos não é? Sobre a sua cicatriz... que idiotice dessas garotas, é normal ter cicatrizes, não é uma coisa de outro mundo, aposto que nem deve ser feia. – disse.

- É um pouco grande, por isso é feio. – disse ela, com o rosto sério.

- Impossível, o que é uma cicatriz perto de uma garota linda como você?

Ela sorriu. – Obrigada, não é todo mundo que pensa assim.

- São todos uns tolos, não liga para eles.

- Você é diferente das garotas populares que eu conheço em filmes, elas são sempre malvadas e esnobes, você não se parece em nada com elas. – disse Thamara e rimos juntas.

- Ainda bem né! Deus me livre ser como elas! Deve ser por isso, que as pessoas enxergam os populares como bruxos malvados. – disse.

- Os filmes fazem isso com a gente mesmo! Eu sempre mantive distância de populares, parecem ser tão malvados!

- Eu pareço malvada?

- Nem de longe! Só metida, malvada não.

Caí na gargalhada e voltamos para a arquibancada para tentar recomeçar com a Lívia. Essas duas precisavam se dar bem logo.

19:00 horas.

Depois de um dia longo no colégio, voltar para casa pareceu moleza em comparação ao que eu tive que enfrentar para fazer Lívia e Thamara se darem bem, foi difícil, mas pelo menos, elas já trocam palavras sem se estranharem.

Eu estava sentada no sofá assistindo ao jornal da globo, esperando que começasse Rock Story. Adoro essa novela, gosto muito. Foi aí que a minha mãe se sentou ao meu lado e o papai do meu outro lado, estranhei, eles não faziam isso com frequência, nesse horário, eles costumam continuar resolvendo assuntos de seus respectivos empregos.

Meus pais trabalhavam juntos, eles eram donos de uma loja enorme daqui de São Paulo, a loja é bem conhecida, uma loja de roupas para adolescentes, praticamente todas as minhas roupas descoladas eram de lá.

- E aí filha? Como foi o colégio hoje? – perguntou mamãe. Á olhei, ainda estranhando a pergunta.

- Foi legal. – respondi.

- Só legal? Diga como foi o seu dia princesa. – disse papai, sorrindo para mim.

- Normal... entrou uma garota nova e acho que viramos amigas.

- Qual o nome dela? – mamãe perguntou.

- Thamara.

- É um nome legal. – comentou papai.

- É. – disse.

- Mirela.

- O que foi mãe?

- Você sabe que nós dois amamos você, não sabe?

- Sei?

- Isso foi uma pergunta? – meu pai perguntou.

- Foi. – confessei com a cabeça baixa.

Os dois pegaram na minha mão e papai ficou ao lado da mamãe, para que eu olhasse para os dois ao mesmo tempo.

- Mirela, presta atenção no que vamos falar agora. – pediu mamãe, ela estava aflita.

- Pode falar.

- Quando resolvemos te adotar, não foi porque você era bonitinha, loirinha, do olho azul não. Não estávamos querendo brincar de ser pais não. Te adotamos, porque eu sempre quis ser mãe, e não tinha jeito, pois sou estéreo. Quando decidimos partir para a adoção, seu pai e eu, sabíamos que esse filho seria para a vida toda, tínhamos total consciência disso, quando entramos naquele orfanato, e vimos você, tão recém nascida, carente de pais, sozinha no mundo, foi amor a primeira vista. Eu senti uma conexão linda com você, quando te coloquei nos meus braços, eu senti que você era a minha filha, que tinha vindo ao mundo para ser minha, seu pai também se sentiu assim, ficou encantado, assim como eu. Naquele momento, nós dois, sabíamos o que tínhamos que fazer, não foi difícil, porque já éramos ricos naquela época. Não estávamos enganados, quando decidimos te adotar, você passou a ser realmente nossa meu bem. Nunca nos arrependemos disso, te amamos com todas as nossas forças, você é muito especial, uma garota incrível, sempre foi, desde que era pequena, eu sei que nos últimos tempos, seu pai e eu, andamos meio afastados de você, por causa do trabalho na loja, mas, decidimos que não queremos perder um tempo tão lindo da sua vida longe de você. Você já tem 15 anos, e não queremos nos tornar, pais ausentes na sua vida, não foi para isso que te adotamos, nós dois, vamos fazer o máximo de esforço para poder, voltar a ser os melhores pais do mundo para você, lembra como era antes? Queremos aquela sintonia de volta, é assustador perceber que não conhecemos mais a nossa menina linda que tanto amamos. – disse ela, meus olhos se encheram de lágrimas e uma caiu sobre meu rosto, papai a limpou para mim e sorriu.

- Sua mãe está certa meu bem. Sabemos que fazemos falta para você, e percebemos isso ontem á noite, quando vimos que não sabíamos mais nada de você, quando vimos que você nem se quer, tentava se comunicar com nós dois.

- Mirela, quando errarmos, nos diga, fala que sente a nossa falta, diz para nós dois o que sente aí dentro, nem sempre vamos acertar como pais, queremos ter uma união bonita com você, como era antes.- disse mamãe.

- Tá. Estou tão emocionada... – disse, sorrindo.

- Te amamos. – meu pai falou e os dois me deram um abraço ao mesmo tempo. Parecia mentira que estava mesmo acontecendo, esse momento com os meus pais, um momento que eu esperei por tanto tempo, pensei que não fosse acontecer nunca. Mas estava, e eu só tinha que ser grata por isso.


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