Relíquia

— Aaaaaarr!!... Que inferno de sol! Pensei que a gente nunca ia chegar aqui, Jú.

— É. No mapa parecia bem mais perto.

— Huuum... Vamo lá. Tá na hora de explorar essa belezinha...

— Ei, cuidado!

— Ora, Jude! Vai me matar do coração?! Até parece que nunca levantei uma tábua...

— É sempre bom ter cautela, ora! ...Ei, isso não é só uma tábua, é uma placa, olha.

— Dei...xa eu... unnngh dei...xar isso em... pé. Uuuuf. É pesado. Foi legal ficar olhando? Nem pra dar uma força, né?

— Foi mal, Drika! Huuumm... Tem letras aí.

— Você acha que consegue ler, Jú?

— Posso tentar. Éééé... Éli-ó... ló... jota-a... já, ééé... lóóójáá... Loja, isso, forma loja. Agora tem um "dê" e um "é". Dê. Loja de...

— Loja de quê?

— Calma, Drika! Tá estranho esse final. Cê-ó-êne... con. Acho que é isso. Tem um espaço, outro êne-i, um "é" com aquele chapeuzinho em cima, mais espaço, um "i" e um "á". Con...niê...ia. Loja de con...niê...ia.

— Já sei... quer dizer, já ouvi o Ancião falando sobre os tempos que andava por aí nos tais carros. Lembro dele ter falado sobre uma loja de conveniência. Talvez seja uma delas.

— Óoooh... E o que tem nessas lojas?

— Ora, vamos descobrir... e juntar umas moedas de troca, né?

— Você fica bem linda quando sorri, Drika!

— Pelo que o Ancião disse, essas lojas tinham coisas bem legais. Prepara, vou soltar a placa...

— Não, pera aí... cof-cof-cof... Droga, Dri...cof-cof... droga Drika, o pó veio todo pra cima de mim!

— Meeeeu é muita poeira voando. Olha como fica legal contra a luz do sol, Jú! Sempre acho o máximo ver o pozinho voando nas mechas de luz! Tiiin tinlin tintiiiin, pozinhos de fada! Hehehe.

— Odeio poeira... e sol!

— Pois enrole o pano ao redor do rosto e ponha os óculos! Essa merda sobre nossas cabeças não servem só pra proteger da luz do sol, né, dããã!

— Fica aí curtindo a luz e seu maldito pó. Vou fuçar o lugar. ...Eeei, olha essa máquina!

— É uma porta de vidro?

— É. Pelo menos era... tá bem quebrado. Tem uns pedacinhos de vermelho colados na ferrugem, acho que era a cor dela.

— São latinhas lá dentro!

— Uhum. Será que era nessas coisas que as latas eram fabricadas? Nunca vi tantas juntas.

— Será? Você consegue contar quantas têm?

— Sei lá, Dri. Deixa eu ver... uma, duas... seis... tem oito.

— Vou abrir uma.

Tlec... Clec... Pfssssschhh

— Hahahahaha. Adoro esses barulhinhos que elas fazem quando abrem! Ei, Drika! Não bebe!

— Eeeeeei... Droga, Jude!!! Porque você derrubou minha bebida ácida?!

— Não dá pra beber isso! Esqueceu do que o Ancião falou?!

— Dane-se o Anci...

— Nem ouse pegar outra!!

— Ah é! ... Aaaaaaiiii! Bate na minha mão de novo e eu te parto a cara!!! Tá ouvindo?!

— ...

— ...

— ...

— Desculpa, Jude! É que... eu tô com tanta sede... tanta...

— Eu sei, Dri! Vem aqui, vem. Desculpa ter te batido. Deixa eu ver como estão seus lábios.

— Tô leg...

— Anda, deixa de coisa. Huuuum, estão mais rachados, acho que mais feridos também. A gente tem que conseguir água logo.

— É...

— Ei, ergue a cabeça, tá!

— Sei lá, Jú. Ainda é só a nossa segunda expedição sozinhas. A primeira foi uma merda, lembra? Não sei...

— Esquece aquilo, aqueles saqueadores mereceram.

— Não gostei de matar uma pessoa.

— É... nem eu... mas era aquilo ou perder o réptil e eu tava morrendo de fome.

— ...

— ...

— Como será que era ter uma infância, Jude?

— O quê?

— Como será que era poder... como que os mais velhos dizem? Bricar? Brindar?

— Brincar.

— Isso!

— Sei lá!

— Devia ser legal...

— Você tá bem pra baixo hoje né, Dri?

— Tô cansada! Saco cheio! Viver nesse calor infernal, rodeada de poeira por todo lado, tendo que quase morrer de sede e fome pra achar água e comida! Nem faz sentido isso!! ... P*rra, o Ancião disse que tinha um tempo que comer era algo que se escolhia quando fazer, cê tem noção do que é isso?!! As pessoas tomavam banho em lugares cheios, cheios de água! Cheios de água!!!

— ...

— Caramba! Dava pra tomar banho quando quisesse. Matar a sede... quando...quise... hic-snif... tô cansada, Jude! Hic.. muito...

— Ei, não chora! Vem cá. Talvez isso mude mais na frente! Pelo menos precisamos acreditar nisso.

Hic-Snif... É! Vamo logo ver isso aqui e tentar conseguir algo... quero ir embora... Hic...

— Isso, enxuga essa lágrima. ... Ei! Vem cá!!

— Quié?

— Aqui, essa prateleira...

— Noooossa! São aqueles coisos redondos que o Comerciante adora!! Jude, com isso dá pra pegar muita água!

— Uhum!

— Que tem escrito nele?

****

— E aí, meninas? Qui que cês trouxeram aí?

— Ai, Jude, esse doente não pode ver a gente sem mexer no saco?

— Shhh, fica quieta, Drika!

— Hey, Jude! Cê tá ficando uma belezinha hein?!

— Não enche, Comerciante! Ju, passa a mochila pra ele.

— Aqui oh! Vê o que você pode dar por isso aqui.

— Huuuum... Latas de refrigerante. Essa merda dá só pra colecionar, por isso, vale quase nada. ... Ããããmm... tesouras, uma faca... Preservativos? Isso não presta mais pra nada, não vai entrar na contagem. Huuummm. O resto é só besteira também! Vocês precisam aprender a garimpar melhor, meninas... Hehe, bom, sempre tem uma maneira de ganhar mais alguma coisa, cês sabem, né?

— Pode tirar esse sorriso doente da cara e essa mão do saco. A gente ainda tem uma coisa aqui. Jude?

— Aqui oh!

— Oooooorrrh, meeeu Deeeus!!!

— Meu quem?

— Sei lá, Dri! Ele sempre fala isso quando fica assim, todo alegre. Ó lá, acho que vai chorar de alegria!

— Sabem o que é isso?!

— Um daqueles disquinhos de música?

— Cê tem vários, Comerciante. Não entendi o orgasmo!

— Sabe o que tem escrito aqui, menina?

— Anda, cara, to quase morrendo de sede. Acho que se eu cuspir, sai areia!

— Aaaah! Vai, dá pra pegar o quê?

— Aqui, aqui. Peguem isso aqui. Vale isso aqui. Vale muito isso aqui!!

— Eu hein, nem olhou pra gente. O cara tá vidrado no disqui...

— Caguei, Dri! Quanto de água será que tem nessa garrafa?

— Tem dois litros, e nesse embrulho tem um pouco de carne de réptil-das-dunas. Agora vão! Vãovãovãovão! Quero ouvir essa coisa linda aqui. Vão logo!!

— Táááá!!! Anda, Jú!

****

— Caramba! Dois litros de água, Jude! E... huuuum, êffe réptfil tfá diffvino... gulp... Aquilo devia valer uma fortuna antes das explosões.

— Éééééhéhéhéhéhéhééééé... você fica engraçada quando fala de boca cheia... BUUUUURRRP!!!

— Que arrotããão!

— Éééééhéhéhéhéhéhééééé...

— Hahahahahahahahahaha...

— ...

— ...

— É! Queria ter conhecido esse monte de areia antes de tudo explodir. O Ancião conta muita história legal. Aaaah! Que bom poder deitar e dormir com um pouco de água e comida na barriga!

— Verdade!

— ...

— Jú...

— Hum?

— Dormiu?

— Dormi.

— Ah, boba! Sabe, fiquei curiosa agora, me veio à mente...

— Pergunta logo que to quase dormindo... uaaaaaarrrrh.

— O que tinha escrito no disquinho?

— Eita... espera, to tentando lembrar... Ah sim! Tinham as letras AC/DC.

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