[15] Young forever



Mais dois rounds.

No segundo Jeon gemeu palavrões que me fizeram chegar ao ápice mais rápido do que eu esperava, e no terceiro nós dois viemos juntos, como na primeira vez.

Após ele me perguntar se estava tudo bem, e eu responder meu costumeiro e satisfatório "Tudo maravilhoso", meu dom finalmente me levou para o quarto e deu-me aquele banho relaxante de sempre.

ㅡ A gente vai voltar? ㅡ Perguntei, meio entusiasmado com a ideia de ver Taehyung outra vez quando o mesmo ligou para Jungkook e pediu para que ele me levasse até aquela casa novamente.

Jungkook sorriu. ㅡ Se for confortável pra você. ㅡ Explicou, entretido com meu dedo mindinho. Depois o pegou para medir com o seu.

ㅡ E qual foi a chantagem que Taehyung fez para você me perguntar se quero ir? ㅡ Indaguei, dobrando meu mindinho para impedir.

ㅡ Como você sabe? ㅡ Ele me olhou daquele jeito profundo, ainda segurando meu mindinho escondido, mas com a atenção totalmente voltada a mim, que sorri vago de volta.

ㅡ Deixa eu adivinhar... Se você me convencer, então ele evita mencionar os fatos da sua infância? ㅡ Arqueei as sobrancelhas.

ㅡ É por aí ㅡ sorriu fraco. ㅡ Me deixa ver. ㅡ Acariciou minha mão, se referindo ao pequeno membrozinho oculto.

Geralmente quando as pessoas vêem meu mindinho elas ficam entusiasmadas e apertam minhas bochechas, ou me zoam bastante, mas eu sei que Jungkook não vai fazer nenhuma dessas coisas, então acabo cedendo e estendo o mindinho gordinho pra ele, que sorri todo abobado, e meu coração dói, confuso como nunca.

A vontade que tenho é de dizer "Não sorria assim para esse bobo apaixonado, pois esses sorrisos lindos que mostram dois dentinhos de coelho e são acompanhados por ruguinhas em volta olhinhos escuros podem facilmente iludir (mais ainda) um certo pobre garoto que está bem em sua frente, te olhando, todo sonhador".

ㅡ O que foi? ㅡ Jungkook indaga ao perceber meu olhar sobre ele, ainda segurando meu dedinho.

Suspiro alto. ㅡ Você é tão lindo... ㅡ Deixo que minha mão paire em seu rosto, leve e carinhosa, mas antes que deslize-a em um afago Jungkook se levanta de repente e deposita um beijinho em minha testa, para então me deixar com a mão parada no ar e um beiçinho aborrecido.

ㅡ Vista as roupas que separei. Sairemos em dez minutos. ㅡ Disse ele como se nada tivesse acontecido, mas com aquela expressão meio alterada que sempre fica eminente em seu rosto bonito quando cortamos afeto, ou melhor, quando ele corta meu afeto.

Antes que ele saia do quarto eu arrisco, mesmo com o frio aterrorizante na barriga, a chamá-lo: ㅡ Jungkook? ㅡ Testo o nome, que parece arranhar minha garganta pelo fato de que praticamente só o chamo pelo apelido e porque o tom que usei não foi nada afetivo.

Ele me olha receoso, meio diferente. ㅡ Sim? ㅡ e não emite o tratamento de sempre.

Toda essa frustração que me consome, essa falta de afeto que ele me tira como se eu fosse ficar dependente dele, essa idiotice de "não gostar" "não amar" e os caralhos a quatro, só me faz querer dizer uma coisa: Você é um covarde.

Mas não é o que digo.

Apenas engulo em seco e substituo por: ㅡ Eu quero o contrato. ㅡ Digo, quase entredentes, e Jeon observa por um instante, antes de confirmar:

ㅡ Eu o tenho na maleta. Posso te entregar depois que se vestir, certo? ㅡ Indagou, já mais abstinto da pôse firme demais.

ㅡ Claro ㅡ coloquei aquele sorriso superficial no rosto para indicar que ele podia sair, e quando ele o fez, eu só relaxei meu corpo e fiz um bico entristecido para bufar logo em seguida.

Eu quero assinar bem rápido esse contrato pra enfiar em minha cabeça que eu e Jeon Jungkook temos algo que é oficializado em um papel onde diz que a relação D/s se trata apenas de algo carnal.

Desço da cama aos arrastos, ainda só com a boxer e o roupão que Jungkook vestiu em mim depois que saímos do banho.

Ah, dois detalhes: Jungkook teve que limpar a mesa que usamos enquanto eu brincava com o shampoo de frutinhas no banheiro, onde finalmente decidi a cor que pintarei meu cabelo, e o novo corte também. O segundo é que vai ser como um presente de aniversário pro Jun, que está chegando, e graças ao meu único fio de memória boa eu me lembrei disso porque Tae me contou naqueles dias em que eu e meu dom ficamos separados. E é claro que Jungkook não me informaria sobre seu aniversário.

Quando termino de vestir todas as roupas, levando em conta que a peça favorita do look é da cor que meu cabelo ficará depois da mudança, eu coloco o par de tênis novinho que havia escondido debaixo da cama para não me lembrar de Jeon, e finalmente o calço, relembrando daquele dia em que fomos em sua casa ㅡ ou em uma das. Me fez querer voltar no tempo e impedir aquele episódio entre eu e Yoongi, e também querer colocar minha auto ordem de devolver os tênis para Jungkook em prática.

Me olho no espelho e checo se minhas costumeiras lentes de contato estão no lugar, depois pego o gloss labial de morango e espalho por meus lábios, exalando um cheiro doce misturado ao amentolado da pasta de dente recém usada.

Três batidas na porta.

ㅡ Sim? ㅡ Espalho o gloss no cantinho da boca com o mindinho que Jeon tentou medir ao seu, e acabo por sorrir bobo ao lembrar do modo que sua mão prenssou as minhas contra a mesa quando ele se debruçou em cima de mim para me foder mais intensamente.

ㅡ Você está pronto? ㅡ Questionou Jungkook, na sua voz calma e pontual de sempre.

Nem parece que há algumas horas atrás gemeu meu nome, bem manhosinho.

ㅡ Sim, senhor. ㅡ Dei um gritinho entusiasmado, pois graças ao meu defeito ㅡ ou qualidade ㅡ de me apegar rápido, já estou com saudade de ver aquele maloqueiro de bandana. ㅡ Como estou? ㅡ Abri a porta em um supetão, me expondo inteiramente com as roupas escolhidas por ele, que sorriu encantador ao me ver.

Primeiro observou minha jardinheira toda branquinha e fofa que cobre uma camiseta listrada em preto e branco, em seguida seus olhos pousaram em minhas coxas para descer mais um pouco e observar os tênis brancos como neve a a pontinha da meia colorida que ficou à mostra, nos tornozelos, que é minha peça preferida do look.

ㅡ Você está adorável, meu bem ㅡ E bastou que ele falasse isso para que eu saísse de meu transe para observá-lo.

Um terno preto perfeitamente passado cobrindo, com uma gravata de mesma cor, a camisa branca social que marca bem seu peitoral definido, molda a aparência tão sexy e tensamente ímpar que o difere de todos os outros homens.

Jungkook é fresco, relaxante, parece que quando estou em sua presença é como se estivesse nas mãos de anjos querubins que estão dispostos a me levar ao paraíso, porém esses anjos, de tão lindos, se rebelaram contra qualquer ser onipotente e talvez o paraíso não seja o céu e, sim, o calor do inferno que o corpo de Jeon tem.

Meus olhos são a prova de que sou devoto e cúmplice a temperatura quente que causo em sua pele de seda, e Jeon sabe disso.

ㅡ Você está... ㅡ penso por um instante, e então ele acaricia meu maxilar. ㅡ Excitante. ㅡ Acabo por dizer, porque é impossível segurar, deuses!

Jungkook solta aquela risadinha nasal que tanto adoro, para só então dizer, logo após soltar meu maxilar: ㅡ Se quiser, podemos ficar aqui mais um pouco. ㅡ E sorriu ladino, sugestivo ao me olhar profundamente.

Arregalei os olhos. ㅡ Ficou maluco? ㅡ Ri incredulamente. ㅡ Meu bumbum tá doendo. ㅡ Foi o que eu disse, mas o sentido verdadeiro é "Se você me fode mais uma vez amanhã eu tô indo trabalhar de cadeira de rodas".

Ai, é mesmo, amanhã tenho que trabalhar...

ㅡ Oh, está? ㅡ Ele chegou mais perto, tão cuidadoso quanto é sempre, com aquela expressão ingênua de preocupação.

Ri analasado. ㅡ Só um pouquinho... ㅡ Manhei.

ㅡ Você quer ficar em casa, pra descansar? ㅡ Acaricou minha bochecha, e eu fechei os olhos por um instante antes de negar.

ㅡ Não, eu quero ver o Tae. Mas acho que vou ter que ser levado arrastado, porque... ㅡ Indiquei, com o dedão, para trás de minhas costas, o que gerou uma nova expressão preocupada em Jun.

ㅡ Está doendo muito, meu bem? ㅡ Ele pareceu carregar algum tipo de confusão no rosto, e eu tentei tranquilizá-lo.

ㅡ Não, Jun... É só um incomodo passageiro, e é normal. Eu estou brincando. ㅡ E levei minha mão até seu rosto, para acariciá-lo com carinho enquanto Jeon me olhou nos olhos, já com um sorriso mais fraco moldando os lábios em uma curva tão serena e pura.

Depois de um tempo assim, comigo acariciando a pele tão bonita e macia de meu dom, eu pude perceber que ele já não me privou de tocá-lo no rosto como na última vez, e eu o olho tão sonhador que talvez isso seja o motivo para que ele apoie sua mão na minha e quando acho que ele irá acariciá-la, ele retira-a de lá, para correr seus olhos para baixo e a observar entre seus dedos, enquanto acaricia a palma gordinha com o polegar.

Eu me pergunto se ele entende meus sentimentos, se ele está tentando fugir disso, se há algo do passado que o faz fugir de mim no presente, se quando meu coração bate rápido em sua presença o mesmo acontece com ele... O que há de errado que Jungkook esteja criando uma barreira invisível entre nós, e a cada vez que ele me afasta, mais eu me afasto por inteiro.

Talvez minha insegurança se trate disso.

Eu confio cegamente em Jeon, em tudo que ele faz, em tudo que diz depois de pensar com muito cuidado e dizer as palavras corretas como se fossem de dua própria posse, mas eu nunca sei se de uma hora pra outra Jungkook vai resolver sair por aquela porta e me deixar para trás.

ㅡ A gente precisa ir ㅡ E é tudo que ele diz.

Minhas narinas ardem e meus olhinhos se tornam mais insuportáveis de impedir que não marejem, mas eu não deixo. Se sarcasmo é meu dom, superficialidade está em meu domínio, e é por isso que forço meu sorriso mais sincero de um astral que já não tenho agora e assinto devagar. ㅡ Tá bom.

ㅡ Jimin ㅡ Ele me olha nos olhos, com cuidado, e algo mais que desconheço.

Eu não o fito com os meus, também não o respondo, pois se já é difícil segurar as lágrimas, o quão mais impossível isso pode ser se o que consigo identificar em seus olhos são pezar?

Eu não quero voltar para o passado...

ㅡ Jimin, olhe nos meus olhos ㅡ Ele diz, mas desta vez é um pedido com cuidado, sem me tocar, e então solta minha mão que até então estava imobilizada por seu toque suave.

ㅡ Eu não quero ㅡ falo baixo, e então engulo em seco pela voz que poderia ter saído embargada.

Jungkook suspira, mas não é um suspiro descontente nem cansado. É um suspiro triste.

ㅡ Nós acabamos de ter uma relação e você está sensível. Quando os ânimos estiverem mais leves, nós vamos conversar sobre algo. Agora precisamos ir. ㅡ E caminha para longe de mim aos poucos, me deixando para pegar a chave do carro logo em seguida e me oferecer sua mão para irmos.

Eu quero dizer a Jungkook que o meu verdadeiro "estar sensível" começou naquele dia em que ele surgiu na boate, para me ver ou não, e aliás...

ㅡ Aquele dia da boate... Você já me conhecia há quanto tempo? ㅡ Indaguei, rangindo os dentes.

E desta vez, sim, ele suspirou cansado. ㅡ Eu ainda não o conheço. ㅡ Sorriu fechado, quase tristonho enquanto afagou meu queixo. ㅡ Mas já havia te visto desde dois meses anteriores. ㅡ Disse ele, e eu soltei uma risada nasal incrédula.

ㅡ E isso te deu tempo suficiente para me stalkear? ㅡ Desta vez olhei em seus olhos, que fitaram os meus na firmeza de sempre, sem um pingo de alteração.

ㅡ Jimin, sente-se aqui. ㅡ Me chamou para o sofá, mas depois se sentou e indicou seu colo ao perceber que eu não lhe obedeceria. Eu queria conseguir resistir a isso.

Me sentei lá, tentando não me importar com suas coxas tentadoras, então só levantei meu rosto que estava observando minhas mãos sobre o colo e o olhei com uma expressão tristinha.

ㅡ Dois meses atrás daquele dia em que você me conheceu na boate, eu e Seokjin te vimos dançando e ele quis pedir à você para sair com ele. ㅡ Disse, olhando em meus olhos. ㅡ De começo, eu não imaginei que...

Duas batidas na porta nos interromperam, e eu respirei fundo antes de fazer menção de levantar para ir socar a cara de quem fosse que tivesse atrapalhado o momento mais afetivamente explicativo que Jungkook e eu tivemos, mas antes que o fizesse, meu dom me interrompeu.

ㅡ Jimin, fique aqui. Eu atendo. ㅡ E quando me deu as costas para ir abrir a porta, eu revirei os olhos por pura mãnha.

O observei ir até a porta, com meus braços cruzados e minhas nádegas sentindo a falta das coxas de Jun, e quando ele chegou até ela e abriu-a, eu fiquei confuso.

ㅡ Namjoon? ㅡ Jungkook o olhou, confuso.

ㅡ Olá, Jeon mais novo ㅡ Sorriu tanquilo, e Jun o olhou com receio. Eu apenas observei o curativo na testa do moreno alto e bonito.

ㅡ Meu pai te mandou aqui? ㅡ Jungkook pareceu mais relaxado.

ㅡ É. Eu falei pra você desligar o rastreador e a localização do GPS do carro. ㅡ Disse, cruzando os braços. ㅡ Seu pai quer que você vá até o escritório para tratar de assuntos pendentes. ㅡ Disse a Jungkook, que concordou.

ㅡ Vem, meu bem. Agora realmente precisamos ir. ㅡ Chamou-me.

Depois que fui no banheiro rapidinho e peguei meu celular e uma muda de roupas para caso precise posar, rumei a porta e encontrei apenas Namjoon, o que me assustou de começo, mas depois me conformei com o que ele disse.

ㅡ O pai de Jungkook exigiu que ele fosse rapidamente até o escritório, então assim que ele saiu pediu para que eu o levasse até a casa dos pais. ㅡ Explicou, com calma.

Não é como se eu fosse tão bobo a ponto de me perguntar internamente "Desde quando Jungkook segue ordens?", mas eu me perguntei, e a auto resposta que me dei condiz em que todo mundo acata ordens algumas vezes, e ainda mais quando quer evitar uma confusão com o próprio pai. Isso não deve ser fácil para Jungkook na mesma intensidade que não está sendo fácil eu pisar em cima do meu orgulho para aceitar que as coisas não são como quero.

Eu simplesmente não faço a mínima ideia se Jungkook realmente se importa para o que eu quero ou não, mas sem me vitimizar, essas coisas que ele faz... essa maneira de lidar comigo me parece muito estranha, e em um relacionamento normal eu não aceitaria que ele me trocasse por trabalho desse jeito, sem demonstrar importância, mas eu estou me esforçando e tentando mudar meu ponto de vista.

Em tão pouco tempo amadureci tanto, e talvez isso não seja algo tão bom, porque cada vez que enxergo a realidade nua e crua, eu me sinto mal.

Eu só queria que ele mesmo tivesse vindo até mim, me chamado e dito que precisava ir.

Não precisava nem de um beijinho de despedida, nem de nada, só que saísse da boca dele que o assunto era urgente e que nos encontraríamos mais tarde, sem sair assim, sem mais nem menos, como se não se importasse.

Quando Namjoon estacionou em frente a casa dos Jeon, eu não queria nada além de ficar sozinho em qualquer canto solitário daquela casa, espairecer na noite e refletir sobre a decisão que estou tomando, porque, enfim, eu assinarei o contrato e se eu não suportar uma piora gradativa no quesito sentimental, é provável que tudo vá por água abaixo.

Então após chegar, apenas ignorei o cumprimento entusiasmado de Taehyung e subi junto a ele para seu quarto.

O bom de estar em sua companhia, é que ele não se incomoda com o silêncio e não questiona a expressão de poucos amigos.

Depois de um tempo sozinho em seu quarto, Taehyung deixou o jantar em para mim, eu apenas mordisquei alguma coisa, pois nem mesmo tive apetite perante minhas reflexões.

Organizar sentimentos e pensamentos nunca foi tão difícil.

Desde o começo eu fui altamente atraído por Jeon, por sua aura tão suave e seu jeito cuidadoso. Isso é algo que me fez apegar nele.

Depois que o conheci melhor, eu desconstruí aquela imagem intitulada que formei sobre ele, onde eu achava que Jungkook era um homem de negócios que estava a procura de sexo casual, assim como alguns dos caras com quem transei enquanto trabalhava na boate ㅡ o resto eram desocupados e drogados que tive relações por causa da aparência boa ou por estar bêbado.

Mas Jungkook não. Ele é totalmente diferente de todos.

Eu não sou um bobo idiota que questiona a lei natural de que sempre vai existir alguém melhor do que uma pessoa que você admira tanto, mas Jeon Jungkook é a própria personificação de perfeição imperfeita, embora seja contraditório.

É como se eu tivesse certeza de que não existe alguém como ele no mundo, que vai amar meu corpo e cuidar dele como se fosse o seu, que vai estar sempre disposto a esclarescer tudo para evitar conflitos e que sempre vai estar lá, cuidando, acarinhando, ensinando... Enfim, sendo ele e nada além.

Não há palavras suficientes para descrever aquele brilho nos olhos dele, simplesmente é impossível, como se o ser humano ainda não fosse capaz de criar algum termo que represente-o.

Mas para mim, quando se trata de Jeon, as palavras somem, a boca seca, o estômago revira e os pelos se arrepiam.

Então, levando o resumo de minhas reflexões em conta, eu chego a duas conclusões que talvez sejam precipitadas, talvez óbvias ou totalmente ainda confusamente mescladas demais.

A primeira, eu amo o prazer que ele me dá. Amo mesmo. Aquele tipo de amor que você suspira a cada êxtase e sente com intensidade cada toque em sua pele, que traz aquela sensação de bis que sempre procurei.

A segunda, que eu o amo.

Eu o amo assim, do jeito que ele é, mesmo que às vezes ele não seja o que eu sempre idealizei.

Mas afinal, ideais não existem e quando temos o que queremos, não damos tanto valor como daríamos nos momentos de ambição.

Não sei se por isso ou por outra coisa eu decidi assinar, sim, o contrato.

É que tudo está tão confuso e minha vida é um grande tanto faz, então não há problemas sobre correr o risco de eu me decepcionar mais uma vez na vida se a porcentagem de que as coisas dêem certo foram as mesmas da hipótese anterior.

Eu só quero viver cada instante como se fosse o último, mas não neste momento, pois os efeitos colaterais da reflexão me atingiram em cheio. Por isso, decido ir de fininho até a cozinha para não acordar Tae, que está deitado no pé da cama. Detalhe: Decidimos dividir a cama para dormir.

Quando desço aquelas escadas caras, sobre o tapete vermelho, rumo a cozinha enorme e tomo um copo de água natural ㅡ porque minha garganta é sensível ㅡ e após ver as constelações pela janela de vidro transparente, decido voltar para cima, absorto em meus pensamentos mais leves e despreocupados, agora.

Mas quando passo pelo corredor que liga a cozinha à sala que dá pra escada extensa, ouço uma voz muito conhecida, que aparentemente vem do escritório do Jeon mais velho, e quando me aproximo para confimar o que temia, ouço o tom alterado que me assusta.

É a voz de Jungkook.

ㅡ Mas por quê? ㅡ Jungkook pergunta, parecendo desacreditado.

O outro que suspira cansado antes de responder, possivelmente era o pai de Jun, e eu confirmo isso com o que ele diz a seguir.

ㅡ Você tem que fazer isso, Jungkook. Por que você sempre pergunta porquê como se isso fosse gerar uma resposta que iria satisfazer seu ego egoísta? ㅡ O homem pareceu ácido, com a voz mais alta que o normal, ao contrário de Jungkook, que pareceu firme em sua calma que transpareceu naturalidade, o que mudou instantes depois.

Sua voz foi elevada à alguns dois tons acima e eu senti meu estômago revirar de medo do que estava acontecendo, mesmo sem nenhuma hipótese clara passando por minha cabeça.

ㅡ Porque você acha que pode decidir tudo? Tudo você pode decidir, tudo você quer e faz independente das consequências que irá gerar a sua volta, e eu que sou o egoísta? Eu não vou deixá-lo, e estou pouco me importando com o que a mídia dirá. Minha sexualidade não muda meu caráter e ㅡ Enquanto a voz nítida ultrapassava a porta, houve um barulho ríspido lá dentro, como se um soco tivesse sido desferido na mesa, e no mesmo instante uma grande mão envolveu meu braço e quando fui gritar por puro reflexo, essa mesma mão tapou minha boca e uma presença surgiu atrás de mim, colando meu corpo a outro.

Logo me acalmei quando senti a fragrância francesa que só podia ser de uma pessoa.

ㅡ Fica quieto, pintinho, que a cobra tá brava e o pai da cobra também.

É só o Taehyung.

Assenti vagarosamente, sem me importar com o apelido relembrado, e então nós dois colamos nossos ouvidos na porta para bisbilhotar a conversa.

ㅡ Você acha que pode decidir tudo assim? Que pode simplesmente chegar aqui e dizer ao seu pai que não se importa com a imagem que demorei tanto para construir? Você é um moleque que sai por aí achando que pode conciliar o cargo tão importante que exerce com romances ingênuos. Você foi criado para ser um homem de negócios, não um romântico incurável como naqueles livros idiotas que sua mãe lia e...

Eu só espero que eu não esteja sendo o ponto central dessa discussão.

ㅡ Eu não sou um projeto laboratorial ao qual você pode atribuir todas os seus testes de molde. Eu tenho minha própria vida, e minhas próprias vontades. Se quer moldar um ser vivo benevolente que acate todas as suas ordens, compre um robô. Eu estou saindo por aquela porta, e amanhã de manhã já estarei em Seul. Não entrarei aqui novamente até que repense em seus atos hipócritas e egoístas e me conceda a permissão, em um papel, de renunciar o cargo. Já deixei bem claro que não vou mais fazer parte dessa imagem tão hipócrita, pois você sabe bem o quão idiota ela é. ㅡ Ele disse firme como rocha ao interromper o pai.

Ao pensar consecutivamente na impossibilidade de Jungkook seguir ordens juntamente com a penúltima frase dita, eu novamente arregalo os olhos para Taehyung, que me lança um sorriso quadrado em divertimento e puxa-me pelo braço em direção as escadas.

Pelo fato de que estou descalço e Taehyung com suas peculiares pantufas, não fazemos barulho e chegamos no quarto em segundos, mas não antes de ouvir o pai de Jungkook dizendo algo que me causou calafrios.

ㅡ Se for para Seul, outra vez, esqueça que você faz parte dessa família.

Taehyung fechou a porta e quando me joguei na cama, ele se encostou na parede para respirar como se tivesse corrido uma maratona para então dizer, em meio aos suspiros: ㅡ Puxa vida, já perdi a conta de quantas vezes ouvi discussões assim, mas parece que a cada vez fica mais emocionante. ㅡ e depois veio se sentar junto comigo. ㅡ Adoro um barraco, não nego ㅡ cruzou as pernas.

Respirei fundo. ㅡ Eu nunca vi o Jun assim. ㅡ Sibilei, meio atordoado, muito confuso.

ㅡ Ah, quando vocês se casarem e vierem morar aqui você vai ver quase todo dia. O bom é que quando ele tá estressado ele costuma pôr a cobra pra serpentear. ㅡ Contou.

Que deus tenha piedade da alma de Taehyung, porque o próprio dito cujo não tem.

ㅡ Taehyung, para com isso. Eu tô assustado de verdade. ㅡ E estava mesmo.

Apoiei a mão em meu peito e senti as batidas descompassadas.

Taehyung abriu um largo sorriso e me apertou entre os braços grandes e gentis. ㅡ Tadinho... que dó do pintinho! Ta com medo do gavião?

ㅡ Mas não era cobra? ㅡ Fiz uma careta, ainda entre os braços dele, meio desajeitado.

ㅡ Tanto faz. Tudo dá medo. ㅡ Deu de ombros e me soltou. ㅡ Quanto ao pai da cobra, que pode ser chamado de gavião, fica tranquilo que ele não é assim o tempo todo. É só falta de afogar o ganso. ㅡ Pareceu tão tranquilo que nem percebeu quando eu pisquei atordoado.

Se algum de vocês conhecerem o Taehyung por um mês, dentro desse um mês ele vai citar todos os animais existentes na terra e no fim você será um ótimo zoólogo, pode ter certeza.

ㅡ Falta de afogar o ganso quer dizer... ㅡ Testei, e ele me interrompeu antes que eu completasse a frase que ao lado dele não soa tão constrangedora.

ㅡ Falta de sexo. ㅡ Deu de ombros.

O olhei, meio receoso. ㅡ Será? ㅡ E roí minhas unhas, o que fez Tae me dar um tapa na mão.

ㅡ Se roer essas unhas não vai ter jeito de arranhar o Jungkook, seu paçoca. ㅡ Fez uma cara feia, e eu semicerrei os olhos para então lhe mostrar a língua, o que ele ignorou prontamente. ㅡ E é claro que é falta de sexo. ㅡ Reprisou. Dei de ombros, concordando.

Muito ruim ficar sem sexo.

ㅡ Mas porquê e qual cargo Jungkook quer renunciar? ㅡ Perguntei, já fugindo do assunto assim que Tae se levantou para pegar algo na gaveta.

Ele veio logo depois com dois chocolates em mãos e me entregou um. ㅡ Ele é CLO* e quase COO* na empresa deles. E já faz um tempo que o Jungkook tá organizando a saída porque é claro que ele não faria isso de uma hora pra outra, mas o porquê você vai ter que perguntar pra ele porque, bom...

ㅡ Ele não gosta que falem dele sem a permissão do próprio. ㅡ E revirei os olhos. Tae deu uma mordida do chocolate para continuar o que me deixou intrigado.

ㅡ O fato é que Jeon Jungkook não quer honrar o legado do pai, só que o cabeçudo velho não aceita isso como todo mundo já aceitou. Aliás, todo mundo cagou se o Jungkook tem ou não o legado do pai dele. Só o velhote que fica insistindo que o filho tem porque tem que ser igual a ele. ㅡ Explicou, e em mais uma mordida engoliu o resto do chocolate. Ele tem uma boca grande.

ㅡ Mas e daí? O Jungkook não pode simplesmente sair ou... Deixar tudo? ㅡ Questionei, ainda na segunda metade do chocolate.

Devia ter comido tudo como Tae, porque antes de ele me responder, tomou meu chocolate e comeu-o todo.

Fiz uma careta mas ignorei porque minha curiosidade é maior que minhas lombrigas.

ㅡ Não, né, Jimin. Achei que você fosse desinformado, não analfabeto. Não é assim que as coisas funcionam, muito menos porque Jungkook é um cara que tem direito a metade da marca do papai. ㅡ Suspirou, limpando a boca.

ㅡ Mas e você? Você não tem nenhuma parte? ㅡ O olhei com mais atenção, mas o fato é que Kim Taehyung sabe esconder seus sentimentos de todo mundo, menos de mim, porque como Jungkook diz eu tenho "o diabo nos olhos" que condiz em esperteza, e por isso consigo ler a linha de mágoa estabelecida no olhar de meu quase e atual melhor amigo forever.

Isso entrega minha carência de amizades, eu sei.

ㅡ Eu sou o filho adotivo que meu pai não queria, e aí? ㅡ Desafiou-me com as sobrancelhas, e eu arregalei os olhos.

ㅡ Como assim não queria? Isso não é ilegal? Tipo, adotar um filho quando não se tem vontade do casal e...

ㅡ Ora, Jimin. Ele caga dinheiro todo dia. Acha que ele precisa mesmo de permissão para adotar uma criança abandonada? ㅡ Pareceu muito bem conformado.

Puxa, isso é tão errado tanto no sentido profissional de quem permitiu quanto para Tae, que não merecia algo assim.

ㅡ Eu sint...

ㅡ Eu tô bem. Já me acostumei. Relaxa. ㅡ Tentou me tranquilizar. ㅡ E outra, acha que eu tenho o perfil de um empresário que dirige empresas? Meu filho, eu sou passivo. ㅡ Ergueu as sobrancelhas.

ㅡ Mas o Jungkook me disse que não existem padrões para se fazer aquilo que se quer. O que importa é o que você é por dentro, não a imagem que passa. ㅡ Tentei, com um bico involuntário.

ㅡ O que o Jungkook diz é a verdade dele. Essa não é a minha verdade, e eu sei de tudo isso que você falou, é só que eu não tô nem aí pra esses negócios de empresas e tals mesmo. Eu gosto é de um pincel de cerdas macias e tintas acrilicas e coloridas. De resto, eu tacaria fogo em tudo. ㅡ Deu de ombros, meio hiperativo a sua moda, limpando a sugeira imaginária de suas unhas.

ㅡ Você é louco e felizmente eu não ligo. ㅡ Me sentei para pegar um travesseiro macio e me apoiar nele. ㅡ Agora me diz, se o Jungkook falou que vai sair amanhã, como eu vou embora? ㅡ Questionei.

Ele me olhou daquele jeito que diz outra vez "Achei que você fosse desinformado, não analfabeto". ㅡ Pelo amor de deus, né, Jimin. Até parece que você não sabe que o Jungkook pensa em tudo. ㅡ Revirou os olhos, e eu me senti meio enciumado por isso.

ㅡ Mas ele pareceu meio descontrolado. ㅡ Divaguei alto, o que arrancou um riso do ser onipotente no quesito tintas ao meu lado, deitado na cama.

ㅡ Levando em conta que ele realmente quase nunca fica bravo de verdade, até que ele tava descontrolado, sim ㅡ e me lançou aquele olhar conformado, mas mudou outra vez para um daqueles que garotas usam quando vêem volumes nas calças dos ídolos. ㅡ Mas você ouviu aquele tom de voz... ㅡ Semicerrou os olhos, me dando um sorriso malicioso, e eu devolvi todas as expressões, complacente a tudo.

ㅡ Jeon com raivinha é um pecado que eu quero cometer ㅡ Falei, meio absorto.

Tae fez uma careta daquelas que os lábios se curvam para baixo e os olhos ficam cofusos. ㅡ Essa frase foi meio estranha e nada a ver, mas eu também sou, então não devo julgar nada ㅡ pareceu conformado, e eu concordei com a cabeça.

Em meio a esse gesto, um barulho de passos subindo as escadas gerou batidas aceleradas em meu peito e um arregalar de olhos semelhante ao de Taehyung.

ㅡ Caralho viado ㅡ se levantou aos tropeções e apagou a luz. ㅡ A gente tem que fingir que tá dormindo porque se for o pai da cobra e se ele desconfiar que a gente escutou, amanhã vamos estar sendo servidos no almoço. ㅡ E se jogou ao pé da cama para tacar o pé na minha cara logo em seguida.

Dei um beliscão nele e me enfiei debaixo dos cobertores, morrendo de medo.

Depois de um tempo que ficamos assim e os passos se distanciaram ㅡ graças aos deuses que evitaram dois enfartos ㅡ, Taehyung se remexeu daquele jeito que indica que ele quer falar algo, e então cochichou: ㅡ Hey, pintinho amarelhinho? ㅡ Ah, que ótimo... Agora além de pintinho eu sou amarelinho. Quanto tempo mais vai demorar até que ele me chame de Piu Piu?

ㅡ Quê? ㅡ Cochichei de volta.

Ele soltou um risinho. ㅡ Sujou a calça ou aguentou a barra? ㅡ Perguntou, rindo baixo. Meti o pé em sua costela. ㅡ Ai, filho de uma égua velha... ㅡ Resmungou, e eu lhe desferi outro chute fraco. ㅡ Desculpa, sua mãe não é uma égua. Talvez velha, mas égua nã...

ㅡ Eu sei, filho de um jegue. ㅡ Retruquei, em cochicho.

ㅡ Se for o adotivo é mesmo. ㅡ Confirmou.

E novamente aquele silêncio pouco significativo se instalou, o bastante para que eu escutasse a barriga de Taehyung roncar, não sei se o estômago ou as tripas.

ㅡ Hey... ㅡ O chamei, meio alheio ao fato de que ele estava acordado.

ㅡ Quê que foi? ㅡ Não havia falta de humor em sua voz, apenas o fato de que ele é meio patético e sarcástico mesmo. Eu amo isso, porque a gente se entende.

ㅡ Eu tô com uma vontade de comer alguma coisa... ㅡ Eu falei, meio manhoso.

ㅡ Olha, você não vêm não que eu não sou o Jungkook. Agora vai deitando pra dormir, bratzinho da peste. E fecha esses olhos endiabrados aí e me deixa dormir em paz ㅡ Disse, rabugento. Eu fiz um bico emburrado e cruzei os braços meio desajeitado, por entre as cobertas.

ㅡ Eu tô com fome. ㅡ Resmunguei.

Taehyung suspirou.

ㅡ Eu não sou seu dom. Vai falar isso pro dito cujo. ㅡ E bocejou. Fiquei mais emburrado ainda.

ㅡ Hm, então tá. ㅡ Me sentei de supetão, e Taehyung uniu as sobrancelhas no ar de claridade da lua que entrava pela janela para em seguida sorrir desacreditado.

ㅡ Você vai mesmo tirar o Jungkook do maravilhoso soninho dele pra falar que você tá com fome? ㅡ Revirou os olhos, segurando as cobertas pela cintura. ㅡ Olha, eu também tô cagado de fome mas graças a deus eu tenho essas reservas ㅡ segurou as gordurinhas da barriga macia entre os dedos ㅡ, e você também. Então trata de usar essas reservas e deixar quem não as tem descansar em paz. ㅡ E voltou a se deitar, cansado de mim, mas pensei por um instante e... Eu queria tanto ver o Jun dormindo...

Não. Eu preciso não ser tão egoísta. Optei por voltar a me deitar.

Ali estava eu, com vontade de saciar minha ansiedade com comida, imerso no silêncio que quebrei instantes depois.

ㅡ Tae, por que você disse aquilo no dia que nos conhecemos? ㅡ Indaguei, pensativo ao me lembrar sobre Taehyung ter falado que eu não deveria assinar o contrato.

Ele suspirou, me olhando devagar, e sem se fazer de desentendido disse: ㅡ Bom, Jimin, tem algumas coisas que Jungkook não te contou, e que eu acho que ele jamais poderia te privar de saber na relação que vocês terão através daquele contrato.

ㅡ Espera ㅡ sorri incrédulo. ㅡ Como sabe que ainda não assinei o contrato? ㅡ Questionei. Taehyung não sorriu, apenas olhou ao longe.

ㅡ Porque as coisas seriam diferentes se você já tivesse assinado. ㅡ Explicou.

Oh, isso parece ser a primeira coisa verdadeiramente séria que Tae falou para mim.

ㅡ Como assim? ㅡ O olhei, com receio.

ㅡ Jungkook não quer uma relação que envolva afeto, Jimin. Ele quer um contrato de sadomasoquismo. Você não entende isso? ㅡ Desta vez me olhou nos olhos.

ㅡ Eu entendo, mas... ㅡ tentei.

ㅡ Não tem mas nem porém nem contratudo, Jimin ㅡ Arqueou as sobrancelhas, tentando me ensinar algo. ㅡ Um contrato de dominação e submissão determina oficialmente o que vai haver. Dominação. Submissão. Nada de sentimentos a mais. Ele já não te falou isso? ㅡ Perguntou, exigindo uma resposta.

Meu peito foi tomado por uma sensação ruim quando pensei numa resposta.

ㅡ Em outras palavras, mas sim... ㅡ Fiz um beiçinho e dei de ombros após chegar a essa conclusão pela milésima vez.

ㅡ Olha, eu vou mandar a real ㅡ Ele se sentou-se de frente a mim, e quando fiz o mesmo, Tae segurou minhas mãos entre as suas enquanto ficamos em posição de índio.

O olhei, com a respiração acelerada.

ㅡ O Jungkook me pediu para te explicar que tudo vai mudar. Na verdade, eu sugeri isso e ele concordou. ㅡ Desviou os olhos dos meus, mais diretamente para nossas mãos.

O observei por um instante, com algo na garganta que não queria pensar no que era, e então minhas sobrancelhas ficaram franzidas na medida em que retirei minhas mãos das suas, com um cuidado desproposital.

ㅡ Do que você está falando? ㅡ Meu lábio inferior tremeu, e ele engoliu em seco para depois não conseguir olhar em meus olhos.

ㅡ Eu e ele tivemos uma conversa.

ㅡ Não me diga que foi lá e falou que eu estou apaixonado por ele, Taehyung? ㅡ Me levantei ao interrompê-lo, e tremi com a possibilidade enquanto andei de um lado para o outro, apertando minha testa entre meus dedos curtos.

ㅡ Quê? ㅡ Ele me olhou, incrédulo. ㅡ Claro que não, Jimin. Eu não sou tão invasivo assim.

ㅡ Então o que você disse que foi a mesma coisa que se tivesse dito isso? ㅡ Questionei, aflito ao olhá-lo nos olhos.

ㅡ Eu disse que se ele não quer te machucar, é melhor que explique toda a mudança que vai haver e que esclareça o passado. ㅡ Explicou.

Sorri amargo. ㅡ Porra, Taehyung, você é um gênio! E qual é sentido disso mesmo? Ah, "Ele está caidinho por você e se você cortar o afeto ele vai entrar em decadência" ㅡfiz aspas com os dedos.

ㅡ O Jungkook não é burro. Ele já sacou que você tá na dele. Por que acha que ele sempre foge dos seus carinhos? ㅡ Indagou, nada natural.

Frazi o cenho. ㅡ Ele te conta? ㅡ Neste momento minha respiração se tornou descompassada.

ㅡ Eu o obrigo. ㅡ Deu de ombros.

Fechei os olhos com força, confuso demais.

ㅡ Jimin, desde que nos conhecemos eu percebi que você é muito intenso, então se houver um tombo, será como um colapso universal. Mais precisamente, no seu universo com o Jungkook. ㅡ Explicou, tentando me fazer entender.

Puxei meus fios loiros para trás, frustrado. ㅡ Pra sua informação, eu não sou uma criança como vocês me vêem, e eu sei muito bem lidar com mudanças radicais. Afinal, lidei com uma quando meu pai nos deixou após espancar minha mãe, lidei quando meu avô morreu de câncer, quando minha família faliu e também lidei quando minha mãe descobriu aquela maldita doença, Tae. Eu posso muito bem lidar com uma decepção amorosa, porque embora não pareça, já lidei com duas onde numa o garoto me forçou a uma relação sexual e outra onde eu não conhecia a verdadeira pessoa que eu namorava. ㅡ Neste momento nada mais transparecia em meu rosto do que raiva, e no rosto de Tae, surpresa. ㅡ Até parece que eu vou me martirizar por causa de macho! ㅡ com essa frase meu tom de voz foi elevado.

ㅡ Jimin, eu já sei disso tudo. E você pare de drama que você entendeu muito bem o que eu quis dizer. ㅡ Revirou os olhos, de pernas e braços cruzados sobre a cama.

ㅡ Entendi o quê? Que você foi lá se intrometer na minha vida e convencer o Jungkook de me avisar o que eu já sei? ㅡ Indaguei.

ㅡ Ah, e por acaso você sabe que tudo vai mudar quando o contrato for assinado? ㅡ Riu em escárnio.

ㅡ Ter certeza eu nunca tive, mas eu já esperava, sim. ㅡ Respirei fundo, cansado. ㅡ E eu não preciso te contar para mostrar que cheguei a uma conclusão.

Ele revirou os olhos.

ㅡ E como já sabe de tudo que falei? ㅡ Questionei, exigindo uma resposta.

Mais uma revirada de olhos, e eu quis furá-los com minhas unhas. ㅡ O Jungkook. ㅡ Explicou.

Jungkook investigou minha vida inteira.

Okay.

O ar que saiu pelas minhas narinas provavelmente queimaria qualquer coisa agora.

Eu já não sei mais o que fazer e nem pensar.

Jungkook investigou minha vida de ponta a ponta, sabe tudo, absolutamente, e ainda assim parece fingir que não me conhece.

E se ele sabe tanto, isso quer dizer que ele chegou a falar com a única pessoa com quem me abri tanto. Mas não quis pensar nisso e mudei a rota do assunto para algo que é mais importante agora.

ㅡ E é por isso que está tendo amizade comigo? ㅡ Questionei, sarcástico. ㅡ É por que o covarde do Jungkook quer?

Eu não precisei de uma resposta, porque Tae abaixou a cabeça.

E nesse exato momento minha carga pesada de raiva revidou contra mim como num soco no estômago. Engoli em seco e a expressão frustrada foi substituída por uma dolorida.

ㅡ Eu não estou mendingando afeto, nem amizades... Seja a porra que for, eu não estou mendingando. ㅡ Peguei o travesseiro que havia caído no chão e o joguei sobre a cama, com força. Já não me importei mais com meu tom de voz que provavelmente daria para ouvir lá de baixo.

ㅡ Jimin, o Jungkook quis sim que eu conversasse com você. Mas eu percebi que você tem muito mais que uma boa companhia a oferecer. Você é incrível, Jimin, e eu vejo isso nos seus olhos, e só por isso eu tenho essa amizade com você ㅡ ele tentou explicar, com os olhos marejados.

Eu apenas ri fraco, engolindo em seco no instante que uma lágrima escorreu em linha reta por minha bochecha e eu a limpei. Não uma lágrima de tristeza, mas de mágoa e principalmente raiva.

ㅡ Eu nunca me dispus a oferecer nada, Taehyung, assim como não pedi nada. Eu não tenho nada mais a oferecer que um doce amargo entre sarcasmo e uma boa transa, e um ouvido para ouvir suas asneiras. ㅡ A intensidade da mágoa crescia cada vez mais dentro de mim. ㅡ Você e o Jungkook vivem nesse mundo superficial, nesse ínfimo entre negócios e sexo casual. Eu não nasci pra isso, embora a vida esteja tentando me fazer acreditar que sim. ㅡ Cuspi aquela meia verdade que me rondava o peito, e Taehyung me olhou com os olhos de quem me questiona se tenho merda na cabeça.

ㅡ Você tem merda na cabeça? ㅡ Apontou para a própria cabeça, me olhando desacreditado. ㅡ Você não sabe o que se passa aqui, Jimin. Nada nem ninguém sabe como tudo foi complicado pra nós dois, e a gente só tem um ao outro no mundo. Não é preciso ser muito inteligente pra perceber isso. Ele não me pediu pra falar com você, mas eu o convenci de que é necessário. Acha que podemos confiar em qualquer um sendo que todo mundo nos apunhalou pelas costas?

ㅡ Oh, me desculpe. Eu sou mesmo um burro, né. Eu também não podia confiar mas mesmo assim ainda o fiz, cegamente. ㅡ O olhei, com falso entendimento. ㅡ E vocês se importam com o que se passa aqui? ㅡ Apoiei minha mão do lado esquerdo de meu peito, sentindo meu coração bater rápido, e então lhe lançei um sorriso que não chegava aos meus olhos. ㅡ Sua vida é inútil, Tae. Gira em torno de sorrir aos ventos e jogar um belo foda-se em tudo, assim como a minha, que tem como foco momentâneo uma relação que não sei mais do que se trata, uma mãe que está morrendo e sorrisos que disfarçam a frustração. ㅡ Meu coração doeu.

Não importava o que houvesse. Simplesmente não importava.

Eu sofri tanto até aqui, e sinceramente acho que não mereço essa desconfiança de que a imagem que passo seja falsa. É como se jogar de cabeça em um rio raso esperando que a queda não seja fatal.

Sinceramente, não sei porque ainda tento.

Um silêncio se instalou ali, e dessa vez era, sim, muito incomodo.

Tae abaixou a cabeça e encarou suas mãos para que só então uma lágrima caísse entre elas. ㅡ Além de Jungkook, eu sinto que posso contar só com você, então não me abandone, Jimin, por favor ㅡ ele pediu, ou implorou.

E foi nesse momento que as lágrimas se formaram em meus olhos, minha respiração se tornou ofegante, e então identifiquei em Tae, enfim, a mesma dor que reside em mim.

A dor da decepção.

Não sei porque meus sentimentos são tão intensos e repentinos, mas ter alguém que tem ao menos uma breve noção de minha dor interna me faz me sentir menos solitário, e por isso me aproximei devagar, com o cuidado frágil que me restou, e então cruzei minhas pernas no chão para segurar suas grandes mãos e abaixar a cabeça, assim como ele.

Aos poucos nós nos acalmamos e as lágrimas foram cessando no mesmo instante em que Tae fazia um carinho aconchegante em minha mão, afastando a carência de afeto.

Pra quem nunca recebe carinho, um toque mais leve, mais intenso, pode significar tanta coisa... E agora eu vejo o quão bonita é a amizade que está nascendo entre nós.

ㅡ A gente é fodido pra caralho ㅡ ele disse ao sorrir amargamente, em meio as lágrimas, e o mesmo aconteceu comigo.

ㅡ Sim. O universo nos uniu para...

ㅡ Revesar a foda entre nosso cus ㅡ me interrompeu, e eu ri fraco.

ㅡ Você não tem jeito... Tsc.

ㅡ Não mesmo.

E assim nós ficamos, afagando nossas mãos em um carinho fraternal que durou alguns minutos de pensamentos tão profundos, os quais sempre me obriguei a não refletir sobre, até que o ㅡ agora ㅡ meu melhor amigo, disse: ㅡ Você quer ser meu melhor amigo? ㅡ Questionou, todo bobão.

Eu sorri mais bobo ainda pela colisão de nossos pensamentos. ㅡ Claro que sim! ㅡ O olhei, animado demais, com a alegria jovial crescente dentro de mim, e por um instante me vi no primeiro colegial outra vez, me lembrando de como banalizava aquela época sendo que agora vejo que embora passei por dificuldades, foi a melhor de minha vida mesmo que não faça muitos anos que aconteceu; Encontrei meu primeiro melhor amigo que veio a ser o pior inimigo.

Mas, enfim, somos seres humanos e nos adaptamos a cada momento, e alguns, assim como eu, evoluem tão rápido que lembranças importantes são esquecidas tão facilmente como na velocidade da luz.

Em meio aquelas lágrimas secas, eu e Taehyung, no instante seguinte, dizemos em unissono após termos trocado olhares cúmplices. ㅡ Obrigado por ser meu melhor amigo. ㅡ E nós dois sorrimos também.

ㅡ A gente tem que dar um nome pro nosso clube. ㅡ Ele disse, todo animado. E eu o olhei, confuso.

ㅡ Mas só tem nós dois. ㅡ Falei em obviedade.

ㅡ Fazer o quê... A dupla dinâmica. ㅡ Deu de ombros. ㅡ Enfim... Que nome damos? ㅡ Me olhou em expectativa.

Pensei por um instante, e ele também, mas não nos veio nada à mente, então demos de ombro.

ㅡ Sei lá... Que tal...

ㅡ Ah! ㅡ Uma lâmpada se acendeu em minha cabeça e eu o interrompi. ㅡ Que tal Piupiu e Pernalonga? ㅡ Sugeri, todo animado. Tae pensou por um instante.

ㅡ Você é o Piu-Piu e eu o Pernalonga? ㅡ Questionou, e eu assenti freneticamente. ㅡ Putz, pensei que você não tivesse criatividade ㅡ sorriu aos ares, todo distraído.

Lhe dei um soco no braço.

ㅡ Tá bom, tá bom. ㅡ Esfregou a região que foi fracamente acertada, fazendo drama. ㅡ Mas então a gente tem que mesclar, tipo Piunalonga. ㅡ Sugeriu.

Estranho, mas faz sentido.

ㅡ Certo. Então é Piunalonga. ㅡ Concordei.

ㅡ Agora um juramento. Eu que decido. ㅡ Disse ele, todo inspirado falsamente. ㅡ Que tal Young Forever? ㅡ Indagou. Eu arregalei os olhos.

ㅡ Como aquela música do Bangtan Boys? ㅡ Questionei, todo entusiasmado.

ㅡ Isso!!! ㅡ Bateu palminhas animadas.

ㅡ Ai, aquela letra é tão linda... ㅡ comentei, e então Tae assentiu, todo afetado, assim como eu.

ㅡ Tudo bem, então... Esse é o nosso juramento de best friends forever. ㅡ Decidiu, oferecendo seu mindinho em promessa, e eu enlaçei o meu ao seu. ㅡ Jovens para sempre? ㅡ Questionou, me olhando profundo.

Meus lábios tremeram, e eu apertei mais ainda meu dedinho no seu.

ㅡ Jovens para sempre.

Talvez tudo do que eu precisava, de verdade, era de uma amizade verdadeira. Kim Taehyung, embora um debochado incurável, é mais verdadeiro que as desgraças que aconteceram em minha vida.

ㅡ Jimin, eu te amo. ㅡ Me orefereu aquele sorriso quadrado.

ㅡ Taehyung, eu te amo. ㅡ Também lhe ofereci o sorriso que transformou meus olhos em duas linhas.

E assim nos abraçamos, selando nossa amizade imutável que neste momento eu tenho certeza, durará até quando formos jovens para sempre.

Só que, enquanto abraçava meu melhor amigo, meus olhos pousaram no porta-retrato em cima de seu criado mudo, e então pensei na outra coisa que eu precisava urgentemente além de um melhor amigo.

ㅡ Taehyung, eu preciso de algo ㅡ O chamei, decidido.

ㅡ Eu não vou buscar comida pra você, nem a pau ㅡ Riu tranquilo.

ㅡ Não, não é disso que eu preciso ㅡ Revirei os olhos.

Taehyung me olhou com receio, para enfim perguntar: ㅡ Então o que é?

Suspirei. ㅡ De um namorado.

ㅡ O quê~? Você vai pedir o Jungkook em namoro? ㅡ Arregalou os olhos, quase me engolindo com eles.

ㅡ Não, Taehyung. Eu vou pedir outra pessoa em namoro. ㅡ O olhei, com um sorriso complacente nos lábios.

Taehyung fez uma careta dolorida. ㅡ Ai, lá vem merda.

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