[11] Go back in time
❄️
Acordar com batidas na porta, quando algo dentro de você está ansiando a presença de alguém que está prestes a chegar, é a coisa mais satisfatória que existe, porém passa a ser o contrário quando quem está atrás da porta, te acordando, não é quem você espera.
ㅡ Oi. ㅡ O rapaz de sorriso gengival sorri quadrado, e eu observo-o da cabeça aos pés. Ele usa uma jardineira de jeans branco com brilhos e pedrinhas falsas coloridas.
Deuses, como é adorável!
ㅡ Oi! Precisa de ajuda com a matéria? ㅡ Questiono rápido e animado por finalmente ter alguém que possa me distrair, e ele fica um pouco assustado com minha pressa.
É que eu gosto de ensinar coisas didáticas...
ㅡ Na verdade, não... ㅡ ele coloca as mãos para trás e observa o chão. ㅡ Eu... eu... ㅡ Ele tenta, e as palavras não parecem querer sair de seus lábios finos. ㅡ Eu...
ㅡ Pode dizer. ㅡ Encorajo com um sorriso largo e as sobrancelhas levantadas, e ele me olha com surpresa antes de metralhar o pedido em mim:
ㅡ Queria te chamar pra assistir um filme comigo! ㅡ Quase grita, e eu me espanto um pouco.
Ah. ㅡ Oh, sim... ㅡ Consigo dizer, e ele cora, envergonhado. ㅡ Sim, eu quero. ㅡ Digo sem pensar muito, quase no seu mesmo tom de metralhadora.
ㅡ Mas tem que ser na sua casa porque na minha a internet caiu. ㅡ Sorri amarelo, um pouco retraído, e então volta a observar o chão com as mãos atrás do corpo.
Dou de ombros. ㅡ Tá bom. ㅡ Volto a andar para dentro e gesticulo para que ele venha. E assim que o faz, ele observa o interior de minha casa, nervoso, como se fosse a primeira vez que estivesse vindo aqui. ㅡ Fique à vontade. E que filme vamos assistir? ㅡ faço uma pausa entre uma fala e outra, e então começo a preparar chocolate quente e pipoca.
ㅡ Bom, é um legal... Se chama Simplesmente Acontece. ㅡ Já ouvi falar.
ㅡ Que legal. Então vamos! ㅡ Ele concorda e eu o levo até o sofá, sentando com ele lá, já com nossos sacos de pipoca em mãos, e o chocolate quente ainda no fogão.
ㅡ E-eu posso sentar no o-outro sofá, se quiser ㅡ ele ajeita o óculos sobre o nariz, um pouco desconcertado, e eu franzo o cenho em confusão até que percebo que estou quase colado nele porque o sofá é super pequeno, com apenas dois lugares, diferente do outro, onde há quatro.
ㅡ Eu não me incomodo ㅡ e volto a comer a pipoca, sem me importar muito. ㅡ Eu te incomodo? ㅡ Sou direto, mesmo sem nem perceber.
Ele arregala os olhos para mim, e em seguida ajeita os óculos sobre o nariz para me olhar um pouco inibido. ㅡ N-não... ㅡ Está constrangido. Mas não tento reconfortá-lo porque, pelo que percebi sobre Yoongi, eu só pioraria a situação.
E ficamos assim. Ele pegou algumas pipocas para comer, e eu um montão de uma vez, mas paramos quando eu senti um leve cheiro como se estivesse algo queimado, algo como o chocolate quente que deixei no fogão: ㅡ Ah! O chocolate quente! ㅡ Me levanto em um pulo para ir diretamente ao fogão, e sinto o olhar dele sobre mim por um instante, o que ignoro ao voltar com as xícaras até o sofá. Entrego uma para ele, que sorri alegre para mim e faz menção de levar a bebida à boca. Mas antes que o faça, meu desastre faz questão de dar as caras e quando me sento meu braço esbarra na mão dele e o chocolate é derramado em sua jardineira branca. A fumaça sobe do local em que o líquido caiu e Yoongi faz uma careta.
Eu arregalo os olhos, e então digo: Deuses! Me desculpe! ㅡ Não consigo deixar de gritar. ㅡ Tá queimando, tira isso! ㅡ Levo minhas mãos para ajudá-lo a desprender os botões do jeans branco que cobre sua camisa azul clarinha, mas paro quando Yoongi me olha hesitante, com os olhinhos vermelhos, provavelmente pela dor da queimadura, e meu coração dói um pouquinho quando ele se vê forçado a tirar a roupa de cima.
ㅡ Calma, calma... ㅡ Ele tenta me acalmar, dizendo baixinho, e eu me forço a isso quando ele desprende um botão, apressado, mas também com cuidado. Depois o outro, até que a jardineira cai em seu colo e ele desgruda a camiseta azul clara, agora marcada de marrom assim como o jeans branco, da queimadura em seu abdômen e a desliza para cima.
Acompanho seus movimentos com o olhar, apreensivo, mas então paro quando focalizo sua pele branca e bonita, sem me dar conta completamente de que há uma leve mancha vermelha que não condena a pele alva e macia.
ㅡ Nossa... ㅡ Digo em um sussurro, não sei se pela queimadura ou pela derme bonita demais, e o peitoral levemente definido. Ele fita meus olhos com os seus, e só então reparo o quão bonitos são.
ㅡ Jimin hyung... ㅡ Ele diz, e algo se ativa dentro de mim. Encaro seus lábios, finos e tão... convidativos.
Deuses, como são convidativos...
Ele também está olhando para os meus.
Eu sinto a vibração nervosa de seu corpo enquanto ele se aproxima de mim, e eu não sei o que fazer, porque sei exatamente o que vai acontecer. E parece errado de alguma forma, pois tenho medo de que isso possa prejudicar o que tenho com Jeon, mas... Afinal, o que nós temos?
Exatamente. Nada.
Isso me deixa furioso, e em um ato impensado eu avanço para frente, e no instante seguinte meus lábios estão tocando nos de Yoongi.
É diferente de Jungkook... Não é tão febril, mas também não é frio. É morninho. E a temperatura se torna um pouco imperceptível quando eu abro espaço para que ele encontre minha língua, então a única coisa em que foco é no gosto de hortelã que ela tem. É um pouco... entorpecente.
Avanço minhas mãos para sua nuca e o trago para mim. O beijo não é calmo nem rápido, é um meio termo de sensações entre boas e ruins, mas de todo modo é diferente de um jeito estranho. Como... Como se eu estivesse beijando um amigo.
Eu estou beijando um amigo.
Quando caio na real, penso em interromper o beijo, mas Yoongi avança mais sobre mim e de repente seu peito nu está colado ao meu, coberto, porque ele está no meu colo.
Não consigo fazer nada além de deslizar minhas pequenas mãos por sua cintura e rumar as suas nádegas e apertá-las, bem forte, o que arranca um gemido de Yoongi.
Você está beijando um amigo.
Cravo minhas unhas ali, tentando descontar nele a raiva que tenho por estar pensando que beijar um amigo é errado.
Jeon Jungkook não vai gostar disso.
E então eu cesso nosso beijo de supetão, em um estalo. Porém, quando Yoongi me olha atordoado e eu escuto algo caindo no chão ao lado, ou atrás de mim, eu volto meus olhos para a porta por puro reflexo. E lá está Jungkook.
Há um buquê de flores no chão, abarrotado, como se tivesse sido expremido ou dilacerado. Jungkook não carrega expressão alguma que eu consiga ler, enquanto seus olhos, que têm um brilho diferente agora, estão vidrados nos meus, e no instante seguinte se move para Yoongi. Faço o mesmo e meu rosto cora, não sei se de vergonha, de arrependimento ou de culpa.
Yoongi está da cintura para cima despido de roupas, sentado sobre mim de modo que qualquer um poderia imaginar que existem segundas e terceiras intenções entre nós na mesma intensidade que seu rosto está mais pálido que o normal, porém as bochechas um pouco ruborizadas e os olhos assustados. Ele me encara e trocamos um olhar de quem chegou em mútua conclusão de que ele deve ir embora. E ele vai.
Yoongi se levanta depois de vestir a blusa ainda suja de chocolate quente para em seguida terminar de encaixar a jardineira em seu tronco, ainda também suja, e vai de cabeça baixa até a porta.
Jungkook o olha, inexpressivamente, enquanto ele passa pela porta, e eu sinto o nervosismo que ele sente quando as mãos cirúrgicas agarram o buquê que estava no chão.
Um buquê de lírios.
Yoongi sai de nossas vistas de cabeça baixa.
Minhas narinas inflam e eu consigo finalmente pensar em como o que fiz foi errado, e me levanto do sofá para em seguida andar rápido, mas paro quando estou há três passos de distância de seu corpo, porque a culpa quase me faz recuar.
Eu juro que nunca vi Jeon com uma expressão tão ilegível assim. Embora eu só entenda seus sentimentos quando ele quer mostrá-los, eu sinto, de alguma forma, que ele está decepcionado comigo. Talvez porque eu ficaria como ele se ele fizesse o que fiz à instantes atrás. Esse pensamento me causa náuseas.
Ficamos parados ali por longos segundos, apenas nos olhando, até que eu abaixo minha cabeça e sinto as lágrimas quererem brotar de meus olhos, mas Jeon impede, ou quase faz com que elas caiam, no instante seguinte que se pronuncia primeiro.
ㅡ Eu não lhe respondi porque estava sobrecarregado com meu trabalho e assuntos pessoais. ㅡ Ele diz, firme como rocha. ㅡ Nós não temos nada, então você pode ligar para quem quiser e fazer o que quiser, se é por isso que está pensando que não lhe respondi ㅡ engulo em seco e levanto meu rosto, o olhando aos poucos. ㅡ Você sabe como é tentador não resistir as suas provocações, e por mensagens as coisas ficam mais complicadas ainda. Não lhe enviei uma resposta porque esperava que você chegaria a conclusão de que eu jamais seria tão infantil a esse ponto. Eu já havia lhe explicado que quando queremos conversar, temos que fazê-lo com tempo de sobra. Mas eu não te culpo por não entender, e muito menos por acabar beijando alguém que tem mais tempo para você do que eu, só...
ㅡ Me... ㅡ Tento me desculpar, mas Jeon me interrompe.
ㅡ Não me peça desculpas por isso. ㅡ Seu rosto parece indiferente. ㅡ Eu estava ausente e alguém se pôs no meu lugar. E eu entendo. Você mesmo me disse que não quer um dom ausente, porém eu nunca poderei estar presente em todos os momentos que quiser. O garoto ali aparentemente pode, então eu quero o que é melhor pra você. ㅡ Seu maxilar está travado, e o desespero me invade assim que percebo que ele está dizendo isso verdadeiramente. Meu corpo não consegue ficar restrito de se aproximar mais de Jeon.
ㅡ Você é o melhor pra mim. ㅡ Digo, e tento me aproximar mais. Jungkook recua um passo e coloca o buquê de flores sobre a mesinha que está encostada na parede ao lado da porta.
ㅡ Não é isso que você demonstra. ㅡ Pela primeira vez eu o vejo abaixar a cabeça para mim, e então termina de depositar os lírios ali, com cuidado, para olhar em meus olhos enquanto eu estou me segurando para não chorar. ㅡ Acho que dessa vez eu me enganei muito. ㅡ Ele sorri de um jeito tristonho e se vira para ir embora.
Eu levo minha mão para tocar seu ombro e impedí-lo, mas me sinto tão sujo... Não sujo do que eu e Yoongi fizemos, claro, mas sujo da minha besteira.
ㅡ Jun... ㅡ Tento, e ele se vira para mim. Meu coração dói quando ele faz uma careta para mim.
ㅡ Sem manipulações, Jimin. ㅡ Minhas lágrimas finalmente caem. E dói.
Como dói.
ㅡ Eu não estou te manipulando... ㅡ Digo, e minha voz sai embargada. Ele trava o maxilar. ㅡ Eu gosto de te chamar assim. E eu também só não gosto de te chamar assim como também... ㅡ Ele levanta a mão em minha frente para que eu cesse meu falatório, e no momento eu engulo em seco enquanto ele coça a sobrancelha com o mindinho. Acabei de perceber que quando Jungkook está nervoso ele costuma fazer isso, mas não é hora para observar esse detalhe.
ㅡ Não me procure. Eu preciso de espaço. E não me pergunte porquê eu preciso. ㅡ Ordena, e eu fico calado, porque sei que ele não gostaria de ser contrariado agora. E eu realmente não quero irritá-lo, porque a decepção que causei já preencheu toda a cota de irritação do dia, e por isso tomo a decisão de manear a cabeça em um sim quando sinto que vou desmaiar assim que Jeon me dá as costas e caminha para longe de mim, entra no carro logo em seguida e sai devagar de onde está estacionado. E continua assim, enquanto olha para mim uma última vez e seu braço vibra seco quando troca a marcha. Depois o observo virando a esquina, e essa é a última vez que o vejo naquele dia, e eu guardo essa memória pela semana seguinte, e pela outra. Porque ele não me procura, e nem eu o procuro. Os erros, assim como às vezes parecem não ter tanta importância, também são relevantes para aprendermos que na maioria das vezes o silêncio é a chave e o aprendizado, a fechadura trancada.
Eu passo exatas duas semanas sem fazer absolutamente nada mais que ficar em casa, me alimentar mau e chorar até estar desidratado, sentir saudade dele e checar a cada segundo, até que meu celular descarregue, se ele não me mandou alguma mensagem ou está digitando algo. Mas no fundo sei que as coisas não são assim com Jeon. Ele não resolveria as coisas de um modo que não fosse paciente e olho no olho, sinceridade a sinceridade.
É, ele é único. Eu sei. Porque ele sabe como eu regiria a cada toque seu, a cada palavra. Ele sabe exatamente o que eu estou prestes a fazer, e quando não sabe, me corrige porque na maioria das vezes ele não espera que eu me comporte mal, porque mesmo que eu seja um chato e insuportável, Jungkook sempre espera o melhor de mim.
Ele entende que gosto de lírios porque ele disse que combina comigo e também porque quando ele colocou um em meu cabelo, atrás de minha orelha, delicadamente, eu rendi minha alma a ele, embora não tenha admitido isso nem em voz alta, e nem para mim. Mas ele sabe. Ele sabe que eu fico a sua mercê mesmo que tente contrariá-lo, entende que eu gosto quando toca meu pescoço com seus lábios e mãos enquanto toca meu coração com suas palavras, que eu gostei do seu carinho para com minha mãe, e que eu adorei sua biblioteca (ele sempre fica sabendo de tudo, e só não me pergunte como). E ele sabe quase tudo, mas parece não saber de nada porque ele não entende que eu me apaixonei por ele.
E ele me disse que isso não era possível, e que não íamos misturar as coisas. Não foi necessário, pois elas já estavam misturadas desde que nos conhecemos. E pensar que minha paixão não é correspondida faz meu coração doer.
Cheguei à conclusão disso na terceira semana que estava longe dele, quando já tinha encontrado Hoseok em um jantar na casa dele, quando conheci sua mãe e quando fiz minha última apresentação na Kings of The Night porque pedi demissão a Yeji.
Hoseok esteve presente pelas últimas terceira e quarta semana do mês, e pelo mês seguinte, porque além de me ajudar com a mudança e me animar um pouquinho, também me auxiliou na briguinha para poder visitar minha mãe pelo menos três vezes por semana, porque em Daegu as coisas são mais rígidas e só poderia vê-la uma vez por semana se não fosse por Hoseok.
E adivinha só? Em todas as vezes ela perguntou por Jungkook. E eu, claro, sempre desviei do assunto, mesmo quando ela voltou a falar que meu orgulho vai estragar a minha vida.
Hoseok está sempre com aquele sorriso fácil e esperançoso no rosto que me deixa, mesmo que minimamente, animado. Porque não tem como ficar cabisbaixo com um sorriso iluminado daqueles sendo exibido para você. Mesmo que penso muito que nunca mais vou ver Jungkook porque não sei onde ele mora e nem onde posso encontrá-lo, eu não o procuro porque também sei que ele não quer que eu o faça, Hoseok está sempre lá por mim. Como esteve na quarta semana quando já estava em meu novo apartamento, o qual aluguei de sua irmã também adorável, e uma tempestade me causou um medo horrendo e precisei de companhia para dormir. Claro que não dormimos juntos. Na verdade, até em quartos separados, mas o importante foi a segurança que precisava sentir para conseguir pregar os olhos e cair em mais um dos sonos assombrados por memórias do rosto sempre sóbrio e atento de Jeon.
Na quinta-feira da quarta semana do segundo mês, no meu quarto dia de trabalho na clínica de Hoseok ㅡ atualmente meu amigo inseparável ㅡ Taehyung me ligou dizendo que poderíamos marcar um novo dia para comer porcaria e jogar conversa fora, já que eu havia avisado para ele por mensagens, pouco depois que vi Jungkook pels última vez, que não poderia ir na sexta que havia marcado.
Na verdade eu podia, sim, mas não havia ânimo nem vontade de tentar me "divertir". Porque eu só não me manteria sóbrio por um motivo, e o motivo tinha nome, endereço e registo de nascimento. E eu acho que esse motivo não ficaria feliz se soubesse que enchi a cara com seu irmão porque estou supostamente abstinente de presença.
Agora estou aqui, em meu novo apartamento que eu e Hoseok escolhemos, olhando ao longe, através do vidro, o pôr do sol ocre ouro e as pessoas lá embaixo, longe, pois estou no sétimo e último andar. Sozinho e solitário.
De súbito tenho uma ideia que talvez me distraia dos pensamentos ruins ㅡ não foi das melhores, confesso ㅡ, e então pego minha mochila e calço meus tênis pretos, me deparando com os brancos que Jungkook me deu ao lado. Pego-os e escondo embaixo da cama para não precisar me obrigar a relembrar dele o tempo todo ㅡ mesmo que seja impossível.
Corro até o metrô e rumo ao aquário central de Daegu.
Já fazem pouco mais de um mês e meio que não vejo Jungkook, e quase dois que não vejo Toy.
Preciso falar com alguém, mesmo que esse alguém seja um mamífero aquático que têm mais sentimentos do que a ciência afirma ter.
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