[10] Doctor hope
❄
Vestir roupas confortáveis foi a coisa mais fácil de se fazer depois que tomei um banho gentil e relaxante em meu chuveiro, em minha casinha. Vesti uma boxer e em seguida uma blusa branca, depois uma jardineira jeans e o primeiro tênis branco que Jungkook me deu.
Certo, primeira missão cumprida com sucesso.
Cheguei no hospital após pegar um táxi, e o cara que dirigia, assim como o anterior que havia pegado para chegar em casa quando saí da de Jungkook, não é nojento como aquele que disse que o mundo vai se perder porque eu gosto de dar a bunda.
ㅡ Oi, mãe. ㅡ A cumprimentei quando adentrei seu quarto que tem cheiro de álcool em gel. Segurei sua mão pálida e observei os dedos pequenos, assim como os meus, enquanto ela está sentada em uma cadeira confortável de hospital.
ㅡ Oi, filho. ㅡ Os olhos foram repuxados e os lábios desenharam um sorriso enfraquecido. ㅡ Como está Jungkook? ㅡ Sorri desacreditado.
ㅡ Eu que venho te ver e a senhora pergunta diretamente pelo senhor Jeon? ㅡ Não me estranhem, é que estou tentando fazer com que o pronome de tratamento se torne rotina. Minha mãe parece nem perceber que o fiz.
ㅡ Se ele está bem, você também está. ㅡ Diz tranquila. Engulo em seco.
ㅡ Ora, mãe. ㅡ Sorrio, ou pelo menos tento. ㅡ Pare de dizer bobagens ㅡ a repreendo. ㅡ Eu vi Toy, e ela está com saudades. ㅡ Desconversei.
ㅡ Você está fugindo da verdade, meu pequeno. ㅡ Ela fita meus olhos, e insiste no assunto. ㅡ Espero que não se arrependa disso quando perceber que seu orgulho fala mais alto que seu coração.
ㅡ Mãe... ㅡ Não sei que expressão carrego em meu rosto agora, e nem quero saber.
ㅡ Eu estou com saudade de Toy. ㅡ Ela diz, e eu me sinto mais confortável subitamente.
Suspiro, então digo: ㅡ Eu vou pedir pro doutor deixar você ir vê-la ㅡ e ela me dá um sorriso incompreensível antes de rebater.
ㅡ Não, filho. Eu não posso mais sair daqui. ㅡ Ela diz e eu faço uma careta divertida e reviro os olhos.
ㅡ Você só fala bobagem, mamãe. ㅡ Cruzo os braços. ㅡ É claro que pode. Por que não poderia? ㅡ Reviro os olhos outra vez, evitando que os pensamentos pessimistas de minha mãe tomem conta de mim também.
ㅡ Queria que a força que você tem para revirar os olhos tão frequentemente pudesse ser dividida com minha pernas. ㅡ Faço uma careta e não entendo sua piada. Mas faço um esforço, e quando consigo, meu sorriso morre aos poucos. Meu peito sobe e desce pesadamente, e meu coração quase para.
ㅡ Boa tarde! ㅡ O médico entra no quarto, e eu me pergunto como ele pode ter esse tom de alegria na voz e o sorriso bonito vibrante de sempre com tudo que está acontecendo.
Ah, na verdade esse não é o médico de sempre, mas é estranhamente parecido com o dito cujo.
Não respondo nada, e então ele checa o aparelho de minha mãe. ㅡ Como está se sentindo, senhora Park? ㅡ Questiona, e minha mãe tenta sorrir para o ânimo sorridente dele.
ㅡ Estou melhor agora que meu filho está aqui. ㅡ Diz. Meu coração dói.
ㅡ Bom, a senhora deve tê-lo informado sobre a piora física. ㅡ Fiz uma careta por reflexo.
ㅡ Sim, ele já sabe. ㅡ Confirmou, um pouco entristecida. Engoli em seco.
ㅡ Poderá recuperar os movimentos dos membros inferiores se começar a fisioterapia em breve. ㅡ Ele informa, mas olha para mim. Engulo em seco mais uma vez, mas desta vez a saliva trava na garganta e eu me sinto um fracasso. Como vou pagar a fisioterapia?
ㅡ Eu não preciso. Estou bem assim. ㅡ Minha mãe diz, e eu não sei como rebater, mas tento.
ㅡ Não, mãe. ㅡ Fito seus olhos, segurando as lágrimas. Não quero que ela me veja chorando nos únicos momentos em que nos encontramos. ㅡ Você deve fazer a terapia. ㅡ Digo, mas não estou certo de como vou fazer para pagá-la. Só consegui o emprego na boate, o que me faz ganhar um salário por me apresentar quatro ou cinco vezes no mês.
O doutor apenas nos observa com a prancheta em uma das mãos e uma caneta em outra.
ㅡ Filho... ㅡ Ela tenta, mas eu a interrompo.
ㅡ Mãe, você vai fazer a terapia. ㅡ Insisto, sabendo que, para isso, terei que conseguir um outro emprego, o que não é facil em uma cidade cheia de rótulos e estereótipos.
ㅡ Senhor Park, podemos conversar em minha sala de atendimento, por favor? ㅡ O doutor pede, e eu me sinto aliviado de poder sair dali, mesmo sabendo que cairei em outro ambiente que me deixará com sensação de fracasso outra vez.
ㅡ Claro. ㅡ Seguro a mão de minha mãe e deixo um beijo nela, e então recebo um sorriso materno de volta. ㅡ Fique bem, mamãe ㅡ digo para depois sair de sua presença com o coração doendo após fitar suas pernas cobertas pelo cobertor feio, estáticas e imóveis. Sinto meus olhos pesarem pelas lágrimas.
Quando chegamos na sala que também tem um cheiro de álcool em gel, me sento na cadeira em frente a mesa do doutor, que inicia a fala monótona: ㅡ Bom, Park Jimin, sua mãe tem ficado muito tempo imóvel, e isso acabou condicionando uma paralisia dos nervos dos membros inferiores. Ela perdeu os movimentos, mas como tudo que perdemos podemos recuperar, pode ser possível que ela volte a andar novamente. Com fisioterapia. ㅡ Sua voz está otimista. Como vou explicar à ele que não posso pagar um fisioterapeuta?
ㅡ Bom, senhor Jung ㅡ começo, mas ele me corta.
ㅡ Vamos cortar as formalidades, Jimin. Quero te ajudar e para isso temos que ser amigos. ㅡ Ele sorri largo, e eu faço uma careta, mas prossigo.
ㅡ Bom, Hoseok ㅡ Testo o nome em minha boca, e soa... legal. ㅡ Não há como eu pagar a fisioterapia no momento, mas eu darei um jeito de arrumar outro emprego e provavelmente conseguirei pagar, mas agora eu realmente não consigo, embora queira muito. ㅡ Digo, e encaro minhas mãos sobre o colo, me sentido culpado.
ㅡ Eu posso lhe ajudar. ㅡ Diz, e um fio de esperança faz com que eu levante o rosto e o observe com atenção. ㅡ Minha irmã e eu somos sócios de uma clínica fisioterapeutica em Daegu. Eu posso me encarregar do tratamento. E quando digo ajudar, eu quero mesmo ajudar. ㅡ O sorriso largo me enche de esperança. ㅡ Sua mãe merece voltar a andar novamente, e você merece viver sua vida com paz, Jimin. Desde que o conheço, você vive por sua mãe, e se ela não estivesse mais aqui, você viveria por viver. ㅡ Me sinto importante de algum modo e não quero nem descobrir como que ele me conhece. Se eu ganhasse dez dólares para cada pessoa que estrou na minha vida pela última semana sem eu nem saber de onde vieram...
ㅡ Eu não sei o que dizer. ㅡ Pisco repetidas vezes e massageio minhas mãos de modo apreensivo, sem nem saber o que pensar sobre isso.
ㅡ Apenas diga que aceita minha ajuda. ㅡ Olha no fundo de meus olhos, e eu vejo um brilho neles. Um brilho que nunca vi nos olhos de ninguém.
Faço que sim freneticamente.
ㅡ Sim, por favor... ㅡ Finalmente consigo sorrir, e as lágrimas vem como uma enxurrada feliz, e eu não posso enxergar mais nada pois elas inundam o fio de visão que tenho porque sempre que sorrio meus olhos tomam o formato de duas linhas finas.
ㅡ E para isso ela terá que ser transferida para o hospital de Daegu. ㅡ Ele comprimiu os lábios bonitos, e eu já nem sei mais o que sinto.
ㅡ Tudo bem... ㅡ Se é pelo bem de minha mãe...
ㅡ Você poderá visitar ela sempre que quiser. Posso fornecer meu carro para isso ou... ㅡ Meu coração parece que vai explodir por ver tanta bondade em uma pessoa só.
ㅡ Ou?... ㅡ Enxugo minhas lágrimas com as costas das mãos e indago, contente demais.
ㅡ Posso te oferecer um emprego na clínica e você pode ir morar na cidade, também. ㅡ Fico espantado.
Não é possível que exista alguém assim no mundo. Até agora nunca imaginei que podiam existir pessoas tão boas assim.
ㅡ Você está falando sério? ㅡ Não posso conter minha expressão surpresa, e quando ele abre um sorriso enorme sinto meu peito ser preenchido de esperança outra vez.
Quem sabe o tratamento de Daegu seja mais eficiente que o daqui? E se lá ela conseguir se recuperar mais rápido? Isso seria tão bom... Talvez, até, uma mudança de ambiente seria bom para minha mãe, não é?
ㅡ Estou. ㅡ Diz, por fim, e começa a anotar algo em um bloco de receitas. ㅡ Este é meu telefone. Agora tenho que atender mais pacientes, então me ligue mais tarde para falarmos melhor sobre isso. ㅡ Me entrega o papel com o número um pouco garranchado pela típica letra de médico.
ㅡ Você não imagina como fico agradecido... ㅡ Sorrio tímido, um pouco retraído, e ele segura minha mão que está em cima da mesa. Acho estranho, mas não desvio do gesto, e então diz: ㅡ E você não imagina o quanto fico feliz por aceitar minha ajuda. ㅡ Ele sorri de um jeito diferente do habitual, e eu me pego hipnotizado nesse sorriso. A voz dele é divertida assim como sua expressão, e confesso que me arrependo de ter retrucado mentalmente quando ele sorriu ao entrar no quarto de minha mãe, pois aquele é o sorriso da esperança imutável.
Nem percebo que sua mão comprida ainda está tocando a minha quando batidas na porta cortam nossa interação física, e ele interrompe o gesto. Uma enfermeira aponta a cabeça para dentro. Ela é bonita e tem fios tingidos de loiro, assim como os meus, e seus olhos fitam Hoseok.
ㅡ Doutor Jung, emergência chegando na ambulância. Ficará na sala vinte e três da ala inferior. ㅡ Informa, com calma. Ah, doutor Jung. O filho do doutor Jung mais velho...
ㅡ Estou a caminho. ㅡ Ele se levanta perfeitamente e enrosca o estetoscópio em seu pescoço outra vez. A enfermeira que tem o nome Lalisa Manoban gravado no lado direito de sua camisa branca de botões entende e fecha a porta.
ㅡ Hoseok. ㅡ Chamo rápido para não atrasá-lo.
ㅡ Sim? ㅡ Ele sorri, como sempre.
ㅡ Que horas posso te ligar? ㅡ Indago.
ㅡ Às oito. ㅡ Responde, enquanto ajusta seu jaleco que já está perfeito em seu corpo.
ㅡ E por que quer me ajudar? ㅡ Não me privo de questionar, e o olho com atenção. Ele fita meus olhos, para então explicar:
ㅡ Porque eu gosto muito da sua mãe. ㅡ Isso parece explicar muita coisa. ㅡ E de você. ㅡ E isso parece ser um adicional simples. Sorrio largo e me levanto depressa, caminhando até o seu lado da mesa e me jogo em seus braços.
ㅡ Obrigado. ㅡ Agradeço, e aperto meus braços ao redor de seus ombros. Ele hesita de começo, seu corpo está duro como pedra, mas então cede e eu sinto seus braços rodearem minha cintura suavemente. Me perco em seu aperto morno por um tempo. É gostoso.
ㅡ Não precisa agradecer. ㅡ Devolve, e me afasta pela cintura. Me solto de seu corpo para isso não ficar estranho.
Ele parece desconcertado por um momento, mas então quebra o silêncio.
ㅡ Agora tenho que ir. ㅡ Avisa. ㅡ Às oito? ㅡ Questiona. Por que parece que estamos marcando um encontro?
ㅡ Às oito. ㅡ Confirmo, e ele sorri uma última vez antes de deixar a sala e sair pela porta atrás de si.
Saio pela outra e vou em direção ao quarto de minha mãe, mas paro assim que a vejo adormecida através do vidro transparente, e por isso opto apenas por sorrir e murmurar: ㅡ Em breve você vai voltar a viver, mamãe. ㅡ Me sinto leve, e volto saltitante para fora do hospital na intenção de chamar um táxi.
Aceno e quando entro, digo o endereço do aquário central e ele segue para lá, em silêncio, sem dizer que pareço um perdido porque sou gay. Acho que nunca vou esquecer aquelas palavras, embora tudo que sinto sobre elas são... nada.
Sério, eu não ligo. Eu acho até engraçado que essas pessoas não caiam na real que a vida é só uma e que devemos nos divertir de todos os modos possíveis, ser nós mesmos, sem ligar para opiniões e insultos. Confesso que tenho até uma peninha de pessoas como aquele homem, mesmo que isso pareça errado por ele ter a índole de quem foi pressionado desde criança para acreditar no que acredita.
O taxista atende o telefone, e não parece se importar por estar dirigindo. Ele não é muito velho. Deve ter uns trinta e cinco anos.
ㅡ Oi, amor. ㅡ Ele diz, e eu ouço uma voz masculina do outro lado o responder, aparentemente apaixonado.
Me recosto no banco e sorrio confortável até a chegada no aquário.
Quando chegamos, pago a corrida e ele acena, deixando um sorriso para mim. Depois entro na grande porta e então passo pela catraca. O rapaz que já está acostumado com minhas visitas a libera e eu entro, caminhando direto em direção a porta que esconde a piscina de Toy, mas antes que eu adentre o local, a mulher de cabelos curtos e aparência cansada que sempre me dá permissão para ver a golfinha me barra quando tento abrir a porta.
ㅡ O que houve? ㅡ Questiono, e meu coração dispara.
ㅡ Ela foi transferida, Jimin. ㅡ Diz, e eu uno as sobrancelhas.
ㅡ Por quê? Para onde? ㅡ Sinto meu corpo tremer.
ㅡ Para acasalar. No aquário central de Daegu. ㅡ Diz, e meu corpo relaxa no mesmo momento que fica inerte e anestesiado.
ㅡ Ah, sim, obrigado. ㅡ Agradeço e me viro, um tanto estranho.
ㅡ Vá visitá-la. Ela gosta de você. ㅡ Ela relembra, e eu me viro para olhá-la. ㅡ Até mais, Jimin. ㅡ Diz, e então se vira e volta a caminhar para longe.
ㅡ Até. ㅡ Digo baixinho.
Daegu.
Será que isso é um sinal?
Meu celular vibra, e então eu o tiro do bolso, checando as novas mensagens.
Jeon Jungkook
|Você é lindo, meu bem.
Seu corpo me deixa paralisado.
|E você merece o adicional
do contrato.
[ 13:17 AM]
Suspiro fundo. Meu coração bate descompassado, e mesmo sem ter certeza, o que digo a seguir foi por causa da minha alegria maior neste dia.
Senhor Jeon, eu vou me|
mudar para Daegu!!! lol
Tô tão feliz!!!|
Vou travar a tela de meu celular em seguida, mas antes que o faça outra mensagem chega.
Jeon Jungkook
|Como é?
Mensagens são péssimas|
Te ligo mais tarde para|
falarmos sobre isso porque
aqui não dá pra me expressar
direito
[13:18 AM]
Espero ansiosamente uma repreensão de Jungkook, mas ele não o faz.
Jeon Jungkook
|Me ligue às oito.
Meu coração quase para. O que vou fazer?
Não dá. Pode ser às nove?|
Envio a mensagem e espero um porquê, mas ele também não questiona. Sinto que ele não está nem aí.
|Sim.
|Até mais, meu bem.
Ah, tudo bem também... Não sou ressentido. O que temos é carnal e eu não devo me preocupar com isso, não é?
O resto do dia se passou monótono. Voltei embora depois de chamar mais um táxi e então fiquei por lá, lendo o novo livro que comprei na livraria ao lado do aquário. O preço foi acessível, e eu jamais vi história mais fofa que essa. Eleanor & Park. Me senti lisonjeado pelo garoto ter o mesmo sobrenome que o meu.
"Quando viu Eleanor vindo até ele na segunda de manhã, Park quis correr até ela e tomá-la nos braços. Como um daqueles caras de novela a que a mãe dele assistia. Ele apoiou a mão nas alças da mochila para se conter... Foi meio que maravilhoso."
Estou apaixonado por um romance. Como isto é possível?
Só me dou conta de que passei o dia todo lendo quando meu estômago roncou, e eu tive que preparar algo para comer. Chequei os ingredientes e preparei Yakisoba. Ficou gostoso.
Me lembrei de Jeon, e também de Hoseok. Deixar de ligar para Jeon para ligar para Hoseok parece errado em um contexto sentimental, mas, bem, se Jungkook aparenta não se importar, então eu tenho o direito de não me importar também. E, bom, o fato principal é que não posso perder a oportunidade de ajudar minha mãezinha.
Tudo bem, eu sei que Jeon pagaria o tratamento se eu assinar o contrato, mas... Ah, o contrato! Minha quarta missão do dia e, deuses, será que conseguirei cumprir a quinta ou falharei como na terceira?
Suspirei exausto pelos pensamentos rápidos e fui para meu quarto, decidido a reler o contrato, e assim o faço.
O contrato é simples, com as regras que parecem tirar toda minha independência. Mas, enfim, no fim das contas fico exausto por ter trocado o livro de romance adolescente pela linguagem intensa e jurídica do acordo. Não sei exatamente como deve ser o emprego de Jeon, mas imagino que seja cansativo, a menos que ele goste.
Fico lá, em minha cama, pensando se realmente devo assinar esse contrato. Me sinto bobo por ter dito rapidamente que aceitava sem nem mesmo ler. Ainda bem que Jungkook pensa em tudo e não é um idiota que só pensa em si próprio.
Vejamos, se Jeon não tivesse me dito que eu deveria lê-lo com calma e ter o cuidado de pensar em mim e em minhas decisões, talvez eu teria assinado o contrato. E aí, talvez, eu me arrependeria.
Não estou dizendo isso pela oferta de emprego que doutor Hoseok me ofereceu, mas vamos combinar que do mesmo modo que o contrato de Jeon parece algo tentador, também me privará de ser mal criado. Não sei se conseguiria acatar todas aquelas coisas mínimas do contrato.
Questiono a mim mesmo se sou realmente um submisso ou apenas quero ser um para Jungkook.
Eu gosto de ser um submisso, isso é óbvio. Gosto na mesma intensidade que gosto de provocar, mas sou orgulhoso demais para admitir que sou pelo menos um porcento brat.
Ligo a TV em um programa qualquer, apenas para ocupar minha cabeça. Não quero pensar muito nesse contrato.
Contrato. Contrato. Contrato.
ㅡ Não aguento mais dizer essa palavra, aff ㅡ Reviro os olhos para o nada. Checo o relógio e já são sete horas. Me assusto com o horário. ㅡ Preciso tomar um banho. ㅡ Digo para mim mesmo. Então pego minha toalha e vou diretamente ao banheiro.
Enrolo muito, embora não precise tanto. Cantarolo uma música enquanto deixo que a água com sabão escorra pelo meu corpo e me lembro de Jungkook novamente.
Seus dedos tocando meu corpo... Sua voz me adorando, seu sorriso malicioso, seus lábios vozares contra os meus, inchados porque eu os mordi. Eu o beijei. E ele gozou dentro de mim.
Saio do banho e começo a me enxugar, sentindo meu corpo começar a corresponder aos pensamentos impuros de nós dois naquela cama branca e macia, assim como sua pele. Passo a toalha no espelho embaçado, o qual me permite ver-me apenas do peito para cima. Vejo sua marca em mim, e então decido mandar uma mensagem para ele.
Essa marca me faz pensar|
no quanto sou seu...
Mordo o lábio inferior, ansioso, e Jungkook demora cinco minutos para vizualizar minha mensagem.
|Você é meu de qualquer jeito,
meu bem.
Eu adoro essa sensação de que pertenço a ele.
Com certeza, senhor.|
O que está fazendo agora?|
Questiono em um impulso, mas não me arrependo disso depois que as mensagens seguintes chegam.
|Estou acabando de me despir
para me lavar.
Oh...|
Isso parece interessante,
senhor Jun...
Imagino seu corpo nu outra vez, e desta meu corpo responde, se aquecendo de repente. Mas assim que olho as horas sem querer, decido mandar apenas mais uma mensagem e ligar imediatamente para Hoseok, pois já são oito horas.
Preciso fazer uma|
ligação agora.
Te ligo às nove,|
como o combinado
Saio do aplicativo de mensagens e vou diretamente ao de telefone. Encontro o papel que deixei na mesa de centro de minha sala e o pego, discando o número que está gravado lá, em meu celular.
O telefone chama três vezes.
Respiro fundo.
ㅡ Alô! ㅡ A voz do outro lado atende, divertida,
ㅡ Oi! ㅡ Digo, animado. ㅡ É o Jimin! ㅡ Completo.
ㅡ Eu sei. ㅡ Ele ri do outro lado. ㅡ E então... O que acha da minha oferta? ㅡ Ele parece mais animado que eu.
ㅡ Eu acho excelente, mas... ㅡ Procuro bem as palavras. ㅡ Eu não tenho experiência alguma em... fisioterapia. ㅡ Faço uma careta.
ㅡ Sim, eu entendo. Você só ajudará na recepção, sabe? ㅡ Ele diz, não exatamente questionando. ㅡ Imprimir fichas e encaminhar para a triagem antes da consulta. Não precisa ter experiência ou ser formado para isso. ㅡ Explica.
ㅡ Mas é assim, tão simples? ㅡ Questiono, estranhando por ser tão fácil assim. Nada, nunca, veio tão fácil para mim.
ㅡ Sim. É bem simples. ㅡ Ele diz. ㅡ Você receberá dois salários para trabalhar de segunda à sexta, meio período, de manhã, dás seis às onze e meia.
Puxa.
ㅡ Deuses, isso é ótimo! ㅡ Dois salários!!!
Me seguro para não gritar um palavrão.
ㅡ Bom, eu realmente fico feliz que aceite. Agora tenho que desligar, pois minha mãe precisa de ajuda para descer as escadas. ㅡ Diz repentinamente.
Puxa outra vez.
ㅡ Tudo bem. Muitíííssimo obrigado! ㅡ Dou um grande sorriso, empolgado. ㅡ E dá um abraço em sua mãezinha por mim, pra agradecer o que você está fazendo pela minha. ㅡ Acabo dizendo pela empolgação.
ㅡ Você mesmo pode fazer isso se quiser. ㅡ Ele diz, e sinto meu coração bater rápido novamente. ㅡ Vá até o hospital amanhã para decidirmos como tudo acontecerá, se puder. Até mais, Jimin! ㅡ Ele diz.
ㅡ Até mais, Hoseok. Muito obrigado mesmo. ㅡ Falo com uma voz fina, eufórico.
ㅡ Por nada, anjo. ㅡ Então desliga.
Anjo.
ㅡ Por que todo mundo me chama de anjo? ㅡ Questiono para mim mesmo.
ㅡ Porque você parece um. ㅡ A voz de Hoseok vem do telefone outra vez, e eu me assusto.
ㅡ Deuses, você não tinha desligado? ㅡ Questiono, assustado.
ㅡ Não. Também ouvi o barulho. Parece ser uma notificação do seu celular. ㅡ Ele diz, e eu relaxo.
ㅡ Ah, sim. ㅡ Suspiro. ㅡ Então até logo, Hoseok! ㅡ Me despeço, animado.
ㅡ Até! ㅡ E então eu mesmo desligo para evitar maiores desavenças. Salvo seu contato como Doutor esperança.
Vou diretamente em minha lista de contatos, mesmo sabendo que ainda não são nove horas, e então ligo para Jungkook, eufórico.
O telefone chama várias vezes. Um, duas, três, quatro, cinco... Caixa postal.
Lembro-me da notificação e me apresso para ver se é mensagem de Jungkook. E é.
Jeon Jungkook
|Não vai dar para falarmos hoje,
meu bem.
|Eu ligo quando puder.
Ué.
Como assim? Ele disse que eu poderia ligar às nove.
Ah, não...
Está magoado por eu não|
ter te ligado às oito?
Esperei por longos dez minutos. Roí todas minhas unhas.
Ele não respondeu.
Isso mesmo, ele não respondeu, e vizualizou!
Eu me deito inquieto após esperar por uma hora inteira, e deixo meu celular com o som de notificação ao máximo na esperança de que Jungkook me mande uma mensagem. Isso não acontece, e eu pego no sono, mas acordo quando meu celular toca e eu me assusto, jogando, em seguida, o cobertor de lado e tateio o criado mudo ao meu lado para pegar o celular, sonolento, e nem checo quem é.
ㅡ Alô. ㅡ Digo, com a voz um pouco rouca pelo sono.
ㅡ Alô. ㅡ Essa voz parece conhecida.
ㅡ Quem está falando? ㅡ Olho a tela e vejo que é um número que não conheço e que nem está salvo em minha lista de contatos.
ㅡ É o Taehyung, seu lesado. Não reconhece minha voz não? ㅡ Disse, parecendo falar e não falar sério ao mesmo tempo.
ㅡ Ah... ㅡ Consigo dizer, e então me afundo no colchão outra vez, cobrindo meu corpo com o edredom macio, e desejo estar naquela cama com Jeon outra vez, como na noite passada. ㅡ O que você quer? ㅡ Choramingo de sono.
ㅡ Nossa, eu só quero conversar e te pedir uma opinião. ㅡ Diz, de repente. ㅡ Nem pergunta se estou bem? ㅡ Questionou, falsamente irado.
ㅡ Como você está? ㅡ Digo, quase cochilando outra vez.
ㅡ Eu to bem. E você? ㅡ Sua voz está inocentemente animada.
Quase cochilo. ㅡ Também... ㅡ Coloco o cobertor em cima da cabeça com muita preguiça e estou prestes a dormir outra vez quando Tae me deixa alarmado com sua fala seguinte.
ㅡ O Jungkook pediu pra eu pintar um quadro seu. Mas eu não sei se devo pintar você inteiro ou só seu rosto. E isso obviamente ia ser uma surpresa, mas não conta pra ele que eu te contei. Então, como acha que ele vai gostar mais? ㅡ Questiona, tranquilo. Jogo o edredom aos meus pés e me sento rápido.
ㅡ O quê? ㅡ Arregalo meus olhos e eles doem pela luz que deixei acesa.
ㅡ Ah, tá. Sem essa de ficar surpreso e o coração pular do corpo porque ele pediu pra eu pintar você. ㅡ Fiz uma careta. ㅡ É isso mesmo que você ouviu. E pra sua informação, o Jungkook está a... ㅡ Uma voz o interrompe ao longe e diz "Não conte isso a ele, seu babaca". ㅡ Tá, eu não vou contar isso. Mas Jimin, acha que ele vai gostar mais do seu rosto ou de corpo inteiro? ㅡ Volta a indagar.
O que está havendo?
Minha cabeça ainda não está funcionando direito.
Acho que ele gostaria de corpo inteiro. Com certeza.
ㅡ Só de rosto. ㅡ Digo. Às vezes sou um diabinho mesmo.
ㅡ Certo. ㅡ Concorda, e acho que escuto algo parecido com um pote caindo do outro lado da linha. ㅡ Vem aqui sexta de manhã pra gente conversar e comer porcaria. ㅡ Diz, e por reflexo confirmo minha presença.
ㅡ Tá. Sexta eu vou. ㅡ Digo. ㅡ Agora tchau, preciso dormir. ㅡ E desligo. Ele deve estar me xingando agora.
Dormir que nada.
Peguei meu celular e nem liguei se ele me ignorou. Disquei seu número no instante seguinte e telefonei.
Nada.
Liguei três vezes. Chamou e chamou, e ele não atendeu nem uma vezinha.
ㅡ Filho da... ㅡ Bati em minha própria boca. Acho que é errado xingá-lo.
Deixo o celular em meu criado mudo e decido que não vou me importar com sua ignorância. Em seguida pego o livro que estava lendo mais cedo, e volto a relê-lo.
"Ele sabe que vou gostar de uma canção antes mesmo de tê-la ouvido. Ele ri das minhas piadas antes mesmo que eu chegue ao final. Tem um lugar no peito dele, logo abaixo da garganta, que me faz querer deixá-lo abrir portas para mim. Existe apenas um dele."
É a última frase que me lembro de ler quando acordo no dia seguinte, e então calço meus sapatos, decidido a ir ver Hoseok, mas assim que checo minhas notificações, chego a conclusão de que tudo parece estar dando errado novamente, como sempre dá.
Jung Hoseok
|Não poderá vir hoje, anjo.
Tive uma viagem de emergência
e só voltarei na quinta.
|Me desculpe.
Tudo bem. Tudo bem. Tudo bem.
ㅡ Inferno! ㅡ É a primeira coisa que digo nesse dia.
Me levanto mal humorado depois de checar que Jungkook ainda está me ignorando e percebo que sou mais inútil do que imaginava.
O dia passou cansativo e dormi vários sonos durante todo ele. Em cada sono sonhei algo diferente, e sempre com Jungkook.
À noite quase cedo ao impulso de ligar mais uma vez para ele, mas o orgulho fala mais alto e eu desisto. Me sinto fraco. Não comi durante todo o dia. Faz um dia que Jungkook me ignora e que a missão cinco falhou.
E então no outro dia de manhã, completam três dias, e eu começo a ficar ansioso e arrependido por ter, de alguma forma, agido mal com Jungkook. Porque, afinal, não é preciso ter olho biônico para enxergar que o que eu e ele temos é sério de alguma forma, e menos ainda para perceber que eu contar a ele sobre as coisas que acontecem em minha vida, mesmo que ache que minha vida é desinnteressante para alguém como Jungkook.
Termino de ler Eleanor & Park e me pego chorando quando uma lágrima triste cai na última folha amarelada do livro.
Sim, eu sou um bebê chorão.
A história reativa algo dentro de mim, e um medo idiota de que minha história com Jungkook acabe, mesmo que seja completamente diferente da história do livro, me inunda como um tsunami. E por isso adormeço chorando, ainda sendo ignorado por Jungkook.
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