Capítulo Quatro

Duas semanas passaram sem nada de extraordinário. Nessas duas semanas, a minha rotina normalizou rapidamente. Acordar cedo, ir ao ginásio, almoçar, ficar no bar até às três da manhã, repetir. Nessas duas semanas, só dei a mim próprio dois dias de folga e mesmo esses foram passados no bar, ao lado de Max. Era diferente frequentar o meu próprio bar como cliente em vez de como dono ou segurança, mas nem por isso era desagradável. Recebia definitivamente muito mais atenção feminina quando estava livre, sentado num banco ao balcão, observando tudo.

Numa das noites, convoquei oficialmente uma reunião com todos os donos de bares da Rua Verde. Quando a cidade decretara que aquela seria a única rua em toda a cidade designada para bares noturnos, não demorara até ter sido criada uma associação para todos os donos poderem chegar aos consensos necessários. Assim que comprara o edifício onde Dove se situaria, fui convidado a fazer parte dela e há cinco anos que o era. Nunca tinha precisado de convocar uma reunião urgente, mas a minha fúria para toda a injustiça que rodeava casos como os de Ava era incontornável.

Todos tinham acordado em proibir a venda de álcool a Dan, por todos os bares já terem pelo menos uma queixa contra ele. No entanto, sem razões legais, não nos era possível barrar a sua entrada. Quanto a isso, a forma que eu arranjei de resolver a situação foi informar todos os meus empregados que aquele homem não poderia entrar no meu bar. Max concordou e foi o suficiente para todos aceitarem as novas regras. Inconscientemente, sabia que estava a contar com a hipótese de Ava voltar a entrar no meu bar. Seria assim tão descabido? Sabendo que eu lá trabalhava, talvez se fosse sentir mais segura.

Isso aconteceu na terceira semana sem a ver. Estava de volta ao meu posto como segurança, apreciando o facto de tanta gente quase lutar para entrar no meu bar, quando a vi. Daquela vez, estava certo de que era ela porque nunca mais cometeria o mesmo erro. Tendo conhecido as duas gémeas e comparando-as, nem sabia como é que as poderia ter confundido. Ava era mais alta que Mia e, apesar de as suas feições serem incrivelmente parecidas, os olhos de Ava eram menos arregalados que os de Mia. Enquanto uma, com os seus olhos escuros e abertos, parecia eternamente uma criança, Ava emanava uma energia mais calma. Foi essa energia, essa postura perante o que a rodeava, que me chamou a atenção no momento em que a vi, junto a três outras raparigas.

- Identificação. – Gabe pediu ao grupo de Ava, numa voz suave mas que não deixava espaço para brincadeiras. Todas as raparigas agarraram as suas pequenas malas e retiraram a carteira. Perto da porta, um pouco no escuro, observei-as atentamente.

Nenhuma delas estava bêbada, o que era ótimo. Os meus ombros relaxaram.

Vi Ava a olhar à volta e perguntei-me se ela estaria à minha procura ou com medo que alguém a estivesse a seguir. A ideia de a experiência se repetir deixou-me tenso o suficiente para eu ter que fechar os meus punhos, debaixo dos meus braços cruzados. Não podia pensar naquilo ou nunca conseguiria relaxar totalmente.

- Olá, Daxon. – ouvi a sua voz suave cumprimentar e olhei para a esquerda. Ela sorria-me, relaxada. – Como estás?

- Ava. – o seu nome foi um suspiro nos meus lábios. – Se quiseres, podes ir com as tuas amigas para...

- Nem pensar. – a mão dela no meu braço foi o suficiente para eu parar. – Não preciso que me faças mais favores!

- Se aceitares, serias tu a fazer-me o favor, Ava. – ela fechou os lábios, humedecendo-os. Talvez ponderando no que eu quis dizer com aquilo.

- Ava? – uma das raparigas despertou a sua atenção. Ela olhou para trás e, depois de pestanejar duas vezes, sorriu-lhe.

- Desculpa. Sophie, Tracy, Riley, este é o Daxon. Um...amigo. – sorriu, olhando-me de relance. – O Daxon é o dono deste bar.

- E estava prestes a oferecer-vos a hipótese de irem para a zona VIP, onde tudo é mais calmo.

- Ah, nós agradecemos. – a rapariga que tinha sido apresentada como Riley falou, com um sorriso malandro – Mas nós gostamos da confusão. Não é verdade, Ava?

Era óbvio que Ava, se tivesse um dia realmente gostado da confusão, naquele momento já não gostava. No entanto, era também óbvio que ela não tinha dito às suas amigas o que tinha acontecido e eu não queria repetir o meu erro. Limitei-me a lançar um sorriso cordial na direção das suas amigas e um olhar profundo para Ava, ao qual ela respondeu com um sorriso e uma carícia breve no meu braço, antes de avançar para dentro do bar. O meu bar era o mais seguro daquela rua e estava feliz por ela o ter escolhido; ali, eu conseguiria protegê-la caso fosse necessário. Não só eu, mas todos os meus funcionários. Não havia razão para me preocupar.

Com o avançar da noite, eu fui preciso em vários sítios ao mesmo tempo. De um ouvido, tinha Max a chamar-me ao escritório para ouvir a mesma proposta do dono do bar ao lado. Ele estava interessado em expandir o seu negócio – isso significava que ele queria "juntar forças", palavras suas, e unir os nossos dois bares. Max era demasiado boa pessoa para o ignorar quando ele aparecia no nosso bar e, por saber que eu resolveria a situação rapidamente, tendia a evitar chamar-me até ser absolutamente necessário. Calculava, então, que o "empresário" estava a importunar demasiado o meu melhor-amigo naquela noite.

Meia hora depois, o dono do bar ao lado estava a ser escoltado para a rua. Tinha entrado no meu espaço pessoal e tentado agarrar-me o braço e eu tinha agido por instinto. Torcera o seu braço atrás das suas costas e, numa voz que não deixava espaço para dúvidas, disse que não tinha qualquer interesse em deixá-lo roubar-me o estabelecimento. Conhecia demasiados homens como aquele, que herdaram uma fortuna dos seus pais e comprado estabelecimentos apenas por gozo. O bar meu vizinho havia sido um ótimo bar em tempos, mas desde que ele o comprara...tinha caído em ruínas. E queria espalhar essas ruínas pelo meu trabalho.

«Dax! Mas que porra? O que é que aconteceu?»

A voz ansiosa do meu melhor-amigo ao meu ouvido fez-me rir, limpando o pó da minha t-shirt preta.

- Ele é confiante demais. Arrogante. Não vai voltar a entrar aqui. – Max bufou e imaginei-o a revirar os olhos, mas recusei-me a dizer mais que aquilo. – Max?

- Diz, amor. – pressionei os meus lábios um no outro, tentando não rir.

- Faz-me um favor. Procura, no andar de baixo, uma rapariga de cabelos escuros compridos e vestido azul com lantejoulas. Vê se ela está bem. Com as amigas.

- Quem é?

- A Ava. Daquela noite.

Não foi preciso eu dizer mais nada. Max garantiu-me que iria fazer o seu máximo para garantir que ela estava bem e, com isso, deixei-me relaxar por uns minutos no cadeirão que tinha no meu escritório. Raramente me sentara ali nos últimos meses, devido à necessidade inata que existia em mim de me colocar no meio da confusão. Abri Dove não para me fechar num escritório no andar mais alto, mas para poder controlar o que acontecia naqueles sítios. Os donos raramente o faziam, e os empregados muito menos, seguindo apenas por exemplos. No meu bar, só eram contratadas as pessoas que tinham os mesmos valores que eu.

Segurança, lealdade, proteção.

Deitei a cabeça para trás e permiti-me fechar os olhos. O meu escritório tinha paredes à prova de som, algo que facilitava em muito o meu processo de relaxamento. Forcei-me a não pensar em Ava, porque sabia que, se o fizesse, pensaria inevitavelmente em tudo o que lhe poderia acontecer no meio de uma multidão inebriada. Respirei fundo, controlando o meu raciocínio. Ava não era minha para proteger. Ela sabia proteger-se a si própria e, mais que isso ainda, tinha amigas. Tinha uma irmã gémea pronta a atacar e o namorado da irmã, a apoiá-la. Ava não estava sozinha, nunca estaria; ela não era como a minha irmã.

Um bater suave na porta do meu escritório despertou a minha atenção. Com um olhar rápido para o relógio que tinha na secretária, reparei que tinham passado apenas quinze minutos desde que ficara sozinho. Talvez fosse Max, tendo estranhado eu não ter saído, mas ele nunca batia à porta. Com um alto entre, compus-me no cadeirão e esperei que a porta revelasse quem estava do outro lado.

Juntei as sobrancelhas, ao ver que era Ava.

- Está tudo bem? – levantei-me num pulo, pousando as mãos na secretária para me impedir de as fechar em punhos.

- Tens mesmo que parar de assumir que só venho falar contigo quando algo corre mal. – Ava afirmou, fechando a porta atrás de si. Os seus olhos estavam brilhantes, suaves. Ela estava bem.

- Como é que...

- Um amigo teu... Max? – revirei os olhos, assentindo e dando a volta à secretária para caminhar até ela – Ele viu-me sozinha no balcão e perguntou se estava tudo bem. Disse que lhe pediste para me vigiar.

- Não foi exatamente para te vigiar. Mas suponho que não estava muito errado. Só queria certificar-me de que...

- Eu estava bem. Eu sei. – ela claramente não sabia o que fazer com os seus braços, porque enfiou as suas mãos debaixo dos mesmos. – Antes que perguntes...eu estava sozinha porque elas só queriam dançar e eu...não.

- Compreensível.

- É mesmo? Sinto que estou a exagerar. – abanei instantaneamente a cabeça, aproximando-me dela.

- Não estás. É perfeitamente normal teres mais receio de multidões, Ava. – ela abriu a boca para falar, mas eu continuei antes que ela pudesse interromper-me – Apesar de ele te ter atacado na rua, tu estavas rodeada de pessoas inebriadas. Tal como num bar. É muito mais fácil atacar alguém no meio de pessoas do que normalmente se pensa.

Ela assentiu, lentamente, a processar a informação.

- Obrigada, Daxon. A sério. Não sei o que teria feito se não tivesses aparecido.

- Mesmo que...

- Mesmo que tenhas aparecido depois, sim. – assentiu ao falar, lançando-me um sorriso. – E desculpa pela minha irmã. A Mia é muito protetora de mim, tal como eu sou dela. É muito fácil esquecermo-nos que somos gémeas e que estamos em pé de igualdade.

- Fico feliz por teres sempre uma guarda-costas contigo. – comentei, num tom leve que a fez rir.

- Uma vez, ela partiu o nariz a um rapaz. Namorávamos e ele traiu-me no meu vigésimo-primeiro aniversário. Ainda me lembro perfeitamente da raiva que a Mia ganhou no olhar. Apesar de pequenina, ninguém a conseguiu parar. Ele era polícia, ainda por cima!

- Ah. – permiti-me rir, imaginando a figura pequenina de Mia a partir o nariz a um rapaz que provavelmente teria o dobro do seu tamanho e o triplo da musculatura. – Onde é que aprenderam a defender-se assim?

- Com o nosso irmão mais velho. – sorriu-me um sorriso suave, como se se estivesse a lembrar de algo feliz. – Ele também é polícia, então não demorou a ensinar-nos alguns truques. Ele costumava dizer que, se for para ser ferida...

- Que ferissem também? – continuei a frase que eu próprio tinha aprendido na academia de polícias. Apesar de ter preferido seguir uma carreira relacionada com a segurança privada, principalmente depois do que acontecera com a minha irmã, a minha primeira carreira de escolha tinha sido as forças policiais.

- Como é que sabes? – apontei para uma das molduras do meu escritório, aquela em que estava exposta o meu diploma da academia. Ela paralisou.

- Oh, ótimo. Estou rodeada de polícias. – revirou os olhos para si própria e deu um passo para trás. – Isto foi um erro.

- Ava... - tentei agarrar o seu braço, mas ela puxou-o de volta, com um ar completamente zangado. 


ah, pobre Ava... 

olá, meus amores. como está a vossa "quarentena"? espero que esteja tudo a correr bem, que se estejam a manter calmxs e pacientes e atentos. e espero que os capítulos que vou publicando ajudem a passar tempo <3

eu sei que muito muito pouca gente lê esta história, e faz todo o sentido, mas!!! é uma história que me é muito querida e queria muito que as pessoas a lessem, mas pronto, é a vida ahahah

de qualquer forma, obrigada a quem realmente tem lido e espero que estejam todos bem <3

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