Capítulo Doze
Olhei para o meu reflexo no espelho, não conseguindo evitar rir de mim próprio. Ao meu lado estava Max, num fato praticamente igual ao meu. Em honra da noite temática, eu tinha a minha farda normal de segurança – t-shirt preta justa e calças pretas onde eu conseguia ter a minha arma e o telefone que usava no trabalho – mas, por cima da minha cabeça, estava uma coroa feita de folhas verdes. Normalmente, eu acharia que nunca seria levado a sério com aquela coroa na cabeça e a maquilhagem dourada que uma amiga de Max tinha insistido que nós deveríamos ter, mas eu sabia que a minha presença costumava ser imponente o suficiente. Se alguém ousasse não me levar a sério, aprenderia uma lição – simples quanto isso.
Max, em vez da t-shirt preta, usava algo que devia ser uma toga mas só lhe chegava à cintura, por motivos práticos. Comecei a abanar a cabeça, rindo alto da nossa figura, enquanto Max me acompanhava e insistia que deveríamos tirar uma fotografia.
- Talvez esta seja a noite em que o sonho da tua mãe se concretiza e eu encontre a minha futura mulher. Uma Hera, talvez.
- Hera? – ri alto, abanando a cabeça. Coloquei a mão no seu ombro, olhando-o com toda a pena do mundo. – Tu não és Zeus, meu. Eu nem sei o que tu és.
- Sou melhor que tu, é o que sou. – colocou a língua de fora e virou costas, fazendo o seu máximo para abanar as ancas enquanto andava. Continuei a rir, sabendo que era por aquelas coisas que eu o adorava.
Dove parecia estremecer com as músicas que Max tinha escolhido para aquela noite, numa mistura de fieldade ao tema e de diversão que eu nunca teria conseguido atingir. Estávamos ambos no meu escritório, na pequena divisão que tínhamos transformado num vestuário para quando emergências ou situações como aquela aconteciam. Raramente eu deixava que Max me convencesse a participar no tema da festa mas, daquela vez, tinha estado de bom-humor suficiente para lhe fazer a vontade. A culpa disso era de Ava, claro, e ele não se contivera de pegar no meu telemóvel e de ligar à rapariga em questão para lhe agradecer. Ava rira alto e pedira tantas fotografias quanto nos seria possível, daí Max estar naquele momento a tentar tirar uma selfie sem que eu notasse.
- Ah, esqueci-me de te dizer. Tomei a liberdade de fazer uma promoção com as bebidas temáticas, não há problema, certo? – abanei a cabeça, fazendo um gesto com a mão de desprezo.
- Fizeste bem, Max. Não tens que me pedir autorização para todas as decisões, já sabes disso.
- Sei, mas não custa continuar a obedecer ao meu patrão. Ou, melhor dizendo, ao meu deus. – e, depois disso, Max fez uma vénia desleixada e saiu do escritório.
Revirei os olhos mas segui atrás dele, trancando o escritório atrás de mim. Caminhámos lado a lado pelo corredor escuro, até chegarmos ao corrimão diretamente ao lado da zona VIP. Agarrei-me ao ferro iluminado do corrimão e observei o meu bar, a minha criação, e sorri. Nunca teria conseguido atingir nada como aquilo sem a ajuda de Max, mas a verdade é que tinha sido eu a trabalhar para angariar dinheiro suficiente para comprar o edifício e tinha sido eu a fazer grande parte dos arranjos que o edifício precisara. Queria, na altura, poupar o máximo de dinheiro possível e tinha resultado a longo prazo. Anos depois, já ganhava o suficiente com aquele bar para ter lucro, apesar de todas as despesas.
A minha mãe tinha razão quando me dizia que Sophie ficaria orgulhosa de mim. Elas as duas eram diferentes em muita coisa, mas toda a gente conseguia ver que, apesar de incrivelmente apagada, Sophie tinha querido vingar-se. Quem não quereria? Doze anos depois e eu ainda não tinha conseguido imaginar o pânico com que ela acordara naquela festa, com apenas quinze anos, e sentira o que tinha acontecido. Ainda não tinha conseguido imaginar a frustração e a vontade de ruína que ela sentira no bar onde tudo tinha acontecido de novo, embora com ela consciente daquela segunda vez. Ninguém deveria passar por aquilo que a minha irmã mais nova passara, nem sequer um pouco.
Sophie adorava livros de mitologia grega e, apesar de não a conseguir imaginar como a mulher de vinte e sete anos que ela seria, sabia o suficiente para acreditar que ela adoraria estar naquela festa. Em criança, ela tinha adorado mascarar-se e adorava dançar e cantar livremente. Tinha sido uma das coisas que ela perdera depois de tudo ter começado e, quando acontecera pela segunda vez, ela tinha estado no processo de ganhar aquilo de volta. O amor pela dança e pela liberdade, pela falta de medo. Mas a minha mãe também tinha razão quando dizia que, apesar de ela ter estado a melhorar, nunca teria sobrevivido muitos mais anos. Tinha estado consumida pelos demónios que a perseguiam, pela vontade de vingança e de destruição. Não tinha tido culpa.
- Daxon Tyler! – ouvi o meu nome a ser chamado, assim que cheguei ao balcão e pedi uma garrafa de água. Juntei as sobrancelhas, não conhecendo imediatamente a voz, mas virei-me para trás de qualquer forma.
- Nate? – questionei, não tendo a certeza se era realmente a pessoa que eu pensava que era. Quando ele me sorriu, no entanto, as minhas desconfianças foram comprovadas.
À minha frente, eu tinha Nate James. O ex-namorado de Ava que a tinha traído na noite do seu vigésimo-primeiro aniversário; aquele que tinha tido o nariz partido por Mia e um braço partido por Steve. Uma das grandes razões para Ava, anos depois, recear qualquer homem em posição de poder – incluindo os seus familiares; incluindo-me a mim, inicialmente. No entanto, aquele não era o Nate que eu tinha conhecido há perto de dez anos; ele tinha perdido cabelo e ganho olheiras. Os seus lábios estavam rachados e, no geral, o seu sorriso já não era o sorriso livre de preocupações que tinha sido um dia.
Fui lembrado de todas as vezes que me encontrei com ele depois do final do nosso curso na academia. Steve tinha continuado a ser amigo dele porque eventualmente tinham ido para a mesma esquadra, mas eu só o encontrava ocasionalmente. Nunca fomos amigos e certamente não o seríamos tantos anos depois, com tanta coisa a separar-nos e a colocar-nos um contra o outro. Será que ele sabe? Nate James, apesar de ser pervertido e possessivo, era um bom polícia na medida em que era observador e sabia seguir pistas. A sua bússola moral estava desnorteada, infelizmente, mas eu nunca o diria tão diretamente se não soubesse o que ele tinha feito a Ava – ele conseguia disfarçá-lo.
- Então? Não cumprimentas um velho amigo? – soube, naquele preciso momento, que ele tinha um propósito para estar ali, um propósito que provavelmente eu não gostaria. – O que é isso na tua cara? Maquilhagem?
- Não me toques. – avisei, quando ele esticou o seu braço e a sua mão estava quase a tocar-me.
- Eu sou polícia, Dax. O que quer que achas que me podes fazer, é crime.
- És polícia. – assenti, concordando. – Mas eu sou o dono deste lugar e, mais que isso, tenho formação militar que tu não tens.
- Isso é uma ameaça?
- É um facto. – encolhi os ombros, sentando-me no banco atrás de mim. – Vais-me contar o que vieste aqui fazer?
«Dax, o que é que esse idiota está a fazer à tua frente? Precisas de ajuda?»
Para a pergunta de Max pelo auricular, abanei a cabeça impercetivelmente. Nate inevitavelmente iria criar confusão, mas eu conseguiria aguentá-lo e seria pior se ele se sentisse encurralado. Ele claramente queria falar de Ava – em que sentido, não conseguiria adivinhar – e talvez até de Steve. Não precisava, ainda assim, de chamar atenção para a conversa entre nós os dois. Eu era o segurança do meu próprio bar por alguma razão, e essa razão era o facto de ninguém conseguir proteger este estabelecimento melhor que eu. Nate James não seria nada em comparação comigo, caso tentasse.
Esperava que não o fizesse, no entanto.
- Não me vais pagar uma bebida primeiro, velho amigo? – contive a vontade de revirar os olhos.
- Brad! Uma cerveja para ele. – inclinei a cabeça para Nate, que já se tinha sentado ao meu lado. Lancei, no entanto, um olhar severo para o empregado do bar.
«Brad, serve essa cerveja sem álcool.»
Sorri quase impercetivelmente para a frase de Max, porque era exatamente isso que estava a tentar passar com o meu olhar para Brad. O rapaz assentiu, olhando para mim, mas claramente respondendo ao gerente do bar, e foi tratar do pedido. Nate pareceu relaxar no seu banco e eu permiti-me olhar para ele. Apesar de não ver o seu distintivo em nenhum lado, ele ainda estava fardado e eu não me admirava se ele tivesse escondido o pedaço brilhante para eu não o roubar ou algo do género. Homens como ele eram arrogantes e presunçosos, mas também eram inseguros com o facto de alguém lhes poder roubar o pouco poder que tinham.
Quando Brad voltou, tapou o rótulo da garrafa com toda a sua mão e serviu a cerveja num copo, deslizando-a até Nate, que lhe sorriu como agradecimento. Agradeci-lhe também, dispensando-o daquele canto do balcão por enquanto. Voltei a virar-me para Nate, enfrentando-o mas nunca me fazendo demasiado alto para ele não se sentir intimidado. Era um limbo um pouco intenso, mas eu sabia lidar com homens como ele – estava demasiado habituá-lo a fazê-lo, no meu ramo de trabalho.
- Já deves ter adivinhado que vim falar sobre a Ava. Não és burro, claro. – encolhi os ombros curtamente, deixando-o falar. – Ouvi dizer que namoram.
- O que é que te interessa? – sabia que tinha sido um passo arriscado, perguntar-lhe aquilo, mas precisava de saber.
- Interessa-me porque ela é minha. – encolheu os ombros, como se fosse óbvio. Como se não fosse completamente ridículo. Contive-me para não rir, no entanto.
- Tu traíste-a, Nate. Só ficaste interessado nela porque ela finalmente arranjou outra pessoa. – afirmei, com voz calma mas severa. Ele semifechou os seus olhos por uns segundos, quase fuzilando-me, mas controlou-se. – Estão separados há quase cinco anos.
- E ela nunca deixou de ser minha.
Revirei os olhos, bebendo da minha água.
Nate olhou-me atentamente, como se esperasse que eu reagisse de alguma maneira que não aquela. Talvez esperasse que eu partisse para a violência, mas eu nunca o faria. Tinha capacidades para isso e estava no meu espaço, mas ele não tinha feito nada que me tentasse. Era um homem ridículo, claro, mas também era óbvio que ele só estava a tentar enraivecer-me. O que eu não entendia, no entanto, era a razão para ele ter aparecido naquela noite, de entre todas as outras. Porque é que ele estava ali, acabado de sair do seu turno na esquadra, para tentar que eu lhe fizesse algo. O que é que ele teria feito?
- A Ava não é de ninguém a não ser de ela própria. Talvez não percebas esse conceito, ou talvez não queiras perceber mas, de qualquer forma, ela está melhor sem ti.
- E achas que está melhor contigo, é isso? O rapaz que nem a própria irmã conseguiu proteger?
Paralisei. Ouvi, no fundo da minha mente, Max a perguntar de novo o que é que se passava, mas não processei a informação como deve ser. Quando olhei para as minhas próprias mãos, vi que as tinha fechado em punhos e que tremiam, mas controlei-me porque eu não era o tipo de pessoa que resolvia as coisas com violência. Nate, no entanto, parecia estar a esforçar-se para me tornar nesse tipo de homem; não sairia dali bem sucedido, nem que eu morresse a lutar contra mim próprio.
Uma pergunta assombrava-me, no entanto. Como é que ele sabia do que tinha acontecido com a minha irmã?
- Ao contrário do que podes pensar, Dax, tu não és melhor que eu. – encolheu os ombros, terminando a sua cerveja.
- Eu não me acho melhor que tu. – disse apenas. O que não disse foi que não achava, mas sabia que o era. Não precisava de o irritar ainda mais. – Diz-me, de uma vez por todas, o que vieste cá fazer.
- Avisar-te, na verdade. – levantou-se, soltando um sorriso completamente predador. – Afinal, o homem que a atacou não vai ser preso. Ela continua tão vulnerável como sempre, a depender do irmão para ser protegida. Podemos até dizer que, agora, está mais vulnerável, porque tem um segundo homem de quem depender. Aquela irmã dela só a pode proteger de vez em quando.
Na minha cabeça, eu sabia que ele estava só a atacar-me, a fazer com que a necessidade de proteção me trespassasse. Racionalmente, eu sabia no que isso resultaria: eu iria sufocar Ava até ela eventualmente se fartar de mim. Ainda assim, a ideia de Dan ser solto apesar de tudo o que fez a tanta gente era a única coisa em que eu conseguia pensar. Ava não se sentiria segura para vir ao meu bar, porque teria demasiado medo de o enfrentar mais uma vez.
- Seria uma pena se ele soubesse onde ela vive, não achas? – foi a última coisa que Nate disse, virando-se para trás por uns segundos antes de se enfiar na multidão de pessoas a dançar.
- Merda. Merda, merda, merda... - escondi a minha cabeça nos meus braços, puxando os meus cabelos.
- Dax? – vi Max a aparecer ao meu lado, quase como se se tivesse teletransportado. – O que é que aconteceu? O que é que ele te disse?
- Tenho quase a certeza de que ele disse ao Dan onde a Ava vivia. – Max empalideceu, dando um pequeno passo para trás com o choque.
- Merda.
merda indeed meus amores
eu tenho um disclaimer enorme para fazer a partir deste capítulo: EU NÃO SEI ESCREVER AÇÃO NEM NADA DO GÉNERO
esta história foi escrita em questão de dias e é obviamente um primeiro rascunho, por isso não esperem nada de elaborado, eu só achei que o passado do Dax e a sua profissão e etc mereciam um pouco mais que romance e memórias eheh. se o consegui fazer bem? vamos ver
espero que não me julguem demasiado e que gostem <3 não se preocupem, não acontece nada JÁ, só queria avisar ahahah
p.s já odeio o Nate desde a Cair e Levantar - apesar de ele nem ter aparecido diretamente - e o meu ódio por ele só aumentou aqui. 3 anos in the making
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