Capítulo Dois
A viagem foi rápida e fácil, sendo que Ava notavelmente tinha perdido toda a adrenalina e estava mais calada do que tinha estado nos primeiros minutos em que falara com ela. Por momentos, olhei-a de relance para tentar perceber se estava tudo bem, mas também sabia que não estava no lugar para fazer perguntas ou meter-me na sua vida. A única diferença entre mim e Dan, aos seus olhos, era que eu ainda não a tinha atacado – tirando isso, éramos ambos homens estranhos e potencialmente perigosos. Eu sabia que não lhe ia fazer nada, mas ela não tinha como saber e eu compreendia totalmente aquele medo. Não me admirava se ela me tivesse dado uma morada errada, para eu não saber onde ela vivia.
Esperava que ela não o tivesse feito, no entanto, porque queria realmente que ela chegasse segura a casa o mais rápido possível.
- Ficas bem? – questionei, assim que estacionei o meu carro em frente a um prédio. Olhei-a, lentamente.
Ava tinha as suas mãos entrelaçadas em cima do seu colo e olhava para elas como se fossem a coisa mais interessante do mundo. Não me pronunciei mais e esperei que ela se apercebesse de que o carro já tinha parado, porque estava demasiado familiarizado com reações daquele género. Algumas pessoas, depois de terem passado por algo traumático, fechavam-se rapidamente em si mesmas e nem tinham noção de que isso estava a acontecer. Ela tinha lutado contra um homem com o dobro da sua força e tamanho e saído maioritariamente ilesa; quase conseguia imaginar o que estava a passar na sua mente. Estava pasmada consigo própria, provavelmente achava que tinha morrido naquela rua e que tudo aquilo era um sonho.
- Disseste alguma coisa? – perguntou, depois de dois minutos em silêncio. Pressionei os meus lábios um no outro.
- Perguntei só se ficavas bem. – ela expirou uma tentativa de riso e assentiu. – Vives sozinha?
- Não, vivo com a minha irmã gémea. – assenti, compreendendo e sentindo-me mais relaxado. – Não sei se ela está em casa, mas fico segura. Daxon...
- Não é preciso. – impedi-a de me agradecer. – Fiz o que qualquer pessoa faria. Talvez até menos.
A resposta de Ava foi retirar o seu cinto e esticar-se para me abraçar. Não estava à espera, mas também estava familiarizado com a necessidade de conforto, por isso ofereci o que consegui. Eu não era exatamente o epítome de um ursinho de peluche, mas fiz o meu melhor para não a apertar demasiado enquanto lhe dava o conforto que ela precisava. Uns segundos depois, Ava suspirou contra o meu pescoço e, apesar de a sua respiração me ter parecido um pouco trémula demais, não comentei – não tinha que o fazer.
Sem dizer mais nada, ela saiu do carro. Respirei fundo assim que a porta do passageiro foi fechada e observei-a a tentar abrir a porta do seu prédio, a lutar contra as suas mãos trémulas. Não intervim, esperando só que a porta se fechasse atrás dela para voltar a ligar o meu carro. Apertei o volante com as minhas mãos e conduzi direto a casa, não me importando em voltar ao bar onde trabalhava. Eles conseguiriam fechar sem mim por uma noite, de qualquer forma.
Eram duas e meia da manhã quando finalmente estacionei em frente ao portão da minha garagem. A minha casa era literalmente do outro lado da cidade da zona em que Ava morava e tinha demorado cerca de quarenta minutos a fazer toda a viagem, mas senti uma pontada de orgulho para comigo mesmo. Tinha ajudado uma pessoa quando ela precisara – uma rapariga quase indefesa – e, apesar de isso não mudar nada no meu passado...ajudava.
No dia seguinte, sábado, tive que acordar às oito da manhã para começar a preparar as coisas no bar. Ser o dono e segurança não era a coisa mais fácil, mas honestamente não confiava em muitas outras pessoas para salvaguardar aquilo que era meu. Tinha que ver se a equipa de limpeza precisava de ajuda, se alguém tinha feito estragos que precisassem de reparos...o costume. O trabalho do dono de um bar nunca terminava e, apesar dos dois cafés que bebera assim que acordara e do duche frio que me obrigara a tomar, não estava no meu melhor estado. Tinha dormido pouco mais que quatro horas e meia, mas sabia bem que não era isso que me perturbava.
Passara a noite inteira a sonhar com ela. Não era a primeira vez que acontecia, mas o que sucedera com Ava abrira certamente a caixa onde eu tinha guardado todas as piores memórias daquilo. De qualquer forma, pela altura em que cheguei à Rua Verde – cujo nome provinha das árvores que tinham sido cortadas para dar lugar à avenida mais suja da cidade – e estacionei no lugar do costume, já eram perto de nove e meia. Tinha tido que fazer uma paragem na loja de decorações porque Max, o meu melhor-amigo e gerente do meu bar, tinha decidido que era uma ótima ideia fazer mais uma noite temática.
- Senhor Tyler, bom dia. – sorri cordialmente para o segurança da manhã e cumprimentei-o com um gesto simples da cabeça.
- O Max? – Peter, o segurança, apontou para o primeiro andar do estabelecimento e eu assenti.
O primeiro andar era o que o Max gostava de chamar a zona VIP. Eu, por outro lado, preferia só chamá-la de "zona que não tinha tanta gente e portanto era onde eu tinha o meu escritório". Caminhei lentamente, cumprimentando toda a gente da equipa de limpezas que estava calmamente a ver o seu trabalho – não havia pressa, era ainda cedo – e desviando-me de todo o lixo que as pessoas deixavam sempre no chão. Até os degraus das escadas brilhantes e prateadas do bar estavam completamente sujas e, com uma respiração funda, forcei-me a ignorar tudo aquilo. Definitivamente não estava no meu melhor humor.
- Dax, meu amor! – revirei os olhos para o cumprimento do meu melhor amigo, mas não consegui evitar rir. – O quê? Só porque és enorme e intimidante não deixas de ser o meu amor.
- Bom dia, Max. – ele sorriu-me abertamente e eu observei-o atentamente.
Como é que ele conseguia estar tão animado se ele certamente tinha dormido tão pouco ou ainda menos que eu? Quando, na noite anterior, eu saíra para...entreter a rapariga com quem tinha estado antes de ver Ava, ele tinha ficado no bar com intenções de lá continuar. Pessoas que conseguiam estar tão animadas com poucas horas de sono assustavam-me, na verdade, e eu não era sequer o tipo de pessoa que gostava de dormir muito. Eu simplesmente sabia que nove da manhã não era a hora para estar a gritar de felicidade.
- Onde foste ontem? Pensei que voltasses depois de terminares com a tal miúda.
Pensamentos de Ava e de ela, com todo o seu corpo pequenino e indefeso, a lutar Dan invadiram-me. Grunhi, pensando no que deveria ser feito em relação ao bêbado.
Max claramente notou que eu me tinha distraído pois levantou-se do chão, onde tinha estado sentado a ver qualquer coisa no seu portátil, e obrigou-me a sentar-me num dos sofás. Ao sentar-me, fui lembrado de todo o dinheiro que gastei para criar uma zona onde só os mais ricos e especiais pudessem entrar e em como, na altura, eu tinha achado tudo aquilo desnecessário. Max tinha-me garantido que aquilo iria ajudar e talvez até equilibrar todas as minhas finanças e, na verdade...ele tinha tido razão. Era incrível como a simples existência de algo com a palavra VIP atraía imediatamente as pessoas mais ricas da cidade e os seus amigos.
Com um olhar simultaneamente sereno e severo, o meu amigo questionou-me sobre o que tinha acontecido na noite anterior. Contei-lhe tudo sem demoras, não me sentindo mal comigo mesmo por estar a partilhar algo que não sabia se Ava queria que se tornasse público porque, primeiro, duvidava que a fosse voltar a ver. E, segundo, porque era um caso de segurança pública. Dan tinha que ser preso ou, pelo menos, impedido de aparecer naquela rua. A única coisa que me passava pela cabeça era isso, impedir que outra pessoa passasse pelo que Ava passou. E ela. Não sabia como, no entanto.
- Uau. – foi o comentário brilhante que Max partilhou. Revirei os olhos. – Ela ficou bem?
- Acho que sim, mas também não podia fazer mais nada. – ele assentiu, concordando. – O que é que achas que devíamos fazer?
O meu amigo ponderou por uns segundos, levando a mão ao queixo e ganhando o brilho baço no olhar que me indicava que ele estava realmente a pensar sobre o assunto. Esperei, calado e quieto, enquanto observava o meu próprio estabelecimento. Seria seguro suficiente para a rapariga normal? Aquela que não se saberia defender tão bem como Ava conseguiu. Aquela como...a minha irmã mais nova.
- Devíamos convocar uma reunião... com os donos de todos os bares. – encolheu os ombros – Não és o único, tenho a certeza, que está preocupado com isto.
- E se for? – olhei-o diretamente nos seus olhos verdes, mostrando-me o mais vulnerável que alguma vez me mostrei às nove da manhã.
- Se fores, tens-me a mim. E tens os teus amigos na polícia. É o suficiente.
Max observou-me, quase como que a desafiar-me para o contradizer. Não o fiz.
PEÇO DESCULPA por ter demorado tanto a continuar, não era definitivamente o meu objetivo, mas a faculdade meteu-se e entretanto quis acabar a Caminhos Cruzados primeiro e pronto
(não que tenha muita gente a ler isto, mas espero que vá ganhando leitores ao longo do tempo)
anyway! bem-vindxs à melhor amizade masculina que vão ler, os meus dois brutamontes Max e Dax
espero que tenham gostado desta pequena introdução à vida do Dax, aos seus pensamentos e às pessoas que o rodeiam, e até a um próximo capítulo <3 obrigada por lerem!!
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