Capítulo Dezasseis
Não sabia dizer o que me acordou primeiro. Se o sonho em que Ava estava presa nas mãos de Nate, se o pânico que isso me deu, ou se outra coisa completamente diferente. Porque, quando efetivamente acordei, o meu quarto estava repleto de um aroma agradável a que eu não estava habituado. Grunhi para mim próprio e o meu instinto foi tapar a cara com a almofada porque, de repente, a luz do sol estava a infiltrar o conforto escuro do meu quarto. Só abri os olhos quando ouvi o riso doce e melodioso que se seguiu. Ava. Lentamente, ganhei coragem e virei o meu corpo até estar de barriga para cima.
- Bom dia. – cumprimentei, com voz ainda rouca.
- Bom dia, brutamontes. – sorri com o apelido que estava lentamente a tornar-se num nome carinhoso que ela e a irmã tinham para mim. Inicialmente, Mia queria ofender quando me chamara aquilo mas, aos poucos, gostava de pensar que consegui conquistar as duas gémeas. – Parabéns.
- Como é que soubeste?
- Max. – encolheu os ombros, sorrindo inocentemente. – Preparei o teu pequeno almoço preferido, fruta com chocolate derretido, waffles e chá de camomila. Aproveita.
Olhei para o tabuleiro, repleto das coisas que eu mais gostava de comer mas que raramente o fazia – para manter a forma, na verdade, e porque era demasiado guloso para o meu próprio bem – e sorri para Ava. Ela, vestida numa das minhas muitas t-shirts pretas que, apesar de me ficar justa ao corpo, a ela parecia ficar enorme, a olhar para mim com carinho no olhar. Suspirei, deixando-me aproveitar a calma daquele momento tão simples. No entanto, momentos depois, não resisti e tive que a puxar para mais perto, beijando a primeira parte do seu corpo que atingi primeiro, o seu pescoço.
- Obrigado. – agradeci, com toda a sinceridade do mundo. Ela passou a mão pelos meus cabelos, olhando-me sorridente. – Não precisavas de fazer tudo isto.
- Dax, fazes finalmente vinte e nove anos e tens passado as últimas semanas a trabalhar até à exaustão. O mínimo que podia fazer era acordar um pouco mais cedo que o costume e fazer-te o pequeno-almoço.
- Vem, vamos partilhar isto.
Ava não demorou a sentar-se ao meu lado, de volta dentro dos lençóis cinzentos, e eu envolvei os seus ombros com o meu braço direito, puxando-a para mais perto. Um momento apenas depois, Ava pegou num dos garfos que tinha pousado no tabuleiro e espetou-o num morango, afundando-o na taça com chocolate derretido que tinha preparado. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ou oferecer-lhe a comida primeiro, ela colocou o morango dentro da minha boca e limpou o chocolate que tinha ficado com a língua, fazendo-me rir. Rimos juntos e partilhámos a comida, alternando facilmente entre quem dava a comida a quem. Naquele momento, na minha cama, não poderia ser mais feliz.
Continuámos a comer, entre risos, beijos e conversas leves, até o tabuleiro estar vazio. Sem dizer nada, Ava esticou-se o suficiente para colocar o pedaço de madeira no chão e, assim que voltou a levantar-se, beijou-me intensamente. O meu instinto foi agarrar nas suas coxas e fazer com que ela se sentasse nas minhas pernas, apreciando a sua suavidade enquanto deslizava pela sua pele. As suas mãos puxavam os fios dos meus cabelos para me guiar conforme a sua vontade, mas eu deixei-a, claro, porque Ava nunca faria nada que eu não gostasse de igual forma. Quando uma das suas mãos largou os meus cabelos e chegou aos meus abdominais, arrepiei com o facto de os seus dedos estarem frios e mordi o seu lábios.
Minutos depois, estávamos entrelaçados entre nós e os lençóis. De lado, virado para ela e com um dos meus braços debaixo da sua cabeça, sentia-me como se estivesse num pequeno paraíso. Ava olhava-me com aquelas duas safiras a que ela chamava olhos, como se eu fosse a coisa mais fascinante e maravilhosa do mundo. Lentamente, o vazio dos seus olhos diminuía, apesar do perigo iminente por que ela passava. Aos poucos, eu conseguia perceber que ela estava realmente feliz, cada vez mais feliz a cada dia que passava perto de mim. Apesar de tudo o que tinha passado e continuava a passar, o resto da sua vida continuava feliz e bom. Era a única coisa que eu pedia para ela.
- Dax. – sussurrou o meu nome, levando uma das suas mãos a pousar na minha bochecha. Sorri-lhe, fechando os olhos. – O meu desejo para ti é que, eventualmente, percas esse peso que tens carregado nos ombros a toda a hora. Que sejas sempre tão leve como és comigo e com o Max.
- Contigo? – questionei como instinto, mas não podia negar que queria a resposta.
- Comigo. – concordou e logo de seguida senti os seus lábios nos meus. – E, para começarmos a fazer isso, temos que tomar banho. Vamos, preguiçoso.
- Não podemos ficar na cama por mais um pouco? O Max não me deixa entrar no Dove, tenho mais tempo livre.
- Hoje, não. Já vais perceber porquê.
E percebi. Tínhamos acabado de nos vestir – eu com uma das poucas camisas coloridas que tinha no armário e Ava com um vestido de verão azul-claro – quando alguém tocou à minha companhia. Inicialmente, pensei que fosse apenas um vendedor ou algo do género, mas essa ideia foi descartada rapidamente quando vi o sorriso entusiasmado que Ava me lançou. No entanto, ela não me seguiu quando eu fui abrir a porta, preferindo sentar-se num dos sofás individuais da minha sala de estar. Completamente confuso, abri a porta da frente devagar, sendo invadido com um aroma familiar – demasiado familiar. Mas só processei realmente o que estava a acontecer quando vi o cabelo dourado-ruivo da minha mãe.
A minha mãe está aqui.
- Mãe?
- Parabéns, meu amor. – ela abraçou-me, dando-me leves festinhas no meu cabelo. – Como está a ser a tua manhã? Animada, aposto.
- O que é que estás aqui a fazer?
- A Ava convidou-me, claro. – encolheu os ombros, olhando-me completamente divertida.
Observei a minha mãe. Naquele dia, ela parecia radiante. No meu aniversário, eu normalmente fazia questão de passar pelo menos um pedaço do meu dia com ela, mas nunca nos tínhamos encontrado tão cedo, nem ela tinha ido a minha casa sem me avisar. Ava tinha organizado tudo aquilo, enquanto eu nem sabia que elas já se tinham conhecido. Depois, parei um pouco e pensei que a única maneira de aquilo ter acontecido teria que ter sido com a ajuda do meu melhor-amigo e revirei os olhos. Só ele para estragar todos os meus planos de uma apresentação formal entre as duas.
- Vamos, vamos. Quero conhecer a tua namorada. Estou desiludida contigo por ainda nos teres apresentado, Daxon. – olhei, ainda mais confuso, para a minha mãe. Ela fez um gesto com a mão, como se me dissesse que eu não valia o seu tempo, e avançou para dentro da casa.
- Mãe. – chamei, indo atrás dela, até entrar na sala de estar.
- Olá, senhora Tyler. – Ava acenou, um pouco tímida. – Fico feliz por ter conseguido vir.
- Ava? – a mais nova assentiu, com as bochechas um pouco coradas. Ficaram paradas a olhar uma para a outra, a minha mãe com um sorriso sábio e Ava completamente tímida. – Então? Não nos vais apresentar formalmente? Estou à espera, Daxon!
Revirei os olhos, mas caminhei até Ava e envolvi os seus ombros com um braço, depositando um beijo na sua cabeça.
- Mãe, está é a Ava, a minha namorada. Ava, esta é a minha mãe, Helen Tyler. – Ava soltou-se dos meus braços para cumprimentar formalmente a minha mãe.
Percebi o choque da mais velha quando Ava a puxou para um abraço, mas Helen Tyler não ficou atrás. Apertou Ava nos seus braços e riu alto, anunciando que era um gosto conhecê-la finalmente – não se poupou de me olhar diretamente nos olhos – e agradecendo o convite. Com a sua conversa suave, percebi que tinha sido realmente Max a falar com a minha mãe, a pedido de Ava, porque ela não queria falar por telefone com a minha mãe sem a conhecer.
Observei a forma como as duas aparentemente ganharam intimidade muito rápido, principalmente enquanto falavam de mim. A minha mãe puxou Ava para o maior sofá e, sentadas lado a lado, conversaram como se me estivessem a ignorar de propósito. Revirei os olhos, porque era um comportamento típico da minha mãe, mas sentei-me no sofá individual e, com um dos tornozelos sobre o joelho oposto, observei-as atentamente. Eventualmente, sorri, porque se havia algo que eu queria que acontecesse, era que elas as duas se conhecessem e gostassem uma da outra. E Ava parecia ter lido a minha mente, porque tinha organizado algo natural – a minha mãe aparecer em minha casa – em comparação a toda a formalidade de todas as opções que me tinham surgido na cabeça.
- O Dax, na verdade, ainda não conheceu os meus pais, por isso isto é terreno desconhecido para nós os dois. – Ava admitiu, rindo um pouco. A minha mãe olhou para ela, sorrindo vitoriosa.
- Preciso de ser a primeira nalguma coisa. – Ava continuou a rir, assentindo.
- Definitivamente. Se bem que o Dax e o meu irmão mais velho já são amigos há muitos anos, embora eu não o soubesse quando o conheci.
- Desculpa, querida, mas como é que se conheceram? – a minha mãe questionou, numa voz sorridente. – O meu Dax nunca me conta nada, sabes.
Ava empalideceu por uns segundos mas, antes que eu pudesse abrir a boca e mudar de assunto, ela olhou para mim com um sorriso doce e inspirou. Depois, contou resumidamente a história de como eu a tinha ajudado, apesar de um pouco tarde demais e de como, desde ali, eu "não tinha parado de a proteger". Ao ouvir o pequeno conto, reparei que os olhos da minha mãe se encheram de lágrimas e que ela teve a necessidade de os limpar com os seus dedos, discretamente. Ava notou, claro, e apertou o joelho da mais velha, exatamente por já saber as razões para a minha mãe ter ficado emocionada. Sorri para as duas, relaxando mais uma vez no meu lugar.
- Ele cuida de mim e eu cuido dele. – Ava confessou, numa voz igualmente emocionada, olhando mais uma vez para mim. A minha mãe sorriu, abdicando de todo o humor para apertar a mão que Ava ainda tinha no seu joelho.
- E não há melhor maneira que essa, querida.
Horas depois, que incluíram um almoço num restaurante – cortesia da minha mãe, apesar de tanto eu como Ava termos insistido para pagar – Ava pegou no volante do meu carro e conduziu sem nos dizer o destino. Embora eu estivesse sentado no lugar do passageiro, a conversa era definitivamente dominada por elas as duas, e eu conseguia imaginar o que a minha mãe estava a pensar. Apesar de nós os dois nos compreendermos consideravelmente bem, e nunca termos deixado que a tristeza nos afastasse, eu era um homem de poucas palavras. Mas Ava, apesar de ser habitualmente calada, canalizou toda a sua Mia interior – não havia outra maneira de colocar aquilo – e conversou tudo o que havia a conversar com a minha mãe.
Perguntava-me se eu conseguiria ter uma relação tão natural com a sua família. Eu e Steve éramos grande amigos, e eu e Mia estávamos lentamente a criar uma relação, mas os seus pais eram um caso completamente diferente. Eu era um rapaz mais velho, com uma formação...demasiado parecida à de Nate. Se eu tivesse uma filha que aparentemente só namorava polícias, ficaria preocupado. No entanto, não deixei as inseguranças e as dúvidas tomarem posse de mim e foquei-me naquele momento, naquele carro, em que as duas pareciam ser amigas de longa data apesar de só se terem conhecido naquela manhã.
- Ava? O que é que estamos a fazer na Rua Verde?
- Precisas mesmo de ganhar um pouco mais de paciência. Tenho mais umas quantas surpresas na manga, sabes?
- Mas não precisavas...
- Este nunca aprende, pois não? – a minha mãe perguntou a Ava, rindo. – Bem podemos tentar que ele abdique do controlo por dois minutos, mas nunca vai resultar.
- Já foi pior, Helen. – Ava admitiu, esticando a sua mão direita para apertar o meu joelho. Sorriu-me, piscando-me o olho.
Minutos depois, ela estava a estacionar no meu lugar habitual nas traseiras de Dove. A minha mãe, de repente, retirou um dos seus lenços da sua mala e obrigou-me a tapar os meus olhos. Ava riu, mostrando-me que aquilo não fazia parte do seu plano, mas encolheu os ombros e prometeu que eu não ficaria sem visão durante muito tempo. Tanto ela como a minha mãe sabiam que parte da minha necessidade de proteção precisava de eu conseguir ver. Como é que conseguiria defender alguém se não estivesse atento a tudo o que me rodeava? No entanto, como sempre, não havia maneira de dizer não a Helen Tyler e lá aceitei a aventura. Ava garantira-me que era só até entrarmos no bar, de qualquer forma.
- Já deves ter adivinhado parte do que vai estar lá dentro, mas há alguém que eu quero mesmo que tu conheças. Esta pessoa gostar de ti vai ter um peso muito grande na nossa relação, Dax. – Ava introduziu, a rir. Quando viu que os meus ombros ficaram tensos, senti a sua mão entre as minhas omoplatas, a relaxar-me.
- Não me vais obrigar a conhecer os teus pais, pois não?
- Não. De qualquer forma, a sua opinião não importa tanto como esta. Mas tu és maravilhoso por isso vais-te sair lindamente.
Segundos depois de ouvir a porta do bar a abrir e logo a seguir a fechar, senti luz a invadir o pequeno lenço que a minha mãe tinha usado. Quando Ava finalmente teve pena de mim, retirou delicadamente o lenço e deixou-me ajustar à luz. Ouvi um coro a gritar surpresa e, ao olhar à volta, vi todas as pessoas que me eram importantes e mais algumas. Vi todos os meus empregados – que, naquele dia, só foi comprovado quão família eles eram -, vi Steve e vi Asher e Mia, ao lado de uma outra pessoa que não conhecia.
- Dax, este é o Declan, irmão do Asher.
ah, o meu declan <3 tive saudades dele enquanto escrevia isto e TIVE que o escrever, mesmo que tenha sido muito pouco - porque ele não está tão dentro da vida da Ava como na da Mia, como seria de esperar, e porque por esta altura já tem uns 21 (?) anos
o nosso deke está crescido e GLOWING, prometo
espero que esteja tudo bem por aí e muito muito MUITO obrigada a quem continua a ler <3
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