Capítulo Cinco
- Ava! – nem conseguia acreditar que estava praticamente a correr atrás dela. Ela, no entanto, não quis saber disso e continuou a ignorar-me. – O que é que aconteceu?
Por dois segundos, ela pausou. Foi o suficiente para me conseguir aproximar dela. Não ousei voltar a agarrá-la.
- Vocês são todos iguais. – olhei-a, confuso. – Homens em posição de poder. O meu pai, o meu irmão, o... o Nate.
- Nate. – repeti o nome, testando-o na minha língua. Eu conhecia um Nate que era polícia. Seria o mesmo? Provavelmente não. – Mas eu não sou polícia.
- O que é que importa? Tiveste o mesmo treino que todos eles. Aprendeste as mesmas coisas, da mesma forma. Porra, se calhar também és amigo do meu irmão...
De repente, Ava começou a murmurar para si própria. Não querendo tocar-lhe para garantir que ela estava bem, limitei-me a parar enquanto a encarava. Ela gesticulava com as mãos e, da distância em que me encontrava, parecia ter começado a tremer. Olhei em volta, percebendo que estávamos sozinhos no corredor. Ao longe, conseguia ver as luzes néon da zona VIP e o corrimão em que eu costumava ficar quando queria observar todo o bar. Respirei fundo e esperei que ela ganhasse coragem para voltar a falar comigo.
O pior que poderia fazer, naquele momento, era provar que ela estava certa - que eu abusaria do meu poder quando me conviesse.
- Eu prometi a mim mesma que nunca mais me envolveria com outro homem em posição de poder. Que isso era receita para desastre.
Fingi não ter ouvido o seu raciocínio e forcei-me a ignorar a parte em que ela se considerava envolvida comigo. Não estávamos, de todo, envolvidos. Claro, eu estava a lutar contra mim próprio para não a sufocar com a minha necessidade de proteção, mas isso era natural. Principalmente tendo em conta o meu passado. Não deixes que ela te dê a volta à cabeça, disse a mim próprio.
- E então? – olhou finalmente para mim. A minha resposta foi um olhar confuso. – És amigo do meu irmão?
- Ava...eu nem sei o teu último nome. – respondi apenas, na voz mais calma que consegui arranjar. Ela cruzou os braços, endireitando as costas e encarando-me diretamente nos olhos. – Porque é que isso importa?
- Porque, na última vez que namorei com um amigo do meu irmão, ele teve o nariz partido pela minha irmã gémea e um braço partido pelo irmão em questão.
Arregalei os olhos, não sabendo em que parte me focar. Mas a nova informação inundou o meu cérebro, fazendo uma única cara aparecer na minha mente. Olhei para Ava e analisei-a atentamente, procurando aquilo que queria. Infelizmente, as mangas compridas do seu vestido impediram-me de olhar para o seu pulso. Procurava a mancha em forma de nuvem que a ex-namorada do único Nate que eu conhecia tinha. Polícias eram, por falta de outra palavra, possessivos. Quando esse Nate começara a namorar com uma rapariga uns anos mais nova que ele, fizera questão de afastar todos os outros olhos dela.
«Cabelos castanhos, olhos azuis e um rabo maravilhoso. Uma nuvem no braço direito. Se vocês olharem para ela, eu vou saber, rapaziada. Não tentem.»
- Tu conhece-lo, não conheces? A tua cara...
Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, o seu corpo desistiu dela própria e ela cambaleou para trás. Descartei em segundos a regra que me impedia de lhe tocar para impedir que ela caísse. Ava não tinha ficado inconsciente, felizmente, mas continuava fraca, desatenta. Respirei fundo e, num único gesto, coloquei um dos meus braços por baixo dos seus joelhos e carreguei-a de volta ao meu escritório. Não sabia o que se tinha passado com ela, porque ela não parecia demasiado cansada quando faláramos antes, mas talvez fosse a ansiedade. Aquele Nate claramente tinha deixado uma marca nela.
- Daxon...larga-me...
- Ava, uma coisa que tens que aprender sobre mim é que, apesar de eu ir sempre respeitar a tua opinião e as tuas decisões, quando se tratar da tua saúde ou segurança imediatas...vou ter que seguir o meu instinto. – afirmei, numa voz rígida e claramente ansiosa, porque ela não respondeu durante uns segundos. Abri a porta do meu escritório com dificuldade, mas fechei-a com o pé.
- Porquê?
- Uma história para outro dia. – ela assentiu e encostou a sua cara à minha t-shirt, inspirando fundo. – O que é que aconteceu?
- Tenho a tensão baixa. Já não como há umas horas. – explicou, numa voz fraca. Assenti, embora ela não me fosse ouvir, e levei-a até ao meu cadeirão.
Sentei-a lentamente e, assim que garanti que ela não cairia sem a minha ajuda, inclinei as costas para que ela estivesse mais confortável. Respirei bruscamente, ao ver a sua face completamente pálida, e abri as gavetas da minha secretária em busca de uma das barras de chocolate que eu sabia que o Max escondia ali. Encontrei-a facilmente, num departamento secreto na segunda gaveta, e abri-a antes de lha dar.
- Toma. – anunciei, fazendo-a abrir finalmente os olhos.
Aquele azul iria dar cabo de mim, se eu o deixasse.
- Nate James? – ela assentiu, fechando os olhos com força. – Foi meu colega na academia. Suponho que o teu irmão também tenha sido? – voltou a assentir.
- Steve Farrell.
Memórias de um rapaz musculado, da minha altura e com um sorriso permanente no rosto fizeram-me sorrir. Não o admitiria, mas estava com receio que o seu irmão fosse um dos idiotas que definitivamente tinham ido para a academia para abusarem do poder - Steve Farrel não era um deles, felizmente. Era o tipo de pessoa que era simpático para toda a gente, apesar de poder facilmente partir um osso ou dois em questão de minutos. Tínhamos sido bastante próximos na altura e, ao olhar para Ava, consegui ver as parecenças. Com ela e com Mia, principalmente nos olhos. Aqueles olhos escuros tinham-me parecido familiares quando encontrara Mia, mas assumira que se deviam a parecenças com Ava. Já sabia que não.
- Vou assumir pela tua cara que o meu irmão não era um idiota? – ri um pouco, abanando a cabeça. – Ótimo.
- Éramos próximos, na academia. Mas...vamos só dizer que as minhas prioridades mudaram e, assim que ganhei o diploma, mudei o rumo da minha vida. – ela assentiu e eu fiquei feliz por ela não me questionar. – Ocasionalmente falamos.
- É tão esquisito. Isto é esquisito, foi um erro.
- O que é que foi um erro, Ava? – questionei, numa voz suave. Ela respirou fundo, fechando os olhos mais uma vez. Daquela vez, aproveitou e colocou o resto da barra de chocolate na boca.
Desviei o meu olhar para o canto dos seus lábios, onde um pouco de chocolate tinha permanecido. Obriguei-me a não a limpar.
- Eu aproximar-me de ti. Devia ter-te agradecido pela ajuda e pronto, mas não...sou exatamente igual à Mia neste aspeto. É ridículo. – abanou a cabeça, rindo de si própria. Mordi o meu lábio inferior para não a interrogar mais. – Pensei que tivesse crescido, que o desastre que foi o namoro com Nate me tivesse ensinado a, pelo menos, saber onde me estou a meter.
- Ava. – interrompi-a, com uma voz suave. – Nós não estamos envolvidos.
- Ah, ótimo. Então tudo isto foi ilusão minha? – fez um impulso para se levantar do cadeirão, mas uma mão minha sobre a sua fê-la parar. – Desculpa, Daxon. Aquela noite deu cabo do meu bom discernimento, quase de certeza, portanto desculpa ter-te trazido para a confusão que foi a minha vida. Um rapaz perfeitamente normal, embora polícia, ajuda-me e eu imagino logo que ele está atraído a mim... Idiota, Ava. Idiota, egocêntrica, arrogante...
- Quando é que eu disse que não estava atraído a ti? – questionei, não levantando mais a minha voz. Tudo foi dito num sussurro.
Os seus olhos arregalaram-se, revelando-se mais azuis do que nunca. Vi o momento exato em que ela deixou de me olhar com raiva e analisou toda a minha expressão, parando mais que alguns segundos nos meus lábios. No entanto, ela estava fraca e sensível e vulnerável e nada ia acontecer, porque eu não deixaria. Queria, claro que queria, mas não me sentiria bem comigo mesma se me tivesse aproveitado daquele seu estado. Ava era uma mulher forte e independente, não precisava de mim para nada – teria que aprender isso rapidamente ou ela daria cabo da minha racionalidade.
- Daxon...
- Dax. – corrigi, como andava para fazer desde a primeira vez que eu a reencontrara. Ela assentiu, sorrindo suavemente. – Sentes-te melhor? Mais calma?
- Mais calma? Que maneira tão subtil de dizeres que achavas que eu estava maluca.
- Não achava. – abanei lentamente a cabeça. – Quer acredites ou não, eu concordo contigo. Homens em posições de poder são perigosos. Percebo o teu receio, Ava, principalmente quando toda a gente que conheces parece estar relacionada entre si.
- Obrigada por compreenderes...Dax. – assenti, obrigando o meu olhar a suavizar. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, os seus braços esticaram e o seu corpo embateu contra o meu, num abraço. – Se há algo que a minha irmã gémea me ensinou e que eu realmente aprendi, é que abraços são a melhor coisa do mundo.
Lentamente, ganhei coragem para envolver a sua pequena figura com os meus braços. Ouvi o seu suspiro profundo e senti perfeitamente o momento em que o seu coração começou a bater mais calmamente. O meu, pelo contrário, batia muito mais rápido que há minutos atrás. Apanhei-me a pensar que, apesar de tudo por que já tinha passado, nada me dera alguma vez tanta adrenalina como ela. Ava. A rapariga dos olhos brilhantes e baços, a calma simultânea à tempestade.
o Dax é facilmente das minhas personagens masculinas preferidas. eu tendo a gostar bastante dos rapazes que escrevo em primeira pessoa, mas o Dax...ele tem a bússola moral bem no sítio
o que podia facilmente ser a razão para ele ser autodestrutivo e arrogante é a razão para que ele não o é e eu acho isso muito interessante. claro que vocês ainda não sabem a razão, mas com tempo vamos lá
devagar se vai ao longe
ahah
get it?
obrigada a quem tem lido e espero que estejam a gostar <3
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