8 - Irei ajudá-la
Um mês havia passado desde a chegada da midgardiana. Quando a vi pela primeira vez, confesso que fiquei um tanto impressionado com as habilidades que ela possuía, considerando o planeta retrógrado e inferior de onde ela vinha, mas mais impressionante que isso era o quanto conseguia fazer meu sangue ferver em irritação a cada palavra e desafio que me lançava, ou até mesmo com um simples olhar.
O olhar. Também não podia negar que o olhar de Kira era extremamente intenso, de uma forma que me fazia querer observá-lo e lê-lo por longos minutos, como se fosse um livro novo a ser descoberto. A combinação de tons de azul e verde de suas íris se juntavam em uma mistura completamente harmoniosa, como se toda a magia do universo estivesse concentrada em seus olhos.
Mas ela continuava sendo irritante.
Com esse pensamento, cruzei os corredores do enorme palácio, que agora poderia chamar de meu, até chegar em um dos meus lugares favoritos: a biblioteca, que assim como o resto daquele lugar, era imenso, e possuía uma grande variedades de livros, de todos os Nove Reinos, escritos com todas as línguas possíveis.
Ao cruzar as grandes portas da biblioteca, não me surpreendi ao ver Kira sentada em uma cadeira, com um livro aberto um pouco afastado enquanto ela rabiscava atentamente alguma coisa em um caderno. Revirei os olhos enquanto caminhava até uma prateleira mais afastada dela. Por maior que fosse aquele palácio, a midgardiana parecia estar em todo o lugar, como me seguisse, como se a brincadeira favorita do destino fosse nos deixar próximos.
— Bom dia, majestade. — disse ela, sem tirar os olhos do caderno.
— O que está fazendo? — perguntei involuntariamente após pegar um livro de astrologia da prateleira, um dos meus prediletos.
— Tive um sonho estranho, com uma mulher estranhamente familiar, e por algum motivo minha intuição falou pra eu vir pesquisar alguma coisa na biblioteca. — Ela respondeu dando de ombros.
Finalmente ela ergueu o olhar em minha direção. Novamente foquei minha atenção as suas íris mágicas e intensas, mas logo me distraí ao ver uma expressão descontente tomar forma em seu rosto. Só então percebi que ainda estava sustentando a figura de Odin, e ao olhar ao redor e ter certeza de que não havia mais ninguém ali, desfiz o feitiço em alguns segundos, enquanto observava um sorriso aparecer no canto dos lábios da mulher e uma sobrancelha se erguer.
— Algum sucesso? — perguntei, apoiando o livro que eu havia pegado na mesma mesa em que o caderno dela estava.
— Não. — Ela respondeu desanimada, voltando a encarar o papel. — Eu nem sei direito o que estou procurando na verdade. — Ela passou uma das mãos pelo rosto enquanto suspirava profundamente. — Um sorvete seria ótimo agora.
Ela me encarou de novo, e ao ver minha careta confusa com sua última frase, ela franziu as sobrancelhas e soltou uma risada desacreditada em seguida.
— Você nunca tomou sorvete? — Dei de ombros após sua pergunta enquanto negava com a cabeça. — Entendi por que é tão amargo.
— Ei...
— Tudo bem, espere aqui, volto em um instante.
Kira não me deixou dizer mais nada, apenas moveu os dedos e em um piscar de olhos não estava mais em minha frente. Revirei os olhos mais uma vez, enquanto dava alguns passos até chegar próximo do caderno que ela desenhava.
A página que estava aberta trazia a imagem de uma mulher. Eu não saberia dizer a cor dos olhos, já que era apenas um esboço sem cor, mas suspeitava que os cabelos eram claros, talvez fosse a tal mulher que Kira disse que havia sonhado. Folheei mais o caderno, e vi mais alguns desenhos já completos e coloridos, e devia admitir, extremamente bem desenhados e realistas. Um deles reconheci ser o tal Soldado Invernal que Kira havia sonhado uma vez, fiz uma careta ao ver o rosto do homem, mas depois fiquei confuso do porquê eu havia a feito, afinal eu nem o conhecia.
Passei mais algumas páginas e parei em um desenho de duas pessoas. Reconheci como os irmãos trigêmeos de Kira: Wanda e Pietro. Ela havia me mostrado uma foto deles antes, e com os traços impecáveis e limpos de Kira desenhando não foi difícil de perceber que eram realmente eles. Encarei por mais tempo a figura de Pietro no desenho, lembrando-me de ver a angústia e tristeza nos olhos de Kira ao citar o irmão. Algo apertou-se dentro de mim, mas espantei a sensação ao ouvir a voz da mulher novamente.
— Pronto. Agora troque de roupa.
Virei-me para ver que ela havia trocado o vestido asgardiano que usava para uma de suas roupas midgardianas que havia trazido na tal mochila quando veio. Franzi o cenho em sua direção, observando-a sorrir em seguida. Um sorriso surpreendente, assim como seu olhar.
— Não vou voltar a Midgard. — disse, logo cruzando os braços.
— Vai sim, vou te levar pra tomar sorvete. Faça logo sua mágica e troque de roupa. — disse ela, fazendo um gesto animado com as mãos. — Já aviso que não precisa ser formal. Sei que gosta de chamar a atenção, mas não esqueça de que está tecnicamente morto. — Ela completou, lançando uma piscadela com um dos olhos em minha direção.
Como eu dizia: irritante. Aquela mulher conseguia ser a pessoa mais irritante que eu já conheci em minha vida. Revirei os olhos pela terceira vez só naquele dia, enquanto preparava o feitiço para mudar minhas roupas. Em um segundo, estava com uma calça escura e uma camiseta azul escura simples. Também havia mudado um pouco meu cabelo, afinal, mesmo sendo irritante, a midgardiana tinha razão, eu precisava continuar "morto".
Quando encarei Kira de volta, percebi que seu sorriso apenas aumentara enquanto ela passava os olhos por todo o meu corpo, de cima a baixo. Algo a mais se movimentou dentro de mim, e quando o olhar de Kira alcançou o meu mais uma vez, senti vontade de sorrir, mas me contive e apenas sustentei seu olhar, intensamente, como sempre fazíamos.
— Gostei do novo estilo. — Ela comentou, lançando-me um olhar sugestivo.
— Seu desejo em mim é palpável, midgardiana. — Dei um passo em sua direção, sem entender muito bem o porquê do ato. E apenas percebi tarde demais que os meus próprios olhos haviam acabado de deslizar igualmente por toda a sua bela e tentadora figura.
— Claro que é. — Ela disse, erguendo uma sobrancelha. — O seu também, Branca de Neve. — Semicerrei os olhos em sua direção, vendo seu sorriso aumentar mais ainda. Eu odiava aquele apelido e ela sabia disso. — Vamos, me dê a mão.
Pisquei algumas vezes por conta da sua fala repentina, logo observando uma de suas mãos estendidas em minha direção. Hesitei, encarando seus olhos mais uma vez, até que ergui minha própria mão e toquei na dela. Sua palma era quente e estranhamente confortável. Observei enquanto ela movia os dedos e nos teletransportava para algum lugar em Midgard.
(...)
Estávamos chegando em frente ao que Kira chamou de sorveteria. Ela caminhava pelas ruas de Nova York animadamente, como uma pequena criança irritante, o que ela realmente era: irritante. Ao entrarmos no local, ela disse para que eu fosse até uma das diversas mesas que existiam ali e apenas esperasse, já que ela traria o tal sorvete para mim. Assim o fiz, após revirar os olhos.
Em poucos minutos Kira aproximava-se de onde eu estava, com dois cones na mão, cobertos por uma massa espessa e escura em cada uma delas. Fiz uma careta, ela queria que eu comesse aquilo? Era esteticamente ridículo, não sabia nem como alguém tinha coragem de colocar algo parecido com aquilo na boca.
— É de chocolate. — disse ela, enquanto se sentava em uma cadeira a minha frente e me estendia uma daquelas coisas.
— Como tem coragem de comer algo assim? — perguntei, encarando o tal sorvete agora em uma das minhas mãos.
— Para de ser fresco, experimenta. O seu é chocolate amargo, você tem cara de quem gosta. — Ela completou com um sorriso cínico em minha direção.
Alternei olhares entre ela e o sorvete mais algumas vezes, um pouco incerto sobre o que fazer. Kira pareceu perceber, já que controlou uma risada divertida antes de lamber a massa que se encontrava em cima do cone. Franzi o cenho, midgardianos eram tão atrasados e retrógrados que me assustava, porém após alguns segundos, derrotado, fiz o mesmo que ela com o meu sorvete.
Tudo o que pensei sobre o tal sorvete até agora mudou simplesmente ao sentir o sabor delicioso e gelado da massa escura, chocolate. Era amargo, e Kira tinha razão, eu adorava sabores amargos, e me perguntei, tensionando os músculos, se ela conseguia me decifrar tão facilmente, ou se fora apenas um palpite de sorte.
— Sabia que ia gostar, majestade. — disse ela, lançando um sorriso divertido em minha direção.
Só então percebi que eu mesmo continha um sorriso satisfeito em meus próprios lábios após provar o tal sorvete de chocolate. Dei-me por vencido e me permiti aumentar o sorriso na direção da mulher, ao mesmo tempo que encarava seus olhos, como já era costume.
— Durante o ano no complexo dos Vingadores, Stark nos apresentou essa sorveteria. — Ela dizia, mas havia desviado o olhar de volta para o sorvete. — Eu e minha irmã marcávamos presença aqui toda semana.
Em alguns minutos Kira terminou o sorvete dela, e inclusive descobri que o cone que segurava a massa escura e gelada, também era comestível, e igualmente saboroso. Pelo menos uma coisa boa Midgard possuía, eu devia admitir. Kira levantou-se da cadeira quando terminei o meu sorvete e pediu para que eu a seguisse até um balcão, onde uma mulher ficava na frente de um computador.
— Srta. Kira, há quanto tempo. — A mulher atrás do balcão comentou com um sorriso simpático.
Kira estava prestes a responder, mas um homem parou ao seu lado, com um rolo de papel nas mãos. Sua feição continha raiva e um pouco de medo, uma combinação um tanto perigosa. Aproximei-me um passo quase que involuntariamente, pronto para conjurar minhas adagas.
— Não devia nem aparecer tão cedo depois de tudo o que aconteceu, Maximoff. — O sobrenome de Kira saiu com o mais puro veneno dos lábios do homem.
— Desculpe. O que? — Ela perguntou, confusa.
O homem nada respondeu, apenas estendeu o rolo de papel na direção de Kira, logo reconheci como o que os midgardianos chamava de jornal, e saiu andando, não sem antes lançar um olhar raivoso para a mulher. Ela abriu o jornal, dando de cara já com a capa, em que estava escrito: "Desonra e fuga de Capitão América e os Vingadores".
— Kate, o que aconteceu? — Kira perguntou à mulher atrás do balcão. Fiquei surpreso com o tom gélido e seco da voz dela.
— Você não soube? Os Vingadores se separaram. — A mulher, Kate, começou a dizer.
— Por que? — Kira perguntou, pude ver que ela apertava o jornal com as mãos conforme tensionava cada vez mais os músculos.
— Achei que fosse uma Vingadora, não está mesmo sabendo? — Kate perguntou, com uma careta confusa.
— Apenas diga o que aconteceu, por favor. — Eu disse dessa vez, percebendo o desconforto e a leve irritação de Kira.
— Eu não sei direito como ocorreu, alguns dizem que foi por conta de um contrato, outros dizem que foi uma explosão em Vienna. — Kate começou. Percebi Kira inclinar o corpo para frente, atenta. — De qualquer jeito, o Capitão América ficou do lado do criminoso Soldado Invernal, e quem quer que estivesse junto com eles estava contra a lei...
— Bucky Barnes. — Kira a interrompeu, séria. Jamais havia visto aquela mulher tão séria e fria em todo um mês que a conhecia. — O nome do Soldado Invernal, é Bucky Barnes. — Kate assentiu, logo continuando a explicação.
— Enfim, metade dos Vingadores foram presos, e agora como pode ver nesse jornal em suas mãos, o Capitão ajudou todos eles a escapar. — Ela fez uma pausa. Kira intensificava cada vez mais o aperto nas mãos que seguravam o jornal. — Dizem que alguns fizeram acordos, para não se tornarem fugitivos, outros estão desaparecidos e...
— E minha irmã? — Kira a interrompeu de novo.
— Srta. Wanda estava com o Capitão e o Sold... e Bucky Barnes. — Kate encarou a mulher ao meu lado com pena em seus olhos. — Dizem que ela conseguiu sair do país, e está junto com aquele outro meio estranho, tem a cor vinho e um brilho amarelo na testa.
— Ela está com Visão?
Kate apenas concordou com a cabeça, e pela primeira vez pude perceber Kira aliviar minimamente o aperto que fazia no jornal. Se fosse em qualquer outro momento, com qualquer outra pessoa, eu simplesmente reviraria os olhos. Os Vingadores sempre gastavam tempo brigando entre si, o que era algo nada inteligente, mas ao ver o olhar perdido, carregado de preocupação e medo de Kira, juntamente com sua respiração pesada, meus músculos tensionaram, e alguma coisa apertou-se mais uma vez dentro de mim. Não sabia dizer o que, mas não estava confortável.
— Srta. Kira, devo colocar os sorvetes na conta do Sr. Stark? — Kate perguntou novamente.
— Sim. Obrigado. — disse após perceber que Kira não diria nada e que começava a ficar um pouco mais ofegante.
Passei um dos meus braços ao redor de seus ombros e a guiei até o lado de fora da sorveteria. Ao chegarmos a um canto menos movimentado da rua, toquei no jornal, que ela ainda apertava com toda a força, e lentamente o afastei de suas mãos. Joguei o papel longe, em seguida, segurei firmemente em seus braços. Por algum motivo quis tocar seu rosto, e ter certeza de que sua pele era tão macia quanto parecia.
Ela fixou seus olhos nos meus e respirou profundamente. Percebi que suas mãos e braços tremiam levemente, um pouco erguidos, como se o jornal ainda estivesse ali. Sustentei seu olhar por mais alguns segundos antes de finalmente dizer alguma coisa.
— Estou aqui. — Eu disse. — Vamos.
(...)
Após Kira nos teletransportar de volta à biblioteca de Asgard, ela apenas pegou o caderno de desenhos e as canetas que usava antes de irmos para a sorveteria, e se dirigiu até a saída, mas antes apenas disse, de forma desanimada:
— Espero que tenha gostado do sorvete, Loki.
Observei enquanto sua figura sumia por entre os corredores do palácio, provavelmente estava indo em direção ao seu quarto. Desviei meu olhar até o livro aberto que estava mais afastado na mesa, talvez ela estivesse lendo antes de começar a desenhar. Era a versão em inglês sobre a Origem dos Nove Reinos. Era uma história interessante, porém bem mais tediosa se fosse ler este livro em específico. Entendi porque Kira desistiu e resolveu focar no desenho.
Durante as horas que se passaram até anoitecer, alternei entre ler alguns livros e caminhar pelo palácio na forma de Odin, apenas para manter a postura e para que ninguém desconfiasse de que, na verdade, o príncipe morto não estava tão morto assim. O que estava começando a me deixar nervoso era o olhar de Kira preso em meus pensamentos a todo momento. Não aquele olhar intenso, mágico e viciante, mas sim o olhar desanimado, desesperado e preocupado que ela possuía na sorveteria.
Estava inquieto, e essa sensação começava a me irritar mais do que a própria Kira. Ainda caminhava pelos corredores com esse mesmo pensamento na cabeça, e quando percebi, estava em frente à porta do quarto dela, pronto para erguer a mão e bater levemente, pedindo permissão para a minha entrada. Mas parei no meio do caminho e fiquei imóvel, pensando se deveria realmente entrar ali, e me perguntando por que eu queria tanto entrar ali?
Abaixei a mão, virando-me para continuar meu caminho, mas algo dentro da minha mente falou mais alto, e em segundos, dei leves batidas na porta, esperando por uma resposta por parte da mulher dentro do quarto.
— Entra. — Sua voz estava baixa, mas consegui ouvir o suficiente.
Abri a porta lentamente, apressando-me para o lado de dentro. Antes de procurar pelos olhos de Kira ao redor do cômodo, fechei a porta e desfiz o feitiço que me fazia possuir a imagem de Odin. Finalmente em minha forma original, e diversas vezes mais atraente, olhei em volta, e franzi a sobrancelha ao ver Kira deitada na cama, em baixo das cobertas, encolhida. Ela tremia, como se estivesse no lugar mais gelado dos Nove Reinos, e o olhar foi o que me atingiu novamente. O mesmo sentimento de preocupação e medo. Kira estava ansiosa, na pior ansiedade que pudesse existir.
— Escolheu uma péssima hora pra vir, Branca de Neve. — Kira disse, tentando forçar um sorriso em minha direção. — Não estou em boas condições pra provocar você. — Soltei uma risada nasalada com seu comentário.
— Está tudo bem? — Péssima pergunta, mas não pensei em nada além disso para dizer. Aproximei-me alguns passos, para que ficasse mais próximo.
— É normal que isso aconteça. — Ela respondeu simplesmente, sem mudar de posição na cama. — Essa é a consequência de sentir demais, as vezes é incontrolável. — Ela conseguiu erguer um dos cantos dos lábios. — Pensei em ir embora, e ir atrás de Wanda, mas o sonho que tive hoje, aquela mulher... Eu preciso descobrir quem ela é, e porque é tão familiar.
Ao dizer a última frase, Kira fez um gesto com uma das mãos, e pude perceber que tremeu ainda mais. Ela pareceu notar também, já que fechou a mão em punho e respirou profundamente, trazendo-a de volta para perto de seu corpo.
— Posso ver? — perguntei, dando mais um passo na direção da cama. — O sonho. — Kira semicerrou os olhos em minha direção, desconfiada. — Como quer que eu te ajude se não confia em mim?
Kira me encarou por mais alguns segundos, decidindo se confiava ou não no Deus da Trapaça. Eu mesmo não confiaria, mas naquele momento, eu não tinha intenções de mexer mais com a cabeça da mulher, ou desestabiliza-la mais ainda, naquele momento, eu apenas queria ver aquele olhar distante e preocupado ir embora de seu rosto.
— Tá bom. — disse ela finalmente após um suspiro pesado. — O que eu faço? Penso no sonho e pronto?
— Sim. Feche os olhos.
Ela assim o fez após mais alguns segundos encarando os meus próprios olhos. Aproximei minha mão de seu rosto e toquei delicadamente sua bochecha. Eu não precisaria tocar em sua cabeça para conseguir ver através de sua mente, mas por algum motivo o fiz, e pude sentir na ponta dos meus dedos a maciez e suavidade de sua pele, como eu suspeitava.
Foi simples ver as imagens do sonho de Kira. O local inteiro branco, a luz verde esmeralda, a mulher dizendo que a conhecia, os poderes dela parecidos com o de Kira. Ela disse um nome: Bryndís. Por alguma razão aquele nome não era completamente estranho, porém não fazia a menor ideia de quem poderia ser, ou de onde poderia vir.
Ao terminar, afastei minha mão, e vi os olhos de Kira se abrirem novamente e voltarem sua atenção nos meus. A tremedeira em suas mãos e braços havia diminuído minimamente, mas ainda estava lá.
— Irei ajudá-la. — Eu disse após alguns segundos. — Mas não hoje. Descanse. — Kira soltou uma risada desanimada.
— Acho que não vou dormir hoje. É normal, acontece quando estou assim. — Ela dizia, dando de ombros como se não se importasse. Mas eu percebia, em seus olhos, que se importava, e aquilo a afetava demais. — Wanda as vezes conseguia me fazer dormir nesses momentos, mas como ela não está aqui, vou apenas esperar até o dia de amanhã.
— Eu já volto. — Eu disse, não dando nenhuma chance para que ela dissesse alguma coisa.
Caminhei rapidamente até a porta do quarto, e antes de sair, tomei a forma de Odin novamente, já havia se tornado um feitiço simples. Por um instante me lembrei de minha mãe, Frigga, e dos vários anos que ela passou ensinando-me a controlar minha magia e feitiços. Meu coração apertou-se ao lembrar de sua morte, mas logo precisei espantar o pensamento ao voltar ao foco do que eu realmente estava fazendo.
Em poucos segundos estava de volta à biblioteca, buscando alguns exemplares de diferentes estilos de livros. Quando fiquei satisfeito com a quantidade e com os títulos, tratei de voltar rapidamente até o quarto de Kira, agradecendo aos Deuses por não encontrar ninguém pelo caminho.
— Escolha um. — disse após voltar a me aproximar da cama da mulher. — Livros me ajudam quando preciso. — completei após observar seu semblante se transformar em uma careta confusa.
— Não sei se estou animada o suficiente para ler. — Ela respondeu. — Nem sequer desenhar me ajudou.
Encarei os livros em minhas mãos, pensativo, em seguida voltei a buscar seus olhos. Ela me encarava, como se esperasse uma resposta, ou como se ela soubesse que eu fosse dizer algo. Sorri em sua direção, verdadeiramente e sem nenhum motivo.
— Então apenas ouça.
Kira abriu um sorriso um tanto largo, e pude ver um leve brilho tomar seus olhos mais uma vez, deixando de lado por um momento todo o vazio de antes. Como resposta, ela apenas se moveu na cama me dando espaço para que eu sentasse ao seu lado, e assim o fiz.
Escolhi um livro qualquer de ficção, com uma história um tanto bobinha, mas leve, o suficiente para acalma-la. Enquanto lia, alto o bastante para que ela ouvisse, pude sentir o peso do olhar de Kira sobre mim a todo momento, até a sensação se esvair aos poucos. Quando a olhei para entender o porquê, vi que ela estava com os olhos fechados. Seu semblante estava pacífico e o tremor nas mãos e nos braços havia cessado por completo.
Mais um sorriso formou-se em meus lábios, involuntariamente, e ao perceber o gesto, desviei o olhar e fechei os olhos, lembrando-me de anos atrás, quando senti o mesmo que estava sentindo naquele momento por outro alguém. Respirei profundamente, erguendo-me com cuidado da cama em seguida, para que não acordasse Kira.
Tentei não olhá-la mais uma vez, mas antes que eu pudesse fechar a porta e ir embora, observei um suave sorriso se formar no canto dos seus lábios enquanto ela dormia. Engoli em seco, eu não podia cometer os mesmos erros mais uma vez.
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Autora: ooooi, marvetes, tudo bem?
Primeira Pov do nosso Deus da Trapaça preferido irraaaaa, e com um capítulo fofinho e até mais leve hein kkkkkk
O motivo desse capítulo foi para mostrar mais ou menos o que está acontecendo e o que aconteceu na Terra enquanto Kira estava em Asgard. Caso alguém não tenha entendido ou tenha ficado curioso, aconselho a assistir Capitão América: Guerra Civil, se quiserem!
Fooooi isso. gente, espero muitíssimo que tenham gostado e que estejam gostando!!
Não esqueçam da estrelinha e dos comentários. Leitores fantasmas, eu vejo vocês, não sejam tímidos, eu não mordo kkkkkk
Bjin procêis💚
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