5 - Eu não vou a lugar nenhum
Loki ouvia atentamente enquanto eu contava cada detalhe da minha experiência de passear pelo futuro de Asgard. Como de costume, eu caminhava de um lado para o outro enquanto falava, gesticulando com as mãos em movimentos animados e um tanto frenéticos. Wanda sempre ficava impaciente quando me ouvia contar alguma coisa porque eu nunca conseguia ficar quieta, e parecia que Loki estava sentindo o mesmo, já que lançava-me seu melhor olhar irritadiço.
— Pelos Deuses, fique parada. — disse ele, revirando os olhos.
Olhei para ele, entediada. Sempre detestei quando alguém me impedia de continuar uma história ou um acontecimento sendo que eu estava empolgada contando sobre. Sentia-me como uma criança sem seu brinquedo. Cruzei os braços e bufei, um tanto estressada.
— E pra completar, o gigantão disse que era a perdição de Asgard e que o Ragnarok havia chegado. — completei lentamente, com a voz não mais animada como estava antes.
Loki ficou em silêncio por alguns segundos, pensando, analisando e absorvendo cada palavra que acabara de ouvir. Ele parecia estranhamente calmo, apenas uma linha fina fazia-se presente em sua testa ao franzir as sobrancelhas suavemente. Observei mais uma vez a combinação atraente de cabelos negros e olhos de oceano, desejando vê-la mais de perto.
— Como veio até aqui sem a Bifrost? — Ele perguntou, voltando a encarar meus olhos.
Engoli em seco, pareceu que naquele mínimo momento minha garganta havia se fechado e minhas cordas vocais haviam sumido. Loki jamais confiaria em mim se soubesse que eu consigo me teletransportar para onde eu quisesse, mas também jamais confiaria em mim se eu mentisse. De um jeito ou de outro, eu estava bem ferrada.
Loki ergueu uma sobrancelha, impaciente, esperando qualquer resposta minha. Mordi o lábio inferior e respirei profundamente. Seria mais fácil mostrar a ele do que simplesmente contar, então, como de costume, ergui uma das mãos e movimentei meus dedos até fecha-los em punho. Em um instante, estava parada ao lado do Deus da Trapaça, com um sorriso amarelo nos lábios. Ele tentou não demonstrar reação, mas pude perceber uma faísca de surpresa e talvez admiração passar por seus olhos.
— Então quer dizer que não importa se eu prenda você em um quarto ou em uma cela, você consegue sair de qualquer jeito. — Ele afirmou, erguendo a cabeça e me olhando por cima.
Dei de ombros e sorri cínica em sua direção, observando enquanto ele suspirava profundamente. Tentei sentir sua energia, mas era muito confuso. Não sabia dizer se ele estaria apenas surpreso ou extremamente bravo com a informação, e o fato de ele conseguir esconder muito bem suas emoções frustrou-me relativamente.
— Já que tanto busca minha confiança, midgardiana, vai deixar que eu veja por mim mesmo tudo o que acabou de contar. — disse ele, dando um passo em minha direção.
Minha postura e expressões mudaram drasticamente em questão de milésimos, enquanto dava um passo para trás e assumia uma posição de defesa, ensinada por Natasha durante os treinamentos. Loki queria vasculhar em minha mente, e eu jamais deixaria. Não que ele não pudesse ver a imagem de Asgard sendo destruída, mas eu não confiava que ele pararia apenas ali, e eu possuía muitos outros pensamentos e muitas outras lembranças que apenas Wanda sabia. E eu gostaria que continuasse assim.
— O que tanto esconde? — Loki perguntou, aproximando-se mais. Eu continuava dando passos para trás.
Era raro alguém me deixar sem palavras, mas foi exatamente o que o Deus conseguira fazer. Eu sentia o peso de sua presença em minha mente, tentando a todo custo encontrar qualquer informação que fosse. Depois de muito tempo tendo Wanda em minha cabeça a todo momento, aprendi a construir algumas barreiras, mas Loki era muito forte e experiente, e quanto mais ele tentava, mais era difícil de me concentrar.
— Você é boa nisso, muito bem. — disse ele.
A esse ponto, eu não tinha mais para onde ir. Senti a parede gélida em contato com a pele das minhas costas e meus braços, já que naquele momento, usava apenas uma blusa regata. Fechei os olhos, tentando mais e mais me concentrar para que Loki não atingisse nenhuma memória sequer. Era tudo questão de foco, Wanda me ensinara... Droga, pensei em Wanda.
— Ah, quem é essa? — Ele perguntou. Seu corpo estava perigosamente perto do meu, pude sentir sua respiração quente e suave em meu rosto. — Wanda?
Ao ouvir o nome de minha irmã, abri os olhos novamente, porém os carreguei com toda a raiva que eu conseguia. Era muito difícil me tirarem do sério, e aí fora mais um feito para a lista de sucessos do Deus da Trapaça. Percebi que ele semicerrou os olhos, intrigado e atento, e só então reparei no brilho verde esmeralda presente em toda minha volta.
— Sai da minha cabeça. — Assustei-me com a frieza e mortalidade da minha voz, jamais havia ouvido ela assim, como eu disse: era difícil me tirar do sério.
Loki não respondeu, apenas ergueu um dos cantos dos lábios, com os olhos sempre fixos nos meus. Ele ainda estava tão próximo que quase pude sentir nossos corpos se tocarem. Quase. Ele pareceu entretido, porém senti sua energia, e vi que algo agitou-se em seu interior, assustado. Aos poucos o quarto foi recuperando suas cores normais, ao passo que eu me acalmava e, consequentemente, meus poderes também.
— Por que veria o futuro de Asgard? — Loki perguntou finalmente. Não sentia mais sua presença em minha mente, porém ele não havia se afastado.
— Não tenho a mínima ideia. — respondi. Senti meus músculos relaxarem. — E é por isso que estou aqui. Algo me atrai pra esse lugar, e eu gostaria muito de descobrir o que.
(...)
Loki deixou-me sozinha novamente após alguns minutos. E assim foi um dia inteiro procurando algo para fazer dentro daquele quarto enorme. Alternei entre alguns exercícios físicos, que Natasha havia passado durante o ano de treinamento no Complexo dos Vingadores, e após, tomei um longo banho e terminei o dia desenhando em meu caderno.
Comecei com o rosto de minha irmã. Sempre gostei de desenhar retratos de quem quer que fosse, então Wanda já estava acostumada a ver o próprio rosto estampado em algumas telas e em algumas folhas espalhadas tanto por nossa casa quando éramos pequenas, quanto no complexo, até mesmo na Base da Hydra, nas raríssimas vezes que eles me disponibilizavam um mísero lápis e um pedaço de papel.
Balancei a cabeça para afastar as lembranças da Hydra, como se estivesse espantando uma mosca, e ergui o rosto, encarando a janela em minha frente. Por mais clara e majestosa que a Cidade Dourada fosse, já estava de noite e céu encontrava-se escuro, porém repleto de estrelas das mais diversas cores, ostentando o brilho único de cada uma delas. Sorri involuntariamente. Aquele lugar me surpreenderia sempre.
Voltei a olhar o caderno em minhas mãos e observei o segundo retrato quase pronto que eu havia feito aquele dia. Franzi o cenho encarando o olhar perdido e agoniado de quem eu conheci como Soldado Invernal. Não sabia bem o que me levou a desenhar Bucky. Talvez fossem as lembranças da Hydra, ou então, aquele dia na garagem abandonada há um ano atrás ainda rondava minha cabeça. Culpava-me por deixá-lo lá e por mentir para Steve, mesmo sabendo que era o certo. Mas seria realmente o certo?
Steve passou o ano inteiro procurando pelo amigo, e mesmo que escondesse de todos, a cada vez que eu o sentia desanimado por voltar novamente sem respostas, meu estômago contorcia-se em culpa e minha cabeça doía levemente.
Suspirei profundamente enquanto fechava o caderno e o posicionava sob a cômoda ao lado da cama. Alcancei minha mochila no chão, não muito longe, e puxei uma escova e uma pasta de dentes, logo direcionando-me ao banheiro. Escovando os dentes em Asgard, que coisa mais terrestre, ou eu deveria dizer: midgardiana, pensei enquanto soltava uma risada fraca e fazia uma careta.
Quando terminei, deixei a escova e a pasta em cima da pia e voltei aonde estava na cama imensa que havia ali. Puxei o lençol e edredom para que eu pudesse deitar e me cobrir, e por mais que eu pudesse pensar que não estava com sono ou sequer cansada, logo a inconsciência me atingiu e uma lembrança tomou conta dos meus sonhos.
Fazia quase uma semana que tive o primeiro e único contato com o cetro de Loki, e o mesmo tempo que tive a primeira experiência com minhas novas habilidades. Estava separada de meus irmãos, e por mais que eu perguntasse e chamasse por eles, a resposta era sempre a mesma: "eles ainda não estão prontos".
O barulho da porta da cela sendo destrancada me fez olhar para a figura que aparecera ali. Era um homem mais velho, com alguns dos fios de cabelo nas laterais da cabeça já grisalhos. Nunca havia visto ele ali, então por intuição, tensionei meus músculos e fixei meu olhar no dele, como se eu tentasse descobrir alguma coisa.
Ele simplesmente sorriu enquanto adentrava a cela e se aproximava de mim, com as mãos nos bolsos das calças. Meus poderes ainda eram novos para mim, mas já havia aprendido um detalhe ou outro. Sua energia era como um oásis, com águas cristalinas e sombras refrescantes, mas ao mesmo tempo era como uma sala escura, fria e úmida. Encolhi os ombros observando-o sentar-se em um banco que existia ali. Permaneci em pé.
— Kira Django Maximoff. — disse ele. Ergui uma sobrancelha, mas não respondi. — Meu nome é Alexander Pierce, é um prazer finalmente conhecê-la.
Não respondi mais uma vez. O homem, Alexander, fez um gesto com uma das mãos para que eu sentasse ao seu lado, mas eu apenas cruzei os braços e fiquei no mesmo lugar em que estava, tentando esconder o quanto aquele homem me dava calafrios. — Ninguém era calmo daquele jeito. — Ele não insistiu, apenas sorriu fraco antes de continuar.
— Soube que foi a melhor cobaia nos testes com o cetro, correto? — A simples palavra "cobaia" fez eu engolir em seco.
— Não sei. Não me deixam ver meus irmãos e não me contam absolutamente nada. — disse, finalmente, mantendo a voz firme. — E temos nomes. — completei, erguendo a cabeça.
Pierce levantou-se, com outro sorriso fraco no rosto, estendendo o braço para um dos homens que estavam do lado de fora. Não havia percebido a presença deles ali até aquele momento. O homem o entregou uma pasta cor de marfim, e em seguida, Pierce a direcionou até a minha direção. Encarei a pasta por alguns segundos, confusa, antes de pega-la em mãos.
— Temos uma missão pra você, senhorita Maximoff. — disse ele, antes que eu pudesse ver qualquer coisa dentro do arquivo.
— Não me voluntariei pra missão nenhuma. — disse, olhando diretamente nos olhos de Pierce. — Por que precisam de mim?
— O homem que está nesse arquivo, veja... — Ele apontou com o indicador para as folhas da pasta aberta. — É extremamente perigoso, está se tornando um problema para nós. Você seria de uma valiosa ajuda para... acabarmos com esse problema.
Voltei a encara-lo, mas meu cenho estava franzido e meu maxilar tenso, juntamente com o resto dos músculos do meu corpo.
— Eu não vou matar ninguém. — disse. Minha voz falhou levemente e torci para que ninguém tivesse percebido. Pierce sorriu pela terceira vez no mesmo dia.
— Oh, não se preocupe. — disse ele, colocando as mãos nos bolsos das calças. — Soubemos que possui as habilidades de teletransporte, correto? — Assenti suavemente com a cabeça. — Só precisamos da sua ajuda pra captura-lo. — Ele fez uma pausa. — Outro soldado terminará o serviço.
Ele apontou com o indicador para a pasta de novo, e daquela vez observei com mais atenção as outras páginas. Em uma delas, estava uma foto minha, com meu nome e todas as minhas informações, e ao lado da minha foto, tinha a de um homem. Ele tinha os cabelos castanhos um tanto compridos, os olhos carregavam um tom azul esverdeado, porém não possuíam brilho algum, e o vazio dentro deles me assustou levemente. Além disso, nas informações sobre ele, estava escrito apenas "Soldado Invernal", e absolutamente nada mais.
— E meus irmãos? — perguntei. Nunca me separei de Wanda e Pietro antes.
— Só precisamos de você. — Ele respondeu. Engoli em seco, desejando por pelo menos um copo de água. — Sua irmã não estabilizou os poderes dela tão rápido quanto você, e seu irmão ainda não teve o primeiro contato com o cetro. — Pierce explicou, percebendo minha inquietação.
Hesitei por alguns instantes antes de seguir o homem para fora da cela. Era a primeira vez que eu sairia da base com as novas habilidades e ao mesmo tempo que isso me assustava, senti meu interior se agitar em animação.
(...)
Pierce se despedira de mim logo ao sairmos da Base da Hydra, enquanto alguns homens me direcionaram a um helicóptero que nos esperava um pouco mais afastado. O caminho foi um pouco longo, e como pude ver nas feições fechadas e sem graça de todos os presentes além de mim, ninguém estava afim de conversar. Minha opção era reler diversas vezes a pasta com os arquivos da tal "missão".
Não era complicado. Eles iriam me levar até o local que o tal homem ruim estaria, e eu apenas teria que teletransporta-lo para outro lugar onde o Soldado Invernal estaria. Simples, mas algo dentro de mim estava inquieto.
— Já estamos chegando? — perguntei para ninguém em especial.
Nenhum deles respondeu. Revirei os olhos e bufei, como uma criança. Não custa falar só um sim ou não, bando de mal educados, pensei enquanto cruzava os braços e olhava para a vista do lado de fora.
Provavelmente uma hora ou mais se passou até chegarmos ao local, porém, um dos homens recebeu a informação de que estávamos bastante adiantados, então ao descermos do helicóptero, os homens quietos e grandes como edifícios me direcionaram a um carro preto. Parece que estou sendo sequestrada, pensei enquanto entrava no carro após um deles abrir a porta.
Ao contrário do helicóptero, o caminho no veículo foi mais rápido, por volta de quinze minutos havíamos chegado. Ao descer do carro, observei um terreno bastante afastado, com uma construção grande e evidentemente abandonada. Algumas janelas estavam quebradas, enquanto outras já nem existiam. A pintura estava completamente gasta e envelhecida, e a porta de madeira da entrada estava entreaberta e inclinada, quase caindo por conta das dobradiças danificadas. É aqui que esses homens vão me matar, pensei caminhando até o casarão.
Ao entrar, vi outros três homens, armados até os dentes, com as mesmas feições fechadas e sem graça dos outros. No andar de cima, mais dois estavam posicionados lado a lado, e encarei enquanto mais um saía por uma porta. Os olhos do último foram as primeiras coisas que me chamaram a atenção: vazios e completamente sem brilho, deixando um calafrio por todo meu corpo. Após, observei o resto de sua silhueta.
Estava inteiro trajado com roupas pretas, os cabelos compridos caíam diante dos olhos, quase escondendo-os, mas o mais diferente era o braço esquerdo. Completamente a mostra e nada humano. Inteiro de metal prateado e brilhante, com o desenho de uma estrela vermelha ilustrada no deltoide. Tinha a expressão igualmente vazia, mas algo a mais estava escondido em seu interior.
O Soldado encarou meus olhos fixamente e com um movimento de cabeça, pediu para que eu o seguisse de volta ao local onde ele estava antes. Subi a escada de madeira apodrecida, e a cada rangido, pensei que a construção desabaria. Finalmente cheguei ao andar de cima e caminhei em direção a porta onde o Soldado me esperava.
Passei pela porta atrás dele, e pude ver um quarto, um tanto grande, e talvez fora luxuoso algum dia, mas naquele momento, parecia apenas perdido no tempo. O papel de parede descascando por todos os lados, e o simples colchão velho de casal no chão davam um ar macabro ao local.
— Então, ficaremos aqui, por... duas horas? — perguntei, apenas para puxar papo, torcendo para que o homem em minha frente não fosse calado como os outros.
— Leu os arquivos? — Ele perguntou. Era ainda pior, pensei enquanto assentia com a cabeça. — Ótimo, vai trazê-lo a este quarto quando chegar o momento.
Não respondi novamente, apenas observei o homem mais atentamente. Sua voz era grave e contida, e parecia que se caso falasse um pouco mais alto, iria simplesmente desmoronar. Tentei sentir sua energia e franzi o cenho ao não ver absolutamente nada. Não tinha nada ali, vazio, como se não houvesse ninguém, com nenhuma lembrança, nenhuma vida, apenas uma casca oca ambulante.
— Qual seu nome? — perguntei, quase involuntariamente.
O Soldado fixou seus olhos nos meus, em completo silêncio. Mais uma vez, vazio. Ele continuou sem dizer nada, porém não desviou o olhar do meu em nenhum momento. Observei sua figura de cima a baixo mais uma vez, e além de toda a firmeza autoritária e personalidade misteriosa, pude ver o quanto era bonito e atraente. Sorri suavemente com um dos cantos dos lábios ao voltar meu olhar ao seu.
— Temos duas horas ainda. — disse, dando leves passos em sua direção. — Por que não fazemos algo mais divertido?
(...)
Finalmente as duas horas haviam passado. Apesar de todas as minhas irresistíveis investidas ao Soldado, ele apenas me respondia com um grunhido ou passando os olhos por todo meu corpo. Um dia eu ainda conseguiria a atenção do nervosinho, ele quer tanto quanto eu, pensei após a última tentativa frustrada.
— Já está na hora. — disse ele, com a mesma voz grave e contida. Revirei os olhos me afastando, pronta para dar continuidade na missão.
— Precisa relaxar um pouco, nervosinho. — disse piscando um dos olhos em sua direção.
— Esquisita. — Ele respondeu, soltando uma mísera e quase imperceptível risada nasalada. Porém eu percebi, e não iria me esquecer.
Não demorou para eu voltar com o tal homem até o quarto onde o Soldado estava. Percebi que ele havia colocado uma máscara e um óculos no rosto, impossibilitando o reconhecimento de seus traços. Tudo aconteceu muito rápido, ele puxou um revólver do cinto e simplesmente atirou no meio da testa do outro homem que eu havia trazido.
Eu já tinha uma noção de que aquilo iria acontecer, mas não pensei que eu iria estar presente. Pensei que eu poderia ir embora depois de fazer a minha parte, sem precisar presenciar e testemunhar o resto. Pude sentir a energia do homem ao chão enfraquecer até sua inexistência ser alcançada. Fora a primeira sensação de morte que eu havia sentido em toda minha vida. Arfei, buscando uma grande quantidade de ar para os meus pulmões, bastante atordoada.
Encarei os arredores do quarto, com a respiração pesada, e apenas um detalhe fez minha mente desfocar completamente daquela lembrança e concentrar apenas na silhueta de um novo alguém ali. Alguém que não estava presente quando realmente aconteceu. Alguém que carregava um intenso e incisivo par de olhos de oceano.
Sentei na cama em um sobressalto, puxando uma grande quantidade de ar, tentando estabilizar as batidas do meu coração. Porém, elas apenas se intensificaram, porque além da memória desagradável, raiva e irritação extrema subiram por todo meu corpo. Loki andou vasculhando por minha mente de novo, e pior, durante meu sonho, minha inconsciência. Se ele aparecesse em minha frente naquele momento, eu provavelmente o esganaria.
Levantei finalmente, e em passos largos e pesados caminhei até a grande porta do quarto. Tentei abri-la, mas estava trancada. Mais irritação subiu por minha espinha. Esmurrei o material maciço e senti uma onda um tanto forte de dor percorrer pelo meu punho, mas não dei a mínima importância.
— Ei, vocês abestalhados aí fora. — gritei alto o bastante para que os guardas pudessem ouvir. — Chamem seu Deus, ou Rei, o que diabos seja a sua majestade. Gostaria bater um papinho com ele.
Não obtive resposta. Mais uma vez, o Deus da Trapaça conseguira o impossível: me tirar do sério, e pior, me deixar com raiva. Senti vontade de gritar, mas não o fiz, apenas caminhei de um lado ao outro no quarto, tentando controlar minha respiração. Uma tentativa bastante fracassada, eu poderia dizer, já que percebi o quarto tomar novamente uma coloração verde esmeralda.
Encarei minhas mãos e vi o brilho esverdeado tomando conta delas. Tentei controlar fechando os olhos e inspirando o ar de forma profunda, e finalmente, depois de longos e intermináveis minutos, consegui abrir os olhos mais uma vez, podendo ver a coloração esverdeada se esvaindo gradativamente, ao mesmo tempo que a porta se abria e a figura de Odin adentrava o quarto.
Esperei até as portas se fecharem e Loki fazer seu truque, e quando finalmente o fez, foi fácil não me distrair com seus olhos e sua imagem completamente atraente, já que a raiva ainda rondava todos os meus sentidos e emoções naquele momento. Aproximei-me em passos largos até ele, erguendo uma das mãos, que logo carregava o brilho verde esmeralda que eu havia conseguido controlar instantes antes.
Loki, conjurou a adaga e apontou ao meu pescoço quando cheguei perto o suficiente. Daquela vez, nossos corpos se tocavam e parecia não ter um mísero espaço entre nós. Por mais que a postura de Loki estivesse firme, sua feição estava tranquila, e ele carregava um sorriso suave, um pouco macabro.
— Uma baita lembrança, devo dizer. — Ele começou. — Fiquei curioso sobre o tal Soldado, qual o nome dele?
— Já falei pra sair da minha cabeça. — respondi entredentes.
— Ah, querida... — disse ele, aumentando o sorriso. — Verá que é muito fácil me odiar. Acho melhor simplesmente ir embora.
Seu rosto estava próximo do meu, quase senti sua pele na minha. Eu estava pronta para responder, mas a última frase de Loki fez minha raiva sumir quase completamente, como se nunca tivesse existido. Semicerrei os olhos em sua direção e abri um sorriso, finalmente entendendo o que ele estava tentando fazer.
— Então, eu te digo, querido... — comecei, abaixando a mão e desativando meus poderes. — Você verá que é muito fácil me amar.
Inclinei meu corpo para cima. Senti a pressão da adaga aumentar levemente no meu pescoço, mas não me importei. Apenas parei quando alcancei o lóbulo da orelha do Deus. Inspirei e expirei algumas vezes, de propósito, antes de dizer qualquer coisa, e pude sentir uma agitação intensa em seu interior.
— Eu não vou a lugar nenhum.
—————————
Autora: oi, marvetessss, tudo bão cocêis???
Bom, gente, vimos um pouquinho mais do passado da Kira, e já vimos também algumas explicações para aquele capítulo lá do Bucky no começo, falei que nenhuma informação é colocada em vão!
E essa tensão Kira X Loki nesse cap hein???
Espero demais que estejam gostando, essa dupla ainda vai aprontar muito!
Não esqueçam a estrelinha, e comentem bastante, prometo que não mordo kkkkkk
Bjin procêis💚
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