27 - Apenas sinta
Fui acordada no dia seguinte por um barulho um tanto estrondoso de passos. Demorei alguns segundos para acostumar minha visão, até conseguir enxergar um grupo de no máximo cinco ou seis pessoas entrando no meu quarto. Todos vestiam roupas espalhafatosas, coloridas e brilhantes, além de maquiagens extravagantes e penteados extremos. Alguns deles carregavam algumas caixas, outros algumas roupas.
Merda, vão me deixar mais palhaça ainda, pensei enquanto levantava-me da cama de forma rápida, mantendo uma postura rígida, pronta caso um deles tentasse atacar. — Infelizmente esse era meu pensamento com quem quer que fosse.
Um deles disse que estava lá a mando de Grão-Mestre para mudar, mais uma vez, meu visual, como suspeitei. Revirei os olhos, sem ter muito para onde ir. Pelo menos não vão me levar para mais uma sessão de tortura psicológica, pensei enquanto suspirava profundamente.
Sentei em um banquinho que um deles havia trazido, e esperei, com muita dor no coração, enquanto eles cortavam meu cabelo, de forma totalmente desajeitada. Ou então fazia parte do estilo deles, e se ficasse um por cento do que eles pareciam, eu já me considerava uma figura esteticamente ridícula, mas não adiantaria contestar. Percebi que eles prenderam meu cabelo em duas maria chiquinhas bem ao alto da cabeça, e fiz uma careta tentando me imaginar com elas.
Ao terminar com meu cabelo, eles não mexeram muito com minha maquiagem. O batom vermelho continuava ali, além do coração desenhado na bochecha, que eu sequer entendia para que porra serviria. Os acessórios eram um colar um tanto pesado, e alguns brincos. Em seguida, um deles me estendeu algumas roupas, e por incrível que pudesse parecer, eram um tanto midgardianas. Uma top rosa quase neon, um short quase jeans com alguns desenhos e detalhes em vermelho e preto, um suspensório vermelho e um casaco transparente cujas mangas eram feitas de milhares de fitas das mais diversas cores e tamanhos. Com certeza me deixava mais larga, e era absolutamente quente, mas não poderia falar nada.
Finalmente, quando acabaram, eles saíram pela porta, dizendo que alguém viria me buscar para a luta de hoje, que seria importante. Pude finalmente me olhar no espelho, e a careta confusa e descontente que eu fiz foi extremamente explícita.
Meu cabelo estava torto, e se eu já me estranhava com o vestido vermelho, no momento estava pior ainda. Muitas cores, muitas informações, eles queriam que eu lutasse de que jeito com aquela roupa toda? De qualquer forma, eu não havia ficado de todo feia, afinal, era bastante impossível e eu ainda tinha autoestima o suficiente para pensar assim.
Não tive mais tempo para pensar, já que a porta, que mantinha-se trancada na maior parte do tempo, foi aberta, e um dos mesmos guardas que sempre me guiavam para a arena estava lá, apenas esperando para que eu o seguisse. E se eu o nocauteasse e saísse correndo? Esse pensamento já havia cruzado minha mente diversas vezes, porém as consequências caso eu fosse pega seriam muito piores que minhas condições atuais.
Peguei minha já confortável lança e segui o caminho, já conhecido por mim, até a arena. Pude ouvir a voz de Grão-Mestre do outro lado, que sempre me causava arrepios de ódio e raiva.
— Senhoras e senhores, com vocês... — Pelo menos cheguei no final do seu discurso. — Senhor do Trovão. — Franzi o cenho com o nome, sentindo uma espécie de nostalgia. — Cuidado com os dedos dele. Eles soltam faíscas. — Revirei os olhos quando Grão-Mestre assumiu sua voz sarcástica.
As vaias do público podiam ser ouvidas a quilômetros, assim como foi quando entrei naquela arena pela primeira vez. Comecei a sentir pena de quem quer que eu fosse encontrar atrás da porta, apenas por ser mais um escravo nas mãos de Grão-Mestre, e por precisar morrer por minhas próprias mãos.
— E agora... vocês não estão preparados pra ela. — Agora sim era minha vez, já conhecia esse discurso de cabo a rabo. — Minha belíssima e queridíssima campeã... — Revirei os olhos mais uma vez. Falso. — A única, e estrondosa... — Ai viria meu nome. Na verdade seria o codinome ridículo que ele inventou para mim. — LANÇA DE SANGUE.
Arfei enquanto observava a enorme e maciça porta, já podendo escutar os berros e vibrações de toda a plateia, como sempre acontecia quando eu entrava em cena. Fiz um movimento com a lança, para que ficasse mais firme em minha mão, e pronta para atacar, porém toda a minha postura rígida simplesmente se foi ao ver quem realmente estava ali. O tal Senhor do Trovão, na verdade era Thor.
Não contive um sorriso largo, e me senti parcialmente estranha com o gesto, já nem me lembrava mais de quanto tempo eu não sorria ou sentia algo como esperança e alívio. Thor também sorriu em minha direção, e parecia realmente feliz em me ver.
— BRUXINHA. — Ele gritou, caminhando rapidamente em minha direção. — Que roupa é essa? Por que está aqui?
Fiz a mesma ação que ele, sem responder nenhuma de suas perguntas, encontrando-o em segundos. Tentei ao máximo me controlar, porém todas as emoções que eu senti por todas essas semanas vieram à tona, juntamente com o sentimento de alívio e a sensação de descompressão em meu peito, então simplesmente me joguei na direção de Thor, procurando um abraço. Tudo o que eu mais precisava naquele momento, e apenas melhorou quando ele retribuiu.
Thor sempre fora um bom amigo, e naquele momento estava sendo mais do que isso, e eu não possuía nem palavras para agradecer. Senti algumas lágrimas queimarem em meus olhos, mas seria demais, naquele momento não as soltaria.
— Tão bom te ver, Barbie. — disse, ainda com um sorriso em meu rosto, sentindo pouco a pouco, minha essência querendo voltar.
— EI, EU CONHEÇO ELA, É MINHA AMIGA. — Thor gritou em direção a cabine onde Grão-Mestre ficava, e ao olhar para lá também, percebi que Loki também estava, algo que era inédito.
Sua expressão era de total surpresa, e seus olhos completamente fixos em mim denunciavam que ele jamais soubera que um dos queridos campeões de Grão-Mestre era eu. Sustentei seu olhar dessa vez, e todo o meu coração apenas desejou abraçá-lo de novo, e tê-lo em meus braços para sempre, porém minha mente continuava me lembrando de toda a dor e sofrimento que passei, mesmo talvez não sendo inteiramente culpa dele.
Grão-Mestre, por sua vez, possuía uma careta carrancuda no semblante, a mesma de quando Hulk me tornou uma campeã junto dele, e antes que pudesse fazer qualquer coisa, finquei minha lança no chão, com meus olhos fixos na figura espalhafatosa do líder, lançando-lhe todo meu ódio e angústia.
— Com ele eu não luto. — proferi, confiante, erguendo a cabeça e arrumando minha postura. — Vá em frente, me dê um choque, se quiser, mas com ele eu não luto. — Grão-Mestre estreitou os olhos em minha direção, mas então forçou um sorriso quando o público começou a vaiar.
— Tudo bem, tudo bem, meus queridos. — Ele tentou com uma voz amena. — Ainda temos nosso outro campeão, certo? Nosso favorito.
Com as palavras de Grão-Mestre a plateia voltou a vibrar e celebrar, e por um momento fiquei tranquila, já que Thor também conhecia Hulk, mas logo temi que o verdão não fosse querer desobedecer o líder de Sakaar duas vezes. Até tentei alertar Thor sobre quem ele enfrentaria, porém os guardas foram mais rápidos ao me agarrarem e me arrastarem para fora da arena.
Tentei convencê-los a me deixar ver a luta, porém não era muito fácil fazê-los desobedecer seu líder, então em minutos estava de volta ao meu quarto. Aquele maldito quarto naquele maldito planeta. Eu não aguentava mais, estava muito além de sobrecarregada, e sair dali já havia virado uma necessidade.
Caminhei em círculos várias vezes, tentei socar e chutar a porta também com inúmeras tentativas, até mesmo usei as armas que eu possuía ali, mas nada parecia fazê-la ceder, nem minimamente. A luta entre Thor e Hulk provavelmente estaria acontecendo há muitos minutos, e me peguei imaginando sobre o que estaria rolando.
Com tudo isso, minha ansiedade aumentava gradativamente, deixando-me sem ar ao ponto de eu precisar me apoiar em uma das paredes e depositar uma das mãos no peito, sentindo minha visão começar a ficar turva por conta das grandes quantidades de ar que eu tentava puxar para os pulmões, que nunca pareciam ser suficientes.
Fechei os olhos, e forcei minha mente e a mim mesma a se concentrarem em qualquer coisa que não fosse aquele lugar. Tentei pensar em meus irmãos, porém as inúmeras sessões de tortura com Grão-Mestre não me deixavam mais ficar calma ao pensar neles, mais uma coisa que me deixava com mais raiva ainda. Minha ansiedade piorou.
Tentei novamente, e dessa vez, por alguma razão, pensei em Bryndís. Disse o nome da mulher em minha mente inúmeras vezes, como se eu pudesse chamá-la e como se ela realmente pudesse ouvir. Demorou alguns segundos, mas finalmente pude sentir meu corpo menos pesado, e menos tenso, conforme tudo ao meu redor se acalmava e tomava uma coloração esbranquiçada, como na primeira vez que sonhei com Bryndís. E por falar na Deusa, lá estava ela.
Bryndís estava parada em minha frente, ou então sua forma se fez presente em minha mente... De qualquer jeito, pude vê-la e, finalmente, depois de tanto tempo, senti-la, como se meus poderes jamais houvessem desaparecido. Arfei uma vez ao conseguir sentir algo que não fosse minha própria dor e angústia, e não saberia explicar o quanto eu ficara aliviada.
— Bryndís... — Pronunciei o nome dela como um pedido de socorro, sentindo algumas lágrimas arderem em meus olhos e garganta.
Ela olhou intensamente em meus olhos, e sorriu. Um sorriso simples mas repleto de carinho e graça, o que me deixou extremamente mais aliviada e mais tranquila, além de sua energia vívida e entorpecente.
— Não sei o que aconteceu com nossos poderes. — comecei, sentindo que ela se aproximava. — Não consigo senti-los... Me desculpe. — O sorriso em seu rosto não diminuiu, na verdade até aumentou um pouco.
— Kira, você não é apenas os poderes. — disse ela, e sua voz, desde a primeira vez que ouvi, era tranquilizante. — E aliás, eles ainda estão aí. Você jamais os perdeu. — Franzi as sobrancelhas com sua frase.
— Mas como...
— Sakaar desestabilizou você em inúmeras maneiras e inúmeras vezes. — Ela voltou a dizer e ergueu uma das mãos, já bastante próxima. Pude sentir seu toque leve em meu rosto. — Você não perdeu seus poderes, eles apenas... Se esconderam. — Ela riu sozinha com a escolha de palavras. — Precisa apenas de um empurrão. — Ela respirou profundamente, sem desviar os olhos dos meus em momento algum. — Apenas sinta.
Fiz o mesmo que ela e, ainda em minha mente, inspirei o ar de forma profunda e fechei os olhos, voltando a enxergar apenas a escuridão das minhas pálpebras. Conversar com Bryndís acalmou-me ao ponto de sentir meu coração leve e quase inteiro mais uma vez. Com todo esse sentimento voltando, foquei minha atenção ao que mais importava: Energia.
E enfim, finalmente, pelos Deuses, consegui sentir algo além de mim mais uma vez. Não era Bryndís mas eu saberia exatamente do que se tratava... Na verdade de quem: Era Thor, porém sua energia era mais forte, mais intensa, mais poderosa do que costumava ser. Ele estava alcançando seu poder total, e eu sentia cada faísca, cada raio, cada pulsação. Senti-me viva mais uma vez, e melhor, carregada.
Não sabia o que estaria acontecendo na arena, mas com aquela energia, naquele nível, Thor poderia muito bem estar ganhando. Jamais senti tamanho poder vindo de alguém que não fosse minha irmã ou Bryndís. E depois de tudo isso, pude finalmente abrir os olhos, e ao encarar meus arredores, senti-me acolhida e confortável envolta de todo o brilho verde esmeralda costumeiro dos meus poderes vindo de minhas mãos.
— Bom te ver de novo. — comentei a ninguém em particular, encarando o brilho sumir das minhas mãos conforme eu deixava de aciona-lo.
Encarei os arredores, pensando em qual seria o primeiro passo para que eu pudesse sair dali. Primeiramente, tirei aquele casaco bufante e quente e coloquei uma simples camisa branca com alguns escritos em preto por cima, muito mais confortável. Não tinha tempo para tirar a maquiagem ou pensar onde estariam minhas roupas normais, então logo estava de frente para a porta.
Antes que eu pudesse esquecer, toquei aquela dispositivo desgraçado que estava grudado em meu pescoço, e com um manear de dedos, consegui lançar um raio de energia na direção dele, conseguindo destruí-lo e finalmente me livrando dos choques eternos.
Em seguida, movimentei novamente uma das mãos, em um movimento de costume para quando eu tinha o intuito de me teletransportar, porém dessa vez, ao sentir a energia, nada aconteceu. Eu continuava dentro do meu quarto. Ok, acho que não voltaram completamente, pensei enquanto bufava irritada, antes de ter uma nova ideia.
A porta provavelmente era movida por algum tipo de energia, e acionando meus poderes novamente, pude confirmar minha teoria ao sentir uma espécie de eletricidade por todas as partes do ferro frio e pesado que constituía a porta. Não foi difícil desativa-las, apenas foi preciso puxar toda a energia para mim, e como não era um ser vivo, não sofria as consequências de enfraquecer ao retirar a energia por completo.
Logo estava do lado de fora, e como suspeitei, havia dois guardas ao lado da porta, cujas expressões de choque e surpresa foram extremamente explícitas. Já impaciente, lancei duas rajadas de energia em suas direções, suficientemente potentes para derruba-los e nocautea-los.
Foi então que finalmente iniciei minha fuga. Em minha mente montei um cronograma: Precisava encontrar Thor, e também Loki. Mesmo sofrendo, eu sabia que ele jamais havia feito aquilo com o intuito de me machucar, e eu tinha certeza, acreditava nele. Além dos dois também precisava achar Hulk, e convencê-lo a voltar conosco para a Terra. Minha intuição gritava dizendo que não seria tão fácil.
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Autora: roooiii gente, tudo bom?? Finalmente nossa Kira reencontrou os poderes heinnn, eu já tava tensa e vcs?? kkkkkk
Gente, quando ela descreve os poderes do Thor, é no mesmo momento que ele fica todo cheio dos raios no filme, na cena de luta com o Hulk, ok? Por isso ela sentiu, era quase o poder total de um Deus 😉
E as referências da Harley Quinn hein gente? Tão gostando?? Penso em um crossover da DC e da Marvel... quem sabe eu não tiro da imaginação né!
Foi isso gente, comentem bastante o que estão achando, amo ver a reação de vcs, e não esqueçam da estrelinha!
Bjin procêis💚
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