23 - Eu peço desculpas
A tal rua Bleecker, 177A não era tão longe, então eu e Thor não demoramos nem dez minutos para chegar. Era um prédio grande e espaçoso e com certeza nunca havia entrado ali, apenas havia visto de longe. Ao me aproximar senti um arrepio percorrer meu corpo, além de uma energia nova. Não era preocupante apenas nunca havia sentido na vida.
— Você vai bater? — Thor perguntou, apontando para a porta. Olhei para ele um tanto receosa.
— É o seu irmão, você bate. — respondi, dando de ombros e um passo para trás.
Thor ergueu a mão para bater, mas antes que seus dedos pudessem encostar na madeira, havíamos entrado por alguma força maior, como se tivéssemos sido teletransportados para dentro. Ele olhou confuso em minha direção, provavelmente pensando que havia sido um feito meu. Ergui as mãos em rendição e neguei com a cabeça.
— Thor Odinson e Kira Maximoff. — Uma voz nos chamou, e finalmente pude ver a silhueta de um homem se aproximar.
Ele usava uma capa e voava graciosamente. Havia algo dourado, que eu não saberia dizer o que era, pendurado em seu pescoço, seus olhos eram azuis e um tanto frios, mas não parecia ser uma ameaça. Thor ergueu o martelo/guarda-chuva mesmo assim, enquanto eu apenas o observava atentamente.
— Pode largar o guarda-chuva.
Thor estava prestes a apoiar o guarda-chuva em algum lugar, e assim que o soltou eu simplesmente o perdi de vista. Ele havia sido teletransportado novamente para outro lugar, assim como eu, que agora estava em frente a uma escadaria enorme em um lugar enorme e cheio de artefatos que julguei serem bastante antigos.
— Oi? Thor? — chamei. — Moço flutuante? — Tentei mais uma vez e nada, até que mais uma silhueta se aproximou de mim de forma lenta, atento aos meus movimentos.
— Srta. Maximoff, bem vinda ao Sanctum Sanctorum. Meu nome é Wong. — disse ele, e percebi ser asiático, trajando uma túnica de cor vinho. — Strange está conversando em particular com o Sr. Deus do Trovão por um momento. Já estarão de volta. — Ele completou. Não esboçou sorriso, mas tanto sua voz quanto sua energia eram calmas e leves naquele momento.
— Tudo bem.
E lá permaneci, encarando os arredores, um tanto em êxtase pela energia que exalava daquele lugar. Com certeza havia magia ali, e nem precisei de muito para tirar a conclusão, já que há minutos havia um homem, Strange talvez, voando em minha frente.
Estava começando a ficar impaciente quando finalmente a figura do homem voador apareceu — do nada — nas escadas, com Thor vindo logo atrás... Ou caindo. Não segurei a risada enquanto via ele rolar escada abaixo, ainda se acostumando com todo o lance de teletransporte. Só após alguns segundos percebi que o tal Strange acabara de abrir um daqueles círculos brilhantes e alaranjados que antes sugaram Loki para não sei onde. Percebi ser um portal, já que exibia a imagem de uma clareira aberta e clara.
— Perdoe-me, srta. Maximoff, meu nome é Dr. Stephen Strange, e precisei conversar com o sr. Thor aqui sobre seu irmão ser uma ameaça ao planeta. — O homem começara a dizer. Quis revirar os olhos ao ouvir sobre Loki ser uma "ameaça", mas me contive. — Bom, ele está a sua espera. — Strange concluiu voltando a encarar Thor.
— Muito bom...
— Ah, e não se esqueça do guarda-chuva. — Strange concluiu.
Thor ergueu um dos braços e apenas esperou que o martelo/guarda-chuva fosse parar automaticamente em sua mão, porém, ele com certeza atingira inúmeros objetos durante o trajeto, e era bastante possível de ser ouvido. Strange franziu as sobrancelhas.
— As vezes demora um pouco. — disse fazendo uma careta.
— Desculpe... — Thor completou, ainda ouvindo os objetos serem quebrados, até que o guarda-chuva pousou perfeitamente em sua mão. — Acho que vou precisar do meu irmão.
— Ah sim, claro.
Strange movimentou os braços em movimentos circulares, e pude ver mais um portal alaranjado se abrir do teto do tal Sanctum. Dele, Loki saiu, e caiu de cara no chão. A sorte é que ele era um Deus super resistente, senão pelo menos o nariz tinha quebrado.
— EU ESTOU CAINDO, HÁ TRINTA MINUTOS. — Loki gritou após levantar a cabeça em um movimento bruto. Aproximei-me dele para tentar ajudar, mas estava enfurecido.
— Você pode lidar com ele a partir de agora. — Strange disse a Thor, ainda encarando Loki ao chão.
— Pode deixar. — Thor apertou a mão de Strange. — Muito obrigado por ajudar. Vamos, bruxinha. — Thor chamou, pronto para atravessar o portal.
— Bruxa? — Strange perguntou, mas não foi possível responder.
— Lidar comigo? Quem é você? — Loki interviu, irritado e nervoso enquanto levava os braços aos dois lados do corpo e conjurava suas adagas. Fazia tempo que eu não as via, pensei enquanto mantive meu corpo alerta.
— Loki, não precisa disso... — Tentei dizer, mas ele ainda estava irritado com Strange, por motivos óbvios.
— Você acha que é algum tipo de mago, não? — Ele continuou, com o corpo pronto para atacar o outro em sua frente. Revirei os olhos e lancei um olhar a Strange como se pedisse desculpas. — Não pense nem por um minuto...
— Ok, tchauzinho. — Strange cortou a fala de Loki ao mover o portal aberto em nossa direção, fazendo com que o atravessássemos sem precisarmos dar um passo.
Na verdade eu e Thor não demos um passo. Loki, ao tentar atacar o mago, acabou indo ao chão quando passou pelo portal. Thor não controlou uma risada alta, e eu tentei controlar mas não consegui esconder um sorriso achando graça.
Mas então toda nossa atenção foi ao lugar em que estávamos. Era um morro, em frente ao mar enorme e gélido. O vento era frio, e o céu estava um pouco nublado, mas o lugar era lindo. Aberto, vivo, cheio de verde e de energia. Mais à frente, vimos Odin apreciando a vista, calmo e em silêncio. Meu sangue ferveu levemente, tanto por conta de Loki quanto por conta da história de Bryndís, mas decidi não expor.
Thor e Loki caminharam até o pai, enquanto eu permanecia mais para trás, podendo lhes dar privacidade o suficiente. Eles conversaram por alguns instantes, até que Odin os convidou para sentarem-se em uma pedra grande que existia ali. E foi então que a conversa se fez presente em meus ouvidos.
— E iminente... O Ragnarok. — disse o mais velho. Franzi as sobrancelhas, permanecendo atenta.
— Eu impedi o Ragnarok. — Thor começou a falar. — Eu destruí Surtur.
— Não. — Odin disse logo em seguida. — Já começou, ela está vindo.
Fiquei mais confusa do que já estava com suas palavras, até me lembrar da visão que tive. A ponde de arco-íris, Loki, Thor... e uma mulher, em nossa frente, provavelmente seria ela a quem Odin se referia. Fiquei mais atenta.
— A Deusa da Morte. — Odin continuou após Thor perguntar sobre quem ele falava. — Hela. Minha primogênita. Sua irmã. — Ele jogou as informações no colo de ambos com imensa naturalidade.
— O que? — Thor perguntou novamente. Loki ainda não abrira a boca.
— Sua sede de violência fugiu do meu controle. — Odin respondeu. — Não consegui detê-la, então... eu a aprisionei. Deixei-a trancada em Hel. Ela drena suas forças de Asgard, e quando ela chegar lá seus poderes se tornarão ilimitados.
Minha vontade de revirar os olhos foi enorme. Odin realmente apenas sabia banir ou prender seus filhos, era impressionante. Talvez meu desgosto e infelicidade foi percebida por ele, já que sua atenção pareceu direcionar-se a mim quando disse:
— Bryndís... — Sua fala fez com que eu arregalasse os olhos. — Pode vir aqui? Para que eu possa lhe ver.
Loki me encarou, assim como Thor. Tensionei meus músculos, atenta a qualquer coisa e pronta para me defender. Se Odin se lembrava de Bryndís, então lembrava-se também do que foi feito a ela... e de quem o fez. Mesmo assim, caminhei até estar de frente para ele. Ajoelhei-me para que ficasse na altura de todos.
— Fico feliz que tenha achado um novo corpo. — disse Odin, quase querendo sorrir. — Peço desculpas, por tudo. — Ele fez uma pausa. — Bryndís...
— Me chame de Kira, por favor. — pedi, sem me importar de interromper sua fala.
— Kira... — Ele assim o fez, sem se importar com a interrupção. — Você salvou meu filho, e vai salvar mais uma vez. — Ele fez uma pausa. Franzi as sobrancelhas e encarei rapidamente Loki em um movimento involuntário. Ele fez o mesmo. — Obrigado por ser para ele o que eu nunca fui. — Odin ergueu a mão, pedindo para segurar a minha. Hesitei, mas o fiz. — Você ainda fará grandes feitos, acredite. — E soltou minha mão. — E você, meu filho... — Virou-se para Loki. — Eu peço desculpas.
Loki piscou algumas vezes e suspirou, surpreso, chocado. Senti sua energia se revirar, e ainda não saberia dizer se para um lado bom. Senti vontade de sorrir e chorar. Chorar porque finalmente Loki estava conseguindo o que mais precisava, estava recebendo o amor que nunca recebera e que sempre mereceu. Olhei para Thor, que olhava atento a cena. Seu rosto era indecifrável, mas sua energia era tranquila.
— Desculpe por não ter sido o pai que você merecia. — Odin completou. Loki engoliu em seco, mas sua energia finalmente começava a pender para o lado positivo. — E perdão, meu filho, por não ter sido melhor do que eu poderia. — Ele virou-se para Thor com essa fala. — Eu amo vocês, meus filhos. — Ele apontou para um lugar mais afastado, próximo do mar. — Olhem aquilo. Lembrem-se deste lugar... Lar.
E em segundos, o que era o corpo de Odin começou a brilhar em um tom amarelo brilhante e bonito conforme ia se desfazendo e se transformando apenas naquilo. O brilho voou pelo céu até desaparecer por completo, a esse ponto já estávamos os três em pé, encarando. Pude sentir a energia de Thor agitar-se enquanto isso, e foi o que me fez olhá-lo.
— Thor... — chamei, mas ele encarava fixamente o irmão. Sua respiração estava pesada e ofegante, e sua energia uma anarquia pura.
— Isso foi sua culpa.
Não deu tempo para que ele continuasse ou sequer que Loki respondesse, já que um brilho verde se formou no ar, intensificando-se gradativamente. Com um movimento do martelo, Thor trocou as roupas terrestres que usava pelas suas asgardianas, enquanto um raio tomava conta do céu e da terra por alguns segundos. Loki fez o mesmo, mas usou sua magia para mudar as roupas. Eu continuei como estava porque, um: eu não sabia trocar de roupa daquele jeito e dois: já estava plenamente confortável.
O brilho verde aumentou de tamanho até que um portal fosse formado. De dentro dele, uma mulher de cabelos negros e roupas pretas com detalhes em verde saía. E foi então que a reconheci. A mulher da visão, com quem provavelmente estávamos lutando, era ela. Eu tinha certeza.
Ela nos encarou intrépida, com um olhar gélido e incisivo. Um arrepio passou por minha espinha após sentir sua energia. Era densa, escura e extremamente pesada. Engoli em seco enquanto a observava. Ela estreitou os olhos e sorriu levemente, causando-me outro arrepio. Apesar de tudo, exalava poder, confiança e era bastante atribuída dos belos genes da família, eu deveria dizer.
Seus olhos eram tão azuis quanto um oceano, mas não eram brilhantes, mágicos e graciosos como os de Loki, e seus cabelos também eram negros como a mais escura noite. Fiquei um pouco confusa por ela ser filha de Odin. Ela se parecia muito mais com Loki do que com Thor.
— Então ele se foi. — disse ela após o portal fechar em suas costas. — Que pena. Eu gostaria de ter visto. — Sua voz era tranquila e com uma pitada de ironia. Tensionei os músculos.
— Você deve ser Hela. — Thor começou a dizer. — Sou Thor, filho de Odin.
— Sério? — Sua voz também me deu arrepios. — Você não se parece com ele. — Seu sorriso quase imperceptível porém irônico continuava em seu rosto.
— Talvez possamos chegar a um acordo. — Loki tomou a fala, com o olhar fixo nela.
— Você fala como ele. — Quanto mais eu a olhava, mais eu ficava intrigada, ao mesmo tempo que tensa.
— Tem certeza de que Loki é o adotado? — sussurrei em direção a Thor, o que fez a atenção dela se voltar a mim.
— E você... Você é algo a mais... — disse ela, estreitando os olhos em minha direção. — Ajoelhem-se! — decretou. Fiz uma careta, torcendo o nariz e sobrancelhas.
— Perdão? — Loki questionou, inclinando o corpo para frente.
— Ajoelhem-se. — Hela disse após conjurar uma espada enorme, de repente. — Diante de sua rainha. — completou, com a expressão presunçosa e postura impecável.
— Acho que não.
Após a fala de Thor, Mjölnir foi arremessado na direção de Hela. Nesse momento me preparei, acessando todas as aulas e treinamentos que tive tanto com Natasha quanto com Sif e Sari, pronta para lutar, porém ao ver o que aconteceu, puxei uma grande quantidade de ar para os pulmões, assustada e chocada.
Hela segurou o martelo com apenas uma das mãos, e em sua expressão, um sorriso divertido surgiu enquanto ela não fazia esforço algum. Thor tentou fazer com que Mjölnir voltasse a sua mão, mas o aperto dela era muito mais forte.
— Não é possível. — Thor murmurou, enquanto eu e Loki apenas observávamos, chocados, a cena.
— Querido, você não faz ideia do que é possível. — Foi a resposta de Hela.
Tudo durou em um segundo. O aperto da Deusa da Morte se intensificou ao ponto de rachar Mjölnir, e em seguida, quebrá-lo em pedaços, como se fosse um nada, um pedaço de papelão. Ao romper-se, uma onda forte de energia fora lançada em nossa direção. Por conta disso, pude sentir uma força maior, uma sensação estranhamente boa ao sentir a magia de Mjölnir me atingir, como se me fizesse mais forte.
Após soltar o martelo, em pedaços, ao chão, Hela passou as mãos pela cabeça, fazendo com que seu capacete enorme e repleto de chifres fosse revelado. Em seguida, conjurou duas espadas, uma em cada mão. Meu sangue gelou ao ponto que meu coração acelerou. Invoquei meus poderes, preocupada tanto em me proteger, quanto em proteger Loki e Thor. Não que eu tivesse essa capacidade, mas em minha mente, era tudo o que se passava.
— Nos leve de volta! — Loki gritou para o céu, só depois de Thor berrar em negação percebi que ele pedia para que a Bifrost fosse conjurada.
Em um segundo estávamos novamente no tubo arco íris e brilhante. Dessa vez, não tive tempo e nem cabeça para apreciar a vista e a sensação, já que vi Hela logo abaixo dos nossos pés, viajando pela Bifrost conosco. Se ela chegasse em Asgard, o que iria acontecer, era o fim. Odin mesmo havia falado. Os poderes dela seriam ilimitados.
Loki lançou uma de suas adagas na direção dela, mas com um simples movimento de suas mãos, Hela segurou a adaga e a lançou de volta, na direção de Loki. Meu instinto falou mais alto nesse momento, e antes que a lâmina pudesse sequer chegar perto dele, joguei-me em sua direção, fazendo questão de criar um campo de força para nos proteger.
Infelizmente, a força do lançamento de Hela foi mais forte, e ao finalmente encostar no campo de força, fomos ambos arremessados para fora da Bifrost, no meio da galáxia, em algum ponto qualquer.
Mal sabia eu que mais um pesadelo começaria naquele momento.
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Autora: e finalmente temos a chegada da Hela (perfeita, eu me ajoelhava pra ela, fala sério, Cate Blanchett🛐), gente no MCU (filmes da marvel) a Hela é filha de Odin, MAS, tanto nos quadrinhos quanto na mitologia nórdica, Hela (ou Hell) é filha de Loki ok? Aconselho a pesquisarem, mto legal a história dela na mitologia!
Gente, chegamos ao ponto de Sakaar em Thor Ragnarok, e já aviso vocês que nossa querida Deusa vai passar por uns maus bocados ai, infelizmente, mas vai ficar tudo bem, prometo hihi (não me matem)
Foi isso gente, não esqueçam da estrelinha e de comentarem bastante, amo quando vcs comentam!
Bjin procêis💚
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