13 - Eu sou você

   Estava quase amanhecendo quando Loki caiu ao meu lado na cama. Havia sido uma noite longa, porém extremamente extasiante e maravilhosa, tanto que minha vontade era de repetí-la quantas vezes fossem necessárias. Nossas respirações estavam pesadas e ofegantes, porém eu não conseguia tirar um sorriso presunçoso dos meus lábios.

   — Eu sou tão bom assim para estar sorrindo? — Loki perguntou, com o tom de voz provocativo. Soltei uma risada leve antes de encara-lo.

   — Ora, majestade, você chamou meu nome a noite inteira. Acho que a boa sou eu, não? — Devolvi a provocação no mesmo tom, ainda regularizando minha respiração.

   Loki riu em resposta, e me permiti aproveitar do som e imagem de sua risada e seu sorriso. Novamente quis minhas tintas para poder passar para a tela toda a harmonia e arte que aquele homem exalava. Poderia ficar observando aquela cena por horas, sem sequer me cansar.

   — Não ache que isso vai acontecer mais vezes. — Ele disse após uma pausa, virando o rosto em minha direção. Ergui uma sobrancelha.

   — Nem mesmo você acredita nisso. — respondi. Loki semicerrou os olhos como resposta.

   Permanecemos em silêncio por alguns instantes. Não estava desconfortável, pelo contrário, apenas aproveitávamos a presença um do outro naquele quarto, depois de fundirmos nossos corpos e energias durante toda a noite. Um lençol cobria meu corpo e o dele, mas ainda conseguia ver sua pele nua do tronco, e pude sentir o quão bom foi toca-lo.

   — O que disse ontem a Lady Sif e os três guerreiros... é o que você realmente pensa? — Ele perguntou, de uma vez. Seus olhos de oceano perfuravam os meus intensamente, esperando uma resposta.

   — Sim. — respondi, e tomei fôlego para continuar dizendo. — Eu realmente não sabia que você estava ouvindo a conversa. Não estava concentrada em outras energias naquele momento, então eu apenas disse a verdade do que penso.

   — Por quê? — Franzi o cenho com sua pergunta, ainda encarando seu rosto. — Por que pensa assim? — Respirei algumas vezes antes de poder dizer qualquer coisa.

   — Eu também já fiz algumas... coisas ruins, as quais eu não me orgulho. — comecei, logo buscando os olhos do Deus mais uma vez. — Mas, eu sempre tive meus irmãos comigo, assim como eu também estava com eles pra tudo. — Fiz uma pausa, já sentindo o peso das próximas palavras. — E até mesmo depois de perdermos Pietro, eu e Wanda encontramos uma família com os Vingadores, mesmo depois de tudo o que eu fiz e que fizemos a eles.

   Loki revirou os olhos após a menção ao grupo de heróis, mas ignorei, e apenas soltei uma risada fraca. Não demorou para que seus olhos voltassem a procurar os meus.

   — O que quero dizer é que família é muito importante. — continuei. — Não apenas as que são conectadas pelo mesmo DNA, estou falando de quem cuida, de quem se importa, de quem protege, mesmo que você esteja errado. — Loki ouvia cada palavra atentamente. — Pelo que entendi, você não tinha nada disso, então não consigo sequer imaginar o quão difícil foi, e o quão difícil é...

   Loki permaneceu em silêncio após minha fala, mas em nenhum momento deixou de encarar meus olhos. A luz ainda fraca do nascer do dia entrava pela enorme janela de frente para a cama, e a combinação do brilho alaranjado contrastava de uma maneira espetacular com o azul dos olhos de Loki, deixando-os em um tom verde esmeralda luminoso.

   Ele se moveu na cama após alguns segundos, sentando-se de costas para mim, pronto para se levantar. Observei suas costas desnudas, não tão largas, porém definidas, por alguns segundos, antes de me apressar em dizer mais alguma coisa. Não queria que ele fosse embora ainda.

   — Não terminamos ainda. — disse, vendo-o virar o rosto em minha direção, ainda sentado de costas para mim na beira da cama. Loki franziu o cenho, esperando que eu continuasse. — Trégua.

   O código funcionara muito bem, e acreditava que Loki gostava dele tanto quanto eu, já que ele voltou a se deitar ao meu lado, cobrindo metade do corpo de novo. Passei meus olhos por seu abdômen, por todas as suas linhas até chegar novamente em seu rosto.

   — O que quer saber? — Ele perguntou, com os olhos de oceano fixos em mim.

   — Da última vez você disse que já havia se apaixonado antes... — Fiz uma pausa e entortei o nariz em uma careta. — Na verdade eu descobri, já que você mentiu. — Lancei um sorriso sarcástico em sua direção. Loki revirou os olhos, mas tinha a expressão divertida. — Me conta sobre ela... ou ele.

   Loki semicerrou os olhos com a última frase, mas lançou-me um sorriso suave. Ele ficou em silêncio por alguns segundos enquanto encarava o teto do quarto, como se lembrasse e escolhesse as palavras certas. Senti sua energia mudar ao provavelmente pensar no assunto. Uma agitação incômoda e perceptível se fez presente ali, e por um momento puni-me mentalmente por fazê-lo lembrar de algo desagradável.

   — O nome dela era Amora. — Ele disse então, sem hesitar, voltando a encarar meus olhos. — Ela era uma feiticeira em treinamento na época, há muitos anos quando a conheci. — As palavras pareciam doer ao saírem de sua boca. — Era a única que me via como realmente sou, e que não se importava com isso, ao contrário do... resto. — Loki fez outra pausa e engoliu em seco.

   — Não precisa continuar, caso não se sinta confortável. — disse, querendo demais abraçá-lo por sentir a angústia e uma leve tristeza consumirem sua energia. Ele negou com a cabeça.

   — Faz parte da trégua, não? — Ele respondeu, erguendo uma sobrancelha. — Um dia fizemos o que não devíamos, e acabamos destruindo um item mágico, único, de extrema importância para Asgard. — Ele fechou os olhos por alguns segundos. — Pensei que seria meu fim, vi a fúria e decepção no olho de Odin, e simplesmente travei. Não consegui dizer uma palavra. — Mais uma pausa. — Amora confessou ter sido apenas ela, levando toda a culpa espontaneamente, e Odin acabou banindo-a para Midgard, já que é a única coisa que ele sabia fazer direito: Banir as pessoas. — Sua voz soou um pouco mais tensa, mais raivosa e rancorosa.

   — Sinto muito. — Eu disse, após um tempo em silêncio, sem saber exatamente o que dizer.

   — Encontrei com ela anos depois, quando Odin me mandou para uma missão em Midgard. — Ele revirou os olhos, e logo a essência de Loki havia voltado. — Amora estava causando problemas, e acabamos pensando em um plano para tirá-la de lá, para que ficasse longe de confusão. Ela me traiu, me machucou e quase me matou. — Ergui as sobrancelhas com as últimas informações. — Eu iria traí-la também, e entregá-la a Odin como a culpada de alguns assassinatos que estavam ocorrendo em Midgard, dos quais ela tinha realmente culpa. — Ele deu de ombros, controlei uma risada fraca.

   — Você está vivo, então significa que conseguiu entregá-la pra Odin? — perguntei, claramente entretida com a história. Ele negou novamente com a cabeça, e fez uma careta irritada.

   — Amora conseguiu escapar antes que eu pudesse concluir o plano. — Sua voz mostrava sua frustração. — Não sei se morreu, se continuou viva, para onde foi, nem o que aconteceu. Ela simplesmente sumiu e nunca mais deu sinal de vida. — Ele fez uma última pausa. — De qualquer jeito, realmente me apaixonei por ela, quando ela parecia ser alguém em quem eu poderia confiar, mas estava enganado, como sempre. — Tentei dizer alguma coisa, mas Loki voltou a falar antes que eu pudesse formular uma frase. — Mas sobre uma coisa ela estava certa: eu sou o vilão nas histórias de todo mundo, então apenas aceitei meu papel.

   — Não acho que seja um vilão. — Loki me olhou um tanto incrédulo, e não disse nada, como se esperasse por uma continuação das minhas palavras. — Não acho que goste de machucar as pessoas. — Dei de ombros, como se fosse uma observação óbvia.

   — Por que acha isso? — fiquei alguns segundos em silêncio, pensando em como responder àquela pergunta.

   — Quando esteve em Nova York... estava realmente satisfeito com tudo aquilo? — perguntei. — Digo, queria mesmo fazer tudo aquilo? — refiz a pergunta ao notar o cenho franzido de Loki.

   — Não quero falar sobre Nova York.

   Foi a única coisa que ele disse antes de desviar os olhos de mim e encarar o teto, perdido em pensamentos. Senti sua energia, e fiquei um tanto assustada com a mudança repentina dela. Uma anarquia de sentimentos ocupou o peito e sentidos de Loki, e por um momento prendi a respiração, sentindo um misto de ódio, tristeza e principalmente dor. Meu coração se apertou levemente, e quis simplesmente agarra-lo e abraçá-lo, novamente me punindo por tê-lo feito pensar em um assunto completamente desconfortável para ele.

   — Tudo bem. Desculpe. — disse, forçando um sorriso, mesmo que o olhar dele ainda estivesse no teto. — De qualquer jeito, é sua vez de me perguntar algo.

   Finalmente Loki pousou seu olhar no meu mais uma vez. Senti sua energia acalmar-se, e por algum motivo, eu sabia que aquele mal estar de antes não era decorrente apenas à derrota de Loki em Nova York, como raiva de si mesmo ou algo parecido, tinha alguma coisa a mais, tinha um medo a mais que eu não saberia dizer qual. Fiquei mais alguns segundos apenas mergulhada na imensidão azul de seus olhos que tanto me atraíam.

   — Contei uma parte consideravelmente grande da minha vida, então não custa perguntar igualmente se você, midgardiana, já se apaixonou alguma vez. — disse ele, com a voz voltando ao seu tom normal e irônico. Não controlei uma risada divertida.

   — E te interessa saber disso? — perguntei. Eu iria responder, mas antes gostava de provocá-lo.

   — Se estou perguntando... — Touché, pensei enquanto abria um sorriso largo e erguia as sobrancelhas. Ele me acompanhou no gesto, mas com um sorriso fraco.

   — Não, majestade. — respondi, de forma bastante sincera, fazendo questão de olhar intensamente em seus olhos.

   — Está mentindo, não está? — Ele perguntou, ajeitando o corpo na cama para que pudesse me olhar com mais precisão. Soltei uma risada divertida.

   — Você que é o Deus da Mentira aqui. — respondi, arrancando um riso nasalado e um revirar de olhos de Loki. — Mas não. Não estou mentindo.

   — Isso é inusitado, já que é extremamente fácil chamar a sua atenção. — Ele comentou, irônico, mas ainda encarando fixamente meus olhos, causando-me sempre todos os tipos de arrepios.

   — Já estive com muitas pessoas durante a minha vida. — comecei, ignorando o comentário do Deus, por enquanto. — Nunca tive medo de conseguir quem eu queria, e sei que consigo chamar a atenção de maneira muito fácil. Considero minha autoestima nessa parte bastante alta. — Ele ergueu uma sobrancelha e sorriu de forma fraca. Encarei seus lábios por mais alguns instantes antes de continuar. — Mas nunca passou disso. Divertimento, amizades com benefícios ou apenas uma noite de prazer sem absolutamente nenhum compromisso com quem quer que fosse.

   Dei de ombros, mas pude sentir a energia de Loki intensificar-se um pouco mais, e ao observar sua expressão, pude ver que estava um pouco mais séria. Não controlei um sorriso satisfeito, e mais uma análise completa de cada traço presente no rosto do homem. Senti vontade de beija-lo mais uma vez, mesmo que tivesse feito durante toda a noite.

   — Realmente, é fácil chamar minha atenção. — disse, desviando o olhar por alguns segundos, com a certeza de que a atenção de Loki ainda estava completamente em mim. — Mas é bem difícil mantê-la.

   (...)

   Loki ficou em meu quarto até que o sol aparecesse por completo pela manhã. Estava quase terminando de colocar a armadura que eu usava durante os treinos com Sif, pronta para caminhar até o quarto ao lado, onde Sari havia dormido.

   — Até que fica bem de armadura, midgardiana. — Loki comentou, caminhando em direção a porta do quarto, com bastante provocação na voz. Sorri em sua direção.

   — Eu fico bem em qualquer coisa, Branca de Neve, e você sabe muito bem disso. — respondi, observando enquanto ele passava os olhos por toda a extensão do meu corpo mais uma vez, com um sorriso fraco no rosto, e saía pela porta logo em seguida.

   Caminhei até o quarto de Sari, e ao adentrar o local, vi que ela me esperava deitada na cama que existia ali. Ela balançou a cauda ao me ver e se levantou, caminhando em minha direção de forma animada. Sorri abertamente para ela enquanto acariciava seu pelo claro.

   Coloquei-me no chão de joelhos, podendo ficar da altura da tigresa e abraçá-la de forma carinhosa. Ela retribuiu o afeto como pôde, inclinando a cabeça para o lado e apoiando no meu ombro.

   — Bom dia, querida Sari. — disse, afastando-me dela para que pudesse olhar em seus olhos.

   E ao fazê-lo, mais uma imagem surgiu em minha mente, não duvidei de que fosse Sari me mostrando algo novo. Concentrei minha atenção no verde esmeralda de seus olhos e na figura de Bryndís que se formava mais uma vez nitidamente de forma gradativa. Ela carregava o sorriso suave e costumeiro nos lábios, e quase pude vê-la em minha frente, quase pude toca-la.

   — Bryndís. — disse seu nome, como sempre maravilhada pela energia extasiante que ela carregava.

   — Não está longe para a ligação completa com Sari. — disse ela, com a voz doce e calma, mas ao mesmo tempo firme e potente.

   — O que preciso fazer? — perguntei, confusa. — Como posso saber mais sobre você? — Bryndís sorriu um pouco mais abertamente antes de responder.

   — Vai saber quando chegar a hora. — respondeu, deixando-me mais confusa, mas não tanto igual suas próximas palavras me deixaram. — Afinal, eu sou você.






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Autora: ooooiiii, meus amores, tudo bem?
bom, esse foi um capítulo mais levinho, mas necessário, para termos mais algumas informações sobre nosso Deus e para a relação da Kira e do Loki, mas espero mto que tenham gostado!
A partir do próximo capítulo, vamos descobrir mais algumas coisinhas hihi, alguma teoria???? me contem!
Não esqueçam da estrelinha e de comentarem bastanteeee, me ajuda muito a saber se estão gostando! 
Até a próxima.
Bjin procêis💚

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