03
Olá meus amores, passando aqui rapidinho pra deixar mais um capitulo pra vocês e dizer que assim que possivel trarei mais. Não desistam de mim, amo vocês!!!
Deixo aqui 3.5K de palavrinhas, até o proximo...
------------------------------------------------------------------
A chuva fina do fim de tarde deixava claro as pequenas mudanças no clima, anunciando a partida do verão e a chegada do outono. Logo mais seria possível acompanhar o avermelhar das árvores e sentir os cheiros inebriantes de tortas e biscoitos, assando nos fornos de cada pequena ou grande casa, circulando pelo ar e preenchendo cada micro espaço das longas ruas. Era, sem sombra de dúvidas, uma das estações mais lindas; entretanto, para Pete, trazia uma melancolia além da já imposta pelo período.
Olhando através da janela envidraçada do seu apartamento, pensava o quanto sua vida havia mudado desde que partira da Tailândia, desde que aceitara, sem questionar, a proposta de Vegas, porque inocentemente também acreditava ser a melhor escolha para ambos. Dentre os três relacionamentos que tivera, Vegas fora, de longe, aquele que despertou em si o maior cuidado, que o respeitou em cada decisão e que sempre optou pela conversa ao invés da dedução. Embora seus desejos mais íntimos fosse permanecer ao lado do mais novo, entendia que a vida adulta não se resumia apenas em querer, existiam muitas outras implicações.
Saber que Vegas estava em Seattle, tão perto de si, fazia seu coração disparar, as batidas tão fortes e descompassadas, tal qual um acorde tocado fora de ordem. Sentia a sensação agonizante do sangue fluindo por suas veias como micro cubos de gelo congelante, deixando pequenos arranhões pelo caminho. Sua mente girava confusa, não lhe permitindo focar em nada, embora um filme parecesse está sendo rebobinado em loop. Eram sensações estranhamente reconfortantes. Não costumava acreditar muito em destino, mas passaria a aceitar como verdade, caso aquele reencontro fosse um sinal.
— Você está com medo.
A voz de Jess o arrastou bruscamente para fora de seus pensamentos, fazendo-o soltar uma lufada de ar, brigando com sua mente por ser tão transparente. Se virou para encará-la sentada no sofá no meio da sua minúscula sala. Seu rosto um pouco abatido devido às noites sem dormir, mas desperta o suficiente para ir até sua casa e saber as novidades. Desviou o olhar para o cercadinho azul, no canto, a um ângulo de 90⁰ do sofá, onde Venice permanecia mergulhado no mundo dos sonhos e ressonava baixinho.
— Não estou com medo. — embora soubesse que Jess era especialista em saber que ele estava mentindo, necessitava verbalizar aquelas palavras, quem sabe assim se tornassem reais.
— Então... por que você tá fugindo dele?
— Não estou fugindo, quem te disse isso? Isso é ridículo, não tenho porque fugir dele. — o desespero na voz de Pete era um tanto cômico, mas Jess permaneceu seria, enquanto o encarava.
— Exatamente, mas tá fazendo isso a uma semana.— embora parecesse uma acusação, estava longe de ser isso; na verdade, era apenas a constatação de um fato que Pete não queria admitir. — Não ir visitar o irmão dele é sua maneira de fugir.
— Bobagem, por qual motivo eu faria isso?
— Porque você teme descobrir que ele está com outra pessoa e sabe que o irmão dele te contaria mesmo sem uma pergunta direta.
— Claro que não... — Pete bufou, se jogando no sofá ao lado da morena. — Só... eu só tive uma semana corrida, você sabe como foi boa parte dela.— a encarou, como se suplicando para ela acreditar; contudo, ele mesmo não fazia isso.
— Ok... se você quer se enganar. — ela deu de ombros, se recostando no sofá. — Mas se você pretende seguir em frente, tem que encarar seu passado.
Pete desviou o olhar para Venice em silêncio, mergulhando no infinito de seus pensamentos. Embora não quisesse, tinha de admitir que Jess não estava de todo errada. Suas lembranças o transportaram ao fim de semana em que Vegas o levou para uma viagem nas montanhas; para o pedido feito a luz da lua; e, a noite de amor banhado pelas estrelas. Mesmo que desejasse a um gênio da lâmpada, se eles existissem de fato, Pete não conseguiria apagar os momentos incríveis que viveu ao lado de Vegas. O Theerapanyakul havia ficado gravado como uma tatuagem na mente do Saegthan.
— Você ainda gosta dele, certo? — novamente a voz de Jess o puxou para o momento presente. Ele desejava conseguir ignorar ela e suas observações, tanto quanto tentava ignorar sua mente. — Nem precisa responder, tá estampado na sua cara.
— Não é isso, ok? — era isso e ele sabia.
— Ah não? Você usava a foto dele como proteção de tela até meses atrás Pee.
— Isso... grrrrrr. — Pete se sentiu em um limiar entre negar tudo até conseguir ele mesmo acreditar ou simplesmente aceitar a verdade. — Ok, o que eu faço?
— Pra começar, admita pra você mesmo que nunca conseguiu esquecê-lo, depois vá visitar o irmão dele.
Jess parecia bastante contente ao proferir tais palavras; Pete, no entendo, apenas suspirou, desviando o olhar mais uma vez para o local onde Venice dormia.
— O que a doutora falou? — Jess pergunta, notando o olhar preocupado do amigo, se referindo ao último acompanhamento de Venice.
— O de sempre, que ele precisa ser estimulado e acompanhando de perto. — o som do suspiro cansado de Pete preencheu o ambiente, pesando entre eles como uma melodia dolorosa. — Às vezes sinto que vou sempre está em falta com ele.
— Você não deve se culpar, Pete. Olha, sei que não é fácil, tá? Mas você faz muito mais por ele do que quem realmente deveria.
— Eu sei Jess, só que... queria poder fazer mais. — lamenta.
O silêncio foi inevitável. Pete sentia que toda aquela situação era injusta demais com o pequeno, esse que não fazia ideia de tudo o que havia acontecido ao seu redor. Pete se culpava por deixar tudo se tornar tão intenso, mas havia prometido cuidar do pequeno e era isso que faria, o protegeria, mesmo que isso significasse mantê-lo longe dos próprios pais.
Venice não tinha culpa da sua mãe ser uma viciada irresponsável que tentou abortá-lo não uma, mas duas vezes, e quando não conseguiu, tentou vendê-lo para sustentar o vício. Muito menos do pai ser um bosta tão desprezível que nem mesmo fez questão de conhecê-lo.
Talvez sua vida fosse realmente fadada a ajudar e entender os outros. Ele lembra com certa dor quando viu Chloe, sua meia irmã, que ele só conheceu após adulto, fora de si. Naquele dia, Pete teve de pedir intervenção ou sabe-se lá o que ela teria feito contra o pequenino inocente, que sorria alheio a preocupações, ou a própria vida. Após muito lutar na justiça, ele havia finalmente conseguido a guarda do sobrinho, que a essa altura o chamava de papa e derretia seu coração. Sua irmã permanecia internada, em tratamento, e ele só desejava que ela pudesse ficar bem.
Quando Jess foi embora do seu apartamento, algumas horas após uma longa conversa, ele refletiu cada palavra mencionada pela amiga e admitindo, silenciosamente, seus sentimentos pelo Theerapanyakul, decidiu-se que aproveitaria o restante da sua noite de folga para visitar o ex-cunhado no hospital. Ligou para Mikaela e confirmou se ela poderia ficar algumas horas com Venice e não tardou para a garota bater em sua porta.
•• <<────≪•◦⚜◦•≫────>> ••
Quando chegou ao hospital e se dirigiu ao quarto de Macau, hesitou por alguns segundos, antes de bater na porta e entrar, mas sentiu uma onda de alívio o atingir quando notou que o mais novo se encontrava sozinho.
— Pee... é você mesmo, não é uma miragem? — Macau perguntou em uma voz arrastada, ao que Pete apenas sorriu e tomou um lugar na ponta de sua cama.
Ele parecia sonolento, abrindo e fechando os olhos lentamente. Pete percebeu tarde demais que escolheu um horário ruim para visitá-lo.
— Não sou uma miragem... como você está se sentindo?
— Drogado. — Macau bufou um tanto indignado.
Pete riu, analisando os monitores com atenção: tudo normal. Observou o estado de Macau: um braço quebrado; um corte no supercílio e alguns hematomas próximo a boca.
— Sua sorte é que não sou nenhum Charles Cullen... você voltou a praticar parkour?
Macau fechou os olhos por alguns segundos, antes de abri-los minimamente e lançar um meio sorriso ao Saegthan.
— Bom, não foi você que me aplicou o remédio, então se eu morrer, está isento de culpa. — Macau ampliou seu sorriso, analisando Pete com admiração, antes de pontuar: — Você continua bonito. — sua voz saindo baixa e arrastada, ignorando totalmente a pergunta feita pelo mais velho, enquanto seus olhos lutavam para permanecerem abertos. — Você não é mesmo uma miragem, certo?
— Não, eu não sou. — Pete garantiu, abrindo um largo sorriso em sua direção. — Acho que apenas vim no momento errado. — Macau grunhiu em resposta.
— Prometa que... vai...
Macau adormeceu no meio da frase e Pete tomou um susto quando a enfermeira, que havia entrado minutos antes, chamou sua atenção para explicar o quadro do mais jovem. Quando a mulher se retirou, Pete permaneceu bons minutos analisando as feições quase angelicais do ex-cunhado. Macau havia se tornado uma espécie de irmão caçula para ele, aquecendo seus dias tristes quando lembrava do próprio irmão arrancado de seu convivo tão cedo devido ao câncer. Ravi, seu – até então – irmão mais novo, morrera aos dez e foi uma carga emocional grande demais para ser suportada. Na verdade, todo o processo fora muito doloroso e exaustivo. E, ao fim de tudo, cada um dos Saegthan's havia tomado uma decisão: sua mãe se tornou voluntária em instituições de apoio a crianças com câncer ou em situações de riscos; seu pai sucumbiu a algo que Pete não entendia e meses depois simplesmente partiu, enviando um advogando para entregar as papeladas do divórcio a sua mãe tempos depois; ele, por sua vez, tomou a decisão que o levara até ali: tentar ajudar crianças e adolescentes na mesma situação de seu irmão. Seria uma mentira dizer que Pete não se magoou com o pai, ele ficou realmente magoado e com muita raiva, mas no fim aceitou que nem todos são capazes de enxergar o bom em situações ruins. Então, embora ele e Vegas estivessem separados, Macau ainda era como seu irmão caçula, com a diferença que agora ele também tinha Chloe, sua meia irmã.
Pete correu o olhar pelo quarto e se levantou, caminhando até ficar de frente a grande janela de vidro e observando o pátio do hospital sem muito interesse. Ele sempre fora pensativo, mas os últimos acontecimentos na sua vida o tinham jogando em um abismo infinito de lembranças, cobranças e sonhos, suspenso no ar pelo um redemoinho do medo.
— Pete?
Aquela voz, tão familiar e, ao mesmo tempo, tão estranha, chegou aos seus ouvidos como as melodias doces cantadas pelas mães ao embalarem o choro dos bebês em uma madrugada fria. Era reconfortante, acolhedora e... quente.
Se virou para a entrada do quarto, observando Vegas exibir uma expressão que misturava a confusão e o alívio na mesma proporção. O Theerapanyakul sorriu enquanto cruzava os poucos passos do quarto e se colocou ao seu lado, olhando para o lugar onde antes o Saegthan fitava. Pete não conseguiu desviar o olhar de seu rosto. Ele ainda era tão bonito, atraente...
— Obrigado por vir. — Vegas agradeceu, voltando o olhar para os próprios pés antes de encará-lo.
Ter Vegas tão próximo não ajudava Pete a manter a coerência. O cheiro do Theerapanyakul, que ainda era o mesmo de quando eles namoravam, tomou seus sentidos com violência, levando seu coração a bater freneticamente contra seu peito, como um protesto. Precisou fazer muita força para não sorrir feito um bobo, constatando pela segunda vez naquele dia, que sim, ele ainda gostava de Vegas.
— Não tem porque agradecer.
Vegas foi determinado ao dizer — Claro que tem... você não está de plantão? — perguntou, seu olhar correndo pelo corpo de Pete.
O Saegthan não deveria se sentir tão quente com um olhar tão inocente, mas ele se sentia. Porra, era Vegas ao seu lado, aquele a quem ele se entregou inteiramente, se tornava quase impossível não se sentir quente com aquele olhar.
— Janta comigo? — Pete franziu o cenho com a pergunta. — Quero te agradecer.
— Você não... — Pete começou a falar, mas Vegas lhe lançou um olhar que dizia: não vou mudar de ideia. — Ok.
Cerca de vinte minutos depois, os dois se encontravam em meio a um silêncio mortífero, sentados de frente um para o outro em um restaurante aos arredores do hospital, enquanto aguardavam seus pedidos chegarem. Vegas pigarreou, ao passo que Pete umedeceu os lábios e engoliu em seco. Uma situação realmente deprimente.
— Como andam as coisas? — Vegas arriscou perguntar.
— Bem... confusas. — Pete observou Vegas erguer uma sobrancelha, uma instigação silenciosa para que ele continuasse. — É... complicado. Digamos que... dois baralhos juntos e bem embaralhados seriam reorganizados com mais facilidades sem precisar olhar as cartas.
— Tão difícil assim? — Vegas o encarou contemplativo.
— Hum... e você? — quando Vegas apenas o encarou, Pete sentiu medo da resposta, porém tentou manter o semblante imparcial.
— Como anda seu filho? Venice, certo?
Pete pensou que talvez o mais novo mudar de assunto, invés de responder sua pergunta retribuída, fosse apenas uma maneira de preveni-lo de uma depressão maior ao falar como sua vida deveria estar seguindo perfeitamente bem. Acontece que mesmo imaginando isso, sorriu, porque falar sobre Venice sempre levantava seu astral.
— Bem, ele é o melhor de tudo o que tem acontecido.
Vegas se mexeu na cadeira, abrindo a boca para perguntar algo, mas sendo interrompido pela chegada do garçom com suas refeições. Quando o homem saiu desejando um bom apetite, Vegas tornou a encará-lo.
— A mãe dele também é médica? — o vinco se formou na testa de Pete. — Quando falei com você da outra vez, você falou algo de que o bebê não deveria está no hospital e, que a babá dele havia passado mal, mas em nenhum momento você citou a mãe, ela também é médica ou vocês...? — Vegas engoliu em seco, aguardando a resposta com olhar quase vago, embora Pete pudesse ver uma sobra de expectativa passando de um lado para o outro rapidamente, como um cometa.
— Ah! Isso... é complicado. — levando uma porção de comida a boca, Pete tornou a franzir o cenho ao observar Vegas o encarando como se aguardando mais do que apenas uma simples frase. Quando engoliu, foi muito mais do que apenas a comida. — Por que você acha que Venice é meu filho biológico?
Os olhos de Vegas se arregalaram minimamente e Pete reprimiu a vontade de rir. Era isso que ele tinha em mente?
— Não é? — sua voz soou espantada, mas... aliviada?
— Não, ele é filho da minha meia irmã. — de repente Pete percebeu que Vegas não tinha o conhecimento de Chloe, até porque ele próprio só soube da sua existência quando se mudou da Tailândia. Ciente da confusão de Vegas, ele disse: — Afinal de contas, não foi só a morte do meu irmão que fez meu pai largar a família. — o amargo em sua boca o incomodou ao ponto dele buscar a taça de vinho e tomar todo o conteúdo de uma só vez.
— Vai com calma, você não é tão tolerante a álcool. — Vegas disse, puxando a taça da sua mão e repousando-a sobre a mesa. — Quer conversar?
Pete suspirou. Por que eles tiveram que se separar? Se ele tivesse Vegas ao seu lado, muito provavelmente não teria sucumbido ao medo como fez. Ele era forte, tinha consciência disso, mas com Vegas ele era imbatível, pelo menos, era como ele se sentia.
— Meu pai me ligou alguns dias após minha partida da Tailândia e disse: "Pete, preciso te contar algo" — Pete suspirou, desviando o olhar para o buquê de rosas artificiais sobre a mesa. — Esperava que ele me falasse que tava com saudades ou orgulhoso pela minha conquista, mas tudo o que falou foi que tinha traído minha mãe, quando Ravi foi diagnosticado, e a existência de uma irmã. Não satisfeito em jogar essa bomba assim no meu colo, ele apertou o botão de ativar e me disse que ela era depressiva e viciada, que eu era a única família que ela teria em breve e que precisava da minha promessa de cuidar dela.
— Sinto muito Pete. — Vegas buscou sua mão que apertava a toalha da mesa e a acariciou. — Não fazia ideia.
— Claro que não fazia... — Pete soltou a frase sem se ater ao peso que ela carregava, até encarar Vegas e notar seu olhar vagando, enquanto sua mão permanecia acariciando a sua. — Foi por esse motivo que conheci minha irmã.
Vegas se mexeu, voltando a encará-lo como se saísse de um transe.
— E o filho dela gosta tanto de você que te chama de papa. — observou Vegas, notando Pete balançar a cabeça levemente em negativa.
— Na verdade... — Pete relutou em continuar, se curvando minimamente sobre a mesa e buscando a taça de Vegas, ainda intocada e antes que ele pudesse impedi-lo, bebendo o conteúdo, novamente, de uma só vez, limpando a boca no dorso da mão ao fim. — Ela tá internada.
Pete ficou feliz em perceber que Vegas lhe direcionava um olhar admirado e não de pena. Ele já se sentia mal o suficiente para lidar com a sensação de se sentir um coitado. Era estranho está sentado à mesa com Vegas, quase quatro anos após o fim de seu relacionamento e ainda sentir como se eles estivessem juntos. Realmente estranho, mas em anos a melhor sensação que Pete poderia desejar sentir.
Ele contou tudo a Vegas, como ele conheceu Chloe, que ela era menor quando engravidou, as tentativas de aborto, a internação e o medo que ele carregava de não conseguir cuidar de Venice. Explicou que Venice, mesmo com quase três anos, ainda não conseguia formular frases simples e por isso e pelo fato dele ter feito uma intervenção cirúrgica no coração, quando nasceu, Pete mantinha ele em tratamento. Também explicou que o pequeno não costumava gostar das pessoas tão rapidamente e Vegas foi uma exceção bem surpreendente.
Conversaram sobre muitos assuntos e as pessoas que o cercavam; porém, o assunto "relacionamento passado" não foi mencionado. Era como um muro invisível erguido entre os dois. Quando deu por si, já estava um pouco tarde e sabia que precisava ir para casa. No fim de tudo não havia sido um jantar ruim, mas Pete já sentia o peso das duas taças de vinho. Enquanto mandava uma mensagem para Mikaela, informando que logo chegaria em casa, Vegas solicitou a conta e quando Pete pensou no que diria para se despedir, ele lhe ofereceu uma carona.
Pete tentou recusar, mas conhecia Vegas o suficiente para saber que ele não desistiria e foi por esse motivo, e não porque ele quisesse a companhia de Vegas por mais tempo, que cerca de vinte e cinco minutos depois, o carro estacionava bem na entrada do seu prédio. Ele não queria sair do carro, mas também não queria ficar. Seus pensamentos estavam confusos, o atormentando. Queria acreditar que era efeito do álcool, apenas isso, o álcool.
— Você consegue subir? — a voz de Vegas soou preocupada. Ele tinha isso, Pete pensou.
— Hurum... moro no terceiro andar. — Vegas o analisou pelo que pareceu uma eternidade, por fim apenas acenou com a cabeça. — Obrigado pelo jantar.
— Não precisa agradecer, já era um agradecimento por você ir visitar meu irmão.
— Você sabe que eu adoro ele e teria ido em algum momento. — ele queria acreditar nisso, mas suas próprias palavras não lhe traziam tanta veracidade. Talvez ele estivesse mentindo para Vegas. — Preciso ir, obrigado pela carona.
Pete retirou o cinto e abriu a porta, mas a mão de Vegas segurou seu braço antes que ele pudesse saltar fora do carro, o fazendo olhar em sua direção.
— Só pra constar... não teve um dia sequer que eu não pensasse em você, que não me punisse mentalmente por ter essa ideia idiota de terminar algo que era tão bom e que não me culpasse por agir tão covardemente com medo de que as coisas não dessem certo... me desculpa se não estava ao seu lado nesses momentos tão ruins Pete.
— Vegas... hum... tá tudo bem.
— Uma chance.
— Quê?
— Só preciso de uma chance pra te reconquistar, prometo que dessa vez, aconteça o que acontecer, não vou dar nenhuma ideia estúpida da gente se separar. — Vegas falou em um só fôlego.
Pete ficou estático, o álcool em seu corpo se evaporando e dando lugar a euforia, seu olhar entrando em foco. Claro que ele não falou para Vegas que também ainda o queria, que nunca, dentro dos quase quatro anos, conseguiu sair com alguém que realmente se interessasse e que também não deixou de pensar nele um minuto sequer. Ele não disse, talvez fosse um pouco maldoso da sua parte, ou, apenas um castigo, alimentado pela migalha de raiva que dividia espaço com tantos outros sentimentos em seu ser.
Mesmo não dizendo, o fato é que fora inevitável sua próxima ação. Sua mão indo de encontro a nuca de Vegas e o puxando em sua direção, tomando seus lábios em um beijo afoito, desesperado, que mostrava além de tudo a saudade reprimida, o desejo insano e a vontade de que aquilo não o fizesse se arrepender. Ele se afastou rapidamente, sentindo seus lábios formigarem e em um sobressalto saiu do carro, se despedindo com um "preciso ir" e deixando um Vegas em um estado de confusão para trás.
Talvez esse outono não fosse tão melancólico.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top