01

Os burburinhos incessantes se espalhavam por aqueles extensos corredores brancos. O choro agudo de crianças se misturava em clamações pertinentes de adultos e no som dos alto-falantes, que vez ou outra emitia algum pedido, reverberando por todos os lugares.

Vegas se encontrava parado de frente ao enorme balcão da recepção do hospital, aguardando, pacientemente, a morena a sua frente fazer uma rápida verificação de dados no computador, de modo a lhe assegurar a informação correta, quando sentiu algo um baque contra suas pernas. No primeiro momento, sentiu seu coração retumbar no peito, pelo susto, mas após encarar aquele pequeno ser choramingando baixinho, enquanto escondia o rosto entre os tecidos da sua calça sarja, se permitiu sorrir.

— Quarto 1306A. — A mulher atrás do balcão fitou Vegas rapidamente, sorrindo de maneira reconfortante e estendendo-lhe um papel com a numeração informada.

Vegas pegou o papel entre os dedos, agradecendo à recepcionista com um aceno de cabeça, enquanto ouvia mais alguns choramingos abafados vindo daquele grudado nas suas pernas. De quem era aquela criança? E, por que havia se agarrado a ele, como se ali fosse sua salvação?

Sem fazer qualquer movimento repentino, para não causar pânico ao pequeno, se virou. À medida que as delicadas mãozinhas diminuíam o aperto, observou o rapazinho, que aparentava não ter mais do que dois anos, o encarar com os olhinhos cheios de água e uma boquinha tremida, indicando que não tardaria a cair no choro.

— Oh neném!

Acariciou o topo da cabeça do pequeno, se abaixando para ficar o mais próximo possível dele, arrumando alguns fios revoltos, sorrindo quando a criança inclinou a cabeça para receber seu carinho.

— Hey... você tá perdido?

Assim que fez a pergunta, se repreendeu mentalmente, achando-se um tolo por tê-la proferido em voz alta. Na sua frente, encontrava-se uma criança que, em um contexto rápido, não parecia compreender nada do que estava acontecendo, como caralhos ele ia saber o que é está perdido? Como se contrariando seu pensamento, o menino fez um biquinho, franzindo o rosto e deixando escapar a primeira lágrima de seus olhos, antes de abrir a boca em um berreiro.

— Papa... buáááá buow! Papa.

— Hey garotinho, calma. O tio aqui veio visitar alguém, mas posso procurar seu papai antes, só me mostra de onde você veio, hum?

— Papa... tio?

Vegas sorriu com a confusão estampada no rosto do pequeno e levando a mão, mais uma vez, acariciou o topo de sua cabeça. Ele estava preocupado com Macau, mas em hipótese alguma deixaria uma criança tão fofa, como aquele garotinho parado na sua frente, sozinho.

— Qual o seu nome, hum? — perguntou, tentando estabelecer uma conversa com o pequeno, que havia parado de chorar e agora apenas o encarava parecendo encantado. Sem obter uma resposta, resmungou: — Ótimo Vegas, ele vai te responder... olha neném, vou segurar na sua mãozinha e juntos vamos procurar seu papai, ok? Mas não chora ou vão achar que estou te sequestrando.

Vegas se colocou de pé novamente, olhando de soslaio para a recepcionista que agora conversa com uma colega de trabalho, sem nem ao menos se importar com o que acontecia ali. Pensou que se fosse um raptor de criancinhas indefesas, as duas mulheres não seriam um problema para suas ações. Sacudindo a cabeça em negativa, voltou a encarar o pequeno de cima, lhe estendendo a mão, negada de pronto. O menino ergueu os dois braços na sua direção, as mãos fazendo movimentos de abrir e fechar, os olhinhos ainda encharcados.

— Colo... colo.

Vegas ampliou seu sorriso, aquela criança era realmente adorável, mas isso poderia ser um problema. E se não fosse ele ali? Se fosse algum tipo de pervertido? Quem era o irresponsável que deixava aquele anjinho perambulando sozinho? Que tipo de pais aquele menininho fofo tinha? Sentiu a indignação o atingir, ao mesmo tempo que não conseguia deixar aquele sorriso bobo perpetuar em seu rosto.

— Tio... colo.

Mais uma vez o garotinho tremeu os lábios e antes que ele voltasse a chorar Vegas se curvou minimamente e o acolheu em seus braços, passando a mão livre por suas costas em uma carícia comedida.

— Agora diz pro tio, onde tá o papai?

— Papa?

— Isso! Papai... onde ele está?

O pequeno ameaçou chorar novamente, choramingando incessantemente chamando pelo pai. Vegas cogitou caminhar com ele pelo corredor que ficava de frente a recepção, mas temeu que alguém, por algum milagre, fosse até ali à procura do pequeno. Um verdadeiro dilema se formava em sua cabeça: o que ele deveria fazer? Sabia que dentro de alguns minutos a visita aos pacientes se encerraria e ele tinha de vê Macau ou o irmão surtaria, fazendo deduções descabidas, como a de que a família não se importava com ele. Aquele garoto era tão dramático e mimado, que Vegas não fazia ideia de como ele suportava viver tanto tempo longe de casa, sem a mãe o paparicando.

O pequeno começou a se debater em seus braços, balbuciando palavras desconexas, agitando os bracinhos curtos na direção do comprido corredor de onde vinha alguns homens e mulheres trajando seus jalecos brancos, tendo um homem se destacando em um uniforme azul bebê, cheios de estampas que vegas não conseguia distinguir, andando a passos largos na sua direção.

— Venice! — o homem brandou o nome ao se aproximar, tendo como reposta o menino jogando o corpo para frente, quase fazendo Vegas se desequilibrar. — Você quer me matar de susto, coelhinho? — o recém-chegado disse em voz trêmula, sem olhar para Vegas e abrindo os braços para receber o pequeno, que foi logo acomodando a cabeça na curvatura de seu pescoço.

— Apá! Papa!

— Tá tudo bem, tudo bem, eu tô aqui. Você tava assustado? — o homem perguntou, acariciando a cabeça do menino e beijando repetidas vezes seu rostinho pequeno.

— Não... titio uidou do Nice.

A criança apontou na direção de Vegas, que se encontrava estático, encarando o recém-chegado em um misto de emoções. O universo sem dúvidas estava lhe pregando uma peça, não tinha como aquele homem, parado bem na sua frente e segurando a criança com tanto carinho, ser Pete. Ele simplesmente não queria acreditar que o acidente de seu irmão fosse o levar diretamente ao encontro daquele que um dia fez parte da sua vida. Aquele que recheava todas as suas melhores lembranças do passado e agora parecia tão mais distante do que quando seus caminhos se separaram. Pete agora era pai e provavelmente um homem casado, mas o que ele estava pensando? Não era como se imaginasse um dia no futuro reencontrar seu ex e continuar de onde haviam parado. Longe disso, ele sabia desde o início que quando tomou aquela decisão no passado, traria muitas consequências, mas isso não o impedia de ficar minimamente decepcionado. Se pudesse, sem dúvidas voltaria no tempo e tomaria outra decisão, não deixaria Pete seguir sozinho, não desistiria de uma viagem por saber que ambos se encontrariam e provavelmente pediria para voltarem. Teria agido de forma egoísta, se isso garantisse Pete ao seu lado.

— Obri... Vegas? — Pete franziu o cenho momentaneamente, olhando para a criança em seu colo e novamente para o homem o encarando com um sorriso fraco pintando seu rosto.

— Pete... eu... seu filho é lindo. — Vegas engoliu seco, havia criado uma rápida ilusão de que Pete não fosse pai daquela criança, talvez fosse algum dos seus pacientes mirins, mas a maneira como esse encarou o rapazinho em seus braços e sorriu, denunciava a verdade.

— O que você tá fazendo aqui? — não existia acusação na voz de Pete, mas seu rosto de repente assumiu um ar preocupado. — Você tá doente?

Vegas ficou um pouco confuso com a pergunta, então lembrou de onde estava e sorriu sem graça, coçando a nuca enquanto respondia.

— Ah! Não... Macau.

Vegas assumiu que não precisaria dizer mais nada para que Pete entendesse seus motivos; ele, mais do que ninguém, sabia o quanto o mais Macau gostava de se aventurar e, por consequência, sempre acabava com alguns machucados aqui e ali e em alguns casos mais extremos, como agora, indo parar em hospitais. O Theerapanyakul sabia que o irmão ficaria feliz de rever Pete, no passado os dois funcionavam como uma espécie de dupla implacável para colocá-lo louco; e, ele sentia falta disso. O término com Pete, também havia afetado o seu relacionamento com o irmão, que no primeiro momento se afastou, não aceitando seus motivos. De novo, Vegas desejou uma oportunidade de voltar no tempo e consertar tudo.

Pete assentiu, acariciando os fios de Venice, que havia deitado a cabeça contra seu ombro e começava a fechar os olhos gradativamente, como se aquele ato reflexo fosse um calmante instantâneo. Os dois adultos ficaram em total silêncio, se encarando sem saber o que fazer a seguir. Foi Vegas quem quebrou deu fim àquela mudez, pigarreando enquanto passava a mão pela blusa impecavelmente branca.

— Bom... preciso ir visitar Macau antes que o horário de visitas acabe. — Vegas informou, arrancando Pete de uma detalhada observação.

— Ok... e... obrigado por cuidar dele... o Venice não costuma ir com todo mundo, então ele deve ter gostado realmente de você.

Vegas sorriu, um tanto quanto convencido, levando sua mão para tirar alguns fios da frente do rosto pequenino.

— Qual quarto o Macau está? — Pete perguntou em tom casual, tentando não demonstrar seu constrangimento pelo ato do mais novo.

— 1306A. — informou, verificando o papel entregue pela recepcionista.

— Ok, te levo até lá, assim você não perde mais tempo procurando. — espalmando a mão nas costas de Venice, Pete apontou com o queixo para o extenso corredor de onde havia saído, indicando a Vegas que eles deveriam seguir por lá.

— Não pre...

— Não vai mudar minha rota. — Pete o cortou de pronto, lhe oferecendo um sorriso largo, fazendo o coração do Theerapanyakul acelerar loucamente.

Eles haviam namorado por dois anos, agora haviam se passado quase quatro desde o rompimento e a Vegas, não parecia justo que Pete estivesse ainda mais bonito. Que seu sorriso ainda mexesse tanto com seu coração. Assentiu com um menear lento de cabeça, impossibilitado de proferir qualquer sentença e imaginando uma imagem bem patética de si, enquanto encarava o homem à sua frente.

Caminharam por alguns minutos, mergulhados em um silêncio inevitável. Pete concentrado na criança em seus braços, vez ou outra acariciando suas costas, ou arrumando os fios que insistiam em ficar sobre os olhos do pequeno. Vegas tentando focar no caminho que eles faziam, fitando as placas de informações com um interesse fingido, acompanhando pela sua visão periférica o homem ao seu lado. Acreditou que nunca mais veria Pete frente a frente e agora que havia cruzado seu caminho, não sabia como agir.

Era tudo muito complexo entre os dois, eles não haviam terminado por algum tipo de traição ou porque não nutriam mais sentimentos um pelo outro. Na verdade, Vegas apenas não queria ser o obstáculo entre a realização dos sonhos do mais velho. Acreditava fielmente que havia tomado a decisão correta quando deixou Pete livre para perseguir seus sonhos. Não houve briga, apenas uma conversa aberta e uma despedida calorosa e também dolorosa.

— É aqui. — Pete apontou para porta semi aberta, tirando Vegas de seus pensamentos. — Obrigado, mais uma vez. — completou, sorrindo e mais uma vez fazendo o coração de Vegas disparar.

Pete deu dois passos para trás, ainda encarando Vegas e sorriu antes de virar de costas e retomar seu caminho, sumindo em segundos quando virou à direita no corredor a sua frente.

Vegas suspirou profundamente, uma tentativa falha de organizar os pensamentos, antes de empurrar a porta e entrar no quarto, se deparando com Macau choramingando para a enfermeira que lhe aplicava uma medicação intravenosa e fingia não o ouvir. "Muito esperta" Vegas pensou.

— Que bom que você chegou mano. Olha, se eu morrer por conta desse medicamento desgraçado, você pode ficar com a minha bike. — Macau disparou, seus olhos lacrimejando.

— Você também bateu a cabeça? Você não vê perigo nas suas aventuras, mas acha que vai morrer por conta de uma medicação? — inquiriu Vegas, observando o irmão torcer a boca em desaprovação ao sermão, fazendo uma imitação muda de suas palavras.

— Isso aqui dói, ok? — o mais novo disse por fim, encarando o irmão com ar de que estava falando sério.

— E o seu braço quebrado não dói? Aliás, você ainda tem algum osso pra quebrar?

— Por que não veio o papai ou a mamãe? Eles pelo menos iam me dar carinho, seu chato... aiiiii! — Macau grunhiu quando a enfermeira segurou seu braço, impedindo-o de fazer qualquer movimento brusco.

— Prontinho... — a mulher falou, se voltando para a ficha do paciente e fazendo algumas anotações, antes de sair do quarto e fechar a porta.

— Vai... pode começar o sermão agora.

Vegas encarou o irmão com atenção, antes de cruzar com Pete ele realmente tinha uma lista de reclamações a fazer, mas tudo havia se perdido em uma névoa de lembranças e agora a única coisa que permeava sua mente nublada e acelerava seu coração há tempos esquecido, era o sorriso doce de Pete. Caminhou até a poltrona posta ao lado da cama e se sentou em silêncio, contemplando o vazio a sua frente, enquanto o irmão o seguia com o olhar.

— Encontrei com Pete.

Macau tenta se erguer quando ouve aquela curta sentença, porém, desiste quando sente a dor nas costelas se intensificar.

— Onde? Ele está bem? Porra! Por que ele não te bateu? Eu teria socado sua cara feia até perder as forças? Vegas?

Macau tinha um repertório de coisas para falar ao irmão, contudo, ficou em alerta ao notar o ameaçador silêncio o envolver.

— Ele tem um filho.

Macau emudeceu de repente, apenas o barulho do monitor de sinais vitais ecoando pelo quarto branco, quando voltou a falar, sua voz saiu em tom de indignação.

— Vegas o que você fez com meu Pete? Que tipo de trauma foi esse que fez ele casar com uma mulher? Que ÓDIO que eu não posso nem xingar sua mãe.

— Deixa de ser idiota Macau! — Vegas bufou, não estava irritado com o irmão, mas se não o parasse ele ficaria horas comendo seu juízo e já se martirizava demais sozinho. — Já conversamos sobre isso, ok? — o mais novo fez um bico, virando o rosto na direção oposta ao irmão, em sinal de protesto. — Só quero que você fique bem logo e pare de tentar matar a mamãe do coração. — mudou de assunto, falar de Pete era perigoso demais.

O irmão não respondeu e quando voltou a encará-lo apenas meneou a cabeça positivamente, informando que estava com sono, por conta do medicamento, antes de fechar os olhos e adormecer. Vegas ficou ali, encarando o irmão caçula com ar de preocupação, ao mesmo tempo que, o rosto de Pete preenchia seus pensamentos. Um único desejo rondava seus pensamentos: o de poder vê-lo novamente.

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Me digam o que acharam...

vejo vocês em breve!!!

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