3.Questionamentos
-- Desde quando eu tenho isso? -- Ali cruzei meus braços. Não é possível que esse príncipe tenha sido tão manipulado!
-- Como assim não sabe? -- Ele me olhou confuso. -- Ela é a sua governanta!
Beelzebub ficou sério antes de se aproximar.
-- Eu não tenho governanta Dália, apenas gárgulas, devido a minha antiga maldição me encarreguei de não ter nenhum ser vivo por perto.
Pisquei diversas vezes e tomada por um impulso, puxei sua mão o tirando da sala, fiz com que me seguisse até a cozinha onde uma gárgula lavava a louça.
-- Onde está Acácia? -- Perguntei e a gárgula se manteve em silêncio, olhei para o segundo príncipe que respirou pesado.
-- Faça tudo o que a princesa mandar. -- Exigiu.
-- Ela está na sala de jantar organizando como o mestre pediu.
Beelzebub me encaminhou até o local e quando chegamos vimos uma pequena confusão de mobílias sendo trocadas de local além da mesa ser polida e no canto direito a governanta com seu véu permanecia de pé.
-- Ela está ali. -- Sussurrei ficando na ponta dos pés, tenho quase um metro e setenta, porém não é o suficiente e notei parte de seu pescoço se arrepiar com minha proximidade, esse deus...
Beelzebub olhou em direção ao local e parecia confuso.
-- Nunca tive contato com ela antes. Fale mulher. -- Ordenou e Acácia deu alguns passos a frente, curvou-se em respeito e eu pedi que as gárgulas saíssem.
-- Sou Acácia, escrava do primeiro governante.
-- O que você fez para ganhar tal posto? -- O príncipe questionou.
-- Nada. Paguei pelos erros dos meus pais, que não ficaram ao lado do lorde quando o mesmo tentou invadir e dominar o mundo.
-- E por que nunca há vi em minhas dependências antes?
-- O Lorde Satã sempre deixou claro que eu deveria servir somente a ele e sempre foi ativo quando o senhor costuma dormir.
-- E para que esse desgraçado usava o meu corpo? -- O punho dele estava comprimido como se a raiva aos poucos se apossasse e deslizei meus dedos por seu braço discretamente até tocar sua mão fechada.
-- Nada de bom como deve estar imaginando. Ele se dividia entre tortura e vingança. -- Ela especificou.
-- E prazeres carnais... -- Completei.
-- Não. O lorde não os praticava, pois, simplesmente matava a tudo e a todos, essa era a sua forma de diversão, condenar a vida do segundo príncipe, fora que acabava por matar tanto que as criaturas tinham medo dele.
-- Que tristeza. -- Sussurrei, pensando que por um minuto eu imaginei estar com ele, quando, na verdade, fui possuída por sua maldição.
-- Sim e como a lady deve imaginar os poderes dele eram restritos então, com isso ele mantinha-se quieto, na maioria do tempo.
-- Agora que ele se foi, será que conseguimos libertá-la? -- Olhei para Beelzebub que pareceu pensar:
-- Bom, eu não consigo imaginar como farei isso, já que não sabia de sua existência, mas eu lhe liberto de qualquer serviço que tenha comigo.
-- E aí funcionou? -- Perguntei esperançosa e ela negou.
-- Nesse caso ordeno que se mude e trabalhe com Sn a partir de agora, obedecerá a ela e somente a ela. -- Assentiu e assim seguimos para meu castelo onde realmente pegaríamos no pesado...
Mal abrimos a porta e demos de cara uma movimentação absurda, Asmodeus usava uns saltos em tom rosa choque, conforme desfilava pelo salão havia uma pluma em seu pescoço e eu fiquei confusa que tipo de festa será essa?
-- Dália que bom que regressou. Qual você prefere? Estou na dúvida entre preto ou vinho.
Encarei Beelzebub antes de retornar meu olhar para ele.
-- Asmodeus acho que Sn prefere uma decoração mais Olimpo dessa vez. -- Ele Gargalhou com minhas palavras.
-- É sério Asmodeus troque essa decoração por azul-escuro e que remeta ao universo, isso é um chá de bebê e não uma festa – cabaré/puteiro, eu não sei como vocês se referem.
-- Puteiro Dália? Não ofenda a minha arte sua, sua freira do caralho! -- Reclamou e eu não sei se dou risada ou se me sinto ofendida.
-- Perdão, lorde das festas mais luxuriosas que existem no inferno. -- Ironizei e ele me encarou incrédulo antes de começar a reclamar que eu não deveria me meter em seu trabalho e de como preciso de umas dicas para me vestir melhor, fora o fato de não parar de falar do meu gosto para leitura, então fiz um sinal de silêncio para o príncipe da Gula além de deslizar minha mão pela dele entrelaçando os nossos dedos e com a livre utilizei um dedo o girando em sentido horário adiantado o tempo até a parte que Asmodeus parava de reclamar e toda a decoração do salão estivesse azul. Quando acabei, notei que o príncipe parecia petrificado e seu coração batia forte demais.
-- Está tudo bem meu lorde? -- Sussurrei e novamente observei os pelos de sua nuca eriçar e de maneira rápida ele desfez nosso contato. -- O próximo passo são as escolhas das comidas. -- Desconversei. Fui informada por uma gárgula que as provas do bufê estavam prontas, sei que SN está fazendo de propósito. Como uma deusa ela poderia ordenar em um estalar e tudo ficaria exatamente como quer, mas não, ela colocou na cabeça que seria uma espécie de cúpido e por mim tudo bem, eu gosto da presença de Beelzebub, mas não sei se ele se sente confortável comigo desde que nos deitamos, principalmente agora que tenho entendimento do que realmente aconteceu. Respirei fundo deixando essa confusão de lado e assim escolhemos o menu que agradaria a todos, depois fizemos a parte da decoração da frente e esse local nem está parecendo com um palácio no inferno.
-- Ficou incrível! -- Comentei sorrindo.
-- Em nome de Hades acho que vou vomitar. -- Asmodeus pôs a mão na boca fingindo ter náuseas e tive que rir de leve pelo drama. -- É sério, soberana temporária, se a imperatriz não gostar, eu mesmo fornecerei os chicotes para que ela se vingue de você ou implorarei para me deixar te punir. -- Revirei meus olhos antes de o despachar do meu palácio, pedi a gárgula para que acomodasse Acácia da melhor forma possível e segui com o príncipe para a varanda onde uma calorosa refeição nos aguardava.
-- Quanto tempo passamos nessa decoração? -- Perguntou enquanto que, em um ato de cavalheirismo, puxou a cadeira para mim.
-- Foram ao todo vinte e oito horas, se Sn não veio reclamar é porque a festa foi adiada.
-- Nesse caso princesa faremos uma pausa e lhe vejo dentro de dois dias. -- Concordei e terminamos nossa refeição, levei Beelzebub até a porta e dali fiquei olhando-o partir ao fechar suspirei notando como a decoração está belíssima e como o príncipe da Gula é bonito, senti meu rosto aquecer ao lembrar do toque de sua mão mesmo que fosse eu a ter tal iniciativa, porém seu agarre em meu pulso pedindo para não tocá-lo tão intimamente me confunde e me instiga a querer saber mais, um clarão se fez presente no salão e quando dei por mim vi o deus dos mortos com sua cabeça de chacal posta me honrando com sua presença:
-- Vim lhe buscar querida, afinal de contas uma convidada nunca se atrasa. --
Anúbis abriu a fenda e me aproximei passando por ela, pelo visto ele não vai ficar nada feliz em saber que não ficarei por muito tempo.
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-- Anúbis, eu preciso ir. -- Seus beijos desciam pelo meu pescoço tocando com suas mãos meu corpo nu, enquanto eu me afastava de leve e ele tornou a me puxar, devo admitir que não faço questão de resistir.
-- Isso não é sequer uma visita, foi praticamente um piscar! -- Sua língua deslizou de leve pelo meio dos meus seios até morder meu queixo e voltar a se encaixar entre minhas pernas me fazendo arfar. -- Querida é uma perda de tempo se negar tanto a minha presença, venha de uma vez para o Egito, seu lugar é ao meu lado, ao melhor no meu colo. -- E assim nos virou na cama me deixando por cima.
-- Isso não vai acontecer, mas para não ficar com tanta saudade farei com que se esgote por mim. -- Pisquei lentamente antes de começar a cavalgá-lo, Anúbis é incorrigível...
O deus dos mortos me olhava de soslaio incrédulo, ouso dizer que está com raiva, o mesmo se aproximou e colocou meu cabelo para o lado direito antes de subir o zíper do meu vestido.
-- Você trapaceou Destino. -- Anúbis só me chama assim quando está com raiva.
-- Eu não fiz nada, lhe dei o que você queria e foi muito divertido. -- O mesmo segurou com força em minha cintura e eu afastei sua mão.
-- Nunca mais use seu poder em mim. -- Deixei meu sorriso escapar.
-- Não me dê ordens como se eu fosse uma subordinada, não pertenço aos seus domínios como tão pouco sou sua mulher. -- Estamos vis-à-vis e ele se aproximou na intenção de me beijar, porém, desviei de seus lábios.
-- Não é minha mulher por que não quer. Vou levá-la ao seu palácio e já adianto que exijo sua presença para um passeio digno. -- Essa é a forma dele dizer que quer se desculpar corretamente, ele abriu a fenda e suspendi meu vestido.
-- Só não venha por essa semana, estou atarefada com minhas funções no submundo.
-- Posso delegar chacais para lhe servir e...
-- Não precisa. -- Jamais aceitaria algo desse nível, não me leve a mal, mas todo grande favor requer uma dívida e eu sei exatamente o que ele quer de mim mesmo que demonstre interesses verdadeiros.
-- Não precisa ou aquele príncipe vai ajudá-la? -- Havia um ar de desprezo em sua voz e tive de sorrir de leve. -- Os boatos correm rápido regente temporária. -- Por um minuto senti vontade de enforcar Asmodeus, ele é muito fofoqueiro!
-- Se sabe dos meus afazeres, entende que terei de puni-lo por me prender por tanto tempo aqui. -- Ironizei, tentando desconversar e ele mordeu o lábio inferior me olhando de cima a baixo.
-- Se eu soubesse que faria isso, teria sido um deus bem terrível.
-- Anúbis só abre essa fenda de uma vez!
-- Eu queria era estar abrindo suas pernas. -- E assim retornei para meu castelo completamente Cansada, o ruim de usar o meu poder da forma que fiz é que eu posso realmente morrer. Sem pensar em mais nada e ignorando todos os avisos de Acácia, segui para o meu quarto me atirando na cama.
Por Beelzebub,
Eu estou realmente confuso, desde que acabamos a decoração e retornei ao palácio. Tesla não parou de me fazer perguntas cada vez mais desafiadoras e enquanto estávamos focados na ciência estava tudo bem, porém quando meu atual amigo inventou de arrancar informações sobre Dália eu desconversei completamente e agradeci mentalmente quando horas mais tarde SN me convocou em seu palácio e agora estou aqui prestes a levar um xeque-mate degustando uma xícara de chá enquanto discutirmos a respeito das plantações, quer dizer, ela fala e eu escuto, no momento não consigo formular nada.
-- Beel você está desatento. Nunca ganhei com tanta facilidade xeque-mate. -- Como posso dizer a ela que provavelmente possuí a irmã dela sem ser eu mesmo e que me sinto culpado? Ou pior, já que havia sangue em meu peito e para piorar Dália não se afasta e eu nem sei se quero que ela se afaste.
-- Estou realmente desatento. -- Bebi mais um pouco de chá.
-- Aposto que uma deusa de longas madeixas bicolores e olhos cor de lua tem a ver com isso... -- Sn sorria de leve afagando o ventre. -- Sabe que pode conversar comigo a respeito dela, não é porque temos o mesmo sangue que serei alheia a você. Sou sua amiga Beel.
Respirei pesado.
-- Sua irmã é fascinante.
-- Disso não tenho dúvidas. Agora o que te aflige?
-- Ela também é confusa e profunda, acima de tudo não me rejeita. -- Confessei.
-- E por que você quer ser rejeitado?
Aqui respirei pesado, talvez Sn mande me matar após isso.
-- Sinto que a violei de alguma forma e me culpo por isso. -- SN me olhou incrédula antes de respirar fundo.
-- Olha, eu não sei o que aconteceu entre ambos, mas, se Dália tivesse uma experiência ruim, acha mesmo que ficaria ao seu lado? Pare e pense Beel, estamos falando da deusa do destino, ela literalmente controla o tempo ao seu favor. E se, se sente tão mal, converse com ela.
-- Tentarei assim que for vê-la. -- Me certifiquei de não criar muitas expectativas.
-- Se eu fosse você não enrolaria muito. Dália está com Anúbis e a cada momento que passa esse deus a quer mais e uma hora ele irá conseguir o que deseja, acho que só tem um certo deus que a impede de ir...
Ela me olhou de maneira divertida.
-- Ah, Beel não seja tão sério. Minha irmã não agrada você? -- O tom da pergunta de Sn deixou meu rosto provavelmente vermelho e ela fez um carinho mínimo do lado direito. -- Só pelo tom das suas maçãs sei que ela te agradou e muito...
-- Sn.
-- Ok-OK, vou parar, mas como sua amiga lhe darei mais um aviso: não há com que se preocupar Beel, uma conversa resolve todos os seus problemas e aquela maldição não está mais com você, então aproveita para viver. Agora eu tenho que ir, parece que Adamas e Poseidon vão acabar se matando por causa de um presente. -- Revirou os olhos antes de se levantar e deixar um beijo em minha bochecha.
-- Nos vemos na festa querido, espero que aproveitem bem. -- Piscou, Sn costuma ser direta demais para os meus padrões, principalmente quando se trata de temas sexuais. Me levantei e respirei fundo, não sei ao certo como vou iniciar essa conversa, afinal nem eu entendo o que está acontecendo, pois, nunca tive memórias tão vividas sobre o que Satã fazia em meu corpo exceto quando se trata de Dália e é justamente a clareza desses detalhes que me deixam extremamente sem jeito em meio a uma única certeza: eu jamais a trataria daquele jeito.
[...]
Tesla estava sério e absorto nos próprios pensamentos quando me aproximei, fiz questão de me sentar em minha poltrona e puxar um livro, além de observar uma gárgula acender a lareira.
-- Estou deverás intrigado com uma bela dama. -- Comentou.
-- Qual é a máquina da vez?
-- Assim você me ofende, aquele ser místico realmente me encantou, sua pele tem um tom de vermelho tão vívido, seus olhos são em tom escuro tão belo e seus cabelos parecem ter vida própria, se bem que ela estava na cachoeira de lava...
Revirei meus olhos.
-- Com tantas deusas para se interessar, você foi logo em uma criatura abissal? Apenas deuses suportam se envolver com elas, um humano como você morreria no primeiro contato. -- Ele me olhou levemente desmotivado e depois sorriu abertamente.
-- Obrigado por me avisar, esse será meu novo desafio por aqui.
-- O quê conquistar uma criatura terrível?
-- Não, criar uma máquina forte o suficiente para não morrer! -- Riu de leve e uma gárgula bateu a porta.
-- Lorde, a princesa retornou, lady Acácia informou que ela se encontra na biblioteca do palácio. -- Meneei com a esquerda e ela se retirou, olhei para Tesla que mantinha um sorriso faceiro e revirei meus olhos.
-- Nem comece.
-- Eu não ia dizer nada, mas talvez, só talvez esteja muito interessado e será que lady Dália poderia nos acompanhar hoje a tarde?
-- Farei o possível. -- Lhe respondi e segui até a porta, ainda precisamos terminar os trâmites da festa...
Dália lia um livro de romance muito concentrada, estava descalça e com as pernas sobre o sofá tão bela que nem me dei conta de que passei bastante tempo a admirando a ouvi fungar depois de retornar a mim e me aproximei:
-- Está tudo bem princesa? -- Ela limpou as lágrimas sorrateiras que caiam por sua bela face e fechou o livro.
-- Está, sim, foi só um romance bobo que me deixou desse jeito, sabe às vezes acho que escolher ter emoções foi uma grande ingenuidade.
Cruzei meus braços e me apoiei na estante observando-a se aproximar para guardar o livro.
-- Discordo de sua análise, acho que aproveitar essas sensações são a melhor parte. -- Como posso ser tão hipócrita? E ela parecia pensar o mesmo, pois, me olhava de maneira divertida com uma de suas sobrancelhas arqueadas e com um sorriso singelo no rosto.
-- Eu prefiro que continue pensando desse jeito e então o que temos para agora? -- Dália novamente encostou em mim, dessa vez seus dedos ajeitavam meus cabelos antes dela se afastar.
-- Na verdade, quero conversar. Depois cuidamos da festa. -- A deusa voltou a se sentar no sofá me convidando a fazer o mesmo e antes de qualquer coisa eu fechei a porta da biblioteca. -- Não quero que nos ouçam.
-- Se é tão sério, é melhor irmos para o meu quarto e...
-- Não será necessário.
-- Então faça a sua pergunta príncipe.
-- Dália, o que de fato Satã fez com você? -- Ela desviou o olhar, antes de respirar pesado.
-- Só sexo, no começo achei você possuísse dupla personalidade, porém após assistir ao torneio e ler parte do seu futuro foi que compreendi o que ocorreu aqui.
-- Por um momento imaginei o pior, eu lhe devo desculpas por não controlar essa maldição da forma correta. -- Ela sorriu antes de passar puxar minha mão para seu colo.
-- Você não me deve nada, não temos algo para que se sinta culpado e acima de tudo ele teve todo o meu consentimento para me ter e se lhe serve de consolo eu realmente pensei que fosse você. Ou seja, ambos fomos enganados. -- Ela riu de leve, senti um peso deixar os meus ombros como se toda a forma arisca de tratá-la procurasse se esvair, mesmo que eu ainda não me sinta completamente confortável com o ocorrido. -- Você se lembra quando foi que ele invadiu o seu corpo? -- Dália me questionou tentando reverter o foco da nossa conversa que aos poucos poderia se tornar constrangedora.
-- Na verdade, creio que sempre fomos a mesma pessoa, como se no momento em que o corpo físico do primeiro governante tenha sido destruído desse origem ao meu nascimento. -- Afirmei pensativo, nunca parei para questionar a legitimidade desse pensamento, simplesmente por que quando Satã estava "vivo" minha preocupação era justamente descobrir seu paradeiro por matar aqueles próximos a mim e no fim quando Lilith morreu em meus braços deixando claro que o monstro que tanto procurei habitava dentro de mim, minha motivação passou a ser outra bem mais obscura.
-- E se eu puder confirmar essa história? -- Dália me olhou nos olhos, me arrancando brutalmente do passado distante.
-- Está se oferecendo para ler o meu passado?
-- Não. Apenas tenho curiosidade em entendê-lo e quem sabe posso ajudá-lo a encerrar esse ciclo maldito.
Senti como se todos os meus pensamentos sumissem se prendendo ao olhar terno e a proposta tentadora, ao qual estou prestes a aceitar.
Por Dália,
Esse deus está realmente confuso, Beelzebub achou mesmo que poderia ter feito algo comigo contra a minha vontade, chega a ser inocente de sua parte pensar dessa forma, porém, revela bastante de seu caráter e isso me faz querer desmistificá-lo ainda mais.
-- Você pode fazer isso? -- As palavras deles tornaram-se densas, como se não acreditasse em minha oferta.
-- Meu bem, eu sou o tempo, o destino e sua sentença, eu posso fazer tudo. -- Sussurrei e ele segurou em minha mão. -- Vou pedir que preparem uma banheira quente pra você.
-- Dália não...
-- Precisa sim, teremos que forçar a sua memória e se isso te machucar, doerá em mim também. Então vamos relaxar está bem? -- Me levantei e segui pelos corredores do castelo, Sn foi muito generosa em me dar uma propriedade tão grande, mesmo que eu prefira o castelo do príncipe da Gula.
-- Senhorita Dália, seu vestido está pronto, o que vai querer para o jantar? -- Acácia sorriu para mim demonstrando que está a todo vapor.
-- Obrigada peça para Signe aquecer a banheira por favor e depois pode se recolher ou passear está de folga pelo restante do tempo. -- Ela concordou e segui meu caminho imaginando cento e vinte oito seres dentro desse salão, tá que cabe bem mais, porém, não imagino os governantes do submundo se divertindo com tantos. Deixei meus pensamentos de lado e fui até meu quarto, o vestido estava pendurado no cabide tão bonito que chegava a ser um pecado amassá-lo em meu corpo, ao redor da janela minhas rosas vividas e sobre a cama uma caixa preta com fio de cetim e um cartão.
Para Dália, use da próxima vez
que estiver comigoAss, S.
Abri a caixa dando de cara com itens semelhantes a grilhões e sei o que fazem, Sn teve problemas com seus dons por esse mero detalhe. Fechei a caixa e coloquei-a debaixo da cama, imaginando que Acácia deve ter trazido isso, já que ela era a serva dele, batidas a porta me tiraram dos pensamentos que se arremetia a minha primeira noite no submundo.
-- O banho está pronto e o lorde está esperando no salão.
Agradeci antes de descer as escadas e seguir para o local onde Beelzebub me aguardava.
-- Vamos subir? -- Ele concordou um pouco envergonhado, porém, me seguiu. Dentro do banheiro elevei meu vestido o amarrando nas coxas, me sentei na borda da banheira. -- Tire os sapatos, o excesso de roupas e entre, passei a mão pelas águas e ele me analisou antes de cumprir com o que pedi, tirou os sapatos e o longo casaco além da gola removível e adentrou a banheira, puxei seus ombros e o fiz deitar em meu corpo apoiando a cabeça em minha barriga. O tempo reduziu consideravelmente minhas funções, porém não há como as retirar. Coloquei minhas mãos ao redor de seu peito distribuindo gatimonhas antes de massagear seus ombros sentindo seus músculos rígidos relaxarem e apreciando mais o seu corpo, depois segui para suas têmporas acalmando não só o seu corpo, como o meu também, fechei meus olhos que passaram a girar me fazendo viajar em seu tempo.
Séculos atrás uma lembrança ruim:
O governante supremo não queria apenas reger o submundo, queria espalhar as chamas eternas pela terra e ascender aos outros reinos onde segundo ele fogo e enxofre desceriam como uma cascata transformando a paisagem do mundo, como mecanismo principal teria apoio dos Titãs que prometeram não só destruir os deuses como escravizar os que restassem, para ele um banquete para aqueles que concordaram em se aliar, as vidas humanas não lhe valiam de nada, mas, Satã se esqueceu que ele era apenas um, contra uma legião de deuses que aparentemente ficaram enfurecidos e foi tão miseravelmente massacrado que não fez questão de se levantar, apenas utilizou de seus conhecimentos mais antigos para se fundir a alguém tão poderoso e claramente confuso sobre tudo o que estava acontecendo.
O jovem era o segundo na linha de sucessão, mas ainda precisaria aguardar longos anos até que obtivesse conhecimento suficiente para entender como seu mundo funcionava e com o passar dos séculos essa parte da história foi completamente esquecida, afinal tornou-se irrelevante aos olhos do deus dos deuses.
Off
Afastei minhas mãos de sua cabeça me sentindo tonta, Beelzebub continuou deitado e de olhos fechados quando me encarou estava descrente.
-- Vocês nem sempre foram a mesma pessoa. -- Sussurrei.
-- Fomos a mesma pessoa por tempo demais. -- Rebateu e suspirei.
-- E ainda pensa em morrer?
Ele pareceu refletir sobre essa questão, antes de ergueu seu corpo permanecendo sentado.
-- Não precisa me dizer se isso te incomoda, eu sinto tudo o que há dentro de você, seus conflitos e emoções tornaram-se meus enquanto eu te li.-- Apoiei minha destra em seu ombro.
-- Eu tenho muito o que pensar ainda, mas foram muitos anos de culpa depois que descobri que aqueles por quem me afeiçoei pereceram por essas mãos. -- Ele encarava as próprias mãos em um sentimento amplo de frustração, segurei nelas e beijei seu rosto antes de infelizmente tropeçar na banheira e cair sobre ele que me amparou, o tempo realmente me restringiu. -- Pelo visto você precisa descansar. -- A mãos firmes ralharam pelos meus ombros apertando o local de leve, seu olhar foi da minha boca para o colo dos meus seios antes de se afastar bruscamente. --- Perdão.
Notei seu olhar e seu rosto que estava da cor de um morango.
-- Não precisa pedir desculpas por algo que você não fez. -- Suspirei, essa situação está constrangedora. -- Olha, eu estou bem, na verdade, preciso de um banho, mas tudo bem, só estou me acostumando com as falhas desse projeto. -- Me levantei sorrindo e o deixei, fui até o meu quarto e tomei um bom banho antes de seguir para o salão principal, ainda tinha alguns afazeres a frente. No entanto, senti um vento frio e lento passar por meus ombros jogando meus fios para trás e ao olhar percebi que seu sorriso em nada se desmanchava segurando entre os dedos uma de minhas rosas.
-- Anúbis...
-- Parece descontente em me ver e olha que lhe trouxe muitos presentes. -- Nem tive tempo de raciocinar, pois, as portas abertas traziam as carruagens abarrotadas de coisas que obviamente não me eram relevantes, mesmo sendo belas. Anúbis tirou seu elmo coroado e se aproximou colocando a rosa atrás de minha orelha.
-- Sua visita ao Egito foi muito curta e minha curiosidade ao seu respeito ainda não foi sanada. -- Bem próximo de mim fez com que seu olhar me prendesse, porém, um pigarrear chamou atenção:
-- Beelzebub, não sabia que Dália estava... Acompanhada. -- Só pelo sorriso sarcástico em seus belos lábios sei que está adorando essa mentira e o príncipe da gula arqueava a sobrancelha descrente.
-- Agora que sabe, creio que esteja atrapalhando nosso trabalho.
Respirei fundo e olhei para ele, depois para Beelzebub.
-- Sinto muito lorde Anúbis, irei lhe ver assim que possível. No momento ando ocupada com alguns preparativos para a imperatriz Sn. -- Divaguei e ele ralhou seus dedos curvados pelo meu rosto em um carinho mínimo:
-- Sem problemas mandarei os presentes para o seu quarto. -- Anúbis é bem audacioso, dando a entender suas intenções sem nunca ter visitado meus aposentos, pelo menos comigo.
Apenas concordei e ele voltou a aproximar seus lábios do meu ouvido, mesmo que olhasse em direção ao príncipe.
-- Quando cansar de brincar de casinha venha me ver, sei exatamente do que precisa. -- Tal sussurro, me fez querer entrar num buraco e me despedi dele indo até o príncipe que parecia levemente irritado.
-- Devemos ir. Tesla está nos aguardando.
-- E o restante dos preparativos para a festa? -- O questionei.
-- Falta apenas a cartela de bebidas e Dionísio não virá, podemos ir ao Olimpo depois. -- Concordei, havia me esquecido por completo que Tesla está hospedado no palácio de Beelzebub a espera de uma boa conversa.
Nossa caminhada seguia em um silêncio confortável, apesar dos olhares constantes do príncipe que às vezes pareciam espessar bem mais do que ele poderia me dizer em palavras, Beelzebub desviou o caminho lentamente me intrigando.
-- Onde estamos indo?
-- Tesla não está em meu palácio e sim conduzindo um experimento. -- O lorde parecia mais seco que o comum, então resolvi adentrar nesse assunto, de fato Tesla tem se mostrado um ser humano interessante.
-- Não imaginei que ele fosse estar tão à vontade. -- Questionei e ele sorriu de leve.
-- Posso dizer o mesmo de Anúbis. -- O sussurro não me passou despercebido, porém resolvi me fazer de desentendida.
-- O que disse? -- Ele me olhou profundamente parando nosso caminho.
-- O que você tem com o deus dos mortos? -- Seu semblante sério possuía uma leve relutância como se tentasse esconder sua verdadeira expressão e com isso balancei minha cabeça negativamente.
-- Está me perguntando como 'homem' ou por curiosidade? -- As bochechas dele ganharam um tom de corado, lhe conferindo uma beleza extra, porém, ele não me respondeu e passei a sua frente sem saber para onde iríamos: -- Quando descobrir a resposta me procure, até lá não faça questionamentos dos quais não está pronto para lidar.
Fotos da decoração foda da festa, retirada do pinterest.
As lembrancinhas
E parte da comida
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