16.Momentos
Capítulo na visão de ambos os personagens.
Pré-revisado, em breve corrijo novamente, boa leitura.
Momentos
Eu respirei, cansada. Estamos finalizando tudo a respeito dos antídotos, enquanto Hades controla com punhos de ferro cada passo dado por cada infernal em seus domínios, visando controlar os níveis de desgraça. Por um momento, pensei em como seria mais fácil se Sn me desse um pouquinho do seu poder.
"Onde será que ela está?" Pensei, batendo na testa logo em seguida: "Deixa de ser inocente, Dália. É claro que ela está descansando! A imperatriz do inferno simplesmente desapareceu por horas, e tenho plena ciência de que está com o imperador do submundo, provavelmente transando, já que está revoltada por precisar adiar as férias em alguns dias."
— Bom, eu ainda tenho uma reunião com o Deus dos Mortos. Ele quer um parecer da situação, e nada mais justo depois de toda a ajuda que me deu. — Caminhei até a porta, notando o olhar de desconforto do príncipe, mas não me atrevi a falar. Ao invés disso, fui até o nosso quarto, tomei um banho e troquei de roupa, optando por um vestido branco com fendas bem marcadas que chegavam até o quadril. Terminei de amarrar a peça e me olhei no espelho. Estou extremamente confortável.
Saí do local e segui para o salão, onde Anúbis já me aguardava. Aproximei-me sorrindo e, antes que o deus pudesse dizer algo, fui rápida o suficiente para pedir que me seguisse.
— Você está divina. — O deus cheirou meu pescoço e deixou um beijo em meu ombro.
— E você, galanteador como sempre. — Sorri para ele.
— O que posso fazer se a deusa do destino é deliciosamente interessante? Agora me diga, minha rainha, como resolveremos o problema? — Suspirei antes de me aproximar dele, tocando sua pele, deslizando meus dedos por seu rosto com suavidade.
— Acho melhor eu te mostrar. — As mãos de Anúbis já estavam na minha cintura enquanto eu simplesmente mostrava para ele tudo o que ocorreu após sairmos de Asgard. Quando terminei, me afastei, observando-o fechar a expressão.
— Aquele deus filho da puta. — O encarei, confusa.
— O que foi que aconteceu entre vocês, afinal de contas?
O deus dos mortos respirou pesado, como se escondesse algo, antes de me olhar intensamente:
— Deixei esse fato para trás há muito tempo. Agora... — Os dedos dele deslizaram pela minha pele até o meu pescoço, e sei que ele está em busca do colar. — Pelo visto, já se decidiu, não é mesmo?
Apesar de estar completamente confusa, continuei olhando para ele de maneira determinada, sem responder.
— Se não me disser nada, saiba que vou roubá-la para mim, Dália. — Seu polegar pressionou meus lábios, e eu me afastei minimamente.
— Ainda tenho um compromisso e mais algumas reuniões. Deve ir, deus Anúbis.
Ele sorriu de lado, como se estivesse se conformando com minha negação, e, depois de deixar um beijo no meu pescoço, simplesmente desapareceu. Ao longe, pude ouvir sua voz:
— Se ele te magoar, virei pessoalmente arrastar a alma dele para o lugar mais inóspito do inferno.
E assim Anúbis sumiu, me deixando um pouco pensativa. Eu não esqueci sequer um dos momentos que vivi desde que pisei no submundo, mas... ao mesmo tempo, parece que tudo foi modificado, e isso se refere apenas à sensação que ecoa em mim.
Segui para a sala onde o príncipe se encontrava. Havia um carrinho grande e vários recipientes, obviamente onde os antídotos estavam.
— Vamos começar. — A voz do príncipe me deixou interessada em como cada uma das funções seria aplicada.
— Não é melhor triplicar a quantidade de servos? Anúbis ofereceu os chacais... — perguntei.
— Não há necessidade. — O príncipe não me deixou terminar, e esse é mais um dos aspectos que guardei a seu respeito. Por mais que Beelzebub tente aparentar ser distante e não se importar com as trivialidades ao seu redor, ele é amplamente ciumento e observador, além de se conter todas as vezes que sente raiva.
— E esses serão o suficiente para acabar com os problemas? — Encarei os frascos.
— Muito mais que o necessário. Agora, devemos nos reunir com os imperadores e assistir a tudo isso de cima. — Assenti, me preparando para segui-lo, quando o barulho de salto ecoou. Só pude notar as vestes curtas e os fios, agora platinados, que chegavam abaixo do quadril, além dos óculos escuros.
— Bitches, sentiram minha falta?
Beelzebub apenas revirou os olhos.
— Baby Beel, não sabia que estava acompanhado. Sou lorde ou lady Asmodeus, o príncipe da luxúria. — O batom vermelho em seus lábios chegou a reluzir quando estendeu a mão, que apertei.
— Prazer, sou Dália, a deusa do destino. Agora pare de graça, príncipe, eu te conheço. — Ironizei.
— Oh, que interessante, é você quem anda tirando meu querido senhor sombrio da linha? Fico muito grato por isso, já estava na hora de ele parar de ser tão puritano. — Tentei não expressar minha vergonha. Será que todos no inferno são tão fofoqueiros?
Beelzebub revirou os olhos.
— O que faz aqui?
— Nossa, que animosidade toda é essa? É assim que recebe o seu favorito? — Deuses, havia me esquecido de que Asmodeus é completamente diferente.
— Devo ter atrapalhado alguma coisa.
— Apenas saia daqui. — O príncipe da gula apertou a bengala, e Asmodeus se escondeu atrás de mim.
— Ainda está chateado pelo que eu fiz com o seu corpinho? Ora, Beel, são águas passadas. — Asmodeus desconversou, e eu virei para o lado. — Sua linda dama não sabe?
Notei Beelzebub passar a mão no rosto, respirando fundo, enquanto o príncipe da luxúria se afastava e expunha suas costas, mostrando uma tatuagem enorme.
— Foi um presente que ele me deu, depois de eu tê-lo enviado para um bom prazer terreno. — Sorriu com malícia.
— Correção, você enviou Satã, seu maldito.
— Que boca suja, Beel. Enfim, não posso fazer nada se aquele demônio é um safado e, em todas as oportunidades que teve, saiu para fornicar no seu corpo.
Olhei para o rosto do segundo príncipe, que jazia vermelho.
— Pelo menos sabemos que Dália se encarregou de tirar esse peso das suas costas, não é mesmo? — Asmodeus arqueou as sobrancelhas duas vezes, e só vi um vulto se levantar atrás de Beelzebub, fazendo-o se afastar.
— Ok-ok, não está mais aqui quem brincou.
— O que veio fazer aqui?
O encaramos.
— Babies, esqueceram que sou a rainha da festa? Vim para dar uns toques finais no chá de bebê de Sn, e nem imaginam as tranqueiras que consegui pelo universo. — Asmodeus parecia feliz.
— Nesse caso, te deixaremos trabalhar. — Sorri para ele, enquanto Beelzebub me acompanhava.
— Espere, Dália, temos que marcar algo. Quero saber em primeira mão como foi, já que as gárgulas não tinham detalhes.
O olhar mortal daquele que um dia portou o primeiro governante do inferno se abateu sobre Asmodeus, que apenas riu. Nos afastamos, junto aos experimentos que foram levados pelos ajudantes, enquanto o príncipe se sentia desconfortável.
— Não...
— Me desculpe por isso. — Ele me olhou.
— Eu não ligo para o seu passado, Beel. Ele é só seu. Gosto de saber quem você é e fico feliz que esteja comigo no momento. — O príncipe se calou, com o rosto vermelho, e eu o parei tocando seu braço. — Falei alguma coisa errada?
Ele não me respondeu, apenas puxou minha cintura e tomou meus lábios em um beijo rápido.
— Gosto de como meu nome soou na sua boca. Quero ouvir bem mais esta noite.
E assim seguiu, como se nada tivesse acontecido. Desde quando esse deus me deixa sem palavras?
[...]
Hades foi extremamente rápido, e isso me fez imaginar o quão brava Sn está, uma vez que o imperador extinguiu toda a continuação. Ele simplesmente ordenou que deixássemos os antídotos à sua frente, na parte mais exposta de Helheim, e, por fim, utilizando o cetro em meio a uns desenhos antigos vinculados ao chão, a onda de poder carregando aquilo que acabaria com a contaminação cessou, restando apenas os frascos que deveriam ser mandados para Asgard e para o Egito.
— Eu os levarei pessoalmente. — Afirmei, enquanto o imperador assentia.
— Façam como quiserem. E, Dália, acho que Beelzebub não concorda com essa ideia. — Hades sorriu de leve antes de baixar o cetro e caminhar em direção aos portões de seu castelo. Olhei para o príncipe e sorri enquanto ele encarava os tubos em suas mãos.
— Sobraram apenas seis. — Afirmou.
— Será mais que o suficiente. Irei primeiro a Asgard e, por último, ao Egito. Sei que Anúbis terá como ampliar isso, e em Odin eu não confio para nada. Sinceramente, nem sei por que Sn o reviveu. — Comentei.
— A rainha é muito benevolente.
— Realmente, minha irmã às vezes se supera. Bom, irei me adiantar, visto que a imperatriz quer que a festa saia ainda hoje. — Me aproximei mais, pedindo os antídotos, enquanto ele me olhava de maneira descrente.
— O que foi? Não gostou do meu plano? — Estava visível em seus olhos que algo o incomodava, e sei que ele não me dirá.
— Estarei no meu laboratório quando você chegar. Tome cuidado e leve Luther com você. — A gárgula parou ao meu lado, e alisei a face do príncipe.
— Eu sei que quer me ver segura, mas não preciso disso. Terá que confiar que farei o melhor e retornarei para você.
Apesar de contrariado, ele dispensou a gárgula, enquanto eu me dediquei a sumir pelo portal que ele abriu para mim. Agora, de frente ao palácio de Asgard, respirei contida. Creio que cheguei em um momento de tensão, visto que Odin estava em uma reunião com um anjo; ainda assim, precisarei intervir.
"Ou vai fazer o quê, me matar?" — Riu sem humor antes de sair da sala. — "Se depender de mim, o único laço que continuaremos tendo é o que não posso apagar."
As palavras do deus me deram a certeza de que invadi a reunião no momento certo.
— Me desculpem por atrapalhar, vim aqui apenas entregar isso. — Me aproximei de Odin, subindo os degraus, e tanto Thor quanto Loki me olharam de maneira estranha.
— Espero que funcione. — Um dos corvos mencionou, e revirei meus olhos.
— E eu que seja grato pelo menos uma vez na sua vida. — Levantei a ponta do meu vestido e saí, dando-lhe as costas. Antes de chegar à porta, ouvi a voz de um de seus filhos:
— E o lobo?
— Seguro e preso; é só não aprontarem mais. — Desviei meu olhar para o mais velho, que apenas apertou o apoio de braço do trono, e assim fui embora. Não pretendo voltar a esse reino nunca mais...
O Egito estava tranquilo. Encontrei primeiro o cientista de Anúbis e entreguei um frasco. Ele sorriu, me olhou e pediu a uma de suas ajudantes que chamasse Anuket. Os outros dois frascos mantive comigo e segui pelo castelo à procura de Anúbis. Logo fui informada de que o deus dos mortos se encontrava em seus aposentos. Sem problema algum, segui até ele e bati na porta três vezes antes de ser atendida por uma das damas que sempre vagam pelo castelo. Ela segurava um cesto de frutas e me pediu licença ao passar. Mal adentrei o local, dei de cara com ele deitado na cama, sem a parte de cima do traje, comendo uvas e, com a mão direita, lendo um pergaminho.
— Que bom vê-la, minha deusa. — Ele se levantou, deixando tudo sobre o apoio lateral direito.
— Digo-lhe o mesmo. — Ele se aproximou e beijou meu pescoço. — Vim trazer isso.
Mostrei os antídotos, e ele demonstrou falta de interesse.
— Achei que tivesse vindo me ver. — Tornou a se aproximar, e coloquei a mão na frente. — Não sente saudade, Dália? — Desviou o olhar para a mesa antes de alisar o queixo, obviamente se lembrando da nossa noite, onde esse deus me proporcionou inúmeros orgasmos sobre o tampo. — Você chegava a tremer em meus lábios. Lembro até mesmo da mordida que deixei em sua coxa, assim como te temei em praticamente todos os cantos desse castelo, já que minha cama não era o suficiente, e aposto que aquele príncipezinho não tem dado conta, ou estou errado?
Respirei pesado e acabei relembrando de como fiquei meio cansada da última vez que me deitei com Beelzebub.
— Anúbis, ciúme não combina com você, fora que eu não quero que o clima entre nós fique estranho porque você não está sabendo lidar com um não.
— Out, Dália! — Colocou a mão sobre o peito, fingindo estar sentido. — Eu já te disse: enquanto não se decidirem, continuarei por perto. Foi em tantas dessas que você simplesmente veio até mim, e não será diferente se aquele deus da desgraça não tomar a iniciativa. Eu te quero como minha rainha e sou perfeitamente capaz de conseguir o seu sim.
Apenas me afastei, olhando para ele.
— Sugiro que pare de tentar; estão te esperando no laboratório. Agora devo ir.
— Irei ao evento da imperatriz e espero vê-la bem linda e graciosa em um de seus vestidos, que por muitas vezes cheguei a tirar.
Anúbis é totalmente incorrigível, e desde que cheguei aqui me sinto observada. Talvez eu esteja imaginando coisas.
Por Beelzebub,
Dália deixou claro que não precisava de Luther, mas eu sim.
— Se camufle e beba isso. — Entreguei a ele um soro potente com o meu sangue. — Vá para o Egito e aguarde a chegada de Dália. Quero que observe seus passos. Luther se curvou antes de sair e, através de seus olhos e ouvidos, eu pude ver e ouvir tudo. Tenho certeza de que ela sabe que estou atento; uma hora Anúbis me fará perder a paciência.
— Nossa, se está tentando pôr fogo no laboratório, poderia ter pedido a minha ajuda! — A voz de Asmodeus me tirou do transe e só então notei fogo azul se espalhando rapidamente sobre a minha bancada.
— Merda. — Apressei-me em apagar, e meu irmão riu antes de se aproximar e sorrir, me empurrando.
— Permita-me. — E assim Asmodeus se deitou sobre a bancada, absorvendo o fogo azul como se estivesse fazendo uma mini coreografia no local.
— Pra que tudo isso? Era só pôr a mão. — Tapei meus olhos e respirei fundo.
— Obrigada, meu público, vocês são demais. — Estendeu a mão para que eu o ajudasse a descer.
— O que você quer aqui, Asmod?
— Até usou meu apelido! Está me perdoando, Beelzinho?
— Raios, o que você quer?
— Eu vi que tem novos cientistas no seu castelo; desejo ser apresentada.
— Seu olhar é muito malicioso para uma simples apresentação.
— Não seja um irmão malvado e pare de vigiar minha futura cunhada! Vou contar aos outros esse feito magnânimo: Beelzebub finalmente arrumou uma namorada.
O encarei com raiva.
— Nem adianta me olhar assim, até o Leviatã. A porra de um monstro arrumou outro monstro e você aí sofrendo vinte mil vidas à toa! Lilith se foi, supera! Se bem que já seguiu em frente, não é?
Como eu odeio Asmodeus!
— E te darei uma dica: toma logo a iniciativa. Ela parece gostar disso ou vai esperar ela cansar? — Asmodeus cruzou os braços. Parece que minha vida particular virou palco de diversão no inferno.
— Venha, vou te apresentar aos outros e, se sair da linha, eu mesmo corto você. Entendeu?
Asmodeus revirou os olhos, lambendo os lábios como se gostasse da ideia.
— Ah, Beel, não seja tão chato! E se for bonzinho, eu te ensino a como tratar aquela deusa. — Piscou, e eu apertei minha bengala.
— Quem te disse que preciso de ajuda? — Notei meu irmão fazendo sons estúpidos com a boca enquanto sorria. Às vezes, Asmodeus parece ter entrado na puberdade como um adolescente humano.
— Eu só quero uma xícara de chá e muitos detalhes, mas isso sei que Sn deve saber. Afinal, Dália é a irmã dela.
— Eu te proíbo de incomodar a imperatriz com suas futilidades.
— Se toca, Beel! Eu nunca te obedeço. — E assim eu o levei até o laboratório. Espero que Tesla e os outros saibam lidar com essa maníaca, pois ainda tenho o que resolver.
[...]
As inúmeras e incontáveis horas que passei trabalhando entre o laboratório e com Hades não preenchiam a minha mente, já que todos os cantos estavam infestados com problemas com os quais não quero lidar. O barulho de saltos me tirou do meu transe enquanto Sn se aproximava com uma taça repleta de uvas.
— Não acredito nisso, Hades! Todos os convidados já estão no salão e vocês dois aqui trabalhando?
O imperador suspirou.
— Minha rainha, não seja impaciente. Se quer as suas férias, eu preciso repassar tudo que ficou aberto para o meu representante.
Sn estava irredutível e se aproximou, deixando o ar pesado.
— Você verá isso amanhã, imperador. Hoje, o seu único compromisso importante é comigo.
Hades respirou fundo e me olhou como se pedisse para ser resgatado da festa. Eu deixei implícito que não me moveria; estávamos falando da imperatriz do submundo e não é possível recusar um pedido. O imperador guiou-a para longe e, antes de saírem, Sn olhou em minha direção.
— Acho melhor você se preparar para buscar minha adorável irmã; do contrário, há um certo deus dos mortos louquinho para assumir seu lugar.
Estou realmente cansado de todos me lembrando ou me cercando com um assunto que não lhes diz respeito, e assim continuei com a separação dos arquivos aos quais Hades comentou momentos atrás.
Por Dália,
Acácia ajeitava meu vestido em silêncio e eu não consigo compreender sua mudez, logo agora que é um ser livre.
— Algo a perturba, Acácia? — A mão dela sobre o fecho do vestido tremeu. — Sabe que eu nunca vou puní-la por sua opinião. Sinta-se à vontade para se expressar. Você é livre agora.
— Me desculpe, é apenas uma pergunta que ronda a minha mente e me sinto uma ingrata por fazer.
Dei um sorriso e me afastei, ficando de frente e tirando seu véu para que pudesse me ver.
— Você ainda não fez.
Ela desviou o olhar.
— Por que escolheu o segundo príncipe se está claro toda a devoção e interesse do deus Anúbis pela senhorita?
Voltei a ficar de costas enquanto ela terminava de fechar meu vestido. Sei que Acácia ainda não consegue desassociar Beelzebub de Satã por tudo que sofreu nas mãos de seu algoz e suspirei.
— Para dizer a verdade, nem eu sei. Apenas compreendi que, por mais que Anúbis se devote a mim, ele quer o meu poder, enquanto o príncipe nunca exigiu nada.
— Então a senhorita está apaixonada?
Fiquei em silêncio; não sei como responder a isso. Lidar com sentimentos não é algo fácil e, por mais que eu tenha decidido os ter, não consigo correlacioná-los com precisão. No fim, tudo volta a ser fascinante para mim.
— Me desculpe.
— Não peça. Não estou chateada com você, e sim com o fato de não entender muito bem esses sentimentos. Desde que voltei da morte, eles parecem se embaralhar um pouco.
— Terminei, princesa. Se quer o meu conselho, tente conversar com o príncipe a respeito ou simplesmente faça um experimento colocando na balança o que sente por ambos e, assim, terá sua resposta.
Concordei em silêncio. Tenho feito isso desde que Sn me abordou, mas nunca paro para pensar verdadeiramente.
— Ficou lindo, Acácia. Muito obrigada. Tem certeza de que não quer ir? Pode conhecer um deus muito agradável por lá — brinquei, e ela balançou a cabeça. — E tem algum reino que gostaria de conhecer? — Ela bateu os dedos no queixo e logo ficou vermelha.
— O Hindu, senhorita, se me for permitido, é claro.
— Então que assim seja. Se arrume, pois em breve estará no reino de Shiva.
E assim segui para fora do quarto. Já dava para ouvir a música alta pelos corredores. Endireitei minha postura e desci as escadas sem ser notada; afinal, não sou eu a grande atração dessa noite. Devo confessar que o salão ficou ainda mais belo. Enquanto divagava sobre a festa, Asmodeus se aproximou, descendo os óculos escuros que tinha sobre a cabeça.
— Credo, Dália! Pra que esse assassinato? Um dia espero vê-la de preto. — O príncipe da luxúria tem horas que é muito espalhafatoso.
— E eu que uso outra cor além de vermelho. — Rebati, piscando para ele, que levantou os óculos e me mandou um beijinho.
— Vou vagar por esse salão. Tem tantos deuses interessantes e até mesmo alguns humanos. Olha só aquela valquíria linda. — Mordeu o lábio.
— Asmodeus, você é a personificação do seu pecado. — Suas unhas stileto tamborilavam na bochecha antes de sorrir largamente.
— Não pense que Beelzinho não é assim. Ele se esconde muito bem, mas a gula faz com que queira tudo só pra si, e isso se remete a você. — Piscou antes de sair.
Mal fiquei sozinha e senti minha cintura ser rodeada. Só há um deus que me trata com tanta intimidade sem se incomodar... Beijando meu ombro e me oferecendo uma taça.
— Está incrivelmente bela, minha deusa.
— Você também. Espero que não tenha esquecido o presente do bebê.
Ele riu de lado, bebendo o vinho.
— Zeus lhe deu uma constelação inteira, Poseidon o batizou com aquela ilha, e para mim sobrou apenas o parque de diversões. E você, o que deu?
Fui eu a sorrir dessa vez.
— É surpresa, mas estão mimando demais. Tomara que curta pentear cabelos; assim, brincará com os de vocês logo-logo!
— Não fale assim ou um certo deus careca ficará em desvantagem. — Gargalhou, me levando junto.
— Sabe muito bem que Zeus é feio e velho por que quer, né? Se bem que ele nunca foi, digamos... bonito.
Anúbis concordou e continuamos conversando até que Sn e Hades chegaram, atraindo toda a atenção. O desenrolar da festa estava ótimo; entretanto, não paro de pensar no fato de que o príncipe não veio, e percebi que o procurei por todos os lugares com meu olhar discreto.
Como esperado de minha irmã, tivemos um princípio de festa bem calmo. Depois, partimos para algo mais inusitado, com apresentações inspiradas no universo, e tenho certeza de que os contratados são humanos, uma vez que Asmodeus estava na Terra se divertindo.
Duas horas de festa e nada de Beelzebub aparecer. Agora, todos estão espalhados pelo salão e é uma boa oportunidade para conversar com Shiva. Sendo assim, me aproximei do deus com suas três esposas e os cumprimentei. Perguntei se estavam gostando da festa e recebi a melhor das notícias: todos estão bem e uma delas está grávida. A parabenizei e, depois, fiz meu pedido:
— Se incomodaria de receber uma amiga minha em seu reino? Ela tem muita vontade de conhecer suas terras. — Pedi, e o deus da destruição sorriu.
— Claro, acho que Rudra a receberá bem.
— Só peço que seja mais discreto.
— Não se preocupe, Dália. Rudra é um cavalheiro. — Ele abanou uma das mãos e me despedi, agradecendo, antes de seguir até minha irmã. Conversamos um pouco, além de ter vários momentos registrados através de um aparelho que logo descobrir ser uma câmera de fotografia. Depois, dancei um pouco com Shiva e suas esposas por não recusar meu pedido, Anúbis e, por último, Apollo, que me olhou intensamente. Devo dizer que tenho pena de quem se apaixona por esse deus. Enquanto Asmodeus é a personificação da luxúria, o deus do sol nem precisa dela para ser um detentor. Nunca vi um deus ser tão carnalmente perigoso.
No fim, degustei apenas alguns aperitivos e bebi mais um pouco antes de me afastar, pensando no príncipe. Mal caminhei até as escadas observando a todos e tive minha destra segurada. Seu olhar parecia preso nos meus e seus lábios, incrivelmente convidativos, enquanto passou a me ver de cima a baixo.
— Príncipe — sorri lentamente.
No primeiro momento ele não disse nada, até se curvar minimamente em direção ao meu ouvido de maneira tão discreta que tornava-se imperceptível:
— Está tão bonita como nunca vi antes, mesmo que sempre se torne a mais bela dentre todas as deusas. — O sussurro deixou meu corpo em alerta, e encostei levemente nele. Sei que Beelzebub é bem discreto quando há outros olhando.
— Pensei que não viria. — Ainda estou tentando processar suas palavras.
— Peço desculpa pelo atraso, estava ocupado. — Beijou minha mão. — Depois que soubermos sobre a criança, vamos jantar?
Eu havia me esquecido completamente de que marcamos e respirei fundo, tomando uma decisão que pode parecer precipitada:
— Eu já sei o sexo do bebê, inclusive o nome que Sn escolherá, então podemos ir. — Me perdoe, Sn, sei que não ficará chateada. E assim, aceitei o braço dele enquanto saíamos pela porta da frente.
— Espero que goste do que reservei, pois não ficaremos no inferno.
Por um momento, tive vontade de lê-lo, mas não teria graça estragar uma boa surpresa.
Eu perdi o meme com o Beel que fiz pra esse cap. se achar ponho na correção.
Vestido que Dália escolheu, como eu queria um desses.
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