15.Despertando seu ciúme

Por [S/nome],

Minha conversa com Dália durou mais do que o esperado, a revelação dela me deixou um pouco instável e com muita vontade de ir até meu pai resolver esse problema, entretanto, ela não permitiu.

"Se fizer isso é capaz de te prenderem lá."

Foram essas as palavras que minha irmã usou e eu sei que está com a razão, mas o que ela não compreende é que, quando descobrirem toda a armação que ela planejou, vão matá-la sem nem pensar duas vezes. E isso eu não vou permitir. Se, quando eu precisei dela, sem ao menos saber, ela não hesitou, por que eu faria diferente? Olhei para ela, que estava com o olhar perdido, provavelmente pensando em tudo o que aconteceu.

— Por que você não vai se arrumar para o jantar com o príncipe? Tenho certeza de que será o prato principal e a sobremesa... — ironizei.

— SN! O assunto é dos mais sérios possíveis! Não dá pra você ficar fazendo piada.

Tive de rir para ela.

— Dália, querida, já encontramos, ou melhor, você encontrou uma forma de resolver. Ficar com essa cara não vai adiantar em nada. O melhor que temos a fazer é resolver a contaminação do Submundo o quanto antes, para que não mate mais nenhum humano ou outro ser, e assim finalmente sairei em lua de mel! Eu não estou tendo tempo de casada o suficiente com todos esses problemas, e Odin deveria me agradecer por continuar vivo, porque com o ódio que estou sentindo sou capaz de matá-lo só por me atrapalhar! — reclamei. Ela suspirou antes de tocar meu ventre, afagando-o.

— Não vejo a hora dessa criança nascer. Você vai ser uma mãe muito espevitada, Sn. — Ri junto a ela pela pequena zoação, antes de andarmos pelo meu jardim, que a cada dia está mais belo. Beelzebub e Hades realmente se esforçaram aqui.

— Dália, vou verificar o chá de bebê. Acho que Apolo fez um ótimo trabalho com a questão da previsão, e pedirei para que te procure.

— Tudo bem, eu vou para o laboratório adiantar os processos de cura e restauração, por assim dizer. — Minha irmã se despediu de mim, ainda se sentindo culpada, e eu só pude respirar profundamente antes de seguir meu caminho. Alisei meu ventre diversas vezes antes de ir para o local da festa, vulgo o palácio exilado, e em todo o caminho só pude pensar em como os celestiais são uns filhos da puta com suas exigências desgraçadas ao meu respeito, e tudo isso por causa do medo. Sim, medo de que eu, em todo o meu poder, mova o mundo ao meu bel prazer. Se quando eu estava aqui apenas no começo do meu casamento não o fiz, não será agora, que serei mãe, que colocarei o mundo de cabeça para baixo. E ainda assim exigiriam algo tão cruel. Meu bebê nem nasceu e já está condenado a um destino ao qual não planejou. E quando Dália der um jeito nisso, não haverá ninguém que me segure.


Por Beelzebub,

Após deixar a princesa junto à imperatriz, segui com o imperador pelos corredores do palácio.

— Beelzebub, quanto tempo para acabarmos com isso sem que eu precise utilizar meu poder?

— Não será necessário, imperador. Se Dália estiver com a razão, não demorará mais do que algumas horas para colocarmos tudo no lugar, e se ela estiver errada, também — afirmei enquanto Hades me olhou.

— Excelente. Terei uma reunião daqui a uma hora; entretanto, o tempo que me sobra é mais que o suficiente para lidar com o conselho.

O encarei, incerto, enquanto o imperador voltou a caminhar.

— Quanto tempo mais pretende perder, ao invés de ficar com ela?

— Como? — indaguei, levando-o a rir.

— Mesmo se Sn não me contasse, eu saberia, já que suas gárgulas são bem fofoqueiras. — Desviei o olhar, constrangido; preciso repreendê-las por esse comportamento. — Serei breve, Beelzebub: ou você toma uma atitude a respeito dela, ou Anúbis insistirá até conseguir tomá-la para si. E vai por mim, ele sabe ser chato e persuasivo demais quando quer e precisa. Se está apaixonado por ela, não deveria deixar uma oportunidade como essa passar, não quando a vantagem ainda é sua.

E assim o rei do submundo partiu. Ao que parece, tanto ele quanto Sn devem ter se aliado para expor mais de uma vez essa mesma questão. Apertei meu cetro em mão enquanto caminhava para fora do local, passei a mão pelos meus cabelos, notando a confusão de pensamentos que adentrava minha mente.

Até agora, só me deixei levar pelos momentos carnais vividos com Dália, e, diga-se de passagem, cada um mais prazeroso que o outro, o que me faz querer cada vez mais dessa deusa, como se minha gula por ela só aumentasse. Mesmo que eu insista em pensar que foram apenas experimentos, minha mente me alerta constantemente dessa falha, e as palavras de Lilith ecoam como se me dessem uma bronca por fugir de algo ao qual não posso agir com 100% da minha razão.

Talvez eu esteja realmente apaixonado pela deusa do destino.


...


Cheguei em meu palácio ouvindo explosões vindas da sala dos cientistas. Nem me dei ao trabalho de correr, sabia que eles estavam bem e que provavelmente estavam se divertindo. Ao passar pela porta, ouvi risadas e uma voz mais do que conhecida por mim.

— Tesla, você já pensou em trocar por um canhão de prótons?

— Interessante, fale mais, deusa.

Abri a porta aos poucos, torcendo para não ser visto. O que Dália pensa que está fazendo?

— Eu posso passar o conhecimento para vocês. Eu me adiantei vagando um pouco, se quiserem podem absorver, afinal de contas fazem parte dos constantes avanços da humanidade graças aos pais da ciência. — Observei alguns rostos se retorcerem sorrindo com a possibilidade, e a deusa ficou no centro deles, estendendo a mão para quem quisesse pegar. Obviamente, Tesla e Marie se apressaram.

— Fascinante — foi o que Edson comentou ao ver os olhos dela acesos e os cabelos flutuando, porém, não durou muito.

— Desistiram? — Dália perguntou.

— Não, mas qual graça teria se houvéssemos descoberto tudo sem um desafio sequer? — Tesla comentou.

— Com base no que nos mostrou, já é mais do que o suficiente para que possamos seguir em frente com nossas pesquisas. Obrigada — Marie falou, e Dália veio em minha direção.

— Acabei me empolgando com eles — ela comentou. Nossos olhares se encontraram por segundos.

— Então vamos ao laboratório preparar os antídotos. — Virei-me para os cientistas e pronunciei: — Peço que não saiam daqui. As coisas no submundo podem ficar agitadas, e se morrerem desta vez, não haverá volta. — Desviei meu olhar para a deusa e lhe ofereci minha mão esquerda, que ela aceitou, e assim seguimos em direção ao meu laboratório.

O local estava uma bagunça, com porções prontas e vidros vazios sobre as bancadas, alguns ainda em estado de pré-aquecimento conforme minhas gárgulas os colocavam em fileiras.

— Espero que não se importe, pedi para alguns dos seus me ajudarem com a bagunça que fiz — sorriu de maneira doce.

— Só não entendo o motivo de tanta bagunça — sussurrei, e ela desviou o olhar, um pouco constrangida.

— Bem... É que eu não sabia ao certo o quanto podia fazer, então fui ao limite, adiantando todas as bases. Por isso as gárgulas estão me ajudando com a limpeza. Agora só falta o composto das chamas negras, uma vez que separei todo o miasma que você recolheu, além do que pedi para Anúbis trazer do Egito, e que cara é essa?

Creio que não tenha conseguido esconder minha reação de desgosto com meus pensamentos a respeito do deus dos mortos, que ainda esta semana se mostrou um verdadeiro provocador.

— Não é nada com que você deva se preocupar. Vou começar a trabalhar com a chama. — Deixei um beijo em sua mão esquerda enquanto me afastava e notei a princesa prender os cabelos e colocar as roupas adequadas, assim como as luvas. Minhas gárgulas haviam terminado o serviço dado por ela, e agora ela assumiu a posição, se empenhando em terminar seu processo de destilação. Ficamos nesse trabalho por algumas horas até que batidas soaram na porta do meu laboratório. Golias a abriu, e pude vislumbrar alguns chacais parados na porta. Dália deixou tudo sobre a mesa e seguiu até eles, que lhe entregaram alguns itens.

— Avisem ao seu mestre que não precisarei de mais nada e que agradeço pela cooperação.

— بالنسبة للملكة يجب ألا يكون هناك نقص في الموارد (Para a rainha não deve faltar recursos) — E assim sumiram. Dália seguiu para a bancada, colocando os itens ao lado — algumas pedras e sedimentos separados — e eu a encarei, já que entendi perfeitamente o que aquele servo disse. A deusa se manteve em silêncio, fazendo seu trabalho, e eu continuei com meu foco, mas, novamente, batidas soaram na porta. Desta vez, fui eu quem abriu.

— Apollo, o que está fazendo aqui? — indaguei. Nunca vi esse deus fora dos seus domínios.

— Sn me pediu para fazer algo e aproveitei para fazer uma visitinha, senhor das moscas. — Sorriu de maneira pretensiosa antes de adentrar meu laboratório e ir até a deusa. — Acho que não nos conhecemos pessoalmente.

— Não mesmo, deus Apollo. Sou Dália, a irmã mais nova da Imperatriz.

Ele sorriu.

— Dália — estalou a língua no céu da boca como se saboreasse o nome dela antes de sorrir novamente. — Será um enorme prazer recebê-la em uma tarde qualquer. — E assim arrancou um pendente que, até então, não percebi que estava em seu peito e entregou à deusa.

— Obrigada por sua cooperação — ela sussurrou.

— Não por isso. Sn sabe que cobrarei esse favor quando menos esperar, e será de você. — Piscou antes de sair. Mas que merda está acontecendo?

Tudo ficou em silêncio, e voltamos a trabalhar. Quando Dália terminou sua parte, ela veio até mim.

— Está tudo pronto — afirmou, e continuei focado em meu trabalho, apenas assentindo. Por mais uma hora, extraí as chamas que nem deveriam ter saído do Tártaro.

Com cuidado, misturei cada um dos itens, formando um novo componente e o esfriando a 3.2ºF — algo equivalente a menos dezesseis graus Celsius — e, ainda assim, as chamas negras persistiam.

— Tente isso — de maneira delicada, Dália abriu o pingente e deixou que uma gota caísse sobre a fórmula fria, apaziguando a reação. Mesmo de máscara, sei que ela deve estar sorrindo pelo sucesso.

— Então foi isso que Sn mandou ele trazer?

— Mandou não, príncipe. Ela barganhou. — Observei sua face agora um pouco distante. Afinal de contas, todo o processo em busca do antídoto principal foi feito, e é questão de esperarmos para que ele assente.

— E o que foi oferecido em troca? — Sei que estou sendo invasivo, mas no momento não me importo. Fui em sua direção, retirando minhas roupas de trabalho e permanecendo com minhas vestes normais. Ela já havia feito o mesmo.

— O que você acha? — Olhei em seus olhos, incrédulo pela mera sugestão, e ela riu. — Lorde Beelzebub, o que foi que se passou por sua cabeça?

— Nada conclusivo — desconversei, observando-a balançar a cabeça negativamente.

— Quem diria que o segundo príncipe seria capaz de pensar tamanha besteira — ironizou antes de se levantar e alisar um dos lados de minha face. — Eu não pensei que pudesse ter esse sentimento a meu respeito. — Ela puxou minha destra, apoiando-a em seu rosto.

— Quer que eu seja só sua, príncipe? Basta pedir. — O sussurro fez com que um arrepio passasse por meu corpo enquanto Dália se aproximava perigosamente, beijando meu queixo e o canto dos lábios. De maneira praticamente inconsciente, segurei seus pulsos, subitamente olhando no fundo de seus olhos antes de beijá-la. Dália praticamente se rendeu a esse toque, aceitando cada ato meu. Me afastei para que o ar regressasse e encarei minhas gárgulas, que tamparam os olhos.

— Pelo visto não conseguiu se conter. Sua gula fala por você, príncipe — ela sussurrou antes de desprender os cabelos. — Saiba que Apollo nos deu partículas do Sol puro, por isso funcionou com tanta facilidade. O que ele vai querer é uma previsão, afinal de contas, o deus mais narcisista do Olimpo não gosta nem um pouco de saber que há outra deusa com algo parecido. — Ela riu de escárnio. — Chega a ser ridículo comparar a sentença do destino com uma mera previsão.

Mais uma vez, seus dedos passaram por meu rosto, tocando minha boca.

— Vou avisar aos governantes que está tudo pronto.

Apenas assenti enquanto ela se afastava, sorrindo. Pelos sete infernos, o que essa deusa fez comigo?!

Botei o trecho em árabe uma vez que não encontrei Copta e Sumério em nenhum tradutor por serem dadas como extintas :')

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