10.Conflito
Por Beelzebub,
A frieza que Dália apresentou me deixou intrigado, mas não é hora nem local para isso. Segui a princesa até o palácio de Anúbis e, assim que Dália pôs os pés no local, algumas servas se curvaram a ela.
— Lady, o deus pediu para informá-la que se reunirá com o imperador Hades, mas lhe deu aval completo para fazer o que quiser. — Dália simplesmente assentiu como se não fosse nada demais.
— Preciso de tubos de vidro. Pode providenciá-los enquanto levo o príncipe até o haras? — Apesar de calma, a princesa estava aflita, pelo menos eu sinto sua presença divagar.
A dama de companhia assentiu e sumiu, enquanto eu seguia a deusa até o haras. Quando chegamos, pude observar em primeira mão os danos causados pela corrupção: a água cristalina que deveria correr pela fonte estava escura, como se estivesse infestada de miasma; os cavalos presos no estábulo aberto e uma cerca ao redor da água.
— Entende o motivo do meu desespero agora? — Assenti sem olhá-la diretamente. Agora que entendo o que está ocorrendo, só me falta confirmar o motivo.
— Aqui estão os tubos, senhora. — Notei as damas carregando os tubos de vidro se aproximando com calma antes de os colocarem no chão. Peguei o primeiro dos tubos e segui até a água escura, enquanto elas retiravam as cercas do caminho. Colhi um pouco e transferi para um invólucro de vidro antes de chamar por Thailog, que não demorou a responder à minha ordem:
— Reúna dez dos nossos e leve uma amostra de cada canto deste lugar, recolhendo principalmente sedimentos do rio. — Todos confirmaram e começaram a se reunir, enquanto Dália andava de um lado para o outro.
— Levarei essas amostras para o meu laboratório. — Afirmei, enquanto ela me olhava de maneira estranha.
— Beelzebub, você precisa me contar o que está acontecendo. — Pediu e me limitei a ficar de pé e me aproximar.
— Vamos conversar em um local adequado, me acompanhe. — Ela assentiu, me seguindo até o meu castelo. As amostras foram postas no laboratório e Dália se sentou em minha cama esperando por respostas: — Esse envenenamento todo não pode ser consequência de um titã. Eu fiz os testes adequados e somente um deus teria o poder para isso. Ela pareceu um pouco descrente, mas depois estava olhando para mim confusa antes de respirar fundo.
— E de quem desconfia?
— De todos aqueles que foram contra o governo de Hades. — Dália se levantou, dando voltas no quarto, como se tivesse outra ideia em mente.
— Então foi por isso que ele pediu uma reunião? Não me parece uma atitude muito inteligente divulgar que está duvidando de um dos deuses, considerando a desordem do momento.
— Hades não é o imperador à toa, Dália. Ele quer olhar nos olhos de cada um e ter sua certeza, enquanto nós fazemos o nosso trabalho. — A deusa me olhou um pouco cética antes de suspirar.
— Estamos no inferno, então acredito que seja uma criatura daqui, ao invés de um deus. Quer dizer... Pode até ser a mando de um, mas duvido que o desgraçado suje as próprias mãos. — Ela parou de falar e tirou o meu sobretudo, deixando-o na cama. — Voltarei para o Egito e tentarei descobrir tudo o que Anúbis sabe. — Nossos olhares se encontraram e me aproximei, tocando seu rosto, contornando seus lábios, mas ela desviou. Creio que mereci isso por tê-la ignorado solenemente por dois dias.
— Tome cuidado em quem vai confiar. — Comentei, observando seu rosto tão tranquilo e seus lábios carnudos.
— Sei me cuidar, Beelzebub. — A ausência do termo me deixou cauteloso; no mínimo, Dália está irritada. E assim, ela desapareceu sem me deixar dizer uma palavra.
[...]
Por Dália,
Beelzebub é tão confuso que estou no meu limite, mesmo que meus problemas não sejam necessariamente com ele. Quando cheguei ao haras, Anuket estava flutuando sobre as águas, purificando-as e repartindo o pequeno lago em dois: os sedimentos e a matéria escura foram postos à esquerda, e a água limpa à direita. Fiquei impressionada com seu trabalho. Ao terminar, tudo que não pertencia ao lago foi levado em carrinhos de mão para longe, deixando as águas limpas e o haras em perfeito estado.
— Pelo visto, Anúbis terá companhia pelo resto da tarde, não é mesmo?
Me aproximei da Deusa que sorria tranquilamente.
— O que pode me dizer dessa contaminação?
— Que preciso de um bom banho, querida. Vamos conversar em minha fonte. — Apenas assenti, e assim seguimos pelo haras até a cidade, atravessando calmamente e cumprimentando aqueles que vinham até nós.
— Anúbis causa alvoroço toda vez que escolhe uma noiva. Chega a ser engraçado as expectativas que cria. — Tais palavras me fizeram conter a vontade de rir.
— Eu não sou noiva dele, apenas uma amiga.
Ela riu extremamente alto enquanto íamos em direção a uma terma dentro de um arquipélago de ilhas.
— Claro, a amiga que ele tem levado para a cama constantemente e vive ansioso para o retorno, além de não saber como deixá-la satisfeita. Acho que só você, Dália, não percebeu o que o Deus dos mortos quer. — Eu sei exatamente o que Anúbis espera conseguir comigo. Desde que descobriu quem sou, suas atitudes ficaram mais insensatas, talvez pelo fato de ter a possibilidade de controlar o destino e o tempo ou simplesmente não me ter da forma que esperava.
— Anúbis sabe o que penso a respeito disso. Vamos continuar.
Anuket tirou a roupa e seus acessórios, pulou na fonte e depois me olhou, esperando que fizesse o mesmo, mas eu tinha tomado um bom banho antes disso, então me limitei a pôr os pés descalços na água.
— Bom, aqueles sedimentos pretos são fogo negro, como deve imaginar. Também são chamados de chamas eternas, entre outros nomes. Mas não são daqui.
— São do Tártaro. — Afirmei.
— Não exatamente. — Ela submergiu por um tempo e, quando retornou, saiu da água e se vestiu. — Venha comigo.
Segui Anuket até estarmos em um laboratório mais fantasioso, por assim dizer, diferente do de Beelzebub, que possui alta tecnologia.
— A que devo a honra da sua presença, Anuket? — A deusa revirou os olhos.
— Thoth... — Pelo timbre de voz percebi que havia algo mal resolvido entre eles. — Explique para Dália o que ocorreu no lago.
— Minha bela Anuket, o que você não pede que eu não faço, não é mesmo? Vejamos. — Ele apontou para um tubo de ensaio com a coloração vermelha. — Eu extraí o miasma e a mistura do fogo negro e os separei em três. Este lodo escuro aqui vem do Helheim, e essas marcas de garras gigantescas que encontrei no solo que você mandou sugerem que há um animal passeando por dimensões. O miasma é um veneno que vem das patas dele e esse fogo negro vem do Tártaro. Agora, imaginem só: o animal se soltou, deu um jeito de fugir e foi parar no Tártaro. A pata dele, de alguma forma, queimou e, desde então, está criando essa algazarra. Pelo menos essa é a minha teoria. — Thoth informou, e eu passei a observar a coloração diferenciada de cada tubo e levei em conta suas palavras. Sinceramente, duvido muito que isso tenha sido acidental. Se ao menos eu conseguisse encontrar o emissor de todo esse caos desnecessário... Uma luz se acendeu em minha mente. O Caos é a chave!
— Sabem se Anúbis ainda está em reunião?
— Provavelmente. Se está entediada, podemos cavalgar. Sei que ele estava louco para isso mesmo. — Ai ai, Anuket, não é bem essa cavalgada que o deus dos mortos queria, mas enfim, não vou dizer algo tão vulgar em um momento que realmente não precede.
— Não, eu prometi ao deus que ajudaria com tudo o que fosse possível, então me diga como posso ser útil nesse momento tão tenso.
Ela apenas sorriu.
— Sabe, Dália, você será uma ótima rainha um dia. — Agora, que tal vir comigo verificar todas as águas ao redor do Egito?
— Isso não é função de Poseidon e dos outros deuses do mar?
— Digamos que prefiro não lidar com aquele loiro arrogante.
— Pelo visto, você também tem um passado com ele. — Ela emitiu um "hunf" de irritação.
— Digamos que aquele ser miserável jogou na minha cara que sou apenas a Deusa do Nilo e que não deveria me meter no trabalho de um verdadeiro imperador. Se Calíope e Iemanjá não tivessem ali, provavelmente eu teria voado no pescoço dele.
— E provavelmente morrido. — Afirmei.
— Não antes de ferir aquele belo rosto e abrir um buraco no peito dele. — A face singela dela me fez entender que Anuket estava longe de ser inofensiva. — Enfim, eu não quero mais falar dessa porcaria. Não adianta nada ele se intitular o deus do Mar e não compreender que, apesar de se denominar como um ser supremo, as águas possuem muito mais do que isso ao seu redor. Por exemplo, a areia em seu fundo, os corais e as rochas, cada um pertence a um deus.
³Grisha, a deusa dos sedimentos, segunda mulher de Poseidon;
⁴Calypso, a deusa das criaturas do mar;
E, por fim, ⁵Zemyna, a deusa das terras marinhas.
Claro que todos estão abaixo dele, entretanto, isso não é motivo para agir de maneira tão grosseira, e é por isso que não suporto Poseidon. Enfim, vamos até lá. Quero ver se há algum problema nas águas e, se precisar, interferirei...
Não me espantei ao ver que o mar havia abrigado parte do problema, e muito menos por Poseidon estar de pé à nossa frente, o que indicava que a reunião dos grandes deuses havia acabado. Ele nos olhava de maneira incrédula, ouso dizer que estava com raiva simplesmente por estarmos aqui tentando resolver esse problema.
— Deusinha, o que faz aqui? — Sua pergunta foi direcionada a mim.
— Não é da sua conta. Pelo visto, não precisa de ajuda. — Olhei para Anuket, que apertava o Ankh com raiva.
— Podemos ir, Anuket, ou você quer recolher algo do mar? — Mais uma vez, ignorei o deus dos mares e notei um paredão d'água se formar atrás de mim, nos separando e me levando até ele.
— Quem pensa que é para me ignorar, deusa insolente? — Senti sua mão em meu braço.
— E quem você pensa que é para me tocar? Me solte agora! — Poseidon olhou em meus olhos, e sustentei o olhar enquanto tocava seu peito. Não estou tão fraca a ponto de não poder usar os meus poderes, e se ele me fizer chegar a tanto, espero que aguente. Ainda lembro da primeira vez que vi os deuses do Olimpo; eles estavam lutando, e eu fiquei rebobinando a cena simplesmente para o meu prazer, os fazendo cansar até que Zeus pediu para que eu parasse. Acho que ele compreendeu que não era uma boa ideia manter essa tensão, uma vez que me soltou.
— Nunca mais me afronte, ou não responderei por mim. — Encostou o metal gelado de seu tridente em minha coxa. Levei o dedo até a peça, a empurrando, e sorri para ele de maneira doce:
— Suas ameaças não funcionam comigo, Poseidon, e pare de me olhar como um pedaço de carne, pois eu nunca me deitarei com você. — Pisquei de maneira divertida antes de me afastar, indo em direção a Anuket. — Tem esposas demais, deus dos mares, e posso ser muito intensa para você.
De rabo de olho, vi quando ele sorriu de lado e Anuket me encarava. Seguimos fundo para os arquipélagos enquanto ela notava as águas limpas e completamente satisfeita. Uma sombra se fez presente à nossa frente, e olhei calmamente apenas para ver o deus dos mortos de braços cruzados, me encarando com o que parecia ser raiva.
— Que merda foi essa Dália?
Anuket de repente sumiu, e apenas pude notar que os lábios de Anúbis se mantinham retos e seus olhos levemente forçados, demonstrando o que parecia ser ciúmes.
⁰Anuket é a deusa das águas do Nilo
¹ Iemanjá – Rainha do mar;
² Calíope – filha de Zeus, musa da poesia épica;
³ Calypso – foi adequada como deusa das criaturas marinhas já que ela é uma ninfa do mar amaldiçoada com a solidão, nada mais justo do que ser a mãe das criaturas do mar, aquela que em sua solitude criou seres desconhecidos para preencher o vazio, sim foi inventado por mim, exceto a personagem e sua maldição. A aparência dela é totalmente inspirada na Calypso de Piratas do Caribe.
⁴ Grisha é a mesma deusa criada para a Arrogância de um Deus;
⁵ Zemyna é a deusa da terra na mitologia Lituânia, adequada para a fic como deusa das areias do mar.
Para quem não lembra a aparência de Grisha. (Fanart não me pertence)
E a aparência de Calypso vou deixar a imagem do filme.
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