Luau - III

O dia começava a passar, o céu gradualmente tomava uma tonalidade alaranjada, as ruas estavam calmas como a maré antes de um tsunami pois não iria durar por muito tempo pois logo teriam vários engarrafamentos e um tráfego totalmente impossível de atravessar. Enquanto isso dentro do carro estava um ambiente bem relaxado, todos ouviam e cantavam "wonderful", nesse momento uma nostalgia incansável fazia o coração do Solomon ficar bem melancólico, percebeu que cantar alto naquele momento sem preocupação com nada deixava o seu coração mais relaxado. Foi esse o motivo que fez ele perceber que poderia ser assim sempre, um sorriso no rosto, vivendo aventuras aleatórias com pessoas que ele gostava, pela primeira vez entendia completamente as palavras do Frederico. Ao olhar pela janela do carro, conseguia ver o mar, uma visão familiar porém sentia uma sensação muito diferente da que ele estava acostumado, sentia uma paz que não sentia a muito tempo mas sabia que essa sensação seria passageira se ele continuasse sendo esmagado pelo passado.

—Soli, o que foi?

A Ana ficou procurada com ele, afinal era fácil perceber que o mesmo ficou em silêncio por um instante, ao ouvir a voz da sua tia Solomon saiu dos seus devaneios e olhou para ela abanando a cabeça, e logo sorriu sussurrando "obrigado".

—O que vocês dois estão falando aí?

Marcelo não gostava de ficar de fora, então não demorou muito para a sua voz rasgar aquele clima sereno e nostálgico, ele diferente dos dois estava mais alegre que nunca, poderia até ser dito que seria difícil encontrar alguém com uma disposição melhor que a dele. Eles já estavam vendo a lanchonete que a Ana tanto odiava, porém deu um braço a torcer porque sabia muito bem que o Solo precisava daquilo, pois para ela  queria dar uma informação porém não sabia qual seria a sua reação.

—Olha chegamos, vamos pegar o sorvete e sair rapidinho.

Por mais destemido e lerdo que Marcelo fosse, havia algo que fazia ele até temer ela vida, ele chamava de "olhar mortífero" tanto que quando a sua mulher fez o olhar na casa do Solomon ele quase se engasgou com o oxigénio que respeitava, porém estava muito animado e com certeza seria preciso muito para algo deixar o seu dia menos alegre mas também não queria estressar a Ana por isso sugeriu uma compra rápida.

—Não precisa, podemos ir juntos comprar, como dizem né amor "quem não deve, não teme"

Ouvindo essas palavras saindo da boca da sua esposa, ele queria gritar "teme sim, teme muito!" Mas só sorriu estacionando o carro, e saindo rapidamente para abrir a porta para a sua amada que deu um beijo leve em seus lábios agradecendo, e começaram a elogiar um ao outro.

—Chega, sei que sou solteiro, não precisa me mostrar isso a cada instante.

Os dois viraram para Solomon e começaram a rir, afinal fazia um bom tempo que ele falava naquele tom leve e engraçado.

—Está bem, paramos já, agora vai ficar aí sentado ou quer que eu abra a porta para você princesinha?

Nesse momento um sobrancelha foi erguida pelo garoto melancólico, que saiu do carro sem responder a provocação do seu tio. O Marcelo iria mas rezava para que não encontrassem a dona da lanchonete retro, afinal quando eram mais novos tiveram um certo romance, e isso fazia a Ana ter uma pulga na orelha mesmo tendo sido ele a terminar porque aconteciam várias coisas estranhas ao redor daquela mulher.

—Amor, já falei para não fazer isso com a minha criança, vamos logo comprar os sorvetes que quero aproveitar o meu luau.

Tanto Solomon quanto o Marcelo assentiram, também não tinham motivos para demorar naquele lugar. Os três adentram a lanchonete que como sempre estava lotada, para Solomon era um lugar que ele gostava desde criança, porém para Marcelo e Ana era a prova viva da passagem do tempo, pois eles lembravam quando aquilo era só uma ideia e agora tinha se tornado um dos lugares mais conhecidos da cidade.

—Qual sorvete iremos levar? Eu quero provar o de baunilha e menta.

Um silêncio entre os três surgiu, a Ana não entendia o porquê da reação deles afinal os dois que insistiram para chegar naquele lugar. Porém os dois destrambelhados, sabiam que ela odiava menta com todas as forças então eles tinham toda razão de estar surpresos.

—Titi... Você está bem? Tem certeza que quer provar algo que tenha menta?

Solomon decidiu perguntar, mas ela só assentiu e ele sabia que quando ela fazia aquilo não havia espaços para discussão então os três viraram para o atendente e pediram os seus respectivos sorvetes e aperitivos. Enquanto eles conversavam sai alguém dos fundos da loja, a mesma mulher elegante e travada no passado que fascinou completamente a Rebeka mas ali poderiam ter várias sensações mas admiração era a última que os três estavam sentido por aquela mulher.

—Olá! Ana, não sabia que você estava na cidade, porque não ligou?

Ela se aproximou com um sorriso singelo, olhando para Ana que era consideravelmente mais baixa que ela, parecia até um pitbull olhando para um pincher porém, as duas sorriram alegremente até deram um abraço juntas, deixando os dois jovens confusos afinal era perceptível pela forma de falar da Ana que as duas tinham alguém tipo de integra mas naquele momento pareciam amigas de longa data.

— Marelyn, adorei a sua roupa, você precisava encontrar uma para mim. Parece que nem um dia passou desde a última vez que te vi.

Enquanto as duas conversavam aparentemente animadas pelo seu reencontro, os sorvetes chegaram e com isso as duas se despediram agindo do início ao fim como se o Marcelo e o Solomon não estivessem aí. Após saírem da sorveteira começaram a caminhar em direção a praia.

—Odeia aquela vadia, vocês viram ela me provocando né?

No meio daquele silêncio sereno de final de tarde a voz enraivecida da Ana rasgou completamente a tranquilidade do momento, porém ambos mesmo querendo dizer que não perceberam sabiam muito bem que não deveriam se atrever a falar nada.

—Vão me dizer que não viram?!

Os dois rapidamente começaram a concordar, mesmo sem entender completamente o que estava a acontecer.

Após terminarem os sorvetes, o sol já tinha desaparecido no horizonte e a lua começava a espalhar o seu esplendor. Chegaram finalmente na área onde estava acontecendo o luau, e o Marcelo foi pegar os ingressos para os três.

—Está mais animado do que eu esperava, né amor?

Marcelo comentou com a sua amada, que ainda estava um pouco rabugenta após encontrar a pessoa que ela não queria ver de jeito nenhum, mas aquela ambiente fez ela esquecer completamente aquele encontro.

—Sim! E olha quantas meninas estão olhando para o meu bebê, tão fofo.

Ouvindo o elogio Solomon ficou levemente sem jeito, olhando para os lados lentamente tentando ver quem estava olhando. Porém Marcelo não iria deixar passar o momento.

—Sim, fofo como uma girafa cega.

Antes que ele pudesse rir da própria piada, um leve tapa na nuca foi desferido com perfeição.

—Por que não vai ali conversar com as meninas, toma esse cartão aqui para poderem tomar alguma coisa.

Marcelo apesar de ser uma pessoa levemente aérea com tudo, sabia ler o ambiente e o mais importante é que queria se livrar do Solomon, assim podendo focar novamente na sua amada. Sem contar que o cartão já tinha um valor limite que ele planejava gastar com o consumo do Solomon na festa.

—Isso meu anjo, você precisa começar a se divertir, ficar connosco não vai ter muita graça.

Enquanto Solomon se via sozinho naquele luau sem saber ao certo o que fazer, do outro lado estavam Fred e a Rebeka tomando um cocktail naquele mesmo luau. Entre os dois estava uma loira  com uma expressão de tédio enorme naquele lugar, ela não gostava nem um pouco do luau.

—Essa foi uma péssima ideia, esse lugar é horrível demais, vamos dar uma volta na praia?

Falou a Ciara que estava habituada com outro tipo de evento e festa, deixando ela completamente fora da sua zona de conforto, mas infelizmente para ela Rebeka e Frederico estavam cansados demais e estavam gostando do lugar, discutindo sobre casos criminosos, sendo esse outro motivo que estava fazendo a Ciara não querer continuar ali afinal o que ela ouvia até causava arrepios.

—Tchau.

Ela saiu rapidamente, e nesse momento Fred percebeu que ela não estava mais perto mas achou que a mesma tivesse ido pegar outro drink então não deu muita importância, e continuou a sua conversa.

—Então você quer me dizer que pretende desvendar os casos que detetives não conseguiram?

Fred falou incrédulo, afinal por mais incrível que isso pudesse parecer, era bastante improvável visto que mesmo detetives e peritos criminais não conseguiram solucionar os casos que ela planejava fechar.

—Fed, você tem que acreditar em mim, vai dar tudo certo. Mas primeiro tenho que ter acesso a tudo que a delegacia tem sobre esses casos, depois vou fazer a minha magia, afinal eu vou ser uma perita criminal e forense.

Os olhos da garota de cabelos coloridos brilhavam, olhando para Fed que não encontrava forças dentro de si para contrariar, apenas assentiu concordando em ajudar e isso fez com que ela levantasse a dançar, uma dança toda desengonçada mas que deixou o baixinho hipnotizado até que foi puxado por ela começando a dançar pior ainda. Ambos eram péssimos mas a alegria em seus movimentos agradavam a alma, e não aos olhos.

Enquanto uns dançavam alegremente, Ciara procurava um lugar para se sentar e pedir um Uber, enquanto ela andava Solomon conversando com uma garota. Ele tentava ao máximo não parecer estranho, tinha tido até sorte dela ter tomado a iniciativa, porém por mais que ele tentasse estava difícil para ela se comunicar visto que era um extremo antisocial.

—E o que você faz aqui? Um luau é muito melhor com uma companhia sabia?

Solomon ficou sem saber o que responder, olhava para aquela linda garota de pele morena e olhos âmbar, o seu sorriso suave conseguia ser mais tranquilo que as águas do mar.

—Estava segurando a vela de casal, e porque você está aqui sem companhia?

Ele não iria negar que parecia muito improvável uma garota tão linda estar sozinha naquele lugar, porém após a sua pergunta ela ficou confusa.

—Estou acompanhada sim, antes eu estava com as minhas amigas ali, e agora estou com você.

Ela apontou para o canto, onde tinham três garotas sentadas e conversando, assim na cabeça do rapaz passaram mil e uma coisas mas nenhuma conseguia definir o que estava acontecendo naquele momento.

—Ah... Quer tomar alguma coisa? Me disseram que é uma tradição no Hawaii brindar para o luar.

Claramente uma mentira, mas ele não sabia o que dizer então inventou alguma coisa para preencher aquela silêncio constrangedor que estava começando a se espalhar. A garota deu uma pequena risada olhando para ela, ela era havaiana mas não iria contar isso para ele.

— Sério? Então não podemos fazer desfeita... Mas eu deixo você escolher, o que o drink que a gente vai brindar.

Mais uma vez Solomon ficou encalhado como um navio na praia, pois nunca tinha bebido, então usando todos os seus neurónios restantes pediu a última bebida que ele conseguiu lembrar.

—Chefia, pode trazer duas margaritas?

A garota abriu um sorriso ainda maior, com um olhar tão penetrante que fez o coração do Solomon quase sair pela sua boca.

—Essa é a minha favorita, sabia que tem outra tradição muito famosa em Hawaii?

Solomon saiu do transe que aquela olhar tinha causado, logo abanou a cabeça em negação mostrando que não sabia dessa tradição que ela falava.

—Antes de brindar para a lua é preciso dançar sobre o lua.

Ela sorrio e estendeu a sua mão, segurando o braço do Solomon que não teve muito como resistir e foram dançar, ela tinha deixa os dois braços em volta do pescoço do Solomon visto que ela tinha altura suficiente para o fazer.

—Até agora não sei o seu nome.

Ela olhava para ela com um leve sorriso, porém o coração do garoto estava palpitando excessivamente, ela tinha tomado quase todas as iniciativas mas isso não diminuia o nervosismo que ele estava tendo.

—Pode me chamar de Solo, e você? Qual é o seu nome?

Por instinto Solomon se inclinou um pouco,  o que permitiu que ela repousasse a sua cabeça no seu ombro antes de sussurrar o seu nome devagarinho.

—Laila.

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