1 - Sonhos
Norte da Europa, 1822
Anika passeava pela floresta, sentindo a brisa do outono tocar o seu rosto avermelhado, causado pelas lagrimas que insistiam em escapar.
Seu reino estava mergulhado nas ruínas, e o pouco número que restara de seu povo, viviam amedrontados pelas ameaças constantes de Bellini.
Mas apesar de toda desgraça que procedia, aquela não era a única razão de seu desalento. A repulsa da princesa ia muito além de assassinatos e destruição.
— Como eu o odeio! — ela se aproximou de uma pedra coberta de musgo, e sem se importar com as condições, decidiu se sentar. Precisava aliviar as tensões de seus pés cansados.
A dor e a ira que tomava sua alma era tão feroz, que fazia as forças de seus músculos fraquejarem.Bellini era o responsável por faze-la aceitar o indesejável pedido de casamento de Will — que apesar de ser um bom homem e como um irmão para ela — a união não lhe causava o menor entusiasmo.
— É Bill.Se ao menos Derick não tivesse partido para sempre — disse com a voz trêmula, observando seu cavalo comer vigorosamente as gramas expostas no chão. A fraca luz alaranjada do sol poente, fazia o pelo negro do animal brilhar ainda mais.
Bill era apenas um filhote, quando foi dado a princesa no aniversário de 15 anos. Derick sabia que a moça era apaixonada pelos cavalos shire, sendo assim, ele — que sempre encontrava razoes para agrada-la — decidiu presenteá-la com seu próprio alazão. O príncipe fruía de um carinho especial pela princesa, e possuía as mais boas intenções para com ela, a ponto de planejar um matrimonio de unificação entre seus reinos, para auxiliar no combate contra os bellinianos. No entanto, devido a uma grande tragédia, que levou sua família para o fundo dos mares, ele fora obrigado a tomar outros caminhos e abrir mão de seu grande amor.
— Tudo graças a Bellini — ela olhou para as altas montanhas, sentindo a repulsa passar por todo seu corpo. — O único culpado de todas as desgraças!
Apenas Anika sabia o quanto fora doloroso ver o desespero de Lizzie e Derick, sobre a morte do irmão mais velho, juntamente ao rei e a rainha Keen. Derick acabara de chegar aos 21 anos, enquanto Lizzie tinha apenas 13 anos. Eram jovens demais para tornarem-se órfãos.
A perda fora tão intensa para todos eles, que a princesa Anika passara dias chorando pelo ocorrido. Não apenas pelo luto, mas pela desesperança de não poder rever aquele homem que fora o primeiro a roubar seu coração. Contudo, em meio a todo desalento, ela conseguira refúgio nos braços de um alguém, que a considerava muito mais do que uma simples amiga.
— Will — suspirou Anika enquanto pronunciava o nome do homem, cuja a vida lhe seria entregue para sempre. Se não tivesse permitido a aproximação tão espessa entre ambos, talvez hoje não tivesse em tal situação.
William não conseguira ficar indiferente ao sofrimento da moça quando a tragédia dos Keen se sucedeu, ele se apaixonara pela princesa, desde quando ela era apenas uma garotinha curiosa, que costumava passar longas tardes, sobre a companhia de sua meia irmã Karoline.
Por mais que ele soubesse que sua amada alimentava uma paixão arrebatadora por outro, todavia não importava, pois ele carregava a esperança de que um dia a desposaria, e conquistaria o coração indomável daquela princesa.
— O que farei?
Apesar da não apreciação da união para com William, inerentemente, reconhecia que ele era um homem honrado e nobre, e seguia esperançosa de que cedo ou tarde, seu coração se abriria em um sentimento recíproco.
— Um dia tudo ficará bem — tentou convencer a si mesma, secando as lagrimas com a barra do vestido vinho. — Will é muito bom para mim, e sei que um dia poderei... poderei... ama-lo.
Ela sabia que era de sua total responsabilidade como princesa, sacrificar-se pelo seu povo. O pouco que restara deles, tornara-se uma prioridade indiscutível para os Greeff. Mesmo que os acordos causassem a infelicidade da família real.
— Vamos Bill, precisamos voltar. Amanhã será a minha sentença — ela montou no animal e saiu em disparada.
***
Anika passara horas fora do castelo, esquivando-se da equipe de costura, dança, nupcial e outras mais, que fora solicitada para seu casamento. Nada daquilo fazia sentido para ela. Qual a razão de tantos preparativos que envolvia uma aliança tampouco desejosa?
Andando nas pontas dos pés, a princesa adentrou pela porta da sala de estar, tentando passar despercebida aos olhos da rainha, que estava sentada na poltrona floral, lendo um dos livros de poesia. Mas não demorou muito para que Clari, percebesse a silhueta esguia que atravessava a sala.
— Anika! — exclamou ela, depositando o livro sobre a mesinha de flores. — Onde esteve, minha filha?
— Desculpe mamãe, não vi a hora passar — disse subindo as escadas para ir aos seus aposentos. Não queria iniciar uma nova discussão.
— Eu sei que está preocupada com o casamento — ela franziu a testa branca, que estava envolvida com alguns fios amendoados.— Mas por favor, não faça isso novamente!
— Não farei! — ela parou no último degrau e fitou os olhos castanhos da mãe. — Uma vez que em poucas horas, serei uma mulher casada e terei que ficar sempre a disposição do meu marido!
— Anika, você sabe que...
— Sim mamãe, eu sei que não gozarei da mesma sorte que a senhora, e do mesmo privilégio de casar com alguém que amo.
— Filha...
— Está tudo bem...Farei tudo pelo bem do nosso povo.
Anika deu as costas para rainha dirigindo-se até seu quarto. Não adiantaria discutir os fatos, iria se casar por conveniência querendo ela ou não, infelizmente aquele era seu karma.
Ela fechou a porta dos aposentos e foi logo se despindo.
A única coisa que queria naquele momento, era entrar na banheira e relaxar todos os músculos do seu corpo. Mas a água à muito tempo preparada, já havia perdido seu calor.
— Eu tenho que por fim a isso! — replicou passando os dedos molhados sobre os ombros nus, que se arrepiaram com o contato da água gelada. — Se minha mãe souber que estou...
Calou-se não conseguindo completar sua própria frase. Era insano demais pronunciar tais palavras em voz alta. Se alguém além de seu tio, descobrisse aquele amor platônico, certamente seria acusada de sua opulenta insensatez. Apenas ele não fora capaz de julga-la por tais devaneios.
— Como se eu pudesse controlar meus sentimentos! — ela saiu da banheira e se enrolou em um longo pano branco. — Por que minha vida tem que ser assim? — ela se dirigiu até o armário de roupas para pegar seu traje de dormir, mas uma batida na porta lhe tirou o foco.
— O jantar está pronto, princesa — soou uma voz doce no corredor.
— Eu não vou jantar, Léa.
— Mas a vossa majestade, a rainha Clari...
— Eu já disse que não estou com fome!
— Sim alteza — respondeu a serva.
Anika havia passado o dia todo sem colocar uma fruta sequer na boca, mal estava aguentando sustentar seu corpo magro e alto de pé. Mas apesar da fraqueza que sentia, a vontade de comer havia se ausentado por conta da ansiedade que lhe sufocava.
Tomada pelo cansaço e esgotamento emocional, ela deitou na cama, puxando o cobertor ate seus ombros, fechou os olhos e adormeceu.
••••
🎶"Mais uma vez eis que estou aqui,
Presa em um sonho junto a ti,
Mais uma vez nele te encontrei,
Você é o amor que jamais conhecerei.
Mas eu sei,
Que o amor ilumina,
Todos os caminhos,
Quando o universo propõe,
Unir os destinos."🎶
Cantava a princesa alegremente, enquanto sua voz lírica e bem afinada, ecoava pelo bosque iluminado pela luz da lua. Aquele lugar era tão lindo e acolhedor.
Ela parou em frente a um lago, colocando a ponta dos seus pés na água morna que refletia as estrelas do céu e a luz da lua cheia. Estava tão encantada com a harmonia que pairava sobre si, que não percebera a aproximação de alguém. E foi apenas com um toque quente sobre seu ombro, que fora capaz de saber que não estava mais sozinha.
Meu amável desconhecido — disse a si mesma sentindo seu coração pulsar. O contato repentino foi tão avassalador, que fez os fios do seu corpo arrepiar, alastrando e queimando cada centímetro de sua pele.
Ela virou lentamente para ter certeza de quem se tratava, e naquele momento seus olhos encontraram o brilho de um olhar hipnotizante.
— Eddie — Anika abriu um largo sorriso ao fitar o rapaz.
— Olá, meu amor — ele puxou a moça contra seu peito, envolvendo-a em seus braços. Com todo cuidado aproximou-se do rosto dela, ansioso por um beijo ardente.
— Eu não posso... — interrompeu com voz triste, meneando a cabeça.
— Por quê não? — questionou o rapaz sem entender a rejeição de sua amada.
— Eu... eu vou me casar... — suas palavras saíram tão baixas que quase não puderam ser ouvidas.
— Como? — replicou em sinal de surpresa.
— Eu vou me casar — ela levou os olhos para o chão, deixando claro seu desalento.
— Você conseguiu se lembrar? — perguntou ele descrente.
Apesar da declaração displicente pronunciada pela mulher que tanto amava, Edward ainda conseguira abrir um sorriso esperançoso sobre a situação nada favorável.
— O que mais você se lembra, meu amor?— a cada segundo, se sentia ainda mais ansioso, por finalmente poder ter as respostas que tanto procurara.
— Nada além disso — ela voltou a fita-lo. — Tenho apenas essa estranha sensação de que irei me casar.
— Isso não pode acontecer — respondeu com a voz rouca, passando os dedos sobre o longo cabelo amendoado dela. — Precisamos procurar brechas para descobrirmos quem somos.Eu preciso te encontrar.
— Eddie... — disse com dificuldade, fechando os olhos para aproveitar ainda mais as carícias daquele homem. — O que faremos?
— Minha Anne — ele colocou a testa sobre a dela, puxando-a pela cintura. — Você já sabe o fim.
— Eu sei o fim? — questionou incerta sobre o que ele falava.
— Sim, você sabe.
— Desculpe, mas desconheço — ela apertou os olhos, sentindo a respiração dele tocar sua face. — Por favor, diga-me.
— Você pertence a mim — sua voz saiu tão grave, dando a impressão de que tais palavras não eram apenas uma simples declaração, mas o juramento de uma poderosa sentença.
— Você é o meu destino, minha querida.
👑👑👑
Olá realeza rsrs, deixe seu comentário sobre esse capítulo 💬... e não esqueça de votar 😉🌟
Continua...
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top