Capítulo 21 - Parte I
Amelie esgueirou-se pela porta tão logo foi liberada para se retirar. Seu coração batia rápido e dolorosamente, ainda recitando na mente palavras que a fizeram murchar como uma rosa cujas pétalas foram retiradas abruptamente. Seu pai, Edgard, com um longo sorriso, foi o primeiro a lhe recepcionar quando a jovem atendeu o chamado de sua criada, transmitindo-lhe o recado do patriarca. Aprumou-se e recebeu em silêncio as pitadas de cor que a boa senhora salpicava em suas bochechas. Se fosse apenas para vê-lo, ela pensou, não seria preciso tanto.
E o seu medo e ardor nas palmas das mãos confirmou-se quando, no canto do escritório, aquele sorriso assustador lhe recepcionou.
Os próximos minutos passaram como um flash que lhe queimava as retinas, violento e desesperador. Arnold beijava a sua mão, marcando os lábios na luva rendada. Fazia-lhe elogios doces, sussurrados, carregados de uma cumplicidade que ambos não possuíam e nunca haveriam de possuir. Em seguida, regido pelo sorriso de encantamento de Edgard, a reunião que determinaria o destino de sua vida se iniciou.
Amelie não havia sido chamada para opinar. Viu a sua alma ser jogada de um lado para outro, despedaçada e colada aos farrapos. Naquela conversa de cavalheiros, não havia espaço para suas objeções. Tampouco deveria possuir uma objeção. Tudo o que aqueles homens queriam ouvir e ver, eram os sorrisos de contentamento e palavras amáveis que a faziam ser como uma bela ovelha a seguir o seu pastor.
Dispensada, a dama D'Montfort levou a mão ao peito dolorido, onde batidas incessantes a faziam lembrar que ainda estava viva. Mas que vida haveria de ter, ao lado de um homem cujo seus sentimentos mais sinceros eram a mais pura repulsa? Teve vontade de chorar, perto de adentrar em um casamento infeliz, mas não havia mais lágrimas para soltar.
Estava prestes a seguir para os seus aposentos, quando uma diminuição no tom de voz do outro lado da sala a fez parar. Não deveria bisbilhotar os assuntos de seu pai, mas sem entender o porquê, a severidade no tom do mais velho a segurou onde estava, curvando seu corpo ao máximo para poder colar o ouvido à porta. Ouviu murmúrios e pequenas risadas, mas até o momento, nada identificável. Até o segundo seguinte.
Amelie arregalou os olhos ao ouvir as palavras "Killian" e "morto". Aproximou-se mais, julgando, ou melhor, torcendo para estar errada. Seu pai e o Duque não seriam capazes de tramar um assassinato, tampouco um que envolvesse a família real. Mas não estava errada. Edgard bradava ainda com cautela na voz, que as atitudes do príncipe, aliado ao fato de não ter escolhido a sua filha, eram condições favoráveis para arquitetar a sua morte. Arnold concordou, e Amelie mesmo sem estar dentro do recinto pôde sentir que ele sorria com o mais puro deleite ao pensar na morte do primo, emendando a preocupação com uma possível, àquela altura mais do que certa, aliança entre a Coroa e os Revolucionários. Se Killian vivesse, e Delilah se tornasse a sua Rainha, a Segunda Plebe ascenderia e multiplicaria o seu tamanho, e com a alta população de recém-ascendidos, chegariam a ser maioria no Conselho. Não, aquilo não deveria acontecer. Seria o fim dos planos maquiavélicos dos Nobres Reais.
Amelie levou a mão aos lábios, prendendo a respiração. Killian e Delilah estavam em perigo, pelas palavras do seu pai que dizia estar farto das atitudes da "revolucionáriazinha", e que decerto, uma postura mais enérgica seria necessária para colocar aquela "filha das vielas" de volta ao seu lugar. Seu coração ardeu e inchou ao pensar no que seu pai poderia fazer com a antiga rival e atualmente, dona dos seus pensamentos mais desejosos. Edgard era um monstro, e se nada fizesse, poderia ver a última centelha de seu amor acabar.
🜲🜲🜲
Delilah estava decidida. Não importavam os brados e as tentativas de persuadi-la, não desistiria. Estava pronta para lutar como uma Westville, ainda que tal atitude causasse grande revolta em sua mãe.
— Não vê que está estragando o seu futuro agindo como uma despudorada!? — Austina ralhou, determinada a pará-la. — Hoje é o dia que os olhos da sociedade estarão em ti. Retribui dessa forma? Metendo-se em confusões?
Delilah riu, sabendo exatamente as palavras da mãe antes que ela terminasse. É claro que não havia esquecido que aquele era o dia que Terithia havia esperado, com seus cânticos e odes a boa saúde do Rei. O dia em que o monarca fazia aniversário, também era o dia de lutar pelos seus direitos. Não poderia fechar os olhos, como todos os outros nobres atarefados em arrumações excessivas e preparações para o baile que ocorreria em comemoração à data. Não quando estava tão certa de seu desejo por lutar.
— Então devo permanecer calada enquanto os Nobres Reais nos mutilam e nos sufocam a cada dia? Mamãe, sabe tão bem quanto eu que esses vermes conspiram contra nós desde o momento em que pisamos aqui.
— Damas não agem como lutadoras selvagens! — Intercedeu Austina. — Que este seja o trabalho do teu pai, que também é um caso perdido. Mas minha filha, não pode se meter com badernagem!
Não adiantava. Austina não entendia o quão importante eram as lutas que tratava. Não entendia e a julgava por investir em conhecimento, quando em suas palavras, o mais importante era investir em suas chances de arrebatar o príncipe. Julga-a até o presente momento por ter seguido os seus desejos e junto de outras mulheres, adentrar o tão difícil e patriarcal mercado, desenvolvendo produtos e ouvindo de outros homens que "É até difícil crer que uma mulher está à frente de tudo isso." E também lhe julgaria caso confessasse o seu amor por outra dama. Austina nunca a compreendeu por completo, e aquele afastamento com a mãe lhe chateava mesmo que não quisesse transparecer.
Deixou Austina para trás com seus sonhos e reclamações, sentindo por não ser a filha que chegaria a realizá-los. Ao lado de Garon, o líder daquela convocação, Delilah e seus aliados marcharam com um claro objetivo em comum.
— Deixaste tua mãe de cabelos em pé. — Garon prosseguiu, sorrindo carinhosamente. — Não acho que dormirei dentro de casa esta noite.
— Ainda que o senhor me proibisse, estaria aqui. — Delilah sorriu de volta, orgulhosa do pai. Quando Garon soube que um Nobre Real havia arrastado sem clemência alguma, uma criança que envolvido pela brincadeira estava a bisbilhotar a sua residência, sentiu-se compelido a protestar. O tal nobre, no auge de seu convencimento, justificou não ter se dado conta de que "aquele moleque" pertencia a mesma classe que ele.
"Sabe como é, quando tais criaturas circulam a sua casa, nunca é para boa coisa... São espevitados, maleducados e deveras suspeitos... Não acusem-me de desconfiar de um negro a porta da minha casa..."
Delilah rangeu os dentes ao lembrar das palavras do homem, recitadas com explícito nojo por seu pai. Lembrou-se dos sapatos polidos, que via por debaixo das bancadas do seu pai, e dos chapéus pomposos que adornavam a cabeça de senhoras que nunca se aproximavam, apenas a observavam como se ela fosse uma "coisa". Apesar de hoje utilizar os mesmos sapatos e chapéus, ainda recebia tais olhares disfarçados de falsos elogios. Ainda que se sentasse à mesa com eles, nunca haveria de fazer parte daquele mundo de fato.
Quando toda Terithia estava em festa, recitando poemas em homenagem ao Rei, enfeitando fachadas de casas e lojas com sinos comemorativos e cochichando com palpites acerca do grande evento que os aguardavam, Delilah e seu grupo destoavam do todo, chegando à frente da residência D'Montfort.
— Caros amigos! — Delilah tomou a frente, subindo em uma banqueta que já estava à sua espera. Tomou fôlego e olhou para o grupo de pessoas que assim como ela, buscavam justiça. Rostos jovens e maduros que viam nela a face da revolução. — Se bem sabem, o homem que aqui mora, dia a dia, tenta nos silenciar. Seja por propostas absurdas, que nos tiram o direito de existir enquanto nobres, seja por discursos carregados de ódio, que culminam em atos de extrema violência como o caso envolvendo Paul. Paul foi mais uma vítima deste discurso descabido e, se nada fizermos, se não levantarmos a nossa voz, eles continuarão a achar que detém o poder máximo sobre os nossos corpos e direitos.
"Enquanto aqui estivermos, não vamos nos calar. Vamos resistir, na Assembleia ou nas ruas, vamos rasgar as constituições que nos ferem e nos enjaulam. Não somos e não vamos agir como animais para divertimento daqueles que detêm o poder. Não vamos abaixar a cabeça e fingir que tudo está bem. Não vamos saudar, como todos estão fazendo, um Rei que tampouco volta os seus olhos incrustados de ouro para nós. Vamos mostrar para o Marquês, e para todos os outros que ainda duvidam da nossa força, que estamos aqui e vamos lutar."
Delilah levantou a mão para o alto e a fechou em punho, ofegante após realizar o discurso mais importante da sua vida. Seu coração era um órgão descompassado, ritmado e vivo. Sim, estava viva. Naquele momento, bradando por sua sobrevivência, estava viva. Sentia o seu sangue correr por suas veias, rápido e feroz. Sentia, sentia e sentia. E desejava sentir mais.
Garon foi o primeiro a levantar o braço, repetindo o gesto da filha. Quando todos os outros, envolvidos por punhos fechados e palavras de ordem, a reconheceram e a saudaram, e os olhos de Delilah voltaram a ser os olhos de menina, Garon sorriu, imediatamente lembrando daquela pequena que a acompanhava, de livro na mão e ideias a concretizar. Naquele momento, Garon sentiu orgulho. Orgulho da mulher que Delilah estava se tornando.
As criadas cochichavam e eram silenciadas pelo olhar fulminante de Aida D'Montfort. A mulher de expressão severa levava as mãos às têmporas, irritada com a gritaria do lado de fora. Que ainda fosse possível atirar todos para dentro de um calabouço, assim não teria que ouvir os chiados de toda aquela gente baderneira.
— Não há nada que pode fazer, milorde? — Perguntou Aida, aceitando uma xícara de chá.
— Se coloco essa gente para fora, criam outra distorção. Já não basta o caso daquele moleque...
— Se me permitirem. — Iniciou Arnold, que ainda estava presente quando o protesto iniciou. — Posso chamar a minha guarda pessoal para enxotá-los para fora.
— Não será preciso. — Edgard disse com um sorriso no rosto e dedos curvados à frente do rosto, como um líder do mal a pensar em outra vilania. — Deixe que esses coitados continuem ganindo. Não poderão latir por muito tempo, afinal.
Enquanto pai e futuro marido trocavam um olhar cúmplice, Amelie observava pela janela, completamente encantada. Metros distante de si, de costas, usando azul e branco, estava a representação fiel das asas da liberdade. A voz de Delilah, quente e imperiosa, chegava aos seus ouvidos como uma melodia hipnótica e fascinante. Qualquer um que ouvisse aquela voz abandonaria tudo para correr em direção ao fogo. Inclusive ela.
— O que há de tão engraçado, Amelie? — Perguntou Aida, voltando o olhar implacável para a filha. Naquele momento, Amelie tocou os lábios, percebendo que ria de uma forma leve e natural, preenchendo todos os cantos de sua boca.
— Apenas aprecio uma bela revolução. — Sorridente, Amelie respondeu, deixando no ar o duplo sentido da frase.
— Aprecio o seu bom senso de humor, minha dama. — Floreou Arnold, pomposo. — No entanto, tampouco consigo brincar neste momento. Tais cacofonias me dão vertigem.
— Ora, se não é do direito de todos expressar-se. — Amelie rebateu. — Alguns preferem fazer isso de forma arrebatadora.
— Chega de brincadeiras, Amelie. Não é hora.
— Mas se era de um evento grandioso como este que essa casa precisava. — Amelie arrastou a voz, tomada por uma coragem que não compreendia a origem. Não, havia de compreender. Delilah e sua luminosidade estelar causavam isso por onde passava. — Ao menos alguém desse perímetro pode se manifestar, e o melhor, longe das garras dos donos da casa. Infelizmente, ou felizmente, no caso dela, Lady Delilah Westville não pode ser polida pelos senhores, meus amados pais. E ter ciência disso é sim, hilário. Eu poderia rir por horas seguidas.
Tais palavras, aliada a voz potente e ressonante de Delilah, inflaram e derrubaram a pouca paciência que ainda lhe restava. Levantando-se com tamanha rapidez capaz de lançar ao chão a xícara que portava em mãos, espatifando-se aos pedaços, Aida segurou com violência o braço de Amelie, a arrastando consigo.
A jovem sorriu para si mesma, em seguida gargalhando ao se dar conta do estado atual de sua família. Seu pai, um pretenso assassino. Seu futuro marido, um nojento pervesso. Sua mãe, uma submissa. Ela, uma coitada e a casa, tão frágil como aquela antiga xícara que agora jazia no chão. Tão espatifada quanto a sua miserável existência.
— Há de ser os ímpetos da juventude. — Arnold ponderou. — Hei de torná-la uma boa esposa quando nos casarmos.
E daquela forma, prometida, lançada à parede do quarto e mais uma vez, esbofeteada, Amelie sentiu-se como uma xícara partida.
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A noite trouxe o requinte que a ocasião pedia. Taças bem polidas, candelabros reluzentes, tapeçarias milimetricamente posicionadas... E os convidados. Homens e mulheres da alta nobreza que adentraram no recinto luxuoso e tão logo se acostumaram com a opulência do lugar, aproximavam-se da plataforma que os separavam do homenageado e os saudava com toda devoção. Não eram em todas as temporadas que o salão do Castelo Real abria-se para bailes, nem outra temporada já havia trazido o assunto que saltava de lábios em lábios, contornando todo o perímetro do salão: O pedido de casamento que o príncipe Killian James Whitenwright fará a Lady Delilah Westville.
Era uma comoção geral. Inflados com as previsões de Lady Bem-Aventurada, todos os presentes esperavam pelo grande anúncio da União. Já era esperado pelos súditos que o príncipe aguardava a comemoração dos anos do pai para fazer o pedido, mas após tantas evidências, incluindo o fato do príncipe ter bailado com Lady Delilah por duas vezes no baile anterior, os faziam ter certeza de que aquele seria um dia memorável em toda a Terithia.
E ao falar na possível noiva, todos os olhares voltavam-se à ela quando ela atravessou o salão. Trajada de lilás e salpicada de adornos em tom de lavanda, Delilah estava majestosa antes mesmo de ser considerada rainha. O vestido que havia passado pelo implacável crivo de sua mãe caía-lhe pelos pés como uma chuva de lírios, bordado na barra com padrões espiralados que subiam para o corpete enfeitado com pérolas. Nas mãos, luvas delicadas em tom de lavanda e nos cabelos penteados com o auxílio da criada, presos por um coque elaborado, uma singela tiara de cristal. Ao vê-la, Killian sobressaltou-se; o nobre que em nenhum momento ousou levantar-se para cumprimentar quem quer que seja, deixou a plataforma com passos firmes, meneando a cabeça lentamente para as reverências que recebia no caminho que o levou até ela.
— A senhorita está... Magnífica. — Killian conseguiu dizer, depois de segundos em que nem o ar ousou sair de suas narinas. Delilah estava encantadora aos olhos e ao olfato, trazendo na pele aquele doce aroma melado que ele adorava sentir.
— Obrigada, Alteza. — Delilah o cumprimentou com uma rápida reverência, percebendo no ato de se curvar que todos os olhares estavam voltados para os dois. — O senhor também está. Digo, arrumadinho. — Brincou.
— Preparei-me especialmente para ver a senhorita e é apenas um "arrumadinho" que conquisto!? — Killian retribuiu a brincadeira, inflando as bochechas levemente. A leveza que sentia ao lado de Delilah decerto era uma das centenas dos motivos que o levou a escolhê-la. A dama Westville não era como as outras e tal constatação já havia ficado clara para ele no dia em que viu aquela jovem travessa a tentar escalar o muro que a aprisionava, suja de terra e com um caloroso olhar a lhe receber. Delilah era jovial, linda e cativante. E se a Deusa quisesse, haveria de ser sua Rainha.
O príncipe conquistava olhares e suspiros daquelas que ainda torciam para que ele deixasse Delilah e voltasse a olhar para elas. Para as damas esperançosas, o príncipe estava espantosamente belo. Trajado como um cavaleiro em busca de sua amada, o príncipe destacava-se dentre todos os outros com o seu impecável uniforme real, em tons de preto como a cor fascinante de seu cabelo e olhos. A farda que o identificava como membro da realeza, adornada com correntes douradas, assim como a cor da coroa tentadora que ele propositalmente deixou inclinada sobre os fios macios de seu cabelo, cravejada de rubis, faziam as moçoilas balançarem o seu leque, imaginando-se com um artefato como aquele em suas cabeças. Que injusto destino faria a "menos importante" delas receber tal gratificação.
Enquanto Killian a guiou para o salão de baile, abrindo a rodada de danças da noite, Delilah farejou inveja e despeito de parte das damas que a cumprimentava com tímidos acenos. Mal sabiam elas, pensou a jovem, que aceitaria de bom grado transferir toda a atenção que recebia do príncipe se tal troca trouxesse a afeição de quem ela realmente desejava para si. Por segundos que pareceram rápidos e intermináveis ao mesmo tempo, Amelie e Delilah, antigas rivais, entreolharam-se, lado a lado. Olhos azuis de encontro aos castanhos, como uma lufada de areia de encontro ao mar.
Delilah engoliu em seco, incapaz de desviar o olhar. Amelie o fez primeiro, recebendo Arnold com um caloroso sorriso quando este a tomou em seus braços. A música corria nos ouvidos de Delilah, mas para a dama, o tempo havia paralisado no momento em que a encontrou. Amelie estava divina. Vestida de cor de baunilha, as camadas do seu vestido lembraram-lhe de aros açucarados. Tais camadas eram preenchidas de rosas de cor creme, fazendo a dama realmente parecer um doce delicioso e altamente proibido. Suas luvas rendadas recebiam as carícias do Duque com devoção, fazendo a dama que observava chiar em resposta. Os cachos ruivos que ainda permaneciam soltos, propositalmente fora do coque impecável preso por correntes cravejadas de pequenos diamantes, hipnotizava-a de maneira tamanha, que a impossibilitou de escutar as perguntas do príncipe.
— Lady Delilah, está tudo bem? Os outros casais já estão dançando.
— Oh, desculpe. — Delilah piscou, engolindo em seco. E oferecendo a mão para o príncipe, suspirou e pôs na cabeça que a dama dona de seus pensamentos, em poucos dias, subiria ao altar.
Amelie sentiu as pulsações de seu peito ameaçarem despir o apertado corpete que usava naquela noite. Por poucos segundos, a olhou, tão bela quanto o desabrochar de uma rosa, e logo voltou ao papel que deveria cumprir. Mas o coração não é um órgão que aceita mentiras, por isso, enquanto dançava com Arnold, que a rodopiava e a lançava em seus braços em seguida, não pôde pensar na felicidade que sentia ao dançar com ele, ou nos tecidos que escolheria para os guardanapos do desjejum matrimonial. Não conseguia pensar em nada que não fosse a beleza daquela dama que naquela noite, estava a poucas horas, minutos ou segundos de noivar.
Quando a dança exigiu que moças e rapazes ficassem em lados opostos e o destino brincalhão novamente as pôs lado a lado, Delilah e Amelie entreolharam-se novamente, mágoa e desejo disputando as pupilas que não ousavam recuar. Delas, choveram palavras que ambas não diziam pelos lábios, não seria preciso. Apaixonadas como estavam, apenas o olhar bastava para se comunicar.
"Parece que a senhorita está bem contente por se tornar uma Duquesa daqui a poucos dias. Não é o que esperava, mas não deixa de estar nos holofotes."
"Não estaria em mais ascensão que a senhorita, Lady Delilah. Não quando passar a utilizar uma Coroa e portar-se a essas pessoas que aqui estão como súditos seus."
E, trocando expressões de mágoa, as duas voltavam aos braços de seus respectivos parceiros, bailando, rodopiando e sorrindo. Mas nenhuma daquelas ações apagavam o fogo do amor que sentiam uma pela outra.
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