Capítulo 16
Debruçada no peitoril da varanda, Amelie observava o vôo dos pássaros, mesmo sem estar realmente focada neles. Parte dela ainda pensava no breve passeio anterior com o Duque, onde num ato de surpresa, ele a beijou.
Sentiu os lábios queimarem no exato instante em que relembrou o beijo roubado. Os lábios de Arnold eram rígidos e pouco proveitosos, e sim, sempre que relembrava esse fato, lembrava-se da prova de maciez que teve outrora. Os lábios carnudos de Delilah passeavam em sua mente com uma camada de doçura, e os pensamentos eram tantos, que acabaram na madrugada anterior, eternizados no papel.
No pequeno caderno que descansava embaixo dos lençóis, estavam retratados os obscuros sentimentos que Amelie não possuía coragem, e nem poderia, confessar. A jovem Delilah em diversas poses, ângulos e faces, sempre tão receptiva e leve. Desde pequena Amelie nutria gosto pela arte, mas após conhecer Delilah, percebeu que nenhum quadro que já viu em sua vida poderia chegar aos pés daquela teimosa de olhos castanhos.
— Perdão, milady, não sabia que estava acordada! Atrapalho?
Amelie piscou, saindo dos tolos pensamentos na segunda vez que foi acionada. Virou-se para a criada e a viu remexer nos lençóis, onde o seu tesouro proibido estava e jamais poderia sair.
— Não! — Gritou Amelie, assustando a mulher. Em seguida, notando o tom agressivo, a jovem recuou. — Não... precisa arrumar agora. Deixe que eu mesma arrumo. Isso, eu posso arrumar.
A criada arregalou os olhos, incrédula com as palavras da menina. Amelie não era o tipo de jovem que proferiria aquelas palavras nem sob ameaça de morte. Acaso a jovem estava em delírios?
— Lady Amelie, está tudo bem com a senhorita? Devo chamar sua mãe?
— Não, eu... — Amelie se encolheu, demonstrando como não demonstrava em muito tempo toda a fragilidade que carregava. Manter aquela armadura que a fazia ser implacável contra tudo e todos, começava a lhe trazer consequências. — Estou perfeitamente bem. Procure outro afazer, Lindsay. Não preciso dos seus serviços hoje.
— Mas milady, ainda devo arrumar a senhorita...
— Devo ser capaz de me arrumar sozinha. Se entendeu, deixe-me.
A criada assentiu, se afastando com pouca pressa. A palidez em seu olhar mostrava que jamais esperou que tamanho estranhamento acometesse a jovem Amelie, tão acostumada a dar ordens e esperar que elas fossem cumpridas rapidamente. O que ela não poderia adivinhar é que igual sentimento também chocou Amelie.
Em tese, pareceu muito fácil dispensar a criada. Amelie a liberou em um momento de confusão, porém, após a porta ser fechada e a jovem dar de cara com os seus atuais afazeres, nunca arrependeu-se tão rápido de sua decisão. Pegou com incerteza o fino lençol que dançava em sua mão, mal podendo imaginar como aquela bagunça poderia transformar-se em um quadrado perfeito e bem dobrado.
— Não deve ser tão difícil assim dobrar um mísero lençol... — Em poucos segundos, a dificuldade para formar uma dobra perfeita provou que estava errada. Amelie se contorceu, na esperança que seus movimentos a ajudassem na tarefa, mas remexendo-se o quanto podia, não foi eficaz. Em dado momento o motivo de seu nervosismo caiu aos seus pés, abrindo-se na página em que os olhos da nova rica fitavam os seus. — Saiba que a culpa disso tudo é sua. Se não passeasse tanto em minha cabeça...
Amelie calou-se ao analisar a frase. "Delilah estava em sua cabeça?" Não, não podia ser. Admitir aquele fato a faria chegar em conclusões bem, bem assustadoras. E tais conclusões não podiam ser verdade. Não com ela.
— Se aquela plebeia poderia atingir-me... — Amelie riu de forma desdenhosa, mas preocupada. — Não. Apenas desenho-a para praticar, é isso. E também, por qual motivo haveria de ser ela? Pode ser qualquer pessoa. Delilah não é a única a ter... tantos atrativos.
Após fazer o possível para arrumar os lençóis e dar um toque apresentável a si própria, Amelie desceu as escadas disposta a tomar um pouco de ar. Vestiu as luvas e encaminhou-se à porta, quando Lindsay a chamou.
— Devo pedir a alguém que lhe acompanhe?
— Não. Estou disposta a curtir a minha própria companhia. E mamãe?
— Está recolhida em seu quarto e não deve sair até o jantar. Alega uma pequena dor de cabeça.
— E papai?
— Saiu e não disse o destino, milady. Apenas disse que não devem esperá-lo para o almoço.
Amelie assentiu, sorrindo para si mesma. Aida odiava o clima rural, sempre precisando de dias a mais para se adaptar. E Edgard odiava qualquer coisa que envolvesse as duas. Essa era a sua grande família.
— Também não devem esperar-me para o almoço.
— E o que devo dizer para a sua mãe?
— Não diga nada. Diga à ela que passarei o dia em meu quarto.
— Mas a senhorita está prestes a sair, e não tenho conhecimento do destino. Além disso, dispensou a dama de companhia que deveria acompanhá-la... Não sei se devo omitir essas informações.
— Até quando eu terei que viver sob os preceitos da minha família!? — Amelie gritou, fechando os punhos. Estava ofegante e cansada por tudo o que tinha que aguentar.
— Perdão, milady. — Respondeu a mulher, se encolhendo. — Apenas temo por sua segurança. Uma jovem a andar por esses campos sem fim...
— Eu sei, Lindsay, peço desculpas se me excedi. — Amelie viu a surpresa nos olhos da criada ao escutar a palavra que nunca ousou sair dos lábios da jovem. Aquele ato também lhe causou surpresa. Muita surpresa. — Apenas quero tomar um pouco de ar.
— E eu não tenho a intenção de impedir. Direi a sua mãe que está em seu quarto, milady. — Lindsay sorriu por baixo da surpresa que tornou a jovem Amelie irreconhecível aos seus olhos. — Que a Deusa lhe acompanhe, menina.
Os olhos de Amelie transformaram-se em duas pepitas surpresas quando a criada se aproximou e sem pudor algum a beijou na testa. Aquilo... ela nunca havia sentido aquela sensação. Cuidado. Desde pequena, viu todas as criadas se afastarem de si e cochicharem sobre o seu comportamento difícil. Ela não havia sido uma boa garota e várias foram as vezes que os olhos decepcionados das preceptoras provaram-lhe isso. Beijos como aquele? Estavam fora de cogitação. E de certa forma, Amelie havia se acostumado com isso.
A criada afastou-se rapidamente ao perceber o que fez. Podia ter se deixado levar por aquela suave versão, mas ela ainda estava diante da ferrenha Amelie. Estava pronta para abaixar a cabeça e pedir-lhe desculpas pelo ato, quando, com os olhos marejados, Amelie se afastou. E o que ela disse antes de sair jamais sairia de sua cabeça.
— Estou indo, Lindsay.
Amelie apertou os olhos, limpando as lágrimas pouco depois de sair. O que estava acontecendo com ela, que de repente havia virado aquela manteiga derretida que parou de repreender criadas? Se fosse a Amelie do passado a enfrentar aquela situação, Lindsay estaria no olho da rua. Mas repentinamente, e de uma forma estranha, ser a Amelie do passado não a animava mais. Sentia repulsa e vergonha, ao lembrar-se das vezes que a afastou.
Seu destino, deveras condizente com o seu estado atual, arrancou-lhe risadas. Estava no antigo forte Grumhoord, cujas instalações, ao passar dos anos, transformaram-se em meras ruínas. O antigo castelo inacabado a recebeu com suas paredes mal feitas e as muitas trepadeiras que envolviam as muralhas podres. Dentro dele, o eco de sua respiração a acolheu.
Finalmente poderia respirar o ar puro e pensar em sua transformação. Gostaria de pensar que estava passando por uma crise de identidade e tal torpor passaria logo, assim como desejava acreditar que tais mudanças não tinham a ver com a dama que explicitamente era a sua rival. Mas não importava o quanto pensasse e o quanto tentava arranjar provas que afastasse aquela suposição, não conseguiu deixar de pensar.
Delilah era como um maremoto que a varreu sem piedade. Dentro do turbilhão de cachos castanhos, Amelie era lançada de um lado para o outro, sentindo os pulmões ardentes encherem-se de ar. Seus braços pareciam serem feitos de papel, sem forças para nadar.
— Essa dama há de sair da minha cabeça de uma maneira ou de outra, ou então... — Ela corria sérios riscos de se afogar.
Um galho partindo-se a metros de onde estava a arrepiou por completo. Lindsay tinha razão e agora ela estava em apuros por não tê-la ouvido? Deveria se esconder? Mas onde, se aquele vão destruído não oferecia nenhum esconderijo?
Seu coração batia rápido e os seus lábios tremiam ao ouvir o som de passos cada vez mais próximos. Céus, morreria naquele fim de mundo e ficaria com o seu corpo exposto para os corvos virem alimentar -se? Viraria adubo para aquela terra podre?
— Eu estou armada, não se aproxime ou irá se arrepender! — Gritou Amelie, em uma falha tentativa de parecer mais corajosa do que era. Suas mãos tremiam, segurando uma pedra que pouca serventia teria contra um valentão. A respiração ofegante criou linhas de fumaça diante dos olhos, ainda assim, ela se recusou a desistir. — Não escutou o que eu disse? Não se atreva!
Amelie fechou os olhos, pronta para correr e atacar quem quer que fosse quando o som de uma alta risada a fez acordar. Em segundos, Delilah apareceu em sua frente, trajada de branco e apertando os olhos, mal podendo se conter.
— Sei de seu ódio por mim mas não sabia que era tanto ao ponto de tentar me matar.
— Plebeia? — Perguntou Amelie em um misto de alívio e desconfiança. — O-o que faz aqui? Não devia estar no Templo?
— Em tese, sim. Mas eles acreditam que uma boa jovem como eu não merece ser vigiada. E para agradecer a confiança... Aqui estou.
Amelie passou a observar a dama com mais atenção assim que Delilah pôs-se a sua frente, soltando uma risada divertida. De fato o pessoal do Templo necessitava urgentemente atentar-se ao estilo atual, mas nem de longe aquela bata medieval diminuía a beleza da jovem. Delilah era linda sem que a indumentária fosse um empecilho para brilhar, e constatar aquilo fez o seu coração idiota se apertar.
— E como sabia que encontraria-me aqui?
— Não sabia. — Delilah abanou as mãos. — E também não vim à sua procura. Cedritte contou-me sobre essas ruínas, tive vontade de visitar.
Bem, era uma explicação convincente. Afinal não teria como Delilah saber de seus planos estando tão longe, certo? Ou realmente, aquela dama era uma espécie de... bruxa?
— Pois se já viu, saia.
— Saia a senhorita, que já deve ter visitado esse lugar centenas de vezes. É a minha primeira vez aqui, e irei aproveitar.
Amelie bufou; tudo o que não precisava era que aquela irritante dama estragasse o seu dia. Mas o forte era suficientemente grande para que as duas o habitassem sem problemas, ao menos esperava que sim.
Começou a caminhar para longe de Delilah, e estava disposta a ir para o mais longe possível quando um pedaço do teto desprendeu-se e estava em vias de a acertar. Amelie olhou para cima, com os olhos arregalados e as pernas desesperadamente trêmulas. Não conseguia fazer forças para sair.
Apertou os olhos, aceitando o fim. Esperou que aquela pedra findasse a sua confusa vida e a levasse para um lugar bom mas... Em fração de segundos sentiu o seu corpo ser arrastado por algo, ou melhor, alguém. Em um segundo estava prestes a morrer e no outro estava grudada ao corpo de Delilah, tão próxima e com os olhos duplamente arregalados.
— A-a senhorita está bem? — Delilah foi a primeira a dizer, sentindo o eco das batidas rápidas do seu coração. — Se machucou?
— Eu, não... — Amelie piscou, fazendo forças para falar. Delilah estava muito próxima, jogada no chão com ela, olhos nos olhos pousados e um delicioso cheiro de frescor. — Mas a senhorita... Sangue!
Delilah arqueou as sobrancelhas, até sentir a pontada de dor no cotovelo. Quando se jogou com Amelie no chão para salvá-la da morte certa, ralou o seu braço no chão cortante. O sangue pingou livremente, manchando o solo.
— Ah, isso? Não é nada.
— É... É claro que é! A senhorita... Machucou-se por minha causa! Podemos ir na minha casa e...
— Não tenho intenção de sair desse lugar e ser dedurada por seus pais. — Delilah piscou, afastando-se para limpar o sangue que saia do seu braço. O ferimento ardia, mas era suportável. Poderia aguentar. Quem não poderia aguentar era Amelie, que sentiu falta do calor da dama quando ela se afastou. — Já disse. Isso não é nada. Já levei tombos e cortes muito piores.
Amelie estalou os lábios, levantando-se. Olhou para o vestido de estampa floral que usava, vendo que o tecido transformou-se em uma extensão do barro. Ótimo, agora mesmo que Lindsay nunca mais a acobertaria.
— P-pare de se fazer de forte! Isso tudo é só para que eu fique devendo um favor para a senhorita?
— Eu jamais poderia cobrar-lhe algo. — Delilah se defendeu, olhando a situação de seu vestido que não estava muito diferente do vestido de Amelie. — Nem tudo o que fazem pela senhorita é por interesse, sabia?
Amelie não saberia dizer. Ao longo de toda vida, os interesses moveram as suas relações. Por que haveria de ser diferente agora?
— Bom, pode não me cobrar agora, mas quando precisar...
— Continuarei não cobrando.
— Como pode ter tanta certeza!?
— Sei quem eu sou e mantenho minha índole, Lady D'Montfort. Fique despreocupada. Meu ato não custará nada a senhorita.
Amelie cruzou os braços, criando um pequeno bico nos lábios. Realmente ela não conseguia entender a dama Delilah. Como tal dama não era capaz de aproveitar as oportunidades que a vida lhe dava?
— Então devo-lhe dizer que a senhorita está sendo burra, Lady Westville. No mundo em que vivemos, favores são poderes que não devemos desperdiçar.
— Diga pela senhorita. Eu não faço questão alguma de viver em um mundo assim.
— E pensar que uma jovem com tão baixo pensamento está prestes a abrir o maior baú do tesouro que tantas com aspirações melhores desejam abrir...
— Como a senhorita? É isso que está tentando fazer com o Duque? Sim, porque ele também é um membro da família real... Se não há limões, então que haja laranjas, não é isso?
Amelie sentiu o seu rosto arder. Indignada com tal comparação, apontou o dedo para Delilah e disse:
— Não há interesse algum em minha relação com o Duque! — Ao menos, não por parte dela. — Há afeição genuína.
Não, não havia. Delilah estava certa por mais que lhe doesse admitir. Edgard a estava servindo de bandeja para Arnold e ela sabia o motivo. Só lhe custava acreditar.
— Interesse genuíno? — Delilah pendeu a cabeça, ironicamente. — De sua parte?
— De minha parte, sim. — Amelie não a encarou. — Até nos beijamos, se a senhorita deseja saber.
Aquela informação fez o estômago de Delilah se contrair de uma maneira não muito boa. Lembrou-se da conversa que teve com o Duque e a péssima impressão que o primo de Killian deixou. Ele não poderia ter ido além com Amelie. Não poderia.
— A-arnold beijou a senhorita!?
— Para a senhorita, é "Alteza." E sim, beijou-me.
— A senhorita não deve ter achado bom. — Delilah proferiu em tom de afirmação, apesar de ser uma pergunta.
— Oh, é claro que achei. Meu primeiro beijo foi... — Amelie juntou as mãos, fingindo sonhar com o momento. — Tudo o que uma garota como eu poderia querer.
— Primeiro beijo? — Delilah zombou. — Acaso se esquece que esse não foi o seu primeiro beijo?
— E como não haveria de ser? Acaso há algum beijo que seja digno de ser lembrado?
Amelie sentia-se vitoriosa ao deixar Delilah furiosa com o seu desdém, ao menos era isso que inicialmente pensou. Mas, passado os segundos em que a dama nada disse, e com o caminhar em sua direção, Amelie passou a pensar que talvez houvesse tomado a decisão errada. Não era bom irritar Delilah Westville, se não era capaz de sustentar. E ao tê-la tão próxima e tão atrativamente chateada, definitivamente ela não era capaz de sustentar.
— Então acho que não restam opções a mim a não ser refrescar a memória da senhorita. — Amelie caminhou para trás com a aproximação, passo após passo, até sentir a parede estragada atrás de si. Respirando audivelmente, sentiu suas pernas bambearem quando os dedos da outra percorreram as ondas do seu cabelo ruivo. — Ou será que essa sempre foi a intenção da senhorita, ao fingir que não se lembra? Está tão desesperada assim para sentir os meus lábios nos seus novamente, Lady D'Montfort?
Delilah sussurrou as palavras finais diretamente em seu ouvido, fazendo-a estremecer. Amelie não aguentaria se aquilo continuasse. Ela precisava se afastar.
— Eu não... — Começou, mas se calou rapidamente ao encarar as íris castanhas e o ar de perdição que emanava delas. Amelie buscou apoio nas trepadeiras frágeis, apertando-as.
— A senhorita não...? — Delilah zombou, atrevida. — O gato comeu a sua língua, Lady D'Montfort? Ou está tão perdida em vontade que nem pode me contradizer?
Amelie balançou a cabeça em negação, sentindo o coração arquejar. Delilah estava próxima, acima de si e totalmente entregue ao momento, ora deslizando os dedos em seu cabelo, ora dedilhando o seu pescoço. E que a Deusa a perdoasse, mas ela não tinha condições de se esquivar. E puxando Delilah para perto de si, definitivamente se esquivar nunca foi uma opção.
Até mesmo a jovem Westville ficou surpresa com a iniciativa da D'Montfort, mas passado o susto, restou a vontade e o desejo de provar aqueles lábios outra vez. Delilah a segurou e a imprensou contra a parede, tomando a boca dela com fome ardente. Amelie ainda era aquela jovem inexperiente, mas dessa vez, procurou movimentar-se da mesma forma que ela, e o encontro encaixado de suas línguas a fez delirar. Delilah a queria e não podia e nem queria mais negar, e apenas um mero beijo não era mais o suficiente para afagar a vontade avassaladora que a impediu de se afastar.
Deslizou os lábios para baixo, tomando o pescoço da dama com a mesma fome que a levou para os braços de Amelie. Deu beijos suaves e lambidas precisas e foi agraciada pelos belos suspiros de dama desejosa. Aquilo a deixou ardente por mais.
— D-d-delilah! — Amelie conseguiu dizer entre os suspiros que emitia, fechando os olhos com os beijos da outra em seu colo. — Não deveríamos estar fazendo isso. A senhorita não deveria estar fazendo isso. Deve concentrar-se... Para a cerimônia... Estar em paz... Com o seu interior...
— Acredite, D'Montfort. — Delilah afastou os lábios, olhando-a com intenso desejo. — Meu interior ficará desequilibrado caso saia dos meus braços. Me levará a loucura se fizer isso. Mas, por mais que meu desejo seja tomá-la em meio a essas ruínas, diga uma palavra e arrumarei uma forma de cessar o meu desejo. Mas só me pare se realmente não me quiser. — Delilah arrastou os lábios pelas bochechas da jovem, suplicando. — Me diga, meu bem, posso prosseguir?
— Eu... — Amelie se viu sem saída. Confessava que parar Delilah também a traria prejuízos e mais do que ela queria admitir. Seus seios doíam embaixo do corpete, e o meio de suas pernas... Estava tão trêmulo quanto o resto do seu corpo. Não poderia mais negar os sinais do seu corpo. Não queria que Delilah parasse, nem pelo templo, nem por ninguém.
Puxou-a novamente para um beijo proibido e cheio de sabor. Enrolou a língua na dela, ouvindo o suspiro aliviado de Delilah que a queria tanto como ela a queria. Deixou que as mãos da outra passeassem por seu corpo, a sentisse e a adorasse. E ali, sentindo os dedos de Delilah percorrendo as suas curvas febris, deu-se conta que nenhum outro poderia fazer o que ela agora fazia.
— Levante o seu vestido pra mim, amor. — Delilah sussurrou em uma voz pedinte e rouca, levando Amelie ao delírio. A jovem prontamente fez o que foi pedido, alçando o tecido até a sua cintura. Estava insana o suficiente para pensar nas consequências dos seus atos, e que o arrependimento a encontrasse depois. — Boa garota. — Delilah sorriu de forma cretina e a partir daquele momento, Amelie descobriria o verdadeiro prazer.
Delilah começou empurrando o emaranhado de tecido para baixo, praguejando contra os botões do vestido e parando qualquer que fosse a palavra que sairia dos seus lábios para admirar os seios de Amelie. Naquela noite, no lago, a água já tinha dado uma boa visão daqueles suculentos seios que estavam em sua frente, mas agora... Era como estar diante de um anjo. Delilah salivou ao observar as aureolas claras, e no centro, o mamilo endurecido instigou a conhecê-lo. Aceitando o convite, seus dedos urgentes passearam na carne macia.
— Ah... — Amelie emitiu o primeiro suspiro assim que sentiu o contato dos lábios de Delilah em seu pescoço. A dama beijava-o de modo lento e torturante, apenas arrastando os lábios. Se fosse intenção da dama a enlouquecer, Amelie sentiu que ela estava conseguindo.
Delilah também fazia força para não se exceder. Ainda temia que Amelie a parasse no meio do caminho e se arrependesse do que faziam, aquilo seria um duro golpe contra a sua vontade avassaladora. No entanto, ao encará-la, a viu perdida nos mais deliciosos prazeres que poderiam ser proporcionados a uma mulher. E ao pensar que talvez Amelie nunca chegasse perto do verdadeiro prazer ao casar-se com um homem, que pouca força fazia para satisfazer a mulher, sentia que devia essa amostra para ela.
Delilah selou os lábios entreabertos da outra apenas para avisá-la que o seu foco seria outro. Desceu, e desceu cada vez mais, tomando um seio solitário com os lábios e fez dele a sua morada. Os arquejos de Amelie ficaram mais audíveis; prosseguindo, Delilah soube que estava no caminho certo.
Amelie segurou-se nas plantas e automaticamente separou as pernas, ofegante e ansiosa. Olhou para baixo, onde os lábios de Delilah faziam o seu trabalho, conhecendo um, e depois o outro. Era ótima a sensação dos dedos apertando o mamilo molhado, e muitas foram as vezes em que, desejosa, Amelie segurou nos cabelos de Delilah, instigando-a continuar.
Delilah rodeou a língua e brincou com a carne molhada, levando-a ao delírio. Teria a tomado no lago se soubesse que os suspiros de Amelie eram tão deliciosos ao ouvido, mas também não podia negar que a espera aumentou a sua vontade. Amelie se desmontava em seus lábios e ela ainda nem havia chegado no ato principal. Chamando a atenção da dama, Delilah prendeu o tecido do vestido entre as mãos trêmulas e com ousadia, a dedilhou.
Iniciou seu passeio pela barriga lisa de Amelie, rodeando os dedos com pouca pressa. Apertou os quadris e beijou o vale entre os seios, tornando aqueles atos a sua calmaria. Jamais poderia participar de uma celebração, estafada como estava. Amelie era o seu remédio e a sua salvação. Ainda que fosse uma das regras do evento manter-se pura e imaculada, não era como se sua pureza estivesse sendo testada. Afinal, era Amelie quem estava se desfazendo em prazer.
Ela também sofria com os sinais de seu corpo. O meio de suas pernas implorava por atenção e como ela queria que as duas compartilhassem o prazer. Mas os gemidos de Amelie já lhe eram um presente e naquele momento, não havia nada que ela pudesse querer mais que o seu nome dos lábios suplicantes da dama.
Amelie retesou-se quando os dedos de Delilah chegaram em um ponto proibido. Arregalou os olhos e apertou o tecido do vestido ao ponto de formarem calos esbranquiçados em seus dedos, em um misto de ansiedade e receio. Quando Delilah tomasse a sua castidade, não haveria volta. E apesar de saber disso, abriu os lábios em alto e bom som quando aqueles mesmos dedos a fizeram estremecer.
Amelie deixou a cabeça cair sobre o ombro, respirando com dificuldade. Delilah moveu os dedos em seu centro, brincando com o ponto principal. A dama se divertiu com as expressões que ela fazia, entregue às sensações escaldantes em seu corpo. Amelie sentiu a sua alma ir e voltar enquanto os dedos faziam o seu trabalho, e cada vez que acontecia o atrito, mais molhada ela ficava.
— Oh, Delilah, por favor... — Amelie choramingou, remexendo os quadris. Delilah não podia estar mais grata por escutar seu nome saindo de uma boca tão gostosa, e a cada movimentação, senti-la encharcada era um deleite. Resolveu aumentar o nível de prazer abocanhando-a novamente, e sem pudor Amelie gritou, fazendo das ruínas o seu cúmplice.
— Posso te foder, Amelie? — Pediu Delilah, rodeando a entrada úmida. Amelie assentiu e se arreganhou, sentindo as contrações em seus joelhos. Ao vê-la tão entregue, as pernas de Delilah ameaçaram fraquejar. Seu centro piscou, pedinte, mas ela havia de suportar.
Delilah afastou os dedos para os lamber, e hipnotizada, Amelie guardou aquela cena erótica na memória. Não sabia que um dia haveria de desejar que aquela cena se repetisse para sempre em sua mente, mas muito se sentiu agraciada por Delilah a mostrar.
Voltou a beijá-la com carinho ao mesmo tempo em que dois dedos atrevidos invadiram a fenda quente, e a sentiu soluçar sob sua boca. Os dedos iam e voltavam sem pressa, criando movimentos ritmados. Amelie arqueou-se e chupou a língua da outra, fazendo-a pagar por deixá-la tão afoita.
Os lábios de Delilah se separaram trazendo uma linha fina de saliva entre eles. Sorrindo, a mão livre alisou as bochechas da dama prazerosa, enquanto a outra mão se acomodou no meio de suas pernas. Amelie mordeu os lábios, contendo os múltiplos gemidos que ameaçaram sair. Não poderiam correr o risco de serem pegas de uma forma tão... embaraçosa.
— Não os prenda. — Delilah pediu. — Quero ouvi-la.
Amelie assentiu, separando os lábios. Seu ventre estremecia tal qual as pernas fracas, os olhos giravam em uma volta completa e a cabeça pendia para frente e para trás, sem forças para segurar. Não imaginava como aquela relação proibida para mulheres podia ser tão boa. Naquele momento, se perguntou se alguma mulher casada já havia experimentado aquele tipo de prazer.
Enquanto divagava, foi surpreendida pela mão livre de Delilah, alçando suas pernas. A dama a prendeu em volta da sua cintura e aumentou as estocadas dos dedos, fazendo-a gritar. Com o dedão, Delilah voltou ao seu centro, duplicando o prazer.
— Delilah... Ah, Delilah... — O nome da rival saiu com facilidade dos seus lábios trêmulos, assim como o resto do seu corpo que se apertou em volta daquelas sensações. Amelie deixou o tecido do vestido para apertar os ombros de Delilah, e sem pudor, rebolou em seus dedos, sentindo suas paredes internas chacoalharem.
— Amelie... Me entregue tudo o que tem. — Delilah pediu em um tom lascivo, selando-a rapidamente para voltar a abocanhá-la. Enquanto os seus lábios a degustavam, sua mão livre passeou pelo seio solitário, e munida de tantas sensações, não demorou muito para Amelie se esgotar.
O mundo pareceu ter virado de cabeça para baixo, saído do eixo para depois voltar. De repente a mente de Amelie ficou límpida como um rio cristalino, depois das turbulências dos tremores de suas pernas e os suspiros impossíveis de segurar. Os movimentos duplos de Delilah, além das carícias de seus lábios, a levaram para um desconhecido e prazeroso lugar. Em segundos, aquela turbulência transformou-se em bilhões de explosões potentes, e em seguida, paz. Amelie respirou fundo, tentando acostumar-se com os resquícios das novas sensações.
Delilah a tomou em um beijo carregado de desejo, após o ápice atingido. Ela não queria esquecer nunca da expressão de Amelie e o quão entregue ela estava com o prazer oferecido. Que o amanhã e o depois não chegassem. Ela poderia viver para sempre nos braços daquela mulher.
Amelie suspirou pausadamente entre o beijo, voltando aos poucos à realidade. Alisou o rosto de Delilah, enquanto a beijava com paixão. Que Arnold e Killian sumissem, que seus pais sumissem. E só restassem elas e as ruínas que juntaram os cacos que a abriram para um novo amor.
Delilah foi a primeira a se afastar, levando os dedos que outrora estavam em Amelie aos lábios. Provou de seu gosto e pediu aos céus que aquela não fosse a última vez. Sem que ela imaginasse, Amelie, perdida na visão de sua rival provando o seu gosto, desejou o mesmo.
🜲🜲🜲
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