Capítulo 14




"O que é o amor? Como descrever tal sentimento sufocante e ardente, causador de guerras e apaziguador de tempestades?

O amor, minha cara leitora, é viajar por mares arredios. É lançar-se a chamas escaldantes. É perambular por desertos gelados. É sentir o infinito e o nada, toda vez que os olhares apaixonados se encontram.

O amor nasce quando todas as adversidades não são capazes de apagar a chama que cresce nos corações juvenis."

Crônicas de uma Lady Bem-Aventurada (Fragmento), edição 214.




Amelie estava maravilhada. O casal de dançarinos a sua frente flutuava em passos milimetricamente ensaiados, como se homem e mulher fossem uma unidade. Separados, alma e corpo exibiam na face desesperada a urgência de unir-se.

O baile da vez prometia uma imersão nas fases da paixão, e ela havia de admitir, Lady Chester havia se superado no quesito apresentações atrativas. O tema do baile por si só era um deleite aos corações apaixonados, que se entreolhavam a cada suspiro do casal dançante. As jovens solteiras abanavam-se, sentindo as labaredas da paixão subirem-lhe atrevidas por baixo das anáguas. A mulher de gostos exóticos realmente desejava que todo o cenário sugestivo fosse um empurrão para os muitos enlaces que poderiam ocorrer, afinal, se for para existirem fofocas, que sejam fofocas alimentadas por seu grandioso baile.

Na fase em que o casal performou o desejo proibido, Amelie sentiu-se sufocada. Acaso aqueles eram os sintomas de amor que Lady Bem-Aventurada prescreveu às suas queridas leitoras? E se fosse, tal aperto seria destinado ao príncipe, certo? Afinal foi a ele quem Amelie dedicou todo o seu amor.

Mas será que Amelie... realmente sabia o que era o amor? Aquele sentimento que apertava o peito e revirava corações?

Não cresceu com a melhor das representações em casa. Edgard, sempre atarefado em seu escritório pouco afagou a si ou a sua mãe. Amelie não era boba, sabia que o matrimônio de seus pais era o fruto de um acordo familiar, onde as duas partes saíram ganhando. Também não era tão tola para desconhecer a máxima de todos os casamentos nobres acontecerem dessa forma, mas ela quis acreditar que seria diferente. Ela faria ser diferente.

Ainda criança, convenceu-se a gostar do príncipe. Amelie era apenas uma dentre as centenas de jovens que nutriam o mesmo sentimento, mas para ela, seu amor tinha um peso diferente. Era algo que ela havia escolhido. Apesar das pressões que Edgard fazia para a tornar o rosto de uma Terithia futura, Amelie convenceu-se que sonhar com Killian era uma escolha sua.

E ela foi feliz com essa escolha, sim. Preparou-se e esperou por aquele príncipe escolhido para consumar seu amor, no entanto, no meio do caminho, o amor que até então se convenceu a sentir esfarelou-se diante dos seus olhos, sem que nada ela pudesse fazer. Amelie estava desesperada.

Do monte de areia que o amor por Killian deixou para trás, os dedos trêmulos da jovem moldavam um par de olhos, nariz atrevido e lábios cheios em um sorriso solar. Enrolou a areia nos dedos, formando cachos na face da bela dama que a sugou para a sua própria constelação estelar.

Delilah estava magnífica. Do outro lado do salão, a observar com olhos atentos para o casal que dançava, estava a atual dona de seus pensamentos confusos. Amelie a odiava, cada centímetro daquela dama que ousou intrometer-se em seus pensamentos seguros. Nunca sentiu-se daquela forma. Afinal, o que sentiu então por Killian, se não amor?

Amor, amor, amor. Amelie deseja amar e ser amada. Tal menina tola sonha com aquele que poderia tirar-lhe da escuridão torturante dos seus pensamentos. Apaixonar-se por Killian parecia tão fácil, mas não possível. Por quê?

O preto do vestido de sua rival reluzia. A odiava tanto por sempre ser assim, atrativa e ousada. A cor que até então representava o luto nunca pareceu tão viva aos seus olhos. As mangas bufantes lhe adornavam os braços com a mesma fluidez que o tecido fino emoldurava as suas pernas. Ao redor da saia e abaixo do corpete, cristais a rodeavam como se os próprios astros viessem visitá-la, ajustando-se a sua luz. Amelie achou ter visto o total esplendor de seu desafeto mas não poderia enganar-se mais, pois ao virar-se, Delilah revelou que poderia ir mais além.

A dama inclinou-se para cochichar palavras cobertas pelas mãos à frente dos lábios e tal interação seria inútil se a atual posição não a fizesse emudecer. Diferente do usual, a amarração do vestido deixou parte das costas da jovem a mostra, sem pudor algum.

Cedritte sorriu e inclinou-se para cochichar de volta, causando uma risada abafada por parte da dama que era o objeto de sua observação. E ao estudá-la tanto, Amelie se odiou por não conseguir desviar o olhar da dama de coque alto e bem penteado, sustentando uma pequena tiara com cristais idênticos aos utilizados no vestido. Era injusto o quanto ela parecia beijada pelo luar, mais injusto ainda ser ela a cair em seus encantos.

Estava tão incomodada que, na metade da dança que outrora parecia tão atrativa aos seus olhos, segurou a taça de limonada com certa força ao observar a interação. Delilah ria e apertava os olhos, contendo pequenas lágrimas em suas pupilas vivazes. Acaso aquela dama tentadora estava a engraçar-se com todas as as jovens daquele Instituto?

E se estivesse, por que aquilo lhe incomodava tanto?

Amelie passou intempestiva por Delilah, que cambaleou alguns passos, confusa. Olhou para trás e conseguiu ver que a jovem se encaminhou para o jardim, e seus punhos fechados e os ares turbulentos já a faziam ter noção do estado de humor de Amelie.

Seja lá o que fosse, tal situação não lhe dizia respeito, certo...? No entanto, tratando-se da jovem de cabelos ruivos, suas pernas se moviam antes que pudesse dar-se conta de suas ações. Depressa, pediu licença a Cedritte e antes da resposta desta, caminhou em passos rápidos atrás da dama fujona. Encontrou-a encostada em um emaranhado de trepadeiras, tomando ar.

— Quando esbarramos em alguém, o certo seria pedir desculpas. Faltou as aulas de boas maneiras, Lady D'Montfort?

Delilah Westville. A dona de seus confusos pensamentos. Irritada, Amelie estalou os lábios e disparou:

— Oh, acaso esbarrei na senhorita? Não pude mesmo notar. É tão desprovida de carisma que achei que nem mesmo estivesse aqui...

Delilah ameaçou um sorriso ao notar que as duas se tratariam daquela maneira. Não era tão sádica ao ponto de admitir que gostava de implicar com Amelie, mas se ela continuaria a odiá-la, nada justo que lhe desse alguns motivos.

— É uma pena que eu tenha entendido errado, então. Achei que a vinda da senhorita para esse canto escuro fosse para repetirmos o que fizemos no lago.

Delilah estava com um sorrisinho irritantemente sugestivo. Amelie queria arrancá-lo daqueles lábios pintados.

— Ora, se não vem a senhorita com essas insinuações sem sentido! Estou aqui somente para tomar um pouco de ar. Inclusive, não estou aproveitando o bastante, já que tenho que lidar com a sua intragável visita. Portanto, exijo que saia.

Enquanto Amelie tecia os seus previsíveis comentários ácidos, Delilah demorou-se na silhueta da jovem. A cor vermelha de seu vestido em muito combinava com a meia luz oferecida pela lua, tornando-o mais vivo. O corpete, que lhe marcava a cintura, ilustrava padrões triangulares como se tal usuária fosse a própria Rainha de Copas. A barra da saia contava ainda com símbolos de flechas que a tornavam vestida para matar. Era uma piada do destino que uma daquelas flechas tenha acertado justo o seu coração.

Amelie encarava-lhe com as bochechas avermelhadas, parecendo ter ciência de seus pensamentos sem que ambas precisassem dizer. Delilah reparou nos cachos que envolviam o colo macio da jovem, e sorrateiramente a sua mente a enviou para o dia onde pode senti-los na palma da sua mão. Suspirando, Delilah deu de ombros, sem se importar.

— Tudo bem. Voltarei para o salão onde dançarei e distribuirei sorrisos. — Delilah disse e Amelie suspirou em alívio, pensando que sua pequena tortura estava prestes a ter fim. No entanto, nada a preparou para o repentino momento onde os lábios da sua declarada rival estavam colados em seu ouvido. Sem perceber, Amelie estava retesada abaixo de Delilah. — Mas saiba a senhorita que a minha verdadeira vontade era permanecer aqui, calando a sua boquinha ácida.

Delilah se afastou, gargalhando de forma pomposa. Sim, Amelie a odiava. Tocou a sua orelha quente, o calor vivo transbordando em sua carne e o cheiro fresco da dama ainda inundado em suas narinas. Como Delilah podia se portar daquela forma pecaminosa de forma tão natural? Sentia-se queimar apenas ao pensar no corpo da dama acima do seu, no hálito quente perto de suas bochechas, ah... Se era de sua vontade esquecer Delilah Westville em meio ao luar, aquela ardente interação apenas aumentava os motivos para lembrá-la da torrente de sentimentos que procurava afastar.

Delilah caminhou de volta para o salão, tocando levemente em seus lábios. Desde o momento em que decidiu responder as ironias de Amelie com tentações sugestivas, passou a se perguntar o motivo de fazer isso quando podia apenas ignorá-la. Tratava tais atitudes como travessuras para aquela nobre mimada, mas... Se não fossem apenas travessuras?

Estava tão absorta, presa no momento com Amelie, que não percebeu quando seu corpo trombou com uma silhueta à sua frente. Estava prestes a pedir desculpas por sua falta de jeito, quando os seus olhos encontraram-se diretamente com o príncipe.

— Parece obra do destino a nossa pequena confusão. — Killian iniciou o diálogo, beijando-a na palma da mão enluvada. — Esperei vê-la ao final da apresentação, mas não a encontrei.

Ah... A apresentação. Não notou ter abandonado-a até se deparar com o espaço antes ocupado pelos dançarinos vazio.

— Precisei de um pouco de ar. — Delilah sorriu. — Mas foi uma ótima apresentação, pelo o que pude ver.

A jovem sentiu-se suar frio. Em seu sorriso nervoso e coração palpitante, algo lhe dizia já saber o que vinha a seguir. E ela acertou.

— Deveras. — Killian sorriu, estendendo-lhe a mão. — Acaso ainda há lugar em seu cartão de dança para conceder-me o privilégio de conduzi-la ao salão?

Delilah abriu e fechou os lábios, procurando no ar rarefeito uma justificativa plausível para o seu recusar. Após a interação com Amelie, onde labaredas a envolviam em um fogo incapaz de cessar, não possuía fôlego para gastar em danças – literalmente – e a aparição de Cedritte em seu campo de visão foi mais do que bem vinda.

— Decerto, adoraria. — Delilah juntou as mãos, usando a esquerda para apontar. — Mas creio que a minha querida amiga esteja precisando movimentar o corpo. Olha, lá vem ela!

Cedritte apontou para si, parecendo confusa quando Delilah acenou. Com um olhar urgente da outra, a dama da Casa Tremunt aproximou-se, se curvando com educação ao cumprimentar o príncipe.

— Cedritte precisa mesmo dançar. — Delilah a segurou pelos ombros, colocando-a na frente do príncipe antes que ele pudesse fazer a desfeita de recusar a pretendente. — Já que está procurando uma pretendente... É a perfeita pra isso.

Delilah piscou, deixando no ar a dupla interpretação de sua frase. Acenou sorridente para a jovem de bochechas avermelhadas, que olhava para ela e para o príncipe como se estivesse amarrada em uma grande confusão. Abatido, mas totalmente cortês, o príncipe estendeu a mão para a jovem que prontamente aceitou.

Delilah os viu ocupar o centro do salão e esperar o início da próxima música. Contida, Cedritte aproximou o corpo e delicado, Killian a guiou em uma valsa suave. Delilah sorriu, observando-os. Havia algo na personalidade dos dois que os juntavam e os tornavam perfeitamente complementares um para o outro. Decerto, essa seria a melhor combinação para um casal. Mas... E se um casal fosse formado por almas opostas?

A exemplo, Amelie e ela. Tal dama era o perfeito retrato cuja personalidade não combinava com a sua. Se pudesse ilustrar, diria que Amelie era como os alpes gélidos, e ela, uma tempestade de verão. Dois pólos opostos, a léguas de distância um do outro, em uma eterna tentativa de se encontrar.

Não poderiam pois, para um existir, o outro teria que sucumbir.

Opostas. Era assim que Delilah as definia. Personalidades cujas as tintas do destino fizeram questão de traçar, bem distante uma da outra. Mas as vezes, bem as vezes, aquela distância entre as brasas e o gelo se encurtava pouco a pouco, até se encontrar. Como o sol que ajustava o seu calor para adaptar-se ao frio, estas eram Amelie e Delilah, opostas e complementares, inimigas mas que tão bem caíam como amantes.

Delilah piscou, perdida. Ao olhar para o outro lado do salão viu a dona de seus pensamentos aéreos conversar com um grupo de jovens que abanavam os seus leques e sorriam para possíveis interessados. Amelie, no centro, cruzou seu olhar com Arnold e lhe deu um discreto aceno, que foi retribuído com um acenar de cabeça. Em nada a jovem parecia com a dama de olhar irritadiço; parecia como sempre esteve, pronta para unir os fios de seu jogo.

E nada teria ela com esse assunto se não fosse a sua péssima mania de ler as entrelinhas de tudo que dissesse respeito a D'Montfort. Lia Amelie como se a jovem fosse um reflexo de si mesma, e para alguém que deveria manter distância, saber de seus verdadeiros pensamentos lhe dava mais vontade de se aproximar. Por vezes, enquanto Amelie tentava se mostrar animada e solícita as risadas das damas, os olhos azuis e vazios da jovem rolavam de um lado para o outro, desfocados e com um sentimento de tristeza tão palpável que Delilah poderia pegar e guardar em si.

— Ora, Delilah, o que está fazendo... — Cochichou a jovem, obrigando-se a caminhar para longe da hipnótica atenção que dava à Amelie. — Deve pensar em si, apenas.

Deparou-se com a mesa de quitutes e já que apenas espiar não era o suficiente para silenciar a sua mente, decidiu comer. Iniciou sua degustação provando um bolinho de maçã, com um toque sutil de essência de laranja. Enquanto se deliciava, um certo cavalheiro se aproximou.

— Lady Westville? — Chamou o rapaz de aparentemente 29 anos de idade. — É um prazer conhecê-la. Acredito que já ouviu falar sobre mim, mas não me custa oferecer-lhe a minha identidade. Chamo-me Durand Leclerk, primeiro filho e futuro Visconde de Wenquiria. Denomino-me de tal forma pois... — O agora nomeado Durant fez uma pausa, como se fizesse forças para continuar a falar. — Papai não está bem de saúde. Temo herdar o título mais breve do que penso.

Delilah ouviu tudo o que o homem tinha a dizer, e por mais que aquela tenha sido a primeira vez que ouviu o nome "Durand Leclerk", não cometeu a indelicadeza de corrigi-lo. O que mais lhe chocou, se assim podia dizer, era o fato de tal homem contar e se apresentar com um título que ainda não possuía.

— É um prazer, Lord Leclerk. E... Sinto muito por sua futura perda? — Delilah adotou um tom de interrogação, claramente pela dúvida do que dizer.

— É realmente muito triste. — O homem limpou lágrimas imaginárias com um lencinho. Em seguida, atentou-se para os atos de Delilah, que degustava sem intenção de parar. — Acaso não parará de comer para dialogar comigo?

— E deveria? — Delilah arqueou as sobrancelhas, prestes a morder mais um pedaço de seu bolinho. Podia dizer ao lorde futuro visconde de não sei o que havia sido ele a atrapalhar o seu afazer, mas comer parecia um gasto de energia mais interessante.

— Oh, mas é claro...! Deve-me mostrar que não tem apego a comida, é um bom ponto que as senhoritas não sejam tão comilonas. Eu adoraria que a minha esposa não pesasse mais que minhas vacas.

Durant dizia aquelas palavras em meio a risadas estridentes como se tal comparação fosse a melhor coisa que seu cérebro pequeno pudesse pensar. Delilah afastou o bolinho de seus lábios; um alimento tão gostoso que ganhou um gosto amargo ao passar por sua garganta. Sorrindo irônica, Delilah devolveu.

— Então seria melhor casar-se com uma, Lord Leclerk. Assim só seria preciso gastar o seu precioso dinheiro de futuro Visconde com capim.

O Lord arqueou as sobrancelhas, estranhando o bom humor da dama. Era um rapaz conservador, não era de seu gosto que uma jovem tivesse lábios tão... atrevidos. Ela deveria rir e tecer um comentário ingênuo, mas apesar de seu conservadorismo, não podia negar que era tentador "laçar" uma jovem arredia.

— Oh, Lady Westville...! É tão dotada de humor! — Durant secava o canto dos olhos, balançando a cabeça em negação. — Minhas vacas são exclusivas dos bois. A senhorita deve ver como são adoráveis os partos de tais animais, ajudo sempre que posso. Ah, senhorita... Falando em filhos... Acaso sonha em ser mãe? Gosto de jovens que desejam ocupar-se com uma família grande, é um bom ponto. Para mim, me orgulharia muito ser pai de 8 filhos.

Delilah estava zonza. Havia perdido as contas de quantas vezes uma figura feminina foi comparada a uma vaca. Outro ponto que a azedou era justamente a série de pontos que Durant insinuou. O que ela faria com eles? Trocaria na feira livre por um cacho de bananas?

— Lord Leclerk. — Delilah iniciou, suspirando fundo. Tal homem, após as suas "gentis" palavras, desejaria não tê-la abordado e interrompido a degustação de seu bolinho.

No entanto, antes que uma tempestade saísse de seus lábios, uma mão firme pousou nos ombros de Durant, obrigando-o a olhar para o homem que se aproximou.

— Peço desculpas pela intromissão. — O homem se antecipou, apertando os dedos no ombro do rapaz de olhos arregalados. — Acredito que Lady Westville deve-me uma dança.

— Oh, eu não poderia imaginar...! Perdão, Alteza! — E voltando-se à Delilah. — Milady. Espero que continuemos a conversa em outra oportunidade.

Durant se afastou as pressas, deixando Delilah enfim livre, mas diante das garras de outro inconveniente. Bem, decerto havia de agradecer a pequena mentira, por mais que fosse totalmente capaz de sair daquela situação chata sozinha.

— Acredito que ele estava importunando a senhorita. — Arnold olhou-a, reparando com um olhar sugestivo para o vestido que usava, ultrapassando o decoro. — Espero ter sido de ajuda.

— Era capaz de sair dessa sozinha. — Delilah cruzou os braços, encarando-o de volta. Aquele homem de sorriso largo era Arnold Clearvant, Duque de Yhynth e primo do príncipe Killian, além dos boatos que corriam entre ele e Amelie. O que ele estava fazendo, indo até si? — Estava prestes a dar-lhe uma amostra do meu "tratamento cordial", mas devo agradecer.

— Ah, não tenho dúvidas. Se o fizesse, aquele homem nunca mais seria o mesmo. — Arnold riu. — Sei de sua fama e genuinamente fico triste por ter sido eu a impedi-la de entrar em ação. Por meu erro, concede-me uma dança?

Delilah cruzou os braços. Arnold não se diferenciava de Killian apenas pela aparência física. O sorriso e o modo como os seus olhos sempre pareciam a acompanhar... Estranhamente a deixava em um estado de alerta.

Arnold e Delilah ocuparam o centro do salão, e cortês, o Duque a conduziu conforme a dança. Enquanto giravam e tornavam a se encontrar, Arnold aproximou os corpos, exibindo um sorriso curvado e galanteador.

— Ouvi dizer que é a atual distração do meu primo.

— É assim que o príncipe refere-se a mim?

— Oh, não. — Arnold riu de maneira anasalada. — Killian não se referiria dessa forma a linda jovem que arrebatou o seu coração. Mas o pai dele, sim.

— O príncipe disse-me que não nutre boas relações com o Rei.

— Ele foi muito ponderado. Meu tio odeia-o, e tal sentimento deve ser recíproco. No entanto, creio que a relação quebrará de vez quando Killian a levar para o Castelo como sua esposa e futura Rainha.

— Supondo que essa fosse a minha vontade, seria um desejo que caberia ao príncipe e a mim, certo? O senhor ou o Rei não tem nada a ver com isso.

— Eu não me oponho ao relacionamento, mas voltei justamente para reunir a família. — Arnold aproximou ainda mais os corpos, girando-a de supetão. Colando as costas de Delilah ao seu corpo, o Duque sussurrou as próximas palavras em seu ouvido, tocando-a na lateral da cintura propositalmente. — Posso advogar ao seu favor e fazê-la ser aceita pelo Rei, se eu julgar que é boa o bastante para ocupar o lugar que a espera. Poderei prová-la antes do meu primo, e se gostar do que experimentei...

Arnold ainda continuaria a insinuar, quando Delilah tomada pela raiva pisou em seu pé, não fazendo questão de ser gentil. Aproveitando a tontura momentânea, a jovem virou-se novamente, pegando-o pela gola da bela casaca. Seus olhos transbordavam irritação.

— Toque-me novamente, e se arrependerá da decisão. Não se aproxime novamente de mim. Não serei tão bondosa da próxima vez. — Com a mão livre, Delilah discretamente abaixou-a na altura da calça do homem, sinalizando uma tesoura imaginária. Quando a jovem fechou os dedos, Arnold engoliu em seco, entendendo o recado.

Delilah estava prestes a seguir o seu caminho, sendo interrompida ao trombar com Killian pela segunda vez. O rapaz que havia testemunhado todo o teor da conversa com Arnold a interceptou, preocupado.

— Não é nada. — Delilah sorriu. — O Duque e eu apenas estávamos nos conhecendo melhor. Acredito que ele gostou muito de me conhecer. — A jovem sorriu, voltando o olhar para o Duque, que já estava reunido com outros rapazes.

— Não se aproxime o bastante de Arnold. — Aconselhou Killian. — Ele... Não é o melhor tipo de homem a se ter como amigo.

— Não se dão bem?

— Diríamos que temos mais diferenças do que gostos iguais. — Killian riu, encarando o primo com algum tipo de ressentimento antigo. — Mas não a chamei para falar dele. Não apenas. Gostaria de saber se a senhorita juntaria-se a mim na próxima dança.

— Hummm... Sabe que estou precisando mesmo dançar? — Delilah sorriu, estendendo a mão. Killian a beijou delicadamente e a guiou para o centro do salão, onde todos os olhares estavam centrados neles. — Mas deixe-me fazer o convite, afinal é sempre Alteza quem convida. Príncipe Killian, aceita juntar-se a mim nessa dança?

O baile de Lady Chester e o tema propício, ao longo das horas juntou os presentes em animadas danças e minutos seguidos de conversação. Para as mães, esse era o adequado momento em que pudessem inserir as suas filhas nas vistas dos melhores solteiros da cidade e visitantes de fora e para as filhas, era a oportunidade perfeita para ouvir elogios e colocar em prática todos os meses de treino árduo. Tratando-se das jovens de Lefrance, estas eram chamadas de anjos em cena, tamanha a boa tutela da casamenteira.

...

— "Lady Breaullet. — O jovem prosseguiu. — Devo-lhe dizer que a senhorita está deveras encantadora hoje. Acaso me concede a honra de inscrever meu nome em seu cartão de baile?"

— "Oh... — Jolie colocou a mão na testa, fingindo um imenso pesar. — Temo estar com todas as vagas preenchidas... Mas se pedir-me com jeitinho, posso pensar."

Admirado, o rapaz colocou-se aos seus pés, causando um gritinho eufórico por parte da jovem convencida.

...

Cedritte suspirava pelos cantos após a dança com Killian. Era certo que o príncipe não estava totalmente focado em seus passos, vez ou outra saindo do compasso. Procurou por Delilah mais vezes do que poderia contar, mas ainda assim... Algo em seu coração se aqueceu com o toque gentil em suas mãos e nas poucas palavras que tocaram. Killian era mesmo um rapaz de bom coração.

— "Ora, Cedritte! — Sua mãe a interceptou, com uma feição azeda. — Pare de sonhar acordada e vá para o centro do salão. Não será vista se ficar aqui no fundo, querida, parecendo um bicho do mato! Vá, vá! Lembre que precisamos de um bom resultado por seu pai."

Cedritte assentiu, apagando as tolas faíscas do seu coração.

...

Clorance era de longe, além de Amelie, a mais requisitada. A jovem estendia a mão enluvada para receber beijos de jovens apaixonados e declarações secretas de amor, mas se havia de dançar com alguém, não seria com aqueles bajuladores. Aceitasse sua mãe ou não, não possuía vontade de dançar com jovens de discursos prontos. Que o seu prometido tivesse um mar de palavras não ensaiadas só para ela.

...

Florence suspirava com as bochechas avermelhadas, mal podendo encarar o jovem que a cortejava.

— "Eu não sei se... Terei capacidade de cuidar de 8 filhos mas... Farei o que quiser... Milorde..."

Durant sorriu, pegando novamente na mão da jovem. Tal ato poderia desmaiá-la ali mesmo.

— Pois acho eu que a senhorita seria maravilhosa. Já consigo a ver segurando nosso primogênito, que será forte e saudável. A segunda, uma menina, será bela e gentil como a mãe. O terceiro, protegerá sua irmã de qualquer malfeito que possa ocorrer. O quarto brincará com o terceiro, e bom, também agirá como o protetor da nossa garotinha. A quinta, uma menina, nos lembrará do como é maravilhoso criar uma garotinha. O sexto e o sétimo serão gêmeos inseparáveis. E o oitavo, caberá à Deusa decidir.

Os olhos de Florence queimavam de vergonha ao imaginar um futuro ao lado de Durant. Seria aquela a sua oportunidade de iniciar uma família, como sempre quis...? Esfregando as mãos de modo envergonhado, a jovem assentiu.

— Eu... adoraria. Adoraria ter essa família grande e feliz ao seu lado, Lord Leclerk.


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