Meta 4: o julgamento

Oláaaa!

Esse capítulo é composto por duas ligações telefônicas e muitos sentimentos da Hinata. Sinceramente, eu estava tristinha escrevendo a cena dela com o Gaara, mas a cena dela com o Sasuke me deu uma aquecida no coração!

Espero que gostem tanto quanto eu ♥
Boa leitura!

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— Meta 3: o julgamento—

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Ele já tinha falado sobre coisas aleatórias. Eu atendi e ele perguntou se eu estava bem — realmente estava, depois do dia com o Sasuke, por mais que eu sentisse que ele pudesse estragar isso —, daí começou a jogar papo fora, como se fosse, sei lá, 2015 novamente e nós estivéssemos sentados lado a lado na cama enquanto conversávamos depois de terminar uma série duvidosa. Eu soltei alguns sons esquisitos, dei risadinhas nervosas e senti um bolo na garganta em diversas partes. Era isso, eu não conseguia lidar com os meus sentimentos porque eu não os entendia.

Mas tem coisa que não é de entender, tem coisa que é de sentir. 

— Gaa, o que você tá fazendo? – sussurrei baixinho de forma quase imperceptível, interrompendo uma fala-monólogo dele. 

— Hã? Eu tô falando com você e olhando pra rua mais ou menos movimentada... 

Eu não sabia se ele era negligente ou burro. No fim do dia, na verdade, acho que isso não fazia diferença porque o saldo final era o mesmo: eu, de novo, sofrendo por algo que não tinha mais a ver comigo. 

— Não tô falando disso. Eu tô perguntando o porquê de você estar me ligando. 

Não é mais 2015. Quis dizer, mas não disse. Pra mim, a possibilidade de Gaara entender que não somos mais amigos é muito esquisita. Como assim ele não entendia que tinha partido o meu coração? Como assim ele não tinha sumido de uma vez depois que fez isso, como alguém normal? Isso me dava bastante raiva porque me fazia sentir como um tapa buraco. Ele não queria mais a namorada, então descartou, mas ainda queria a melhor amiga, aparentemente. 

— É que eu queria falar com você. Estava com saudades. 

Gostar dele é difícil demais e eu estou avessa às dificuldades. Eu gostava dele, ainda, mas não queria mais namorar com ele porque achei a forma abrupta como terminamos dolorosa demais; quase como uma traição. Ele, um dia, decidiu que não poderia retribuir meus sentimentos e terminou comigo. Ele não conversou. Ele não me explicou. Ele só acordou um dia, achou que não valia a pena e... Foi embora deixando palavras soltas no ar, como a droga da esfinge! Ainda assim, eu não conseguia bloquear o número e seguir em frente porque a ideia de magoá-lo como ele me magoou me parecia muito não eu. E não ser eu era um pesadelo no caminho rumo à despartilha. Eu bem que queria ser a pessoa que deseja o mal quando é ferida, algo como: agora eu quero que você definhe de ansiedade e solidão porque de mim não tem mais nada. 

Mas eu não sou assim.

— Hina? 

— Eu tô tão cansada. Mesmo. Cansada de não conseguir te ignorar porque o Gaara-melhor-amigo insiste em perguntar porque estou fazendo isso e esse questionamento me machuca. 

— Machuca porque você não quer fazer isso... 

— Eu não acho que seja assim. Machuca porque eu sinto que não posso simplesmente te abandonar sem que você ache que isso é uma reação desproporcional. Eu não sei se você tem a dimensão de como me magoou, Gaa. Só que esse é o outro lado da sinuca de bico em que você tem me colocado: eu estou magoada, mas não quero te magoar. Vê? É complicado. 

Eu preciso que você me deixe ir.

— Eu fiz alguma coisa que tenha te deixado com raiva de mim? 

— Não é o que você fez há cinco minutos, ontem ou semana passada. É a coisa toda. 

Ficamos um tempo em um silêncio ensurdecedor, como se tivessem coisas não ditas. Muitas. A questão é que eu estava cansada de dizê-las. Não queria ser a pessoa que pega na mão do Gaara como se ele fosse uma criança e explica o passo a passo da negligência sentimental que ele tinha feito ao não me dar um final digno. Eu não queria que ele tivesse feito um flash mob do término ou que ele tivesse chorado e rolado no chão... Eu só queria que ele tivesse sido sincero e aberto comigo e, principalmente, que ele não tentasse manter as coisa iguais. Elas não estavam iguais e tentar fingir que estavam era apagar fogo com gasolina. 

Ele um dia incendiou meu coração de amor mas hoje... era a minha pele que queimava de agonia por não saber o que fazer. O sofrimento parecia irremediável pra um dos lados e agora eu queria de verdade que esse lado não fosse o meu.

— Achei que tivéssemos concordado em ser amigos. 

Suspirei, mais uma vez. Minha cabeça doía e mesmo assim as lágrimas não desciam. 

— Você não pode ter tudo. 

Por que merdas eu não conseguia dizer diretamente que precisava de espaço? E por que ele não entendia esses movimentos esquisitos que eu estava tendo como eu precisando de espaço? Ele me disse tudo nas entrelinhas e agora não conseguia entendê-las? 

Que injustiça.

— Gaa, eu tô cansada. Vou deitar um pouco. 

— Tudo bem. Hina, é verdade, eu te amo. Tô com saudades. 

Ele não queria voltar comigo, o que era um alívio porque eu também não queria voltar com ele. No entanto, ele parecia não entender — ou pior, não se importar — que não podia mais me amar sem me ferir. E que cada vez que ele dizia estar com saudades era uma estaca enorme no meu coração porque eu me sentia mal por não corresponder a essa saudade. Parecia, sempre, que eu era a pessoa horrível. Que eu era quem estava chutando a parede de tijolinhos que construímos juntos por todos esses anos porque "não estava sendo madura o suficiente". 

Mas foi Gaara que chutou essa parede. Agora ela era um amontoado de tijolos disformes, incertos, bambeantes, que precisavam só de um assoprinho pra cair. Infelizmente, ainda parece que eu estou prestes a dar o chute destruidor e não a assoprada. 

— Eu também. Beijo. 

Fiquei estática depois de desligar e andei pelo quarto escuro com a mão no peito. Por que parece que eu estou vivendo em uma novela mexicana mal acabada? Que saco. Fui até a cozinha e peguei um pedaço aleatório de queijo na geladeira, mastigando devagar e encarando a parede como se algo de muito interessante estivesse prostrado ali. Eu estava sem energias, mas que merda. 

I'm not the same girl that you once knew
(Eu não sou a mesma garota que você conheceu)

and we can never be, never be friends
(e nós nunca poderemos, nunca poderemos ser amigos)

Foi aí que pensei em Sasuke. 

Olhei para a tela do celular depois de comer o último pedaço e vi como ela estava, ainda, um pouco embaçada de tanto ficar com a bochecha grudada no telefonema com Gaara. Fui até o quarto de novo, devagarinho, no mesmo compasso das minhas batidas doloridas do coração, e coloquei um fone de ouvido. 

Uma chamada. Duas. Três. Quatro. 

— Oi. 

Prensei os olhos e sentei na cama. Que ideia burra. 

— O-oi... Como você tá? 

— Do mesmo jeito que há uma hora atrás, acho. – Claro. Eu parecia uma doida ligando pra ele. A gente tinha acabado de se despedir! — É... 

— Ah! Então... 

— Aconteceu alguma coisa? 

— Não, eu... Ai, Sasuke. Aconteceu sim. 

— Você conversou com ele, né? 

Mordi os lábios, ansiosa. Sasuke estava sendo um ótimo amigo e tinha me dado conselhos incríveis. No entanto, as coisas não se resolviam tão facilmente, como se a vida fosse um filme ou uma fanfic de comédia romântica. Pessoas reais, felizmente ou infelizmente, têm oscilações sentimentais tremendas, são mais falhas, mais medrosas, mais impulsivas. A minha sorte é que Sasuke era muito humano, apesar de, lembrando sempre, parecer ter todas as respostas. 

— Sim. Ele me ligou. 

— E aí? 

— ... Eu tô te atrapalhando? 

— Fala logo – resmungou. Pelo barulho entendi que ele tinha se jogado na cama ou em algum lugar bastante confortável. Eu não precisava de ressalvas com o Sasuke. Ele nem tinha paciência pra elas. 

— A ligação nem foi o importante. Sabe a sensação de que o meu erro foi amar demais? Eu tenho isso constantemente com o Gaara. Sinto que o término veio porque ele surtou com isso por algum motivo, pelo menos é o que eu entendo pelo que ele disse naquele dia... só que agora eu não consigo me desvencilhar dele. Eu não quero magoar ele, Sasuke, mas quando ele diz que me ama e que sente saudades eu só... Não... 

— Não consegue. Porque seria mentira. 

Não chorar na chamada com o Gaara podia querer dizer muitas coisas, até mesmo nada. Foi por isso que quando as lágrimas começaram a descer descontroladas eu não soube bem como reagir. Fiquei surpresa de estar chorando mas... eu entendia. Sasuke era como liberdade. 

— Eu amo o Gaara – solucei baixinho, limpando os olhos com as costas das mãos. — Mas não gosto mais dele. Isso faz sentido? 

— Nah. Não muito. — Eu quase podia ver ele mexendo nos piercings distraído enquanto me dava essa resposta. Mesmo assim, ele era o oposto de negligência. Como isso era possível? — Mas... eu sei que você tá em conflito. 

— Me sinto em uma sinuca de bico idiota. 

— Você é uma boba, sabia? 

— Ah! Obrigada?!

— Pensa comigo, Hinata. Eu sei que tá difícil, mas essa sinuca de bico é voluntária. Eu não tô dizendo que você tá sofrendo porque quer e que pode sair em qualquer momento. Não é isso. O que eu tô dizendo é que você sabe que a outra alternativa senão ficar e sofrer é ir embora. 

— Não consigo. 

— Ainda não. Eu sei. 

— Eu acho tão injusto que ele não esteja me ajudando, Sasuke. Se ele não forçasse a barra as coisas estariam muito mais fáceis. 

Ele ficou em silêncio por alguns momentos, provavelmente pensando em algo que não acabaria comigo. Ele sempre parecia ter todas as respostas. Essa questão fica se repetindo na minha cabeça o tempo todo, num looping de esperança. Mesmo assim, agora eu tinha perguntas demais. Era só um amontoado de sentimentos irracionais. 

— Às vezes a gente não tem muitas escolhas – disse simplesmente, como se essa fosse a resposta óbvia. 

— Então eu tenho que sofrer? 

— Bom... tem. 

— Você lida com o caos de forma bastante natural – brinquei, soluçando um pouco. 

— Têm coisas que são irremediáveis. Ele tá sendo um babaca, não importa se conscientemente ou inconscientemente. Você tá sofrendo e não quer chutar o balde por uma série de motivos. Não faz diferença quais são esses motivos, você não quer. Tá tudo bem. 

— Está mesmo? 

Mais um momento de silêncio. Dessa vez eu mesma continuei. 

— Eu li uma vez que algumas coisas são como cristais... 

— Lá vem.

— É sério – ri baixinho. — O cristal pode cair no chão e rachar, mas a gente ainda consegue pegar ele inteiro e fazer a manutenção. Mas se ele cair e quebrar... não tem mais como. Eu acho que até então tava enxergando a situação com o Gaara como um cristal rachado, mas o que aconteceu foi uma ruptura. O cristal tá estraçalhado no chão e eu ainda não joguei os pedacinhos fora, sei lá porque. 

— Porque eles ainda brilham. Parecem tão lindos, né? 

— Nossa. Sim. Caramba, você é bom mesmo. 

Sasuke podia não ter, realmente, todas as respostas. A questão é que ele tinha respostas que eu não tinha e isso por si só já estava permitindo que eu mudasse o panorama das coisas como um hamster que é arremessado pra fora da rodinha. 

— Tenho que ser bom, ainda quero te beijar um dia. 

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— Oi? 

Ele riu alto, até um pouco sádico. Provavelmente pensando que tinha dado pane no meu sistema. Realmente, ele tinha. Ri descontraída e coloquei a mão na minha testa para checar se eu repentinamente estava febril ou se estava só corada no meu quarto como uma idiota. 

— Como você é brincalhão hehehe ai, Sasuke... hahaha 

Risos nervosos.

— Eu brinco mas eu não minto. Até. 

So grant me this wish and meet me back here in a year
(Então me conceda este desejo e me encontre aqui em um ano)

If we still exist, I can let go of my fear
(Se ainda existirmos, eu posso deixar meu medo ir)

Fear of normalcy
(Medo da normalidade)

Fear of the solid walls of our future and let go of my past
(Medo das paredes sólidas do nosso futuro e de deixar meu passado ir embora)

Há duas músicas da mesma cantora maravilhosa nesse capítulo. Maria Mena cantou, aqui, para o Gaara a música "You broke me" e para o Sasuke a música "Habits":

Do meu coração pro seu, sempre.
Koya

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