Um
"Eu acheeeeei, eu acheeeii" - Hoseok entrou na lanchonete cantando a plenos pulmões.
ㅡ Achou o que? Sua dignidade?. ㅡ Olhei pro acastanhado, não acreditando que ele estava cantando no meio do expediente e com clientes no local. O aspirante a Mc me ignorou completamente e voltou a cantar, usando o celular como se fosse um microfone. Eu mereço Deus. ㅡ Se continuar cantando, vai espantar os clientes, aspirante a noiado.
ㅡ Coé chefia, respeita minha religião.ㅡ O folgado se sentou na banqueta em frente ao balcão. ㅡ No dia que eu for um Mc famoso, eu não vou promover essa lanchonete não.
ㅡ Fico triste com uma notícia dessas. ㅡ Fiz a melhor cara de tristeza que eu conseguia, se a Globo me visse naquele momento, eu já estaria contratado. Hoseok apenas revirou os olhos e se levantou. Ótimo, ele percebeu que tem trabalho a fazer. ㅡ Toma, leva esse pedido lá na Paulista e de lá pode ir buscar a Yunna na escola. ㅡ entreguei o pacote ao aspirante a noiado. Ele olhou o pacote, olhou pra mim, olhou pro pacote mais uma vez conferindo o endereço do pedido, e me olhou mais uma vez.
ㅡ O Emo maldito de novo? ㅡ Maneei a cabeça confirmando. ㅡ Eu me recuso, não quero, não vou, nem adianta.ㅡ Largou o pedido no balcão e se sentou novamente.
ㅡ Perdão? Eu não ouvi direito?
ㅡ Coé sr sirigueijo ㅡ O garoto bufou irritado. Pronto, o bonito recebe pra isso e tá fazendo ceninha? Cruzei os braços e o encarei sério, isso sempre funcionava com ele. ㅡ Não vem Jin, já basta ter que buscar o projeto de duende. Sério, é sua filha e tudo, mas aquela menina é encapetada.ㅡ Fui obrigado a concordar com o Mc meia tigela. Yunna e ele viviam entre o amor e ódio, minha filha amava irritar o motoboy e ele amava irritar a pequena também, mas quando os dois ficavam longe um do outro, ambos sentiam falta.
ㅡ Felizmente ele é um cliente, e se ele é um cliente ele está pagando, e se ele está pagando é lucro pra loja, e se a loja está tendo lucro, você não vai estar desempregado. Fácil como limpar cocô de descem nascido.
Hoseok é conhecido por ser o melhor entregador da região, quando o dono do sorriso de coração chegou aqui implorando por um serviço, nem que fosse pra limpar o chão, como ele disse, eu o acolhi, acolhi no sentido de acolher mesmo.
Nos fundos do estabelecimento havia um quartinho, no qual o motoboy vivia. Ele não tinha pra onde ir, o salário que eu o proporcionava não era o suficiente para alugar uma kitnet nas redondezas, então permiti que ele ficasse no quartinho dos fundos, com a condição de que não se envolvesse em encrencas e nem levasse alguém pra lá.
A questão é que, eu não sei bem o que acontece naquela cabecinha que não raciocinava direito. Sempre que havia alguma entrega naquele endereço, hoseok se recusava a ir, como eu disse, aquele cérebro minusculo não entendia que eu só tinha ele como entregador, então ele teria que entregar querendo ou não.
ㅡ Se eu cometer uma assassinato, você faz o favor de me visitar na cadeia, beleza? ㅡ Sua expressão era de um completo tédio. O mais novo se levantou pegando o pacote da entrega.
ㅡ Pode ter certeza que eu vou fingir que nem te conheço.ㅡ Recebi um soco fraco no braço. Hoseok sorriu, ele sabia que eu nunca faria isso, com certeza eu arrumaria uns dez advogados, não que ele fosse preso, ele não é nem louco de fazer algo assim.
🌭🍕🍔
Passado alguns minutos depois que Hoseok saiu, um moleque entrou na loja. Seu boné virado pra trás com os cabelos escapando dos lados, um juliette na cara, camisa da ciclone e uma bermuda horrorosa. O senso de moda de são Paulo me assusta.
ㅡ E ae chefia, quanto tá o pastel com caldo de cana? ㅡ Um aspirante a Hoseok.
Que buda me de forças.
Já não basta o Falso MC.
ㅡ Cinco reais chefia.
ㅡ Opa, cabe no orçamento. ㅡ Observei enquanto ele tirava uma nota de cinco completamente amassada do bolso. ㅡ Arruma pra mim aí chefia. ㅡ Se escorou no balcão.
Não pude deixar de notar que o menino não parava de olhar para rua, estranhei mas ignorei, não era problema meu mesmo.
Não é problema seu Jin.
ㅡ Pastel de queijo por favor.
Coloquei o pastel na panela com óleo já quente. Alguns respingos de óleo fervendo- repito- fervendo, foram direto pra minha mão. Resmunguei xingando até a última geração de k-idols existentes.
Mesmo com a mão queimada- não, não é drama- não demorei a entregar o pedido para o rapaz que continuava olhando pra rua.
ㅡ Vem cá moleque, o que você tanto olha? ㅡ questionei enquanto lavava a mão queimada na água fria.
Tenho que me lembrar de pedir pro Hoseok comprar uma pomada na farmácia.
ㅡ Nada não tio, fica sussa.ㅡ Sorriu nervoso. A mas eu não sou besta, não nasci ontem, esse moleque aprontou alguma que eu sei.
Fiquei o observando enquanto lavava alguns copos. Ele sempre repetia os mesmos atos, comia, tomava um pouco do caldo de cana e olhava pra rua.
Logo uma movimentação estranha me chamou atenção. Uma moça estava acompanhada de um policial, enquanto os dois pareciam procurar algo. O menino que antes comia, parou de comer e pude notar seu rosto mudar de coloração, ele estava ficando branco, parecia que o sangue tinha sumido de seu corpo.
ㅡ Eu sabia que tinha aprontado moleque. ㅡ joguei o pano de prato que estava em minhas mãos nele. O menino deu um pulo no banco, se assustando com o objeto que joguei nele.
Nada me tira da cabeça que o policial e a moça estavam procurando por ele.
ㅡ Me diz, o que você fez?
ㅡ E-eu não f-fiz nada não moço, que isso, tá me tirando?
ㅡ Gaguejou perdeu o argumento. ㅡ parei na frente dele, atrás do balcão. ㅡ Desembucha. ㅡ Cruzei os braços e fiz a expressão mais seria que eu poderia fazer, até mais do que as que eu usava com o Hobi. O menino ainda me olhava receoso, o que ele estava achando? Que eu gritaria o policial dizendo que a pessoa que ele procurava estava aqui?
Bom, era isso mesmo que eu iria fazer, se ele não tivesse começado a falar no mesmo instante em que eu ameacei gritar.
ㅡ Olha senhor, eu não fiz por querer tá legal? Eu só peguei o celular dela pra poder vender depois. ㅡ Ok Jin, respira.
ㅡ Você tem bosta na cabeça moleque? Como você sai roubando as pessoas assim? Não passou pela sua cabeça que ela trabalhou duro pra poder comprar o celular? Que ela suou muito pra um moleque sem juízo ir e roubar dela? ㅡ As palavras iam saindo da minha boca sem eu nem perceber, não era a primeira vez que eu presenciava tal coisa, mas aquele menino teve a audácia de se esconder no meu estabelecimento. E Se tem uma coisa que eu não tenho é medo de trombadinha. ㅡ Me da esse celular, agora, anda. ㅡ Estendi minha mão pro garoto poder colocar o celular na mesma. Ele hesitou um pouco, mas por fim me entregou o celular. ㅡ Fala sério pirralho, um IPhone? É tão burro que não sabe nem roubar. ㅡ Revirei os olhos num tédio profundo. Além de trombadinha, era um trombadinha burro. ㅡ você não ia vender ne? Ia ficar pra você, mas é tão burro ao ponto de esquecer que a dona podia simplesmente bloquear ele e você nunca iria conseguir mexer nele.
ㅡ É sério, eu ia vender. Um parça meu que encomendou.
Eu iria responder ele, mas num movimento rápido o menino se levantou, correu para os fundos e se escondeu. Olhando pro lado de fora eu vi que o policial e a moça estavam adentrando o local. Sobrou pra mim, como sempre.
ㅡ Boa tarde senhor.ㅡ O policial acenou em sinal de cumprimento. ㅡ Essa senhora foi assaltada agora pouco, por acaso não viu algo de estranho?
Nada, só um trombadinha tomando caldo de cana e comendo um pastel. Aliás, ele correu pro banheiro.
Minha vontade de responder isso era tamanha, mas me contive em apenas inventar alguma mentira.
ㅡ Agora pouco um garoto passou correndo e jogou esse celular no chão.ㅡ peguei o celular que estava na parte de dentro do balcão e entreguei ao oficial. A moça pegou o telefone logo identificando como o seu que havia sido roubado. O policial perguntou a direção que o menino havia corrido, indiquei a ele e assim os dois sairam depois de agradecerem.
Esperei algum tempo, até ter certeza de que eles foram mesmo embora, quando vi que eles não voltariam tomei rumo ao banheiro, onde o moleque ainda estava.
ㅡ Ou, trombadinha, eles já foram. ㅡ Disse me aproximando da porta. O barulho da chave destrancando a porta foi ouvido, e logo após a mesma foi aberta, revelando o menino mais pálido do que quando entrou.
ㅡ O que você falou? ㅡ Perguntou receoso. Valha me Deus, o que tinha de bonitinho tinha de sem noção.
ㅡ Salvei tua pele moleque . ㅡ dei de ombrosㅡ agora você vai me dizer exatamente o por que de ter feito isso, e também vai me dizer quantas vezes já fez isso.
ㅡ Primeiro: meu nome é Jungkook. ㅡ Cruzou os braços. Ok, ele acha que tem topete pra falar assim comigo.ㅡ segundo: eu não te devo explicação nenhuma, morô?
ㅡ Primeiro: Jungkookㅡ seu nome saiu de minha boca com desdém.ㅡ você é uma vergonha pros asiáticos, qual é, roubar? Sério?ㅡ vi sua feição mudarㅡ e segundo: eu te ajudei, qualquer pessoa em sã consciência te entregaria na hora, mas eu não fiz isso, sabe por que?ㅡ Ele negou.ㅡ Porque eu já tive sua idade, e já passei por dificuldades, mas ao contrário de muito jovens por aí, eu tive alguém pra me ajudar e abrir meus olhos.
ㅡ Foi mal. ㅡ é sério? Foi mal? Eu vou descer a porrada nesse menino aqui mesmo.
ㅡ Foi péssimo Jungkook, péssimo. ㅡ Soltei o ar que nem notei que estava prendendo.ㅡ Eu não sei o que você passa, não sei nada da sua vida, mas isso não é a solução, tirar de alguém pra poder ter não é o melhor caminho pra se tomar.
ㅡ É, você não faz ideia do que eu passo morô? Valeu pela ajuda aí, mas eu vou tomar meu rumo agora. ㅡ ele já ia sair quando eu peguei em seu braço e o fiz me encarar. Eu não sei exatamente o que estava fazendo, mas se isso fizesse com que ele ao menos pensasse nas minhas palavras, isso seria o suficiente.
Você disse que não era problema seu Jin.
O problema é que é sempre assim, sempre colocando as pessoas acima de mim, sempre tomando os problemas delas pra mim. Eu sempre fui assim, não seria diferente com ele.
ㅡ Olha Jungkook, se você precisar de algo não precisa fazer isso de novo, vem aqui e me procura, eu não sei como, mas vou tentar te ajudar, tá bom? ㅡ dei um leve tapa na sua cabeça. O moreno apenas me lançou um sorriso e se retirou do local.
Fiquei observando ele sair, fui até a porta e observei ele cumprimentando alguns meninos e sorrindo pra eles. Por um momento ele virou o corpo em minha direção e acenou com a cabeça, sorrindo com aquele aparelho chamativo, repeti o gesto e vi ele sumindo no meio das pessoas.
Pelo menos você ajudou esse menino Jin.
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