XXII

Eu olhava fixamente para janela. Era alta demais, não tinha como eu fugir. Mas é claro que eu nunca fugiria, eu tinha que aguentar até o fim.

O quarto aonde eu estava tracanda era imenso. Tinha uma cama no centro e móveis espalhados por todo lado. Era muito bonito, mas eu não tinha cabeça para isso. Eu tinha apenas que achar uma forma de ficar longe de Phillipe, ele parecia muito raivoso e agressivo comigo antes, e eu tenho medo do que ele pode fazer.

Começo outra vez andar pelo quarto afim de manter minha pobre mente longe de preocupações, mas o que me mantém mais aflita é Max, sinto meu coração diminuir no peito só com a menção dele. Preciso saber se ele está bem. Só assim ficarei mais em paz.

Então algo chama minha atenção. É um quadro mediano na parede oposta, ele tem a imagem de uma mulher, ela usa vestido dourado e seu cabelo loiro mel está preso no alto numa coroa cintilante de rubis, ela é muito bonita e tem sorriso meigo.

Eu me aproximo.
Então meus olhos varrem o quadro mais uma vez, e dessa vez não parece mais um quadro, mas sim um espelho.
Um espelho que reflete o meu reflexo.

- como...?

Phillipe tinha um quadro meu.
Ele tinha, e estava na minha frente.
Mas como ele conseguiu?

- Não é você.

A voz soou baixa no quarto. Mas mesmo assim meu corpo tremeu.

Ele estava ali.
E o quadro, a mulher que estava era eu. Com  certeza.

- então quem?

Falo antes de me virar para ele, com os olhos presos na mulher que é a minha cópia.

- Ela se chama Ísis Annelise Bouvaan.

Enfim olho para Phillipe.

- e por que se parece tanto comigo?

Ele dar de ombros.

- faço está pergunta desde o dia em que a vi. Sempre me perguntei porque você é a cara da minha esposa.

Eu fico boquiaberta.

- sua esposa?

Ele inclina a cabeça e se senta na beira da cama.

- Estela.

Ele fala com um tom baixo.

- eu gostaria de lhe contar a minha história de rejeição.

Ele disse calmamente.

- Tenho opção?

Ele ri sem humor e nega.

- muito bem.

Ele olha para o teto e depois fixa os olhos em mim.

- Meu pai e minha mãe  tiveram um caso. Meu pai foi cruel, ele tirou a virtude de minha mãe e não a pediu em casamento. E quando ela achou que ele pediria, ele a olhou nos olhos e disse que ela não era boa o suficiente.

Ele respirou fundo.

- Ela foi embora. Mas voltou semanas depois com a notícia que estava grávida, ela pensava que ele enfim aceitaria, mas não, ele foi ainda mais cruel e calculista, disse que não iria ter um bastardo. Aquela foi a Minha primeira rejeição que sofri. Minha mãe estava sozinha, mas então ela conheceu Tobias, que era rei de Traverllis. Ele foi gentil e bondoso com minha mãe, ele casou com ela mesmo sabendo que ela carregava no ventre um filho que não era dele, e quando eu nasci, ele olhou para mim e disse que eu seria seu primogênito e herdeiro do trono.

Ele deu uma pausa.

- Tudo ocorria bem. Eu tinha um pai que me amava mesmo eu sendo um bastardo, uma mãe e um belo futuro, eu seria rei. Mas então mamãe  engravidou novamente e quando o bebê veio ao mundo, era um menino. Tobias estava radiante, ele tinha o filho tão esperado, aquela foi a minha segunda rejeição.

Ele parou por um segundo.

- eles esqueceram de mim. Agora Tobias tinha seu herdeiro de sangue, não era mais necessário um bastardo ficar no trono, agora ele tinha seu herdeiro. Ivo. Ivo era tão amado pelos meus pais, todos que botavam os olhos em Ivo era agraciados por um amor incondicional pelo meu irmão.
E ele sempre foi o melhor em tudo, Ivo era melhor em todos os aspectos, era muito mais bonito e inteligente, ele era bondoso e gentil, ele realmente tinha ar de rei.

Outra pausa.

- eu havia me acostumado com aquilo, em ficar na sombra de Ivo. Mas eu não suportava, foi então que eu fui atrás do meu pai de sangue.

Ele se levanta e olha ao redor.

- Estela, você chegou a conhecer o rei Plínio? O pai de Cristóvão e Maximus?

Eu neguei.

- ele morreu antes do meu noivado com Cristóvão.

Ele assente.
E se aproxima.

- pois se tivesse conhecido, veria as nossas semelhanças, principalmente o fato, de que temos maldade no olhar.

***
- o seu pai é o rei Plínio?

Ele sorri e concorda.

- Surpresa, eu sou um Polús!

Ele finge a falsa sensação de felicidade.

Eu fico um tanto boquiaberta.

- voltado a história. Eu fugi, e fui até Plínio. Quando cheguei em seu Palácio, o avistei em um belo almoço com seus dois lindos filhos. Foi naquele momento em que eu quis aquilo Estela, eu queria ser amado, ser amado como Cristóvão e Maximus era. E eu via o quando Plínio idolatrava seus filhos amados, e eu almejava aquilo. Por isso eu o chamei para uma conversa particular, eu ainda era um príncipe e ele rei, ele me respeitou, e quando começamos, a primeira coisa que disse era que eu tinha que ficar em Oceânia.

Ele parou de falar e começou a ri.

- eu me lembro até hoje da cara dele, era pura confusão, foi então que eu disse que eu era o filho de May e ele. Ele ficou em fúria em segundos, me puxou pelo braço e me arrancou do Castelo que deveria ser o meu lar.

Ele veio até mim.

- eu era apenas uma criança, Estela. Ele olhou nos meus olhos, foi a primeira vez que eu vi o como éramos semelhantes, Plínio era maldoso, e ganancioso, ele não podia arriscar a bela vida de seus belos filhos. Ele não podia, por isso fez questão de jogar na rua, um de seus filhos, o seu primogênito. Aquela foi a Minha terceira rejeição.

Ele secou uma lágrima solitária no rosto. E depois prossegue.

- eu voltei, e vivi minha a vida logo atrás de Ivo. Foi então que eu a conheci.

Ele olhou para o quadro.

- eu me esqueci de tudo, de Plínio, o fato de eu ser rejeitado mesmo sendo um feto. Ísis me fez flutuar, eu a amei desde o momento em que eu a vi, ela fazia eu ser um pouco melhor, Ísis despertava em mim algo bom. Eu só queria passar meu tempo com ela, ficar com ela, não importava nada, só ela.

Ele sorriu novamente.

- Ela era linda e inteligente, eu poderia passar horas a ouvindo, e jamais me cansaria. Éramos bons juntos, mas quando eu fui a pedir em casamento, ela me disse que gostava de mim, mas que amava Ivo. Eu podia morrer Estela, Ivo tinha tudo e ainda tinha ela? Porque ele tinha que acabar com a minha vida. Mas foi aí que a minha vida desmoronou, Ísis não era tão rica, e por isso eu a ameacei, que se ela não se casasse comigo eu acabaria com a vida dela,  e se ela não fosse minha, ela não seria de mais ninguém. Eu fui mal naquele dia, eu fui mal com a única pessoa que eu era bom. Foi naquele dia em que eu fui rejeitado pela quarta vez. Mas mesmo sendo rejeitado, eu tinha algo em que Ivo na tinha, mas mesmo Ísis sendo minha, todo o coração e devoção de Ísis estava dedicado a Ivo. E isso me matava.

Ele parou.

- eles fugiram numa noite fria. Eu a procurei e quando não encontrei eu soube que ela havia fugido. Eu corri a tempo de encontra lá. Eu atirei, e atingi alguém, eu havia mirado no cavalo, e que talvez isso a pararia.

Ele chorou algo.

- eu a matei. Eu matei a única pessoa que eu amei, e junto dela estava meu irmão, meu irmão Ivo. Eu matei Ivo e Ísis. Quando me aproximei ela estava agonizando no chão. E disse em palavras nítidas: " Eu não amo você." Foi a rejeição mais dolorosa. Eu voltei pra casa, Viúvo e rei. E acabado em todos os aspectos na minha pobre vida.

Ele chorava. Eu sentia pena dele.

- alguns meses depois fui convidado para uma festa de casamento. Do casamento Do meu outro irmão, Cristóvão. Eu fui por apenas curiosidade para vê o meu lindo meio irmão que não estava morto. Foi então que eu vi você. E você era a cópia idêntica dela, tudo em você era de Ísis, e eu enlouqueci, tive a vontade de arranca-la de lá, mas eu sabia que não era Ísis pois eu matei Ísis, aquilo era só loucura. Mas foi aí que eu fiz o meu plano perfeito, eu já tinha matado um irmão, eu podia matar outro, eu ganharia duas coisas ao mesmo tempo, ganharia você e o trono de Oceânia. Eu mandei os bárbaros para o confronto, eu disse a eles que era pra matar Cristóvão.

Eu perdi o fôlego.

- você o matou!

Eu gritei em meio ao choro.

- você é um mostro.

Ele negou.

- eu fiz isso por amor, Ísis. Sempre fiz. Mas aquele panaca do Maximus apareceu, mas eu darei um jeito nele. Você verá Ísis.

- Eu não sou ela! Seu doente.

Eu chorava. Eu não podia acreditar naquilo tudo. Ele matando a própria esposa e seus irmãos, tudo por ambição. Phillipe é um mostro na pele de um rei.

- realmente. Você não é ela. Ísis tem olhos azuis, azuis equilibrados ente a cor do céu com uma junção do mar.

Ele sorri e beija minha a testa. Eu o empurro e ele gargalhou.

- eu também amo você.

Então saiu.
Eu chorei. Gritei.
Ele mataria Max. Ele acabaria com tudo.
Chorei mais ainda. Então olhei para o quadro. E vi os olhos de Ísis, ela realmente era uma cópia minha, mas enquanto meus olhos eram castanhos a pobre Ísis possuía belos olhos azuis.

- você tem sorte de estar morta.

Falo para o nada e volto a chorar como se o mundo fosse se resolver naquele momento.

Eu temia, temia como aquilo iria acabar, e como tudo podia morrer como os olhos azul céu-mar de Ísis.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top