IV
Corri até os portões de entrada do palácio.
- me deixem passar!
Eu falei aos guardas.
- a senhora precisa se acalmar...
- Eu sou a sua rainha. Me obedeça!
Então o portão se abriu e eu saí correndo. Mas antes que eu chegasse algum lugar encontrei uma tropa de homens.
- Majestade.
Alguns deles se prostraram diante de mim, mas eu só pude vê o corpo na carruagem acima.
O corpo do meu marido. O corpo sem vida do rei de Oceânia, o dono do meu coração.
Alguém pôs o corpo de Cristóvão no chão e eu caí de joelhos diante dele.
- Cristóvão...
Minha voz rasgou.
Estendi minha mão e toquei no rosto bonito de Cristóvão. Então gritei.
Abracei o corpo dele e Gritei.
Chorei. A dor era imensa, parecia que ia me queimar, doía ia me rasgar.
- Cristóvão por favor.
Alguém tentou me tirar de cima do corpo do meu marido mas eu me mantive firme.
- Abra os olhos!
Eu supliquei segurando o rosto dele com força, rezando para que ele abrisse os olhos e sorrisse para mim.
- Eu quero vê os seus olhos!
Gritei novamente, minha garganta parecia rasgar.
- Eu sou a sua rainha...
Segurei a mão dele, e mesmo depois de muito tempo eu não saí de lá. E quando olhei ao meu redor, eu vi olhares piedosos e chorosos.
- Não me deixe aqui.
Sussurrei.
- Eu preciso de você.
Abracei o corpo morto.
E a dor, só aumentou.
***
Funeral se passou como um borrão.
Cristóvão foi morto em uma batalha nos montes com bárbaros. Ele morreu lutando, ele morreu protegendo o seu país.
As pessoas vinham até mim com seus pêsames, mas eu estava em choque.
Afundanda no mais fundo desespero, a dor não me deixava mover um dedo.
- Estela.
A mãe de Cristóvão surgiu.
Ela sentia dor também, o filho dela havia morrido, eu estava sendo egoísta, eu havia perdido o meu marido, a minha alma gêmea, mas Valentina havia perdido seu filho.
- Oi.
Juntei forças para proferir uma palavra que não saísse com uma poção de lágrimas.
- Eu sei querida.
Ela se aproximou e me abraçou, eu sou precisava de um colo, alguém que me entendesse, e só Valentina sabia minha dor, ela havia perdido o esposo há três anos, e agora o filho.
- é como se alguém tivesse arrancado meu coração e jogado-o no mar!
Falei com o rosto enfiando no colo da minha sogra. Ela passou as mãos em meus cabelos.
- shhh criança. Eu sei. E eu digo que essa dor não vai amenizar. Mas algo pode melhorar.
Olhei pra ela.
- o que pode melhorar a dor miserável que tenho sentindo nas últimas horas? A dor mais odiosa que é perder a sua parte mais vital?!
Ela segurou o meu queixo. E com a sabedoria imensa disse:
- o amor dele. O amor de vocês. Isso pode curar.
Eu chorei de novo, chorei até dormir.
Quando acordei senti minha cabeça pesada, me levantei para tomar um ar, e fui até a varanda e ergui os meus olhos para lua.
- Cristóvão.
Falei ao vento. Senti a dor, acho que não posso mais respirar.
- Eu preciso de você. E se você não está aqui, dói.
Fechei os olhos e senti o vento contra o meu rosto.
E quando os abriu novamente não era mais Estela, mas sim Aurora, uma Aurora que havia caído no chão de joelhos, e que agora se sucumbia a dor e choro e gritos. Gritos brutais, como se alguém houvesse lhe esmagado o peito, como se alguém houvesse talhado seu coração.
- Cristóvão...
Falou ela em meio dor e o caos.
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