III
Foi estranho.
Na verdade tudo é estranho.
Mas esse outro sonho é como se fosse a continuação do meu outro.
De novo sonhando com o tão Valério, não,Cristóvão. Cristóvão se encaixa perfeitamente nele.
Mas o que está me atormentando é porque eu sonho como se eu fosse a tal Estela? Isso é surreal, como se fosse uma série da Netflix que eu precisava ver o próximo capítulo.
Levantei meus olhos para a janela e vi o sol ardente iluminar a manhã.
Era um conto de fadas que eu precisava tirar da minha mente.
Cerrei minhas pálpebras com força, mas me apareceu a imagem de Cristóvão, e seus belos olhos azuis de oceano.
- droga.
***
Olhei meu reflexo no espelho.
- Você tá muito gostosa.
Disse Ralph sorrindo.
Girei na frente dele.
- você acha?
Ele deu uma risadinha e disse:
- Acho que vou até virar hetéro pra pegar você, delícia.
Eu rir e voltei a minha atenção para o espelho. E realmente eu não tinha ficado tão mal. Meus cabelos estavam soltos e faziam muito bem para os meus olhos.
- Vamos cherry antes que eu perca toda a minha sanidade!
Terminei de me arrumar e segui Ralph até o carro chique dele.
O que lhe custou muito dinheiro e que é o seu bem mais precioso.
- cuidado.
Ele chiou assim que eu entrei.
Eu sorri e pus meus cintos.
- Você sabe que hoje não tem volta não é? Vamos acabar com a tequila daquele lugar. Esteja preparada.
Ele falou empolgado.
E eu apenas concordei, talvez a tequila fizesse minha mente esquecer dos meus sonhos estranhos.
Assim que chegamos na casa de Olivia descemos do carro. A casa estava cheia e havia álcool e pessoas se divertindo. Então encontramos Olivia.
- Oi.
Ela disse animada vindo até nós. Em um abraço caloroso ela me analisou.
- Você tá muito gostosa!
Disse alto.
- Eu disse...
Cantarolou Ralph.
- Por favor gente, não é pra tanto, é apenas um vestido preto.
- Jesus, me apresenta essa tua amiga aí, Ollie.
Cameron disse sorrindo com os dentes pra fora.
- saí pra lá Cameron.
Ollie sorriu.
- e não é qualquer vestido. Você quer fisgar alguém hoje?
Cameron se aproximou com lentidão e fez cara de sedução.
- Eu estou à disposição para ser fisgado, Aur.
Falou ele com seu sotaque carregado em inglês britânico.
- Ah é mesmo, Cameron?
Ralph tentou imitar o sotaque frajuto de Cameron.
Cameron é meio irmão de Ollie, eles moram juntos desde a morte do pai deles, já que Cameron precisa terminar a faculdade e não tem lugar pra morar, já faz três anos que ele está na casa de Ollie, e nunca deixou de tentar me seduzir, e Ralph fazia o mesmo com Cameron.
- Raphael.
Disse o loiro ajeitando a postura e sorrindo com seus dentes grandes e alinhados.
Cameron é lindo, muito gato, e ele sabe disso.
- Eu tenho alguns contatos.
Cameron deu uma piscadela e passou os dedos em seus fios aloiroados que iam até a altura de suas orelhas.
- pense em mim, Aur. Pense em mim.
Olivia revirou os olhos verdes e se voltou para mim.
- Eu não consigo mais lidar com ele. Vou chutar ele pra Inglaterra hoje mesmo.
Eu rir porque toda aquela briga era coisa de irmãos e é totalmente passageira.
- Mas diz aí. Quando é que você vai fisgar o seu galã.
Eu dei de ombros.
- Não quero galã nenhum, Ollie. Quero apenas viver um pouco sabe.
Olivia arregalou os olhos e comprimiu os lábios.
- isso foi lindo, Aur. Mas você precisa de um homem!
Então do nada Cameron veio correndo em nossa direção.
- O que é Cameron?
Perguntou Olivia com tédio.
- Charlotte está chegando.
A festa dada na casa de Olivia é para sua melhor amiga de infância e sua irmã, Charlotte Brinklin, a renomada modelo. Charlotte é um ano mais velha que Olivia, elas são quase idênticas, mesmo eu achando Olivia mais bonita do que ela, mas quem seguiu a carreira de modelo foi Charlotte.
Todos se aprumaram na casa e fizeram silêncio. Tudo para receber a aniversariante.
Então Charlotte Brinklin surgiu e todos começaram a bater palmas e gritar. Charlotte ria de alegria e agradecia.
Então minha cabeça doeu.
E então tudo mudou, com uma rapidez recorde, eu senti cheiro de mar, senti calor de raios do sol, mas estava noite, eu senti vento.
- Você está linda.
A voz dele foi aos meus ouvidos e me fizeram tremer.
Eu o contemplei, com o seu traje de montaria. Ele estava belo, seu cabelo comprido e seus olhos azuis.
- Eu amo você.
Ele tocou o meu rosto.
- Eu amo você, Estela.
Eu fechei os meus olhos e quando os abri eu o avistei.
- Estela.
- Aurora?Aur?
Alguém tocou o meu ombro e acordei do meu transe.
Olhei. Era Michael.
- Oi.
Falei sentindo minha cabeça doer.
Eu tive um sonho acordada?
De novo Estela e Cristóvão?
Isso não é normal, não é normal quando se tem lapsos de memórias que não são suas.
- Tudo bem?
Ele perguntou atencioso.
Concordei. Mas não estava bem, eu estava com medo das tais memórias, não são sonhos, são como flashbacks e isso é assustador, porquê não são meus.
- Que bom.
Ele sorriu. Michael era um cara legal, mas eu queria ar, eu queria sair dali.
- Você está linda hoje.
Então do nada eu fui teletransportada para Oceânia, e reencontrei Cristóvão, e novamente eu estava na pele de Estela.
- linda.
Ele murmurou rindo.
Então no vão da porta e com olhos ternos ele me observou.
- Não demore.
Eu falei.
Ele sorriu novamente.
- sentirá Saudades rainha?
Eu sorri. Eu adorava ouvir ele me chamar de rainha, principalmente saber que eu sou a rainha do coração dele.
- sentirei. Na verdade, nesse momento eu já sinto. Tanta que me falta o ar.
Ele inclinou a cabeça e sorriu.
- então irei voltar rapidamente para
tê-la em meus braços em instantes.
Eu vi amor em seus olhos e vi paixão em suas palavras.
- estarei o esperando, meu amor.
Ele assentiu e numa voz solene ele disse:
- apenas me ame.
Então foi embora antes que eu pudesse dizer eu te amo.
Cerrei minhas pálpebras com força.
Meu corpo todo doeu, na hora em que ergui meus olhos para o vão da porta eu avistei Cristóvão. Parado, no cenário da casa de Olivia, e com seus trajes dignos de um rei, com seus cabelos na altura dos ombros em cachos, e com seus olhos azuis.
Me encarado.
Ele estava ali, a dez passos de mim.
Ele sorriu, ele estava no meu mundo, fora da minha cabeça, ele estava real.
Eu me aproximei, esbarrando nas pessoas, me esquivando de várias, meus olhos fixados em Cristóvão no final do corredor, com sua postura ereta de rei.
Eu estava à dois passos dele.
Então eu pude ouvir a respiração dele.
E com uma lentidão eu olhei para os olhos de oceano dele.
- Você está linda, querida.
A voz dele era real, ele estava na minha frente. Eu não me segurei, e levantei minha palma para tocá-lo, eu senti o calor da pele dele. Então fechei os meus olhos.
-Majestade.
Um dos guardas entraram no salão.
- Diga.
Eles fizeram uma reverência e quando ergueram seus olhos, eu avistei agonia.
- o que houve?
Perguntei concentrada.
Nenhum deles falaram, eu até pude vê uma fagulha de pena no olhar de um deles.
- Digam.
Falei firme.
- Vossa majestade, é mais...
- Vão logo ao ponto!
Eu disse. Então senti um deles estremecer.
- minha rainha preciso que tenha calma.
Então olhei para os lados, todos que estavam ali, exalavam pena. Pena de quem?
- Aonde está Cristóvão?
Perguntei com a voz suave.
Ninguém respondeu.
- por favor.
Uma rainha não costuma dizer isso.
Mais eu sentia aflição naquele momento.
- Eu sinto muito, altíssima Majestade.
Eu esqueci qualquer tipo de bons modos e etiquetas, desci do trono em um pulo.
- Majestade!
Eu não parei de correr. Senti meus pulmões arderem, mas cheguei até as escadarias.
- Cristóvão!
Gritei com todas as minhas forças, mas apenas senti o frio e a dor.
Abri os olhos.
Cristóvão não estava mais lá, estava apenas o nada, e o frio.
E uma dor cortante se alojou no meu coração.
Só dor e frio.
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