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Boa leitura.📖

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 Eu começava minhas aulas essa semana, então estava preparado para o pior acontecer quando eu chegasse por lá, assim como todos os garotos novos são tratados quando entram em um colégio novo.

 Peguei minha mochila e comecei a arrumar minhas coisas e a conferir tudo novamente. Eu tinha toque por sempre conferir as coisas que eu carregava e mesmo assim ficava com a impressão de que tinha esquecido algo.

 Nesse primeiro dia, meu pai iria me levar, já que era caminho do trabalho dele, isso ia me fazer evitar pegar o ônibus e ter que ver todos olhando para mim.

 -Está pronto filho? –Perguntou ele parado na porta do meu quarto.

 -Estou quase, vou reorganizar minha mochila e então podemos ir. –Respondi calmamente.

 -Vê se não demora, porque não posso me atrasar no meu primeiro dia. –Disse ele sorrindo vergonhosamente.

 -Tudo bem pai, eu vou reorganizar rapidinho aqui e então eu já desço.

 -Estou te esperando então campeão. –Disse ele atravessando o corredor indo em direção a escada.

 Conferi novamente minha mochila e parecia estar tudo por lá. Olhei pela janela e via o sol entrando por ela. Era quase sete e vinte então me apressei. Desci as escadas correndo, dei um beijo em minha mãe e peguei a primeira fruta que consegui apanhar da fruteira. Entrei no carro, coloquei minha mochila no banco de trás e pus o cinto de segurança.

 -Ansioso? –Perguntou meu pai dando ré.

 -Na verdade não. –Eu estava é um pouco com medo de saber como seria, já que Luke disse que era para eu evitar os garotos do time.

 Luke: Você já está vindo? Vê se não se atrasa.

 Você: Já estou dentro do carro. Já eu chego ai.

 Luke: Vê se não se atrasa no seu primeiro dia. Hahaha.

Você: Eu não sou desses... ;)

 -E então Lian, como anda o Luke?

 -Ele está bem, nós estamos nos acertando aos poucos.

 -Vocês tinham brigado?

 -Brigado, brigado não, mas eu estava bravo com ele por umas coisas.

 -Ah é? E que coisas eram essa?

 -Pai? –Falei dando uma encarada nele.

 -O que foi? Só estou um pouco curioso, já que ele não apareceu em casa para uma visita.

 -É que eu não o convidei, ainda.

 -E porque não?

 -Ah sei lá pai, era estranho. –Lian cala a boca.

 -Estranho porque?

 -Porque a gente não se falava. –Respirei tranquilamente.

 -Entendo, espero que você possa convidar ele e então podemos fazer um almoço ou um jantar, dependendo da hora, o que acha?

 -Eu acho legal, mas porque o senhor está tão interessado que ele vá em casa?

 -Porque ele é seu amigo e ainda não tivemos a chance de ver como ele está. –Disse ele sorrindo.

 -Sei não. Isso não tá com cara de que é pra isso.

 -O que? Como não.

 -Pai? –Encarei ele novamente. –Me diga a verdade.

 -Ok, ok. Queremos ver como ele está agora. Depois de tanto tempo sem vocês andarem juntos e tudo mais, queremos nos segurar que ele não vá ser uma má companhia pra você. –Disse ele enquanto prestava atenção na estrada.

 -O que? Não! Digo, sim. Ele é uma boa companhia.

 -Como você pode saber Lian? –Perguntou ele. –Você saiu com ele o que, umas duas vezes?

 -E o que tem?

 -O que tem é que agora ele e você não são crianças e nessa idade pode começar a fazer coisas que não são certas por influência de amigos.

 -Pai eu não acredito que você esteja pensando isso do Luke. –Falei indignando.

 -Se você acha que eu estou errado, convida ele para ir lá em casa e passar o dia, sei lá.

 -Assim você quer demais né? Ele passar o dia todo. Rump.

 -O que tem? Vocês estão escondendo algo por acaso?

 Gelei.

 -Na-não. –Falei quase hesitando.

 -Então não tem porque você ter medo dele ir lá em casa.

 -Tudo bem, eu falo com ele então, se é isso que você quer.

 Assim que chegamos em frente ao meu novo colégio, peguei minha mochila do banco de trás e abri a porta.

 -Não se esqueça de convidar Luke para ir em casa. –Disse ele se abaixando e falando comigo pela janela.

 -Tá bom pai, eu falo. Agora vai. –Falei um pouco envergonhado, já que as pessoas estavam começando a reparar em mim.

 Segui andando em direção a entrada do local, na verdade eu estava seguindo outras pessoas, já que eu estava perdido por ali. Mandei algumas mensagens para o Luke e fui andando olhando para as placas de sinalização do colégio. Primeiro, sabia que deveria ir na direção para receber as boas vindas da diretora e depois ser encaminhado a minha sala.

 Luke: Onde você está? Espero que não esteja perdido e se estiver eu vou ai te salvar. ;)

 Você: Eu estou indo para a secretaria, acho que estou indo para o lugar certo, mas se quiser pode vir me salvar. Hahah.

 Luke: Eu gostaria muito, mas meu professor acabou de entrar na sala de aula, vou ver se consigo sair.

 Você: Mas ainda nem é o horário da aula, como ele já tá ai?

 Luke: Porque esse professor é um saco e ele prefere chegar cedo para ficar monitorando todo mundo da sala, mas vou ver o que consigo fazer.

Você: Tudo bem, não precisa. Eu tô indo no caminho certo e qualquer coisa eu te mando mensagem. :)

 Luke: Certo, tô torcendo por você.

 Olhei para algumas divisórias de vidro, e ali parecia ser a secretaria. Havia vários funcionários trabalhando. Cheguei até a entrada da sala e parei em frente ao balcão. Uma mulher estava abaixada mexendo com alguma coisa em baixo do balcão. Aguardei ela por alguns minutos até ela me perceber. 

 -Ui, ah oi, como vai. –Disse ela sorrindo. –Me desculpe, mas é o meu primeiro dia aqui, então... –Ela sorriu envergonhada. –Acabam jogando um monte de trabalho para você e me parece que o universo está contra mim. Mas enfim, em que posso ajudar garotão. –Ela sorriu e ficou em silencio. –Oh me desculpe, eu não queria dizer garotão no sentido de grande e tals, mas de que você é um garoto e eu não sei o que estou dizendo. –Terminou ela falando baixinho.

 -Eu, eu sou o aluno novo. –Falei um pouco chocado com aquela mulher.

 -Uh, é verdade, hoje tinha a chegada de dois alunos novos. –Ela começou a procurar alguma coisa. Abriu as gavetas e continuou procurando. –Ah, aqui está, der, estava aqui em cima. –Ela riu. –Ok, vamos lá. Você é o Noah? –Perguntou ela olhando para a pasta com uns papeis dentro.

 -Não senhora, meu nome é Lian Miller. –Falei pra ela.

 -Oh, me desculpe. –Ela fechou a pasta e pegou a outra. –Lian Miller, Lian Miller. –Repetia bem baixinho. –Aqui está. Transferido de Marin City e está no segundo ano. –Disse ela olhando para mim e esperando uma confirmação.

 -Isso mesmo.

 -Ótimo. –Disse ela retirando um papel menor da pasta e me entregando. –Essa aqui são as suas aulas e o número da sala está ao lado de cada aula. E essa com uma cor diferente quer dizer que é no laboratório de química e quando for aula de educação física, ela está classificada com esse azul que você está vendo aqui, essa quer dizer que é aula prática, ou seja, na quadra ou no campo lá fora e por fim, esses são os nomes dos seus professores e o número e localização do seu armário. –Ela juntou as duas mãos. –Alguma dúvida?

 -Eu acho que não. –Falei olhando no papel.

 -Ah, já ia me esquecendo. –Disse ela pegando outro papel. –Esse aqui é a lista do uniforme que você vai precisar para as aulas. –Ela sorriu para mim. –Agora vamos que eu te acompanho até a sua sala. Mas antes eu preciso organizar isso um minutinho. –Ela pegou os papeis e tentava organiza-los de qualquer jeito, acho o que ela queria era não deixar nenhum papel em sua mesa.

 Em seguida caminhamos até a minha sala. O corredor estava repleto de alunos que estava pegando o seu material ou apenas conversando com outros colegas. Parecia ser tranquilo, estava tudo bem, ninguém ficava me encarando do jeito que eu imaginei que ficariam.

 -Aqui é o seu armário, se quiser guardar algumas coisas nele, pode fazer bom uso dele. Ah essa senha no papel é a padrão, assim que você abrir o armário, poderá escolher uma outra do seu agrado. Eu recomendo você mudar. –Disse ela falando baixinho e colocando uma mão no rosto, para que ninguém lesse seus lábios.

 -Claro. –Soltei um sorriso para ela. Essa mulher era muito engraçada e simpática, eu estava gostando da sua companhia, parecia ser uma ótima pessoa. Abri o armário, escolhi uma senha e o tranquei novamente sem nada. Preferi ficar com as minhas coisas, porque não sabia que tipo de aula teria, se iria precisar de tudo que eu estava levando ou não.

 Antes de chegar a minha sala, o sinal tocou e todos começaram a se dispersar como se fosse uma manada de algum animal, andando em direção as suas salas. Em instantes o corredor que estava havia perdido mais da metade das pessoas que estavam ali agora a pouco. Claro que tinha uns outros que não estavam nem ai para o sinal e continuavam conversando e rindo parados em frente aos armários e rindo.

 Em um dos corredores não deu para não perceber que um garoto parecia estar encrencado, já que ele estava em frente a um grandão ao lado de uma menina. Ele era do time de Lacrosse, o reconheci pela jaqueta que ele vestia, assim como todos do time usava e também por aquela vez ter visto, Marcos, acho quer era esse seu nome, com essa mesma jaqueta.

 -O que foi? Tudo bem? –Perguntou ela.

 -Sim, só estava observando como esse colégio é grande.

 -Ah isso é verdade, ele é enorme. Como você é novo aqui, tome cuidado para não se perder. –Ela riu. –Sua sala é logo ali em frente.

 Não consegui evitar de ficar olhando para o garoto com o grandão, parecia estar encrencado e isso me fez lembrar do Erick no fundamental e que uma vez eu estava na mesma situação que ele. Mas não tinha muito o que fazer, a não ser.

 -Acho que aquele garoto está com problemas, vi a maneira como aquele grandão está o tratando.

 -O que? Ai não acredito que Brandon está fazendo isso de novo. –Assim que ela iria chamar a atenção dele, ele saiu junto com uma garota e deixou o garoto para trás. –Acho que foi um aviso. –Ela sorriu.

 -Como você pode saber disso se é o seu primeiro dia?

 -Não, é o meu primeiro dia como secretaria da diretora, eu ficava na parte pedagoga, então eu já conheço os encrenqueiros. –Ela riu.

 Chegamos a minha sala e o professor já estava dando aula. Ela bateu na porta e foi conversar com ele. Fiquei na porta observando os alunos sonolentos tentarem prestar a atenção, enquanto outros estavam conversando ou mexendo no celular. Os da primeira fileira já me viram parado do lado de fora e ficavam me olhando enquanto a secretaria conversava com o professor.

 -Lian, pode entrar. –Disse ela olhando para a porta.

 -Pessoal, esse é o Lian e de hoje em diante ele irá estudar com a gente. –Disse o professor. –Se apresente Lian.

 Mas o que? Meu Deus, vou precisar fazer isso mesmo? Meu rosto começou a queimar e comecei a ficar nervoso ao perceber que mais da metade da sala estava me encarando.

 -Meu... Meu nome é Lian e..... E tenho 16 anos e vim de Marin City. –Falei soando.

 -Muito bem Lian, prazer em conhece-lo, você pode escolher um lugar por ali para podermos começar a aula. –Disse o professor com um sorriso simpático.

 -Obrigado. –Falei e olhei a sala toda e reparei qual lado era o mais bagunceiro para que eu evitasse esse lado e procurei um lugar quieto e longe de todos, ainda não estava preparado para sair conversando com todos e fazendo amizades.

 Logo que eu me sentei, retirei meu material e então vi uma pequena aglomeração das garotas da minha frente.

 -Professor, desculpa a demora, estava no banheiro. –Disse um garoto. Fiquei observando em direção a porta para ver quem era.

 -A mesma desculpa de sempre não é, Brandon?

 -Mas dessa vez é sério professor. –Disse ele.

 -Vai, entra logo e vai para o seu lugar. –Disse ele encarando o garoto. –Agora turma, onde paramos?

 O garoto entrou na sala e estava andando no mesmo corredor que a minha carteira estava, fiquei um pouco nervoso e gelei um pouco ao vê-lo aproximando de mim. Será que ele gostava de dar boas-vindas aos novatos ou algo assim? Ou ele iria me tratar como o garoto do corredor? E agora, o que eu faço?

 Ele andava tranquilamente enquanto as meninas ficavam admirada com o seu físico e o seu cheiro. Ele se sentou na fileira do lado e umas três carteiras na minha frente. Agora poderia respirar aliviado. Em alguns momentos durante a aula, ele me olhava e ficava me observando um pouco, o que me fazia soar frio, já que Luke disse que era para eu evitar ele, mas cair na mesma sala que ele é muita falta de sorte.

≈≈≈≈≈≈

 -Nossa, você disse para eu evitar o pessoal do time e eu cai justamente na sala dele. –Falei para Luke enquanto estávamos na fila da cantina.

 -Não brinca? –Disse ele, surpreso. –Vê se não faça nada para irritar eles, porque eles podem ser um saco.

 -Eu estou na minha, mas eles ficam me encarando toda hora na sala de aula e isso me incomoda um pouco.

 -Mas não faça na Lian, por favor.

 -Nossa quanto medo.

 -É que você não sabe como eles podem ser o demônio, principalmente aquele Brandon, já que o pai dele faz parte do conselho e é a pessoa que mais faz doação para o colégio, então eles o tratam como rei. –Disse Luke.

 -Credo, que colégio é esse. –Falei indignado.

 O refeitório estava quase cheio, encontramos um lugar por sorte. Conversamos um pouco sobre as aulas chatas de aritmética e como dava sono. De repente, ouvi uma muvuca de gente rindo. Olhei em direção a mesa de onde vinha os risos e lá estava o grandão novamente causando. Olhei para onde ele estava rindo e era o mesmo garoto do corredor, mas com algo grudado na nunca, eca. Luke começou a rir também, mas eu o fiz parar.

 -Para de ser chato.

 -Você acha chato alguém atacar a outra pessoa na frente de um monte delas? Esse garoto já implicou com ele no corredor e agora está fazendo ele motivo de piada.

 -Nossa Lian, pra que tanta raiva?

 -Você sabe que o Erick fazia a mesma coisa comigo.

 -Mas isso já passou.

 -Mas estou vendo acontecer com outra pessoa, mas comigo eu tinha você e agora ele...

 -Ele tem ele mesmo. –Disse Luke apontando para o garoto. E o refeitório se silenciou. Olhei ao redor e todos estavam prestando a atenção no garoto, até mesmo Luke. –Porque todos ficaram em silencio? –Perguntei cochichando.

 -Porque é a primeira vez que alguém desafia ele. –Luke estava boquiaberto com o garoto parado na frente do tal Brandon e com algo nas mãos.

 Os dois dialogaram alguma coisa e em seguida o garoto enfiou o prato na cara do Brandon, tirando um som de surpresa de todos no refeitório. Ele se levantou junto com os amigos e ele parecia furioso com o garoto e lá estava ele parado em frente o grandão e com certeza ele iria apanhar e eu não iria deixar que isso acontecia, assim como Luke me ajudou com o Erick, agora era a minha vez de ajudar alguém. Então olhei em volta e vi todos observando atentamente os dois e então gritei:

 -GUERRA DE COMIDA. –E taquei o que estava no meu prato na direção dos dois, acertando em uma mesa de garotas que ficaram horrorizadas com a comida grudada na roupa e retribuíram. Em questão de segundos, aquele lugar havia virado lugar de guerra. Era comida que voava para todos os lados. Luke e eu nos enfiamos debaixo da mesa para evitar de sermos pegos pela comida.

 -O que foi que você fez? –Perguntou ele.

 -Salvei a vida daquele garoto.

 -Mas agora você pode ter colocado a sua em perigo.

-Claro que não, ninguém percebeu eu gritando, estavam ocupados demais observando eles para perceberem que fui eu.

 -Eu não acredito que você fez algo assim Lian, aqui você tem que ser discreto e evitar esse tipo de coisa.

 -Mas eu evitei, não tenho culpa que essas coisas vêm atrás de mim, eu precisava fazer algo para ajudar.

 -Acontece que você não conhece aquele garoto e quem garante que ele não vá ser um Brandon da vida, você viu como ele enfrentou o Brandon, talvez ele até ande com eles e você ai se metendo em confusão.

 -Porque você está tão chateado com isso? –Perguntei.

 -Porque pensei que dessa vez seria diferente daquela época, mas acho que você ainda quer que tudo seja como antigamente, vê se cresce Lian, você não é mais um garotinho. –Disse ele saindo debaixo da mesa.

 -Luke? Luke? Volta aqui, Luke. –Tentei fazer ele voltar. –Droga.

≈≈≈≈≈≈

 Fui para casa sem falar com Luke o resto das aulas, tentei falar por mensagem mas ele ignorou todas elas.

 -Eu não acredito que aquele idiota vai ficar bravo comigo porque eu ajudei alguém. –Já estava ficando furioso por essa palhaçada dele.

 Entrei em casa, cumprimentei minha mãe, que estava fazendo algo delicioso.

 -Como foi o primeiro dia de aula querido e porque tem comida na sua roupa?

 -É que fizeram guerra de comida hoje, acho que acabou acertando em mim. –Sorri.

 -Esses meninos de hoje, não vou culpar você de nada, porque na minha época fazíamos muito isso, principalmente quando era comida ruim, era nossa maneira de protestar. –Ela sorriu ao relembrar.

 -Tá bom. –Falei olhando para a cara de boba que ela estava fazendo.

 -E ai, convidou Luke para vir aqui em casa?

 -Nem deu tempo. –Falei pegando uma fruta e comendo.

 -E porque não? Vocês brigaram de novo? –Ela pôs as mãos na cintura.

 -Ele é um idiota, isso que ele é.

 -E o que foi dessa vez?

 -Ele ficou chateado comigo, porque eu ajudei um garoto a se livrar de um problemão.

 -O quão grande era esse problema? –Perguntou ela.

 -Tipo um de um metro e setenta e cinco, por ai.

 -Tá explicado porque ele ficou chateado. –Ela riu. –Ele deve ter ficado com ciúmes por você ter protegido uma pessoa que nem conhecia. –Ela voltou os olhos para o forno.

 -Acho que não foi isso não, ele disse que era para eu ser discreto e não entrar em confusão. –Dei mais uma mordida na maçã.

 -E ele está certíssimo senhorzinho. Evite de se meter em confusão. Aposto que a guerra de comida foi sua ideia, não? –Ele me encarou.

 -Claro que não, eu não faria isso. –Falei olhando para ela e percebendo o seu olhar me fuzilar. –Tá bom, talvez um pouco. –Ela fez uma careta de reprovação. –Tá, talvez eu tenha contribuído.

 -Lian, querido, eu entendo o lado do Luke, ele só quer evitar que você apanhe nesse colégio.

 -Assim como ele fez com o Erick. –Falei baixo e pensativo.

 -O que foi?

 -Nada, estava pensando alto.

 -O que eu quero dizer é que talvez ele se sente no dever de te proteger dos valentões desse colégio novo, já que ele está lá a mais tempo que você e como vocês dois tem um laço muito forte. –Disse ela fazendo ênfase na palavra laços. –Então ele deve pensar que precisa te proteger.

 -Mas eu não preciso que ele me proteja, já sou bem grandinho pra precisar dele pra algo assim. –Falei pegando minha mochila e subindo para o meu quarto.

 Que ridículo isso. Ele acha que eu não sei me cuidar. Vou mostrar pra ele que não preciso dele para saber me cuidar. Que saco isso.

 Entrei no banheiro e tomei um banho rápido, coloquei uma roupa leve e me deitei em minha cama. Olhei o celular mais uma vez para ver se não tinha nenhuma mensagem e nada ainda. Ele deveria estar fazendo cú doce pra isso, se é assim que ele quer, então ok.

 Coloquei o celular em cima do criado e tirei um cochilo. O sono estava tão gostoso que quando acordei, olhei no celular e era quase sete horas da noite. Cocei os olhos e me espreguicei. Andei até o computador e fiquei navegando à toa pela internet.

 Ouvi um som vindo da porta do meu quarto. Eu estava quase debruçado em cima da mesa que o computador ficava.

 -Pode entrar. –Falei com uma preguiça.

 -Oi. –Disse Luke entrando com uma mão atrás da nuca e sem graça. –Sua mãe disse que eu podia subir, mas eu não vou demorar.

 -O que foi? –Perguntei secamente.

 -Eu queria me desculpar por hoje. –Disse ele sem graça.

 Fiquei surpreso.

 -Tudo bem. Passou.

 -Não foi certo eu ter te tratado daquela maneira, eu nem sei porque eu fiquei daquele jeito. –Ele sorriu sem graça.

 -Eu também não entendi.

 -É que sei lá, você por aqui me faz querer ser que nem antes sabe?

 -Sim, eu sei. –Me virei para ele. –Me desculpe também.

 -Não, você não fez nada de errado para pedir desculpas, o problema foi eu mesmo. –Luke dizia e estava muito envergonhado do que tinha feito o que deixava ele fofo.

 -Mas tudo bem, vamos esquecer disso e vamos ficar de boa ok?

 -Claro. –Ele sorriu.

 Ficamos em silencio por alguns segundos.

 -Acho que eu deveria ir. –Disse ele.

 -Pode ficar se quiser. –Insisti. –Meus pais ficariam felizes se você ficasse.

 -Eu não posso Lian, preciso preparar o jantar para o meu pai, mas fica para um outro dia.

 -Eu entendo. –Falei chateado.

 -Hey, não fica assim. –Disse ele tocando no meu queixo e o levantando e em seguida o celular dele tocou. –Oi pai. Eu estou na casa do Lian, vim entregar um negócio do colégio para ele, mas já estou indo para casa. –Ele ficou me silencio e um sorriso apareceu em seu rosto. –Tudo bem, eu entendo. –Em seguida ele desligou. –É, acho que vou ficar para o jantar então. –Ele soltou um sorriso envergonhado.

 -Sério? O que o seu pai disse?

 -Ele vai ficar ocupado com o trabalho e depois vai sair com os amigos do trabalho.

 -E isso acontece sempre?

 -De vez em quando, mas não se preocupe. Quando sai a janta? –Ele riu.

 A noite passada foi incrível, Luke ficou até tarde em casa e meus pais puderam ver como ele não tinha mudado tanto assim. Depois meu pai o levou para casa, onde seu pai já deveria ter chegado e estaria dormindo.

 -Bom, foi uma ótima noite e obrigado senhor Adam. –Disse ele gentilmente. –E obrigado pelo jantar também.

 -Ah, que isso Luke, não foi nada. E quando quiser, pode aparecer em casa mais vezes.

 -Olha que vou aceitar esse convite hein. –Ele sorriu. –Agora eu preciso ir e muito obrigado por ter me trazido para casa.

 -Isso não foi nada, eu seria muito irresponsável se te deixasse andar tão tarde na rua.

 Ele sorriu e corou.

≈≈≈≈≈≈

 Na manha seguinte, Luke me encontrou no meu armário e então ficamos conversando um pouco antes da aula. Assim que o sinal tocou nos despedimos e então vi ele seguindo para a sua sala enquanto eu entrava para a minha, mas antes fui barrado por Marcos que parou na frente da porta.

 -Pode me dar licença? –Perguntei.

 -Eu sei que foi você quem gritou garoto. –Disse ele diretamente.

 -O que?

 -É eu sei que foi você.

 -Como você pode saber se você nem estava comigo, acho que você está ficando louco.

 -Você não se atentou que tinha alguém prestando atenção em você quando você gritou.

 -Você está ficando louco. –Tentei fugir do assunto.

 -Fica esperto guri, fica esperto. –Disse ele dando espaço para eu entrar, mas antes ele colocou o pé na minha frente, fazendo eu tropeçar e cair no chão dentro da sala de aula. E como sempre o bando de puxa saco, começaram a rir.

 Me levantei rapidamente e me sentei no meu lugar. Algo me dizia que o dia iria ser complicado. Fiquei quieto no meu canto, rabiscando o meu caderno enquanto o professor falava algo muito desinteressante. Marcos toda hora ficava me encarando e até cochichou algo para Brandon, que fez eu ficar muito nervoso. Era como se tudo fosse dar errado para mim, eu olhava em volta e via pessoas escrevendo, rabiscando, mascando chicletes, conversando e todos pareciam nãos estar nem ai para mim, mas era eu olhar para Marcos que eu ficava nervoso.

 Na hora do intervalo, andei até o meu armário para guardar algumas coisas e quando ia me virando, Marcos apareceu e esbarrou em mim fortemente, me fazendo bater contra o armário. As pessoas me olharam um pouco assustadas e em seguida me ignorando, mas mantendo o olhar em mim as vezes.

 Essa não foi a primeira vez que isso aconteceu, durante o dia, ele me empurrou, me fez tropeçar, derrubou minhas coisas, me molhou e tirou sarro de mim, claro que tudo isso longe de Luke, por algum motivo as pessoas não mexiam comigo quando ele estava perto, mas era ele sumir por cinco minutos que Marcos brotava do inferno e vinha me atentar.

 -O que foi Lian? Perguntou Luke enquanto íamos para a minha casa.

 -Nada.

 -Não mente pra mim Lian.

 -Mas não foi nada.

 -Como não? –Ele levantou a mão para tocar o meu ombro e eu me assustei. –Você até está assustado. O que foi?

 -É que Marcos sabe que fui quem gritou no refeitório e agora fica me atormentando.

 Luke cerrou os punhos e respirou fundo.

 -Não se preocupe, isso vai passar.

 -Eu sei, mas isso é pior de quando o Erick me atormentava. Ele é mais forte.

 -Ah, mas isso não vai ser para sempre, ouvi dizer que o garoto novo está no pé dele, aquele que você ajudou, então logo ele sai do seu pé. –Ele riu positivamente. 

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