4.A máscara não deve cair
Ela queria gritar, queria pedir desculpas e até mesmo fingir que não sentia nada, mas as palavras de Kise a magoaram mais do que poderia prever, mesmo que sentisse que merecia isso, mesmo sabendo que ninguém deveria tratá-la daquele jeito.
Tudo isso doía demais.
Após a curta conversa Aiko seguiu para o banheiro e retocou a maquiagem, podia notar que os olhos estavam sem brilho algum e que o fardo que carregava estava pesado.
Quando saiu impecável daquele banheiro e foi de encontro ao pai Haru Tanaka, o observou um pouco preocupado.
— Minha princesa você está bem? — Ele sussurrou e tudo o que ela conseguiu pensar é que seria ótimo se essa preocupação fosse real.
— Estou ótima, foi só um mal estar. — Afirmou levando o pai a sorrir de maneira presunçosa e depois encarar o Shogo que conversava animadamente com outro jogar.
— Será que serei avô? Sabe o quanto sua mãe queria isso. — Logo a memória dolorida a invadiu, Yuna Tanaka ainda viva almejava demais poder ver a filha ter uma família grande o suficiente para dar-lhes netos, pena que não se concretizou e se dependesse de Aiko, esse sonho jamais se realizaria.
Não enquanto fosse noiva de Haizaki Shougo.
Ainda assim a castanha sorriu minimamente.
— Não creio que seja isso papai, eu ando trabalhando bastante. — Afirmou, mas os ouvidos do pai já estavam blindados com a ideia de que seria avô. O mais velho ofereceu o braço para ela que aceitou e ambos foram até o cinzento que havia acabado de se despedir do possível colega de time.
— Quando pretendiam me contar Shougo? — Haizaki ficou confuso enquanto o sogro apoiava a mão em seu ombro.
— Esclareça Haru, assim você me deixa curioso. — Mentiu.
— Pelo visto minha filha fez nós dois de bobos. Parece que eu vou ser avô! — Ele sorriu sem considerar a opinião da filha que apenas revirou os olhos e Haizaki é claro, que entrou naquela ilusão.
— Isso é verdade querida? — Shougo logo se colocou ao lado dela alisando a cintura. — Sabe o quanto você me deixa feliz com essa ideia. Eu vou adorar ver uma criança como você correndo pela casa.
A mente dela quase explodiu de raiva, mas se manteve ali fingindo vergonha.
— Não é nada disso.
— Vamos anunciar daqui há três meses! Antes disso da azar para a criança. — Aiko se sentia sufocada mediante aquela presenças de dois homens que pareciam ignorar o seu querer.
Aiko sentia a garganta seca, o coração martelando no peito. O olhar de Haizaki brilhava com uma excitação que a enojava, enquanto seu pai parecia já planejar os detalhes de um futuro que ela jamais desejou.
Ela quis gritar, negar, desmentir tudo aquilo ali mesmo, mas sabia que não adiantaria. Para Haru Tanaka, suas vontades não tinham importância; para Haizaki, suas recusas eram meras formalidades a serem ignoradas.
— Papai, eu já disse... — tentou insistir, mas o mais velho riu, apertando os ombros de Shougo com entusiasmo.
— Você precisa se cuidar, minha querida. Agora, mais do que nunca.
Haizaki aproveitou a deixa e segurou a mão dela, trazendo-a para mais perto e plantando um beijo no topo de sua cabeça.
— Vou cuidar de você, Aiko. De vocês dois.
Aiko sentiu o estômago revirar. Ela queria afastá-lo, queria berrar que nunca teria um filho dele. Mas ali, cercada por sorrisos e expectativas que não eram suas, tudo o que pôde fazer foi continuar sorrindo.
A máscara não poderia cair.
— Vou buscar uma bebida, me deem licença. — Ela forçou um tom suave antes de se afastar.
Os saltos ecoaram contra o piso brilhante enquanto ela caminhava em passos firmes até o bar. O garçom lhe ofereceu champanhe, mas Aiko pegou a primeira dose de uísque disponível. Precisava de algo forte, algo que a fizesse esquecer nem que fosse por um instante.
— Eu sabia que esse sorriso não era real.
A voz veio ao seu lado, carregada de ironia e ressentimento.
Seu corpo congelou antes mesmo de virar para encará-lo.
Kise estava ali. Próximo demais. O olhar dourado perfurava o seu, analisando-a como se pudesse ver cada centímetro da mentira que ela tentava sustentar.
— Kise... — Sua voz saiu fraca, e ele riu, sem humor.
— Engraçado — ele inclinou-se um pouco, apoiando um cotovelo no balcão. — Você costumava me chamar de Ryota.
Ela engoliu em seco.
— As coisas mudaram.
— Sim, mudaram — ele concordou, pegando seu próprio copo, os dedos girando o líquido âmbar ali dentro. — Agora você vai se casar. E... ter um filho?
Os olhos dela se arregalaram. Ele tinha ouvido aquela conversa ridícula?
— Kise, eu...
— Não se preocupe — ele cortou. — Eu realmente não preciso saber. Você faz o que quiser com sua vida.
Ele bebeu de um gole só, depois bateu o copo contra o balcão, preparando-se para se afastar.
Mas antes de sair, murmurou baixo o suficiente para que apenas ela ouvisse:
— Mas eu espero, de verdade, que não esteja mentindo para si mesma também.
E então ele se foi.
E Aiko, pela primeira vez naquela noite, sentiu vontade de chorar de verdade.
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