3.Coraçoes devastados

Kise sentia o ódio queimando em cada centímetro de seu corpo. Um ódio que vinha da mágoa, da decepção, da ferida nunca cicatrizada que Aiko Tanaka havia deixado.

Ela foi sua ruína amorosa.

Desde os tempos da Teiko, quando tudo entre eles floresceu de forma genuína, Kise acreditava que haviam construído algo real. Mas, no momento em que ele mais quis entendê-la, mais quis segurá-la ao seu lado, Aiko se desvencilhou, o abandonando sem explicação.

Agora, anos depois, estava ali, parada diante dele como se nada tivesse acontecido.

A festa reunia os melhores dos melhores. Todos os membros da Geração Milagrosa haviam sido convocados para a noite de gala, um evento que celebrava aqueles que estavam ascendendo aos níveis internacionais do basquete. E, para sua completa irritação, Haizaki também estava ali, conseguindo sua vaga graças a muito esforço... e talvez outros métodos questionáveis que ninguém ousava comentar.

Mas nada importava mais do que a cena que Kise via agora: Aiko ao lado de Haizaki, usando um vestido que parecia feito sob medida para a ocasião perfeita. Seu coração acelerou, não pelo amor de antes, mas pela raiva de vê-la ainda presa a aquele cara.

Aiko, por sua vez, sentia o sangue gelar ao encarar Kise. O tempo não o havia mudado tanto, e isso a aterrorizava. Porque, no fundo, seu coração ainda batia mais forte ao vê-lo.

Mas ela não conseguiu dar um único passo antes de Haizaki a cercar.

— Onde pensa que vai, querida? — sussurrou, abaixando-se um pouco para que apenas ela ouvisse.

Aiko fechou os olhos por um breve segundo, buscando paciência.

— Para um lugar onde você não esteja presente.

O aperto firme na cintura a incomodou, mas ela manteve o controle. Haizaki desviou o olhar e logo percebeu o motivo do desconforto dela. Seus olhos cinzentos analisaram a figura loira que se destacava no salão.

Kise.

O sorriso nos lábios de Haizaki foi quase cruel ao deslizar a mão pelo braço dela, entrelaçando os dedos de forma possessiva.

— Nesse caso, vamos até o seu amigo cumprimentá-lo.

Aiko sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Seu coração bateu forte de pavor, mas, antes que pudesse impedir, Haizaki já a conduzia pelo salão.

E Kise continuava parado, esperando por eles, com um olhar que deixava claro que aquela conversa não terminaria bem.

Os passos de Aiko pareciam pesar toneladas conforme Haizaki a arrastava em direção a Kise. O salão ao redor sumiu, as vozes se tornaram ruídos distantes. Tudo o que restava era a proximidade inevitável entre ela e o homem que um dia amou—e que agora a olhava como se ela fosse o pior erro da sua vida.

Kise não desviou o olhar por um segundo sequer. Aiko sentia sua fúria, sentia sua mágoa transbordando naqueles olhos dourados que um dia já brilharam por ela.

— Ora, ora — Haizaki sorriu, parando diante dele. — Se não é o prodígio da Geração Milagrosa.

Kise não respondeu de imediato. Seus olhos estavam fixos em Aiko, analisando cada detalhe de sua expressão, cada resquício de hesitação que ela deixava escapar.

— Haizaki — ele finalmente disse, em um tom frio e indiferente.

— E então? O que achou da minha noiva? — Haizaki puxou Aiko pela cintura, encostando-a mais contra seu corpo, o que fez Kise cerrar os punhos ao lado do corpo.

Aiko sentiu seu estômago revirar, mas forçou um sorriso. Ela sabia que qualquer deslize ali poderia custar caro.

— Não sabia que você gostava de usar coisas que já foram de outros — Kise rebateu, seu tom carregado de veneno.

O sorriso de Haizaki se desfez por um instante, mas logo ele voltou a exibir sua expressão arrogante.

— Ah, Kise, sempre tão amargo quando se trata da Aiko — ele provocou. — Mas você sabe como é... algumas coisas simplesmente não valem a pena lutar por elas.

Aiko prendeu a respiração. Ela sabia que Haizaki estava se divertindo com aquilo, e sabia que Kise nunca perderia para alguém como ele, mas... será que ele ainda se importava?

Os olhos dourados de Kise voltaram para ela, e dessa vez, sua voz saiu como uma lâmina afiada:

— Me diga você, Aiko. Valeu a pena?

O coração dela falhou uma batida.

— Kise, eu...

Ela queria dizer tantas coisas, mas o olhar de descrença dele a fez engolir todas as palavras. Não adiantava. Ele nunca acreditaria nela.

— Acho que já temos a resposta, né, querida? — Haizaki provocou, apertando a cintura dela mais uma vez.

Kise respirou fundo, forçando um sorriso sarcástico.

— Sabe, Haizaki, algumas pessoas se contentam com sobras. Parabéns pelo seu "troféu".

E com isso, ele se virou, deixando Aiko ali, presa entre as garras de um homem que ela detestava e as costas largas do único que um dia amou... e que agora sequer olhava para ela.

Tudo era tão confuso, mas se tratava das consequências de escolhas feitas em um momento onde realmente não havia muitas escolhas...

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top