TRÊS - Dois elementos
— Não. — Felipa interveio, olhando para mim. — Fui eu. Devo ter usado meu elemento em Theodora sem querer.
Ela tinha tentando me livrar. Stefano nos olhava em descrença. E eu balancei a cabeça, não deixaria Felipa mentir por mim, ainda mais para alguém que nós duas gostávamos. Olhei em volta a fim de ter certeza de que não éramos vigiados, e dei um passo em direção ao meu irmão. Ele pareceu parar de respirar, pela primeira vez vi seu olhar parecer assustado, e então preocupado.
— Não foi Felipa. — Comecei.
— Por toda nova república, Theodora. Como isso é ao menos possível? — Ele perguntou.
— Não acho que devíamos discutir isso aqui. — Felipa falou. — Vamos até nosso quarto.
Assenti.
— Acho que devemos ir para a sala do nosso pai. — Stefano tentou, me fazendo franzir o lábios. — Sei que ainda não teve genética, Theodora, não entende o que isso realmente significa. Não existe maneira de uma pessoa ter dois elementos. Biologicamente, é impossível. Se um humano carregar mais de um gene mutante de manipulação, seu desenvolvimento embrionário é falho. Uma criança assim nunca nasceria.
— Merd... Fezes. — Ouvi Felipa suspirar.
Engoli seco. Não era tão impossível assim afinal. Stefano olhava para meu rosto intensamente, nunca tinha visto aquele olhar em meu irmão. Medo, não de mim, mas pelo que poderia acontecer. Eu não era uma especialista, mas já tinha uma ideia do que aquilo poderia significar. As peças se juntaram lentamente em minha mente. Os anti. A ordem. Minha mãe.
— Está dizendo que...
— Vamos ver Jase. — Felipa nos interrompeu.
— Stefano, eu estava preste a... — Ouvi a voz de Jase assim que a porta de sua sala vazia se abriu.
Stefano entrou na sala, sem esperar por convite, seguido de Felipa, e então por mim.
— Aconteceu algo? — Ele perguntou subitamente alarmado.
Stefano olhou para mim, esperando, e então Jase olhou para mim. A situação ficando cada vez mais estranha e constrangedora. Procurei em minha mente pelos fatos, pelos acontecimentos do dia em que tinha descoberto minha segunda manipulação, tudo parecia turvo e confuso. Eu ainda tinha pesadelos com as torturas de Jessè, e de suas bolhas de água.
— Comece do inicio. — Felipa sugeriu.
— Foi quando Stefano caiu.
Jase abriu a boca para formular uma pergunta, mas um olhar de Stefano o fez se calar.
— Ele estava imóvel demais. — Me lembrei. — Eu pensei que estivesse... Morto.
Suspirei uma vez e olhei para o chão, não conseguiria suportar os olhares que eu sabia que me lançavam. Tinha sido por isso que não tinha falado nada. Se eu não contasse, então não tinha que lembrar, e eu podia fingir que nada não passava de algo distante.
— Jessè usou suas habilidades, fiquei vários minutos sem ar, se não fosse resistente... não sei se teria. Ele me irritou, me levou ao limite. Foi quando aconteceu. Jessè parecia saber que algo aconteceria. Ele ficava repetindo para que eu mostrasse meu verdadeiro poder.
Jase olhou para Stefano, que me encarava atentamente.
— E então eu fiz. Eu manipulei a luz. Os dois elementos se fundiram...
— Não é possível... — Foi a vez de Jase negar.
— Foi assim que fiz aquilo com a casa de curandeiros, foi assim que eu... — Hesitei. — Que eu matei Jessè.
— Por que não disse nada antes? — Felipa perguntou. — Não precisava ter feito isso sozinha.
Não respondi. Não tinha contado por muitas razões, e por nenhuma, em específico. Eu estava lotada de pensamentos, desconfiada de todos, e ainda desacostumada em contar com alguém além de mim mesma.
— Jessè disse algo para mim antes... antes de...
— Sim. Continue.
— Ele disse que sou uma manipuladora do caos.
Levantei a cabeça apenas para vê-los trocar olhares preocupados.
— Já ouvi histórias sobre fusão de elementos de vários manipuladores. Para produzir ataques incrivelmente fortes e lendários, capazes de destruir partes inteiras de cidades. —Jase contou. — Vocês devem conhecer o juízo final. Ele não é o único poder que vem da união de diversos manipuladores poderosos e experientes.
— O caos é um deles? — Stefano perguntou.
— Sim. A última vez que foi usado foi a pelo menos cem anos atrás. Precisaram dos dez melhores manipuladores que já se ouviu falar. Cinco da escuridão e cinco da luz. O caos vem da junção perfeita do poder dos dois elementos, e só pode ser criado a partir de uma quantidade enorme de energia, uma quantidade que apenas uma pessoa não seria capaz de criar. A menos que esses elementos venham de uma só fonte, é só uma teoria, mas foi isso que tentaram fazer por vários e vários anos, nunca conseguiram.
— O soro? — Tentei, e o manipulador de ar assentiu. — Pensei que ele desse apenas habilidades secundárias.
— Foi o máximo que conseguiram com ele.— Jase explicou. — Centenas de anos de pesquisas, que aconteciam lentamente, utilizando o pouco de conhecimento que havia restado do mundo antes do grande desastre. A genética da manipulação é muito complexa, além de qualquer coisa que conhecemos. O máximo que tinham conseguido era dar habilidades secundárias para os sem elemento, fortalecer o corpo, e aumentar as habilidades de manipuladores. Mas usar o soro vinha com um grande efeito colateral.
— A loucura. — Me lembrei. Paula era incrivelmente forte, e tinha muitas habilidades secundárias, mas ela estava enlouquecendo rapidamente.
— Os estudos foram suspensos depois de muitas cidades estado perecerem por seus habitantes matarem uns aos outros das formas mais cruéis possíveis. Essa foi uma de minhas missões quando conheci sua mãe nas fronteiras. Quando conheci Jessè. Fazíamos incursões nessas cidades estado para descobrimos o porque de terem sido massacradas, para evitar que ocorresse conosco o mesmo.
Eu parei para pensar um pouco naquelas palavras. Tinha muito sobre minha mãe que eu ainda não sabia, tudo parecia estar de alguma forma ligado a ela.
— Então se não é o soro, como posso ter duas manipulações? — Perguntei.
— Eu não sei, filha. — Ele me respondeu.
Eu senti minha garganta se apertar e meus olhos se embaçarem. Jase se aproximou de mim rapidamente, antes mesmo que eu tivesse a oportunidade de me retrair, segurou firmemente meu ombro, e buscou meus olhos com os seus.
— Mas eu vou descobrir, Theodora. Vou descobrir que merda é essa que esta acontecendo.
— Merda? —Felipa zombou baixinho. —Tio Jase cada vez mais rebelde.
Risadas deixaram o ambiente um pouco menos tenso, e então Jase me abraçou. E eu deixei o sentimento estranho de conforto me acalmar, e consolar. Logo Stefano se juntou ao abraço, puxando Felipa gentilmente para fazer o mesmo.
— Agora definitivamente você deveria parar de fugir de nós. — Stefano falou divertido.
—Está tudo muito legal, toda essa coisa de familia feliz, mas eu realmente estou começando a ficar com calor. — Minha melhor amiga reclamou, lutando para se desvencilhar e arrancando mais risadas de todos nós.
Uma batida tímida na porta, nos interrompeu finalmente.
— Entre. — Jase pediu, e Raphael entrou com passos largos e firmes.
— Desculpe interromper. — Ele falou. — O diretor está chamando os monitores e professores, é sobre a guerra.
iouuuuuuuuuuuuuuuuuuuu, oq acharam? Me contem tudinho sobre as teorias do que acham que vai acontecer agora!
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