Capítulo 4 - Nathan

Estava entediado, não poderia negar isso, meu pai precisara me chamar a atenção diversas vezes durante a reunião do conselho, Eindor, estava se tornando sufocante. Rodeado por homens todo o tempo, era cansativo e desesperador.

- Alteza, o rei ordenou que eu o escoltasse, arrume suas coisas para partir ao nascer do sol. - Jhon chegara anunciando, era quase nascer do sol, estávamos perto do Solstício, o dia em que eu estive esperando ansiosamente.

Saltei da cama com um sorriso no rosto, Jhon pareceu surpreso com minha alegria, mas ele nunca me questionava, a não ser que eu quisesse contar. Ainda sem desfazer meu sorriso, comecei a reunir os pertences indispensáveis.

Meu guarda-costas e melhor amigo, apenas me observava, eu sabia que Jhon jamais me perguntaria o que estava acontecendo, isto apenas aumentava minha vontade de rir, logo que todos os meus pertences estavam reunidos e eu deixei o quarto da fortaleza destinada ao rei e os príncipes.

Nós caminhamos pelos corredores silenciosos, ninguém ficaria em Eindor durante o Solstício, muitos dos homens pareciam cheios de expectativa de rever suas filhas, esposas, mães e parentes que viviam em Keidra.

Minha mãe me achava um completo idiota, minha irmã me detestava por não ter nascido primeiro. Quase vinte anos se passaram desde que o maior desastre assolou toda Lorak, ninguém comenta a respeito, as pessoas querem apenas esquecer que algo aconteceu.

Isso nunca é comentado, seja em Eindor ou na Cidade do Solstício e até onde minha irmã me dissera, em Keidra também não. Eu sempre fui curioso, era um mal que me manteve a frente de todos, mas eu nada conseguia descobrir sobre o incidente.

Sentia que algo ali não estava certo, as pessoas escondiam algo de nós, algo que talvez só os deuses pudessem responder.

- Por que está tão distraído, Nathan? - O rei me perguntou.

- Nada pai, estou apenas pensando em alguns dos termos de nossa reunião de ontem.

- Isto me surpreende, já que tive que lhe chamar atenção diversas vezes.

Os olhos dele diziam muito, ele não acreditava em minhas palavras, porém, também não responderia minhas perguntas. Suspirei cansado de tudo aquilo e montei meu cavalo, o rei fora escoltado por diversos guardas que cuidariam de sua segurança.

Infelizmente, estávamos passando por terras selvagens enquanto seguíamos para Cidade do Solstício, ninguém sabia ao certo como chegaram ali, mas nos últimos vinte anos, criaturas nunca vistas passaram a surgir em nossas terras, completamente selvagens e às vezes perigosas, nenhum dos homens de Eindor queria ter de explicar a rainha de Keidra que deixaram o marido dela ser morto por uma dessas criaturas, então protegiam o rei com mais ímpeto.

- Você está estranho. - Jhon finalmente soltara.

Eu ri de seu comentário e o meu amigo pareceu perder a vontade de saber o que estava me acontecendo. Infelizmente eu queria poder comentar a respeito, contudo, odiava a forma como Jhon era formal, nós crescemos juntos e eu o via como amigo, então esperava que me perguntasse.

- O que está acontecendo?

- Finalmente! - Soltei quase em um grito, o que fez com que muitos dos homens virassem suas cabeças em nossa direção.

- Finalmente o quê?

- Você me perguntou o que estava acontecendo, estava começando a achar que não se importava com minha amizade. - Jhon me encarou com uma sobrancelha erguida.

- Minhas responsabilidades o incomodam, alteza?

- Sinto falta de quando éramos dois adolescentes irresponsáveis que tentavam a qualquer custo saltar a muralha de pedras para ver o que havia além.

- Esqueça! Não quero saber de suas confusões e muito menos as loucuras...

- Como quer ser um bom guarda-costas se não souber de minhas confusões.

Jhon desacelerou o cavalo para acompanhar uma das carruagens, fiz o mesmo para cavalgar ao seu lado, meu sorriso permanecia intacto e meu amigo estava irritado.

- O que foi?

- Preciso beber. - Avisou, encarei o cantil com água em sua sela.

Dessa vez Jhon riu, um dos servos lhe entregou um outro cantil, observei enquanto meu amigo tomava um longo gole da bebida e seu rosto se contorceu levemente.

- Para aturar sua conversa, eu preciso de um pouco de álcool. - Avisou ele com um irritante sorriso no rosto.

- Se surgir um humanoide tentando me matar e você não conseguir me proteger, pedirei ao meu pai sua cabeça numa estaca para guardar, com seus olhos abertos para que sempre me veja e eu possa te dizer "você não conseguiu me proteger!".

Ficamos em silêncio um tempo, o homem nada mais falou e eu finalmente notei que não adiantaria tentar fazê-lo me questionar mais, ele não o faria, sua paciência não era eterna.

- Estou louco de saudade de alguém. - Disse num sussurro para que apenas ele ouvisse.

- Não creio que a princesa Alicia compartilhe de sua saudade. - Ele riu.

- Alicia é meu monstro particular. - Rebati.

- A rainha...

- Minha mãe não é exatamente uma mulher que ame a minha presença. - Alertei.

- Então, por favor, vossa alteza, esclareça.

- Na última vez em que estivemos na Cidade do Solstício, conheci uma mulher.

- Não me diga?! - Jhon me encarou como se aquela fosse a coisa mais óbvia que já saiu de minha boca.

Acelerei o cavalo para me afastar dele, estava cansado de esperar que ao menos uma vez na vida, Jhon seria mais meu amigo que meu guarda. Ouvi o som do seu cavalo se aproximando e tratei de não deixa-lo ver o quanto a situação me era intrigante.

- Desculpe-me a interrupção, continue a sua história.

- Ela é uma mulher incrível. - Murmurei.

Jhon nada mais disse, até que nós montamos acampamento e ele veio até a minha tenda com comida, começamos a comer enquanto eu pensava se lhe contava quem era a mulher que dominava meus pensamentos.

- Quem é ela?

- Não posso contar.

- Se eu não o conhecesse bem, diria que está apaixonado. - Jhon disse e eu o encarei sério.

Aquela possibilidade não poderia existir, eu logo seria casado com a mulher que minha mãe escolhesse, sendo ela quem fosse. Portanto a mulher que agora habitava minha mente, sabia que jamais poderíamos ter algo sério ou que fosse de conhecimento público.

Desejar e estar apaixonado, eram coisas completamente diferentes. Eu a desejava, sentia falta de seu corpo, de estar com ela, de conversar e passar algumas horas ao seu lado, mas nunca haveria amor ou qualquer sentimento entre nós.

Estávamos juntos porque nossos corpos foram tomados pelo desejo, ela sabia disso, assim como eu, no entanto, me perguntava porquê me machucava tanto pensar que ela logo me veria casando com outra.

- Chegaremos a Cidade do Solstício logo, sugiro, como seu amigo, que se tiver qualquer apreço por sua companheira, que sejam cuidadosos nos seus encontros. Sua mãe pode não gostar muito de saber que seu filho está se deitando com uma mulher que não a escolhida por ela.

- Minha mãe... - Eu ri, pensar nela era sempre problemático. - Às vezes eu queria que Alicia fosse a mais velha, apenas para que eu não precisasse dar explicações sobre minha vida a minha mãe.

- Não diga coisas insanas. Seu pai o espancaria se ouvisse isso.

- Meu destino foi traçado assim que nasci, Jhon, não tenho qualquer controle sobre a minha vida. - Remexi a comida em minha tigela.

- Por isso essa garota é tão importante, não é? Ela é a única coisa que você tem que ninguém pode controlar.

Assenti.

- Não se preocupe, ninguém saberá sobre vocês através de mim.

- Eu agradeço.

Jhons avisou que iria se juntar aos guardas na vigília, deitei-me sem conseguir de fato dormir, pensar sobre minha mãe, me fez lembrar que a garota e eu nos encontramos sem qualquer planejamento, não sabia se conseguiria montar um encontro com ela e não acreditava que Destino conspirasse ao meu favor.

- Esse velho, tinha que se entregar a morte junto com Escolha. - Resmunguei.

Eu sentia mais falta de sua esposa que dele, jamais desejei um destino traçado, mas por culpa seja lá do que for, nasci primeiro e isso me veio junto a um caminho mapeado por meus pais. Um que apenas queria engrandecer Eindor, a outra que queria provar que Keidra sempre teve mais habilidade ao governar.

A noite estava fria e eu me perguntava por quanto tempo mais seguiríamos essa estupida tradição de homens viverem em Eindor e mulheres em Keidra, eu preferia que dividissem o continente em reinos menores e as famílias não precisassem ser separadas. Tinha certeza que muitos concordavam com meu pensamento, mas não os que tinham o poder de mudar este quadro.

Amores, peço que se estiverem gostando da história, cliquem na estrelinha, para ajudar o livro a crescer. Até o próximo capítulo! ❤

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