Capitulo dois
Eu sempre fui conhecida no meio da minha família como louca e inconsequente, o caso é que eles não compreendem que eu só quero aproveitar a minha vida, curtir, e viver sem ter que me preocupar com nada ou tendo qualquer tipo de responsabilidade.
Eu sou Sara Christine Mittchel, tenho 20 anos e me permito ser taxada de irresponsável, ao menos um pouco. Vejamos meu currículo, aos 5 anos eu queria escalar o monte Everest e tocar o céu, o que é claro, nem é possível, aos 9 eu queria fugir pelo mundo carregando uma mochila e o fofinho, meu pequeno e adorável porquinho da índia, mas obviamente fui impedida, aos 14 eu tentei fugir com o circo que esteve na cidade, mas fui descoberta antes do ocorrido. O caso é que nunca deixaram que eu fizesse nada de empolgante ou até mesmo divertido, ao menos para mim era, e por isso eu cresci assim, a partir do momento que eu vi que eu poderia fazer o que passasse pela minha cabeça, eu faço sem pestanejar.
Por isso meus pais sempre me trataram e tratam com mais atenção, o fato deles me amarem talvez fizesse com isso acontecesse, mas no fundo eu sabia que eles só queriam me ver longe de confusão, queriam me ver como Elizabeth e Jordan, e ser como esses dois é entediante num nível muito alto .
A família não poderia aparecer nas páginas dos jornais toda semana por conta das bobagens que a Sara causa, a minha familia tem um nome a zelar, meus pais são conhecidos como Deuses do Olimpo. Richard e Miranda Mitchell são grandes médicos cirurgiões que doaram a vida em prol da saúde de seus pacientes, eles eram extremamente espetaculares no que faziam e por isso ainda tem todo prestígio na cidade. Hoje em dia estão aposentados, no momento viajam num cruzeiro pelo oceano, mas ainda assim acham que devemos zelar pelo nome e reputação da familia.
Jordan é meu irmão mais velho, tem 38 anos e é o único que seguiu de fato os passos dos nossos pais, hoje é um renomado cirurgião, já Elizabeth, no auge dos seus 24 anos está quase formada em gastronomia, ela age e vive como uma senhora, não entende que existe uma vida além dos estudos, sempre foi assim.
E eu ? Bom, eu sou a desvairada, nunca me importei com estudos apesar de ser bem inteligente, a prova disso são as cartas que recebi de todas as faculdades que me inscrevi em segredo, fui aceita em 4 de um total de 6, isso levaria meus familiares a loucura, mas eu nem se quer me lembrava onde as havia deixado, até Elizabeth aparecer com elas.
Na verdade a única coisa nessa minha problemática vida com que eu me empolgo são com meus desenhos, moda sempre me fascinou e eu acabei tomando gosto por isso, se você me ver pela cidade e não me ver segurando um caderno e um lápis rabiscando alguma roupa nova, então eu estou com algum tipo de problema sério.
Moramos em Pittsburgh, a segunda cidade mais populosa do estado americano da Pensilvânia, Pittsburgh é uma daquelas cidades americanas cheias de estudantes, é um bom lugar pra se viver. Divido um apartamento com a Eliza, o lugar é pequeno, no entanto bem confortável, a pequena sala faz divisa com a cozinha, único lugar que Elizabeth exigiu que fosse grande, e num corredor temos nossos quartos de um lado, o banheiro e uma pequena biblioteca do outro.
Foi um presente de nossos pais quando eu cismei que queria morar sozinha, foi permitido, mas só depois de um "plebiscito" onde ficou decidido que Elizabeth teria que vir junto, eu não reclamei, seria como ter minha própria cozinheira, apesar dela ser uma mãe/cozinheira, e isso é um tanto quanto irritante.
- Sara - Ouvi batidas na porta do meu quarto, era Elizabeth, eu ainda não estou falando com ela desde hoje cedo - Você precisa comer - Ela disse depois de um tempo sem resposta.
- Vai embora - Respondi, estava mergulhada na cama dentre as cobertas com uma garrafa de tequila sendo degustada, eu guardo bebidas escondido em meu quarto. Elizabeth só por um acaso surtaria se soubesse.
- Eu fiz brownies - Ela disse, de imediato pude sentir meus olhos brilharem, eu adoro brownie, ela sabe que é meu ponto fraco. Pensei um pouco, até que decidi esconder a garrafa e me levantar, abri a porta e ela sorriu, trazia uma bandeja consigo.
- Isso é golpe baixo - Disse e ela fez uma careta.
- Que bafo é esse Sara ? Você não estava assim antes de se trancar aqui - Rolei os olhos.
- Já vai começar de novo ? Eu preciso sumir por um tempo - Peguei a bandeja e segui para a cama, ela me acompanhou.
- Não gosto de brigar com você - Ela disse enquanto me observava comer.
- Eu também não.
- Mas você sabe que é uma pessoa impossível, não sabe ?
- Eu sei Eliza, ou vocês que são caretas demais - Levantei uma sobrancelha e ela sorriu.
- Não, nós não somos. Você precisa acordar pra vida Sara - Ela disse olhando em volta - Você já viu em quantas faculdades foi aceita ?
- Não importa mesmo - Dei de ombros - Eu só queria provar pra mim que conseguia entrar em pelo menos uma, não vou cursar nada.
- É muito difícil lidar com você - Ela suspirou se levantando - Você ainda faz aqueles desenhos ?
- Os vestidos ? - Ela assentiu - Faço.
- Deveria tentar investir nisso - Esse seria o único motivo que me fizesse algum dia querer pisar numa sala de aula na faculdade, dei de ombros.
- Deveria investir também em mudar seu guarda-roupa - A medi por completo, ela usava um jeans, um casaco surrado e uma echarpe verde musgo, que pelos deuses, não combinava em nada com nada, sem falar nos grandes óculos que ela insistia em usar, mesmo tendo lentes que poderiam expor seus lindos olhos azuis, seus cabelos loiros estavam como sempre presos num coque - Qualquer dia eu toco fogo em tudo - Completei e ela riu.
- Não ouse chegar perto do meu quarto, tente usar o seu talento para o bem.
- Talvez um dia - A encarei - Talvez um dia eu seja a garota que você, e o Jordan sonham. Mas por hora, é só o que eu tenho a oferecer - Me afundei na cama com a bandeja sobre a barriga.
- Eu sei que você não tem jeito - Sorri vitoriosa - Bom, eu estou indo pra aula.
- Indo se arrumar eu espero - Senti seu olhar me perfurar.
- Se eu me importasse com o que você diz eu iria estudar em cima de saltos altos não é mesmo ?
- Só um chanel Eliza, isso não vai matar você - Voltei a encara-la, desde que eu me conheço por gente eu tento mudar o estilo da minha irmã, pra mim é uma afronte que ela seja tão desleixada com a aparência, mas ela resiste de todas as formas possíveis.
- Não, isso está mais do que fora de cogitação - Bufei voltando a me afundar na cama - Passa na casa dos nossos pais mais tarde, mamãe pediu pra molhar as plantas e ver como tudo está.
- Como devo ir ? A pé ? - Perguntei sarcástica quando ela chegou a porta.
- O carro do papai está aqui, na garagem do prédio, você sabe onde fica a chave. Mas, por favor Sara, não faz nenhuma besteira e dirige com cuidado.
- Serei prudente, relaxa - Sorri e ela saiu revirando os olhos.
Elizabeth, apesar de ser muito chata e durona comigo a maioria das vezes, eu sempre à vi como um exemplo de força e determinação. Ela lutou até conseguir entrar na faculdade e agora estuda e dedica muito do seu tempo pra conseguir o tão sonhado estágio do restaurante Altius, um dos ou quem sabe até o melhor restaurante de Pittsburgh. Ela já tentou inúmeras vezes, sempre chegou muito perto e eu sei que vai conseguir, pela determinação que eu vejo que ela aplica em seus estudos, eu sei que vai.
Eu passo a maior parte do meu tempo viajando por Pittsburgh, procurando lugares calmos e reservados pra que eu possa desenhar, mas quando tudo está tedioso de mais eu me enfio numa balada e vou explorar as bocas de alguns estranhos, admito que isso é levemente mais empolgante.
Depois que terminei de comer, dormi um pouco pra que todo resquício de tequila saísse de mim, em seguida dirigi pelas tranquilas ruas em direção a casa dos Mittchel.
Quando estava prestes a estacionar meu celular vibrou no banco do carona, era uma mensagem da Elizabeth me lembrando de regar as benditas plantas, rolei os olhos, e numa fração de segundos senti o Camry do meu pai se chocar com a traseira de outro veículo. Meu corpo se projetou pra frente com o solavanco e o celular bateu diretamente no para-brisas.
- Mas que diabos - Murmurei tirando o cabelo que caiu sobre os meus olhos, quem foi a grande anta que estacionou de forma tão brusca ? Me perguntei. Desci do carro furiosa imaginando o quanto Elizabeth iria falar em meu ouvido - Merda.
Parada a minha frente com o porta mala amassado, estava uma viatura do departamento de polícia de Pittsburgh, isso só pode ser algum tipo de brincadeira, pensei.
Recuei lentamente de volta ao carro, se ele já estava sem motorista quando ouve o impacto significa que a culpa era minha e apesar de não me importar nem um pouco, eu não queria ter que voltar a polícia naquele mesmo dia.
Girei a chave e sorri vitoriosa, sairia dali sem ser notada e tudo estaria resolvido. Mas antes que pudesse dar seguimento ao meu plano, ouvi leves batidas na janela do carona.
Um oficial estava de pé me encarando. E eu sabia, eu sentia, que mais uma grande merda estava tomando forma na minha vida.
Mais um capítulo, amores deixem suas opiniões eu serei extremamente grata.
Grande beijo 💙
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