Capítulo 9

O "Santuário" era uma fábrica abandonada ou algo assim, totalmente diferente de Alexandria. Era escuro e sujo, não tinha vida.

- Vou mostrar onde você vai ficar – Jasper fala quando descemos do trailer, tocando meu ombro.

- Não toca em mim – eu falo baixo, entredentes, tirando sua mão de mim. Eu não conseguia concordar com isso, eu nunca iria. Vejo os caras redor cumprimentarem Negan assim que o veem.

- Jasper, porra, preciso de você aqui! – um cara grita, nos fazendo virar, e eu vejo um cara gordo me olhar.

- Nova? – ele pergunta pra mim, descendo os olhos para minhas pernas. Eu desvio o olhar sem responder.

- Chame outro – Jasper fala, se virando e dando um leve toque para segui-lo.

- Vá – Negan fala para ele – Eu levo ela. Temos que conversar sobre algumas coisas – ele pisca, com um sorriso. Ele sempre tem um maldito sorriso no rosto. Eu fico estaqueada no lugar, e olho para Jasper. Ele só concorda e sai.

Nós entramos e à medida que passávamos pelas salas, eu vi que eram na verdade quartos, a maioria com camas e moveis, não como em Alexandria, mas por dentro era totalmente diferente do que era por fora.

As pessoas me olhavam estranho quando passavam por mim. A maioria eram homens, vi apenas algumas poucas mulheres. O medo de eles fazerem algo pra mim faz meus braços arrepiarem.

- Não se preocupe, esse tipo de merda doente não acontece aqui. Ninguém toca em uma mulher a não ser que ela queira – ele fala como se tivesse lido meus pensamentos.

Negan para na frente de uma porta e a abre, fazendo sinal para eu entrar. A sala era como as outras, com uma cama grande, havia um sofá e uma pequena cozinha.

Ele fecha a porta e tira a jaqueta.

- Jasper já te contou como ele perdeu a mão? – ele pergunta, se sentando no pequeno sofá. Ele coloca o taco - Lucille -  ao lado dele e levanta as mangas da camisa até os cotovelos.

- Não – digo me encostando num móvel, perto da pequena janela, tentando ficar o mais longe possível.

- Encontraram ele em cima de uma árvore, rodeado de zumbis. Ele disse que ficou uns três dias lá, pelo que se lembra. O cara bebeu o próprio mijo - ele dá uma risada - Você tem noção?

- Então foi assim, por causa de uma mordida - conclui, querendo que ele fosse embora, porque logo eu iria falar com Jasper e saber tudo. Mas ele continuou.

- Meus homens trouxeram ele, e ele topou trabalhar pra mim. Eu não dei muito crédito porque puta que pariu, olha pra ele? Não sei como sobreviveu até hoje – ele faz uma pausa, passando a mão na barba.

- No dia seguinte saímos em uma busca e eu queria ver se o garoto era bom, então levei ele.

- Quando fomos entrar em um galpão, eu não vi quando um desses mortos vivos apareceu, o fodido ia me morder. Mas seu amigo se colocou na minha frente e teve a mão mordida antes de estourar a porra da cabeça dele.

- O resto você já deve imaginar, cortamos a mão dele, essa merda toda.

Pobre Jasper. Meus lábios se separaram, procurando algo pra dizer, mas antes que eu pudesse, ele continuou.

- Ele ficou muito mal mesmo, acho que pegou uma infecção ou uma merda dessas. Ele agonizou por alguns dias, e ele sempre chamava uma tal de Emma. Todo mundo pensava que ele ia morrer, mas num belo dia de sol ele se levantou como se nada tivesse acontecido, exceto por ele estar maneta.

- Eu perguntei o que ele queria, por que porra, ele me salvou, e eu sou esse tipo de cara que dá valor pra uma merda dessas.

- Ele podia pedir qualquer merda, qualquer merda do caralho, mas sabe o que ele pediu? Pediu pra achar você. Viva ou morta. A Emma que ele chamava enquanto estava quase morrendo. Que merda fodida né? – ele se recosa mais no sofá – O cara bebeu o próprio mijo, perdeu a mão e agora você nem tá falando com ele.

Eu me senti o pior ser humano do mundo. Ele passou por tudo isso, e mesmo assim ainda pensava em mim.

- Eu achei que você era tipo uma namorada ou qualquer porra dessas, mas quando eu vi vocês dois juntos – ele para, balançando a cabeça – Ele trata você como se fosse a irmã mais nova.

Ele se levanta e vem até perto de onde eu estou.

- E porra, eu valorizo isso. Valorizo um cara olhar pra você e não pensa mais do que isso – o jeito como ele me olha faz meu peito pesar uma tonelada, e eu mordo o interior da minha bochecha.

- Tá vendo esse lugar? - ele aponta ao redor do quarto - Isso não vem de graça. Ou você acha que essa cama apareceu aqui sozinha? – ele pergunta, sem desviar o olhar de mim – Ele fez tudo isso pra você. Trabalhou como uma maldita formiga, e você tá agindo como uma vadia ingrata. E nós sabemos que você não é a porra de uma vadia ingrata, certo? - ele sussurrou inclinando seu rosto perto do meu. Eu quis dar um passo para trás, mas eu já estava encostada num móvel.

Eu balanço a cabeça, negando, não conseguindo desviar de seus olhos. Ele parecia gostar de intimidar e fazer as pessoas terem medo dele. Ele esboçou um leve sorriso.

- Fale. Eu gosto da sua voz.

- Não. Eu não sou – minha voz é firme, quase petulante. Quem ele pensa que é pra falar assim com as pessoas?

- Sempre tem que usar esse tom fodido comigo? - ele riu baixo com seu rosto perto do meu, e eu senti sua respiração quente contra minha pele, me desconcertado. Mas eu não mostrei isso a ele. Eu sai de perto, e cruzei os braços olhando para fora da janela.

- Você vai machucar eles? – eu pergunto, ainda de costas, me referindo as pessoas de Alexandria, tentando engolir o bolo de choro que se formava na minha garganta. Ouço ele rir, e aperto as unhas nas palmas das mãos.

- Agora me diga, porque eu deveria deixá-los quando eles mataram 50 dos meus, sem eu ter tocado em nenhum de vocês?

Eu não sabia o que responder, ele estava certo em um ponto. Se alguém matasse meus homens, eu ia querer retaliar. Nós que procuramos isso, nós que pensamos que se enfrentássemos a ameaça antes, não iriamos nos machucar.

- Vamos, você é uma menina inteligente – ele estala os dedos, ficando na minha frente.

- Você não tem que matar ninguém. Você pode tentar um acordo – eu disse, mantendo a voz firme e neutra, mesmo que eu ainda podia sentir a dor roendo as entranhas.

- Oh, mesmo? – Negan zombou e inclinou o rosto um pouco, me estudando – Elabore.

Eu não consegui continuar, porque eu não sabia mais o que dizer.

- Talvez eu só mate o loiro – ele ergue a sobrancelha, esperando a resposta.

Eu entendi o que ele queria. Eu engoli meu orgulho e fiz o que era preciso, implorei.

- Por favor. Por favor, não faça isso. Não machuque nem um deles, eles são meu grupo, eu...

- Ouça com atenção – disse ele quando ele me puxou para mais perto – Esquece o seu antigo grupo de merda. Este é o seu novo grupo agora. Seu amigo está vivo por causa de mim. Ele é leal a mim. E eu quero saber, Emma – ele põe uma mecha do meu cabelo atrás da orelha – Se você também vai ser?

Ele fala como se eu tivesse alguma opção. Eu não sairia daqui, nem se quisesse, e eu também não poderia deixar Jasper, não depois de tudo que ele passou.

- Sim – o ar estava carregado com tanta tensão que eu mal podia respirar – Se você prometer não machucar eles.

Ele ri, se inclinando pra trás, e eu o xingo mentalmente.

- As coisas não funcionam assim, querida. Eles vão pagar. Não foi eu quem começou essa porra toda.

Foi ai que eu percebi, que nada que eu falasse ia fazer ele mudar de ideia. Alguém ia morrer, uma ou mais pessoas, e eu não poderia fazer nada, a não ser assistir. 

Isso era um tipo de jogo mental doentio que ele estava fazendo comigo. Tudo que ele falou sobre Jasper, era para fazer eu quebrar em pedaços, para ele poder me montar do jeito que quisesse.

- Nada que eu diga vai fazer você mudar de ideia, então por que tudo isso? – eu pergunto, limpando a única lagrima que desceu do meu rosto sem minha permissão.

- Como eu disse, eu gosto da sua voz. Eu gosto desse seu pensamento inocente, que todos podemos viver em paz. Isso é o tipo de merda que deixa o meu pau duro – ele falou com uma atitude arrogante, e eu senti o machismo em todas as palavras dele.

Isso foi o suficiente. Toda a raiva e frustração que eu tinha dentro de mim eu coloquei pra fora, dando um tapa no rosto tão forte como eu poderia. 

Me apoiei contra a parede, olhos arregalados em choque quando ele tropeçou para trás um pouco. Negan permaneceu ali por um segundo, parecendo processar o que aconteceu.

Ele trouxe a mão para o lábio e enxugou a pequena trilha de sangue que escorria. Ele começou a rir, recuperando a compostura enquanto sacudia a cabeça. 

Ele trancou seus olhos em mim, correndo sua língua do ponto dolorido, se movendo para perto de mim. Eu me empurrei ainda mais perto da parede, e neste momento desejei que eu pudesse ter desaparecido dentro dela. 

Quando ele levantou sua mão para mim, eu estremeci, fechando os olhos, sabendo o que vinha a seguir. Mas o tapa nunca chegou. Em vez disso, uma mão áspera e quente agarrou suavemente meu queixo, levantando meu rosto para que eu pudesse olhar para ele.

- Não faça mais isso – ele disse, num tom escuro e perigoso, antes de focar o olhar na minha boca – Não quero ter que machucar um rosto tão bonito. – ele piscou para mim antes de virar para a porta e ir embora.

Espero que tenham curtido, porque eu adorei escrever! hahahaha

Beijinhos

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