Capítulo 51 - FINAL 1ª TEMPORADA - PARTE 2

Hilltop

Rick e Daryl desceram com Jax para o porão onde Negan estava.

— Eu não vou mentir para Emma — Jax negou com a cabeça. Ele viu como ela estava acabada por achar que Negan tinha morrido, e mesmo ele o odiando, não podia fazer isso com Emma.

— Ninguém vai saber por enquanto — Rick avisou.

— Você vai deixar ele vivo depois de tudo o que ele fez? — Jax olhava para o homem deitado na maca.

Ele devia estar morto de verdade. Jax queria o matar pelo que ele fez quando o levou prisioneiro. Fazê-lo se sentir como um animal acuado, com a vida nas mãos de outra pessoa. Fazê-lo sofrer, assim como ele sofreu.

— Vamos reconstruir as coisas, e nada é reconstruído começando matando pessoas — Rick repetiu as mesmas palavras de Morgan.

— Então conte as pessoas — Jax gesticulou para a porta, e Rick balançou a cabeça em negação.

— Por enquanto não. As pessoas vão querer matá-lo, vai ser uma confusão. Melhor esperar a poeira baixar — Rick argumentou, meio incerto.

Rick não tinha certeza se contaria. Mas ele precisava da ajuda de algumas pessoas para vigiar Negan durante essa tempo que ficariam em Hilltop.

— Eu também achei isso estranho — Daryl fala — Mas acho que Rick está certo.

Rick dá um aceno de cabeça em reconhecimento as palavras de Daryl.

— Quando voltarmos para Alexandria, vamos prendê-lo na cela que Morgan construiu. Enquanto isso, preciso de sua ajuda também, para vigia-lo aqui — Rick pediu.

— Tudo bem — Jax concordou — Conte comigo.

Emma ia sofrer, mas ia esquecer. Talvez eles voltassem a ficar juntos, ele poderia ajudá-la a passar por isso. Emma estaria melhor sem Negan. Harlan entrou no porão, surpreendendo os três.

— Tenho que trocar o curativo dele — Harlan avisa — Se infeccionar ele vai ter problemas sérios.

— Jax fica com você — Rick avisa. Ele não queria correr o risco de Negan tentar alguma coisa. Rick e Daryl saíram.

Jax se encostou na parede, pensando se fez certo em concordar com Rick. Não por Negan, mas por Emma. Mesmo ela sendo durona, ele via como ela estava mal com isso.

Jax observou Harlan tirando o curativo que cobria a garganta de Negan. Um corte na horizontal, que ia quase de ponta a ponta do pescoço estava suturado com muitos pontos.

Harlan começou a limpar o sangue seco que havia ali, e Negan se mexeu.

Emma — Negan balbuciou, engolindo em sentindo a pele rasgada repuxar em seu pescoço. Ele abriu um pouco os olhos, com muita dificuldade — Você tem que cuidar dela.

Jax contraiu os lábios, enojado de ouvi-lo falar de Emma depois de todo mal que fez a ela.

— Emma vai ficar melhor sem você — Jax cuspiu, mas Negan não reconhecia a voz.

— Ela pode tentar fazer uma besteira. Ela já tentou se machucar antes... — ele falou com os olhos fechados.

Negan não estava em plena consciência, mas seu único pensamento era Emma. Negan lembrava da última conversa que teve com Rick, e ele entendeu que todos achavam que ele estava morto, e isso incluía Emma. Ele não sabia como ela ia reagir a isso. Ele não a achava fraca a ponto de tentar se machucar de novo, mas ele queria alerta-los.

Harlan entendeu o que Negan estava falando. Apesar de ser normal perder pessoas hoje em dia, não tinha como não ficar perturbado com isso. Se Emma já tentou se ferir uma vez, ela podia tentar de novo, já que estava sob pressão e em luto.

— Tudo bem, você pode ir — Harlan diz para Jax — Ele está ficando agitado, e pode romper os pontos. Você não está ajudando.

Jax arqueou as sobrancelhas, indignado que Harlan estava preocupado com o bem estar de Negan.

— Rick me mandou ficar — ele cruzou os braços, sem se mover. Harlan jogou a gaze suja de sangue na bandeja e olhou o loiro.

— Ele está algemado e praticamente dopado. Não vai fazer nada.

Jax riu, indignado e concordou, saindo em seguida. Harlan continuou limpando e pensando no que Negan disse. Ele falaria com Emma, não podia deixar que ela tentasse contra a própria vida. Ela era uma boa garota, e todos gostavam dela. Ele mostraria isso, que ela tem com quem contar. Só esperava que ela nunca soubesse que Negan ainda estava vivo.

Emma

Eu estava sentada no sofá, enrolada na manta que tinha ali, olhando para os raios de sol que entrava pela janela do trailer e iluminavam o chão. Não consegui dormir nem por um segundo. Meus olhos queimavam, minha cabeça latejava no mesmo ritmo das batidas do meu coração.

Dizem que quando perdemos alguém que amamos, a ficha não cai na hora. Mas não tinha como piorar, não tinha como doer mais. Duas batidas na porta me arrancam dos meus pensamentos.

— Oi — Bellamy disse, parando na porta. Ele parecia melhor, não totalmente recuperado, mas pelo menos não estava na cama da enfermaria — Soube o que aconteceu.

Fiquei de pé e ele veio ao meu encontro.

Com os olhos marejados, eu acenei com a cabeça e, sem me dar chance de dizer nada, ele me puxou para junto do seu peito.

— Tudo bem — ele me abraçou forte, e eu me agarrei a ele.

— Ele disse que ia resolver, que ia acabar com essa guerra. Ele ia fazer, Bellamy. Ele prometeu... — eu fechei os olhos, sem mais lágrimas para chorar.

Ele não disse nada, só continuou ali comigo. Ele não perguntou, não me julgou por estar sofrendo por Negan.

Eu balancei a cabeça, atordoada. Eu estava me lamentando sobre Negan para Bellamy, que quase morreu nas mãos dele. Passei a mão por meus cabelos, engolindo toda dor.

— Como você está? — perguntei, me afastando um pouco para olhá-lo.

— Bem. Já fazem alguns dias, não se preocupe — ele ainda estava com o rosto inchado e machucado, mas mais corado do que da última vez que o vi.

— Vamos comer? Fizeram um bolo delicioso. Maggie está te esperando — ele disse tentando me animar.

— Não tô com fome — vesti meu casaco por cima da blusa que peguei emprestada de Paul ontem. Nenhuma comida ia descer pela minha garganta.

— Trago para você — Bellamy ofereceu.

— Não precisa. Não quero comer agora.

— Então você vem comigo. Não tem outra opção — ele deu um meio sorriso, e eu suspirei pesado.

Talvez se eu me distraísse, conseguia pelo menos esquecer por um minuto que fosse.

— Vamos — eu disse para ele e saímos para fora. O sol brilhava no céu, mas o frio era congelante.

Olhei ao redor e não vi Jasper. Ele disse ontem que voltaria para Hilltop com Lauren. Só de lembrar da noite de ontem, de Jasper me dizendo que Negan... cruzei os braços e apertei as unhas nas palmas das mãos. Eu não podia desmoronar agora.

Bellamy! — uma voz feminina grita quando estamos perto das escadas da casa. Bellamy vira, e uma garota o abraça — Eu pensei que você estava morto, quando falaram que você estava vivo não acreditei — ela segurou o rosto dele nas mãos, olhando seus machucados.

Olhei bem seu rosto e a reconheci. Era a mesma garota que ficou me encarando ontem no Santuário. Bellamy sorri e se separa dela e me olha.

— Essa é minha irmã — ele diz, nos apresentando. Quando ela viu quem era eu, seu rosto se distorceu e a mão dela voou até o meu rosto, me acertando com um tapa que me fez virar.

— Que merda, Octavia! — Bellamy gritou.

Eu recuei, levantando a mão para o meu rosto que queimava. Senti o gosto de sangue na boca e passei as costas da mão, limpando a trilha de sangue que escorria. Eu não consegui dizer nada, só a olhei sem entender.

— Você está assim por causa dessa vadia — ela rosnou e tentou vir para cima de mim de novo, mas Bellamy a segurou.

— Para com isso — ele avisou e a colocou para longe, a olhando em advertência. As pessoas olhavam assustada para a cena, quando Jax apareceu. Ele olhou para Bellamy e em seguida para mim, segurando meu rosto.

— Você tá sangrando — ele passou o polegar onde eu tinha levado o tapa, e eu estremeci — O que aconteceu? — Jax rosnou, olhando para Bellamy.

— Nada — eu disse de pressa — Só um mal entendido.

Não queria arrumar mais problemas. Se alguém fosse responsável por meu irmão estar desse jeito, eu também iria querer bater na pessoa.

— Não foi. Eu sabia exatamente o que queria fazer quando enfiei a mão na sua cara — a garota cuspiu, e Bellamy a mandou ficar quieta.

— Quem é você? — Jax deu um passo em direção a garota, mas ela não se intimidou.

— Ela é minha irmã — Bellamy se põe ao lado dela — Ela já está indo. Não vamos criar problemas.

— Ela já criou problemas. Emma está sangrando — os dois se encararam como se pudessem derreter um ao outro com o olhar, e isso não acabaria bem.

— Esquece isso — eu puxei Jax pelo braço para que me olhasse.

— Que bom que está vivo, Bellamy — a garota riu com ironia — Já estou indo — ela vira e sai do direção aos portões.

Bellamy olhou para mim e para a irmã indo embora, não sabendo com quem falar primeiro.

— Você devia ir também. Já arrumaram problemas demais — Jax fala e os dois se olham como se estivessem num duelo no faroeste.

— Vai falar com ela, Bellamy. Vocês precisam conversar. Está tudo bem — garanti, e Bellamy piscou algumas vezes antes de ir.

— Vamos limpar isso — Jax tocou minhas costas, e nós entramos no trailer do Harlan. Estava vazio, sem Harlan e sem pacientes.

Olhei no pequeno espelho pendurado na parede e vi literalmente os cinco dedos vincados no meu rosto, e uma pequena linha de sangue escorrendo pelo canto da minha boca. Passei a língua em cima e estremeci quando senti o corte. Eu estava horrível, com olheiras e olhos inchados. Mas por dentro eu estava ainda pior.

— Deixa eu ver — Jax disse sutilmente e segurou meu queixo. Seu maxilar travou enquanto ele olhava meu rosto.

Ele pegou um pedaço de pano e molhou na água gelada, fazendo uma compressa no meu rosto e eu fechei os olhos, sentindo queimar minha pele.

— Porque ela fez isso? — Jax perguntou.

— O irmão dela quase morreu por minha causa. Ela tinha o direito.

Eu não me sentia injustiçada. Eu merecia isso. Bellamy estava assim por minha causa. Negan estava morto por minha causa, porque eu não estava com ele quando tinha que estar.

— Emma — Jax me chamou, me puxando do meu martírio. Eu tirei sua mão e o pano do meu rosto, secando meus olhos marejados.

— Você quer conversar? — ele perguntou, largando o pano na pequena pia que tinha ali. Eu o peguei e limpei o sangue que tinha na minha mão.

— Conversar sobre o quê? — perguntei, encarando seus olhos azuis que se fecharam quando ele cobriu a boca com a mão, e em seguida me olhou.

— Sobre tudo isso que está acontecendo. Sobre o que aconteceu.

— Não tenho nada para falar — disse vendo Jax deixar escapar um suspiro de frustração. A porta do trailer se abriu, e Harlan entrou.

— Tudo bem, Emma? — ele perguntou, deixando uma bandeja com medicamentos e coisas de primeiros socorros na maca a sua frente. Alguém deve ter se machucado feio pela quantidade de curativos sujos de sangue que tinha ali.

— Sim, só precisava de uma compressa — falei e me dirigi até a porta. Jax a abriu, a segurando para eu passar.

— Posso falar um minuto com você, Emma? — Harlan falou, e Jax parou onde estava, com o rosto tenso, o olhando de um jeito que eu não entendi.

— Claro — dei os ombros, mas tudo o que eu queria era sumir das vistas de todos.

— Tudo bem, Jax. Só quero conversar com Emma — Harlan disse, e eu não entendi a tensão que havia se formado. Jax me olhou e saiu, fechando a porta.

Harlan me indicou o sofá e eu me sentei, e ele também.

— Como está se sentindo? — Harlan perguntou, apoiando os braços nas pernas.

— Está tudo bem. Foi só um mal entendido. As pessoas estão estressadas ainda — respondi e seus olhos focaram na minha bochecha, mas ele logo me olhou nos olhos de novo.

— Que bom. Mas não estou falando disso, Emma — seu tom delicado indicava o assunto que ele queria entrar, mas eu não estava disposta a isso, nunca estaria.

— Não estou entendendo — mordi o lado de dentro da boca. Eu não queria falar como eu estava me sentindo, porque estava estampado na minha cara. Porque as pessoas insistem em querer conversar? Eu levantei, e ele tocou meu braço.

— Por favor, sente-se. Não precisa falar nada, só quero que me escute — ele ficou de pé até eu me sentar de novo.

— Imagino como você está se sentindo — ele começou, e eu tive vontade de rir. Nunca ninguém vai sequer ter a mínima ideia de como estou agora.

— Quero que saiba que você não precisa desistir de tudo ou... — ele não terminou, porque eu o interrompi.

— Então você acha que eu vou me matar porque Negan morreu? — minha voz saiu carregada de desgosto. Eu não precisava lembra que isso quase aconteceu, mas Negan estava lá e me salvou. Ele me salvou de morrer, mas eu não salvei ele.

— Não. Mas quero que saiba que não precisa guardar tudo isso para você.

— E com quem eu devia conversar? Com você? Ou com Rick, que o matou?

Eu não tinha raiva de Rick, ele fez o que achou que tinha que ser feito para manter suas pessoas seguras. Eu não acreditava que Negan tinha mentido para mim, mas algo aconteceu para terminar desse jeito, mas eu nunca ia falar com Rick sobre isso.

— Eu estou aberto para conversar com você quando quiser.

— Achei que você fosse um obstetra, não um psicólogo.

— Entendo sobre tudo. E entendo que está triste e com raiva. Mas você pode lidar com isso.

Não. Ninguém nunca vai entender, ninguém nunca vai saber a dor que eu estou sentindo. Eu olhei para minhas mãos, tentando sem sucesso não pensar.

— No tempo que fiz residência, eu namorei com uma psicóloga do hospital onde eu trabalhava. Ela atendia pessoas que perderam seus entes queridos na guerra — Harlan começou a falar de novo, e eu levantei meu olhar para ele.

Onde ele queria chegar com essa conversa? Parecia que as pessoas faziam questão de pôr o dedo na ferida.

— Ela utilizava uma técnica terapêutica por meio de cartas. As pessoas escreviam para quem já não estava aqui, e isso as ajudava a lidar com a perda.

Eu não podia acreditar no que estava ouvindo.

— Então você acha que eu escrever vai me ajudar a lidar com isso? — eu ri, sentindo uma pontada no peito.

Lidar com a perda. Eu não queria lidar, por que eu não queria acreditar que eu o perdi. Antes que ele voltasse a falar, eu o cortei, ficando de pé.

— Nada vai me ajudar. Eu não preciso de conselhos de alguém que não sabe merda nenhuma sobre como eu me sinto.

Sai do trailer, respirando o ar frio profundamente, querendo que isso me acalme. Eu só queria acordar e ver que tudo isso era um pesadelo e Negan ainda aqui. Mas não ia acontecer. Essa era a realidade. Ele morreu e levou metade de mim junto. E eu nunca mais seria completa de novo.

— Como você está? — Lauren me perguntou, e eu senti a dor nos olhos dela. Lauren também gostava de Negan, acho que nós duas éramos as únicas pessoas.

Ela e Jasper tinham acabado de chegar, e Maggie arrumou um trailer para eles ficarem. Eu havia a contado da irmã de Bellamy, e Jasper surtou quando viu meu rosto.

— Estou bem, e você? — minha voz saiu firme, mesmo estando desmoronando por dentro. Ela deu os ombros e um sorriso triste.

Lauren me deu um abraço apertado, e essa foi a resposta. Ela estava tão mal como eu.

— Vamos ficar. Jasper disse que o líder daqui concordou — Lauren disse, esfregando as mãos nos meus braços.

Eu não sabia de nada sobre Jasper ter falado com Rick, mas estava feliz por ele querer sair de lá. Aquele lugar não era para ele.

— Isso é bom. Vocês vão se dar bem aqui.

Nós vamos — ela segurou minha mão — Nunca pensei que você está sozinha.

Eu suspirei, e Paul entrou no trailer.

— Sou Jesus — ele se apresenta para Lauren — E você deve ser a Lauren. Posso te mostrar a comunidade, se quiser.

Ela olhou para Jasper, que fez um sinal com a mão, dizendo para ela ir. Quando eles saíram, Jasper me abraçou.

— Não vou perguntar como você está — ele falou, passando a mão nas minhas costas — Mas eu sei que você vai passar por isso.

Eu não sabia se conseguiria. Eu não sabia se queria seguir em frente. A única coisa que eu sabia era que essa dor não ia passar tão cedo.

Não ia passar nunca.

1 mês depois

Eu achava que eu podia ter um final feliz. Eu nunca quis ter isso, nunca acreditei que era possível.

Mas quando eu o encontrei, quando estava prestes a ter meu final feliz, minha felicidade foi arrancada das minhas mãos, desmanchada como um castelo de areia na tempestade.

Eu sempre me achei forte e independente, mas eu não conseguiria seguir em frente sem ele. O único homem que eu amei. Talvez isso seja um castigo do destino por eu nunca ter me apegado a ninguém, e quando eu encontrei alguém para amar no meio do caos, a morte o tomou. Me sinto vazia e quebrada.

Alexandria foi reconstruída. Todas as comunidades se juntaram e restauraram o que tinha sido destruído durante a guerra. Jasper e Lauren voltaram para o Santuário, ele agora era o braço direito de Dwight.

Eles não queriam aceitar porque eu não iria com eles, mas eu os fiz ir. Eles tinham que seguir em frente, não deviam ficar presos a mim por pena.

Eu voltei a Alexandria também, assim como Bellamy. Achei que ele fosse querer ficar com a irmã, mas ela decidiu ficar no Santuário com o namorado, pelo que Bellamy disse, e ele não voltaria para lá depois de tudo.

Achei que o tempo fosse pelo menos amenizar um pouco a dor, mas todos os dias que eu acordava, o primeiro pensamento era ele. Todos os nossos planos, o futuro que a gente teria se ele ainda estivesse comigo...

Eu sempre achei que não acabaria nunca, que sempre ia haver mais uma vez, mais um beijo, mais um eu te amo... mas a única coisa que havia agora era dor. Era como se uma faca tivesse sendo atirada em meu coração e retorcida todos os dias.

Já fazia alguns dias que eu tinha voltado a Alexandria, e eu pensei que aqui, o primeiro lugar que eu tinha tomado como lar, fosse me dar força para seguir em frente, mas eu não conseguia.

Ver todas essas pessoas felizes por agora estarem livres, porque Negan está morto, me fazia reviver aquele dia na minha cabeça. Eu não suportava mais.

Abri a mala que Jasper trouxe ontem quando veio me visitar. Ele disse que Lauren havia pego minhas roupas e tudo que era meu que tinha ficado no Santuário.

Virei a mala em cima da cama, eu só ia tirar algumas roupas de inverno antes de ir embora.

Talvez longe, tento que ocupar minha cabeça com sobreviver e me manter segura, eu deixaria de pensar nele. Talvez eu morresse e tudo isso acabasse.

Sacudi a mala, tirando o restante de roupas quando algo flutuou no ar antes de cair no chão.

Quando segurei o papel em minhas mãos, uma enxurrada de dor e lembranças me atingiu com a força de um trem de carga.

Deslizei pela parede, olhando nossa foto. Eu não lembrava mais dela. Meus olhos se embaçaram enquanto eu a olhava, sentindo falta de algo que nunca mais veria. Seu sorriso.

Flashback

— Eu tinha uma dessas. Meu pai me deu uma quando eu tinha quinze anos — falei, segurando a máquina polaroid nas mãos.

Eu sabia para o que essa máquina era usada aqui.

— É sua — Negan falou, se encostando na mesa do escritório, me puxando para ficar entre suas pernas - Não preciso mais dela.

— Sério? — perguntei surpresa.

— Sim. Quem sabe você não deixa eu tirar umas fotos sensuais suas para eu levar no bolso quando fico esses dias fora.

Eu dei uma gargalhada, antes de olhar sério para ele.

— Sua mente não está dando conta de guardar minha imagem?

— Perfeitamente — ele sorriu — Mas algo palpável seria melhor. Eu poderia olhar enquanto... — eu cobri sua boca com a mão, impedindo de ele continuar a frase vulgar.

— Você é um porco quando quer — eu ri, tirando a mão da sua boca e o beijando.

— Vamos dar um novo fim para essa tralha — Negan toma a máquina da minha mão, esticando seu braço e a posicionando na nossa frente - Sorria, querida.

Eu sorri, ouvindo o barulho da máquina, e logo a foto foi cuspida numa moldura branca. Negan pegou a foto e a sacudiu no ar, enquanto colocava a máquina em cima da mesa.

— É minha — eu a peguei da sua mão, vendo nós dois sorrindo. Era como se toda a droga do mundo lá fora não existisse.

— Essa é a primeira de muitas — ele me abraçou por trás, descansando o queixo no meu ombro.

Flashback off

Não tiramos mais fotos, porque no outro dia, o Santuário foi atacado e tudo desmoronou.

Enxuguei as lágrimas e levantei. Guardei a foto no bolso de trás do jeans e enfiei algumas roupas na mochila, onde eu já tinha colocado alguns mantimentos.

Minha mochila estava em frente a meus pés, esquento eu olhava pela janela, esperando a troca da vigia.

Na primeira oportunidade, escalei o muro, onde vi Enid saindo a alguns dias. Cai de pé do outro lado, seguindo a entrada de trás da comunidade, sem olhar para trás.

Alexandria

— Sabe no que eu estou pensando, Jax? — Negan perguntou quando Jax deslizou uma bandeja com comida pelo espaço que havia na cela — Em quando Emma descobrir que eu estou vivo.

Negan estava na cela que Morgan construiu. Rick havia o tirado de Hilltop uma noite antes de todos voltarem a Alexandria, assim o risco de alguém vê-lo era nulo.

Negan não entendeu a jogada de Rick em querer deixá-lo vivo. Ele achou que fosse ser torturado ou espancado, mas nada disso aconteceu. Ele só estava ali, preso como um animal.

Ele já havia procurado qualquer meio de fugir, mas era impossível. Ele só via alguém quando era para comer ou tomar banho — o que era feito na frente de algumas pessoas e com armas apontadas para ele.

A única coisa que ele pensava era em Emma, em como ela estava depois de tudo isso. Ele prometeu que voltaria, que eles seguiram em frente depois da merda toda pelo que passaram.

Negan não mentiu, ele tentou um acordo, mas não esperava que Rick tentasse o matar e que Dwight se viraria contra ele. No fundo ele sabia que merecia o que estava passando. Mas não queria que Emma se machucasse no meio disso tudo.

— Ela não vai descobrir. Todos acham que você está morto — Jax falou, vendo o homem na cela.

Isso trazia um certo conforto para ele. Jax já esteve nas mãos de Negan, preso assim como ele está agora.

— Como ela está? — Negan teve que engolir o orgulho para perguntar isso. Ele odiava Jax e o mataria sem pensar duas vezes, mas ele era o único ali que o odiava, mas ainda falava com ele, mesmo que fosse para depreciá-lo.

— Ótima. Feliz sem você atrapalhando a vida dela — Jax respondeu, mentindo.

Emma poderia estar tudo, menos feliz. Jax a via trabalhando, ajudando a todos, mas ela estava distante. Fria. Ele a observava às vezes, sentada no coreto ou na varanda de casa, olhando para o céu. Ela não conversava mais ou se reunia com as pessoas.

Jax tentou a animar, conversar com ela, mas tudo que Emma fazia era afastar quem quer que tentasse se aproximar.

Isso o fazia odiar ainda mais Negan, porque ela estava assim por culpa dele. Mesmo depois de tudo o que ele fez, Emma ainda o amava, como nunca o amou.

— Não sei o que ela viu em um verme como você — Jax proferiu as palavras como se fossem uma maldição.

— Você já me viu pelado. Acho que sabe — Negan debochou, com um grande sorriso arrogante enfeitado seu rosto, mas por dentro ele estava acabado.

— Vamos ver se você vai ter essa pose toda daqui a alguns meses. Ou anos, se você sobreviver — Jax falou antes de subir as escadas, deixando Negan sozinho.

Negan sentia que ia enlouquecer, olhando para aquelas paredes, trancado e sem falar com ninguém.

Podia demorar, mas ele ia dar um jeito de sair e voltar para Emma. Disso ele tinha certeza.

Emma

Eu estava caminhando por horas, e sabia que a cidade vizinha estava próxima. Mas também sabia que esse seria o primeiro lugar onde iam me procurar quando dessem por minha falta.

Mas como ia escurecer em menos de uma hora e eu já estava congelando, eu decidi arriscar.

Avisei um pequeno prédio de dois andares, com uma escada de incêndio do lado de fora que levava para o segundo andar. Havia cinco caminhantes na frente, e alguns mais afastados. Se eu fosse rápida, conseguiria entrar.

Joguei a tampa de uma lixeira na direção oposta, e quando os caminhantes seguiram o barulho, me esgueirei até o prédio.

Subi as escadas de incêndio, mas a porta lá em cima estava trancada. Merda.

Peguei minha faca e matei os dois que estavam ali embaixo quando desci, e quando fui para o terceiro, algo me derrubou e eu cai com um deles em cima de mim.

Tentei alcançar minha faca que caiu longe de mim, enquanto com a outra mão eu empurrava a cabeça do caminhante.

De repente uma faca foi enfiada na cabeça do caminhante e ele foi tirado de cima de mim. Olhei e vi Bellamy.

Pulei de pé no mesmo segundo, e ele já estava matando o outro caminhante que estava perto. Eu fiz o mesmo, e nós eliminamos os que estavam ali perto da entrada do prédio.

Entramos pela porta de trás e Bellamy empurrou um móvel contra a porta. Nós percorremos o lugar, e não havia mais nenhum caminhante.

— Você está bem? — Bellamy perguntou, e eu acenei que sim. Joguei minha mochila perto de uma das janelas, e fiquei olhando para fora.

— O que você tá fazendo aqui? — perguntei, ainda de costas. Meu coração ainda estava na boca. Ele me seguiu. Eu estava enferrujada, porque não percebi.

— O que você estava tentando fazer? Se matar? — ele perguntou, sua voz fazendo um eco no lugar vazio.

— Eu não pedi a sua ajuda — disse de forma contida.

— Você ia embora — ele disse, ignorando o que eu falei. Senti o pesar nas palavras dele.

— Eu fui embora — corrigi. Não era porque ele estava aqui que eu voltaria. Senti meus olhos queimando das lágrimas que eu estava segurando.

Eu tinha perdido totalmente o controle sobre mim. Nada que eu fazia parecia minimizar o buraco dentro de mim, parecia se rasgar mais ainda.

— Porquê? — ele perguntou, e eu fechei os olhos, sentindo as lágrimas quentes descerem pela minha pele.

Bellamy não tinha obrigação, mas ele estava aqui, querendo entender. De todos, ele era o único que não me julgava, que mesmo depois de sofrer por minha causa, não me odiava.

— Eu não suporto mais, Bellamy — um soluço rompeu minha boca enquanto eu tentava secar inutilmente as lágrimas — Eu não consigo.

Ouvi suas botas raspando no chão, mas ele parou de repente.

— Você não pode desistir. Você é mais forte que isso.

— Eu não sou — eu não virei para ele, não queria encará-lo — Eu não vou voltar... eu não aguento olhar aquelas pessoas cochichando quando eu passo, me olhando com pena.

— Foda-se essas pessoas. Ninguém sabe nada sobre você — senti seu corpo atrás de mim, e ele me virou gentilmente para ele — Fala comigo. Me deixa te ajudar.

Eu não consegui segurar e desabei, chorando e tremendo. Bellamy me abraçou e eu afundei a cabeça no seu peito. Todo choro e dor eu soltei ali, enquanto ele me segurava forte.

— Dói tanto... eu não consigo esquecer. Não consigo. Eu só queria que parasse de doer — minha engasgava em cada palavra.

— Coloque tudo para fora. Não tem nada errado em você se sentir assim. Ninguém é forte sempre — suas mãos esfregavam minhas costas, e isso me fazia querer chorar mais ainda.

Bellamy ficou ali comigo, por um longo tempo, sem falar mais nada. Eu precisava disso, alguém para compartilhar a dor em vez de engarrafa-la. Quando levantei a cabeça, ele passou a mão no meu rosto, limpando as lágrimas.

— Volte comigo. Você não está sozinha nisso. Nunca esteve.

Eu concordei, desviando o olhar. Eu me sentia uma criança de dez anos que fugiu de casa e foi pega. Eu sentei no chão, e Bellamy sentou ao meu lado.

— Como você me encontrou? — perguntei, com a voz rouca de chorar.

— Eu vi você pulando o muro quando estava voltando para Alexandria. Foi um belo salto — ele sorriu, deixando o clima mais leve — Vim te seguindo desde lá.

— A gente pode... passar a noite aqui? — perguntei. Eu não queria voltar hoje, e já estava escuro.

— Claro. Mas se eu pegar uma pneumonia nesse chão frio, você vai cuidar de mim — ele brincou, arrancando um pequeno sorriso meu.

Eu não sabia porque ele era assim comigo, porque era tão compreensivo. Ele poderia gostar de mim, mas Jax também gostava, e não chegava nem perto de como Bellamy era comigo. Eu não comparava uma pessoa com a outra, mas Jax estava estranho desde que eu voltei. Talvez seja coisa da minha cabeça por eu estar estranha com todos. Dependia de mim resolver e tentar recomeçar ou pelo menos não sofrer tanto. Eu faria isso.

— Quando voltamos a Alexandria, Jax veio na minha direção, com a cara mais desesperada que eu já o vi.

— Onde você estava? Eu ia atrás de você agora — ele passou a mão nos cabelos.

— Nós saímos para procurar algumas coisas na cidade vizinha — Bellamy se adiantou e respondeu.

— Rick não falou que queria um grupo de buscas — ele disse rudemente para Bellamy. Eu já tinha notado que eles não se gostavam desde se conheceram.

— Nós fomos por conta própria — Bellamy o encarava com as sobrancelhas arqueadas, e eu já estava ficando nervosa.

— Não foi nada demais. Eu que quis ir, na verdade — falei para Jax. Não queria ter que explicar que surtei, quase fui mordida e que Bellamy me salvou.

— Acharam alguma coisa? — Jax perguntou, deixando claro que não tinha acreditado no que nós falamos.

— Eu achei o que estava procurando — Bellamy respondeu em tom de ironia, e Jax pressionou os lábios numa linha fina.

— Rick quer todos na igreja em dez minutos — Jax falou antes de dar as costas, deixando eu e Bellamy.

Nós começamos a caminhar para a igreja, não daria tempo de trocar de roupa ou tomar banho. Essa era a primeira reunião que Rick promoveu desde... desde o fim da guerra.

Ficamos alguns minutos ouvindo Rick falando sobre como as coisas iam ser daqui para frente. Tudo ia ser como antes, cada comunidade por si. Mas não devia ser cada um por si, agora que estávamos todos juntos no mesmo barco.

— Isso é tudo? — perguntei quando Rick terminou de falar.

Eu sabia que as pessoas estavam esperando eu surtar a qualquer momento, eu via isso nítido pela forma como elas estão com os olhos arregalados só por uma frase minha.

Mas a verdade era que eu tinha que ir em frente. Alexandria tinha que crescer, e eu queria fazer parte disso, não ser uma expectadora, deixando as pessoas fazerem por mim.

— A guerra acabou, e agora? Cada comunidade vai trabalhar por si, assim como era antes? — perguntei, me levantando.

— Basicamente sim. Vamos continuar com as trocas, cada um fazendo o que fazia antes — Rick concordou.

— Nós estamos todos juntos agora, sem nenhum inimigo — meu peito ardeu quando eu disse isso — Não há nada que não possamos fazer. Nós temos pessoas inteligentes aqui, que podem fazer muito mais do que ficar de guarda — olhei para Eugene, que acenou com a cabeça.

— Você tem algo para sugerir? — Rick pergunta, mais tranquilo agora, vendo que eu não estava tentando arrumar uma confusão.

- Acho que para começo de tudo, devíamos estabelecer uma zona segura entre as comunidades para viajar.

— E como isso funcionaria? — Rick questionou. Ele parecia interessado.

— Pessoas de todas as comunidades podiam manter as rotas seguras, eliminando os caminhantes. Poderia ser uma espécie de rodízio, sendo trocados os grupos a cada semana.

— É uma boa ideia — Michonne concorda — Seria difícil fazer o comércio com um bando bloqueando o caminho.

— Podíamos começar a cultivar aqui em Alexandria também. Nós vamos encontrar mais pessoas, e as comunidades irão se expandir, vamos precisar de mais casas.

Comecei a expor todas as minhas ideias, coisas que eu pensei quando ainda estava no Santuário, e queria dizer para Negan. Ele não estava mais aqui para fazer, mas eu estava e queria ajudar.

Ficamos conversando por mais uma hora. Aos poucos as pessoas foram perdendo a timidez e expondo suas ideias também. Rick era o líder, mas Alexandria era de todos, então todos devíamos participar. Era assim que se recomeçava.

Quando cheguei em casa, tirei a foto do bolso e a coloquei em baixo do travesseiro. Tomei um banho e quando sai, fiquei olhando pela janela. Tudo o que aconteceu desde a noite que sai do Santuário passou pela minha cabeça.

Olhei para o caderno e a caneta que ainda estavam ali, no criado mudo ao lado da cama e o que Harlan me disse me veio à cabeça. E se realmente funcionar? E se escrever servisse como uma válvula de escape para toda essa dor?

Sentei na cama e tirei a foto de baixo do travesseiro. Parecia que a qualquer momento Negan ia aparecer, xingado e sorrindo aquele sorriso cínico que eu tanto amava. Acariciei com o indicador seu rosto na foto. Essa era a única lembrança que eu tinha dele, a única coisa palpável que restou.

Peguei o caderno e a caneta. Fiquei olhando a folha em branco por longos minutos, até ter coragem de arriscar a primeira palavra.

Uma pessoa me disse que seria bom escrever para lidar com a sua perda. Era para eu ter escrito isso a um longo tempo, mas algo me manteve longe - provavelmente o pensamento de que escrever isso não importa, porque você não pode ler. Isso é verdade, não importa o que outros dizem para me consolar. Mas estou escrevendo para me sentir melhor, porque sou egoísta.

Eu sinto tanto sua falta, Negan. Eu ainda me culpo pelo que aconteceu naquele dia, porque é culpa minha, sempre será.

Eu não consigo parar de pensar que eu nunca mais vou te ver. Porque você não me deixou ir com você? Eu queria ter sido como das outras vezes e batido o pé, te impedido de ir sem mim, assim você estaria comigo agora.

Se eu soubesse que aquela vez seria a última vez, eu queria ter te dado um abraço mais apertado. Eu daria tudo pra sentir o seu toque novamente, pra poder te dar um último beijo, escutar pela última vez um eu te amo.

Dói tanto. Você dizia que eu era forte e corajosa, mas eu não sou, eu não consigo sem você comigo. Mas eu vou me esforçar.

Uma vez você me disse que as pessoas não gostavam de você, lembra? Que elas só te respeitavam. Mas eu não me importava, porque elas não viam como você era, como você podia ser. Mas eu vi cada lado seu.

Vi seu lado mais sombrio e seu lado mais bonito. Sempre vou me lembrar desses dois lados. Isso que é o amor. Você conhecer todos os lados de uma pessoa, e quando ela partir, você querer lembrar só do que foi bom, mas não esquecer o ruim.

Todos os dias eu acordo esperando sentir você ao meu lado, ou pelo menos ter um sonho que fosse com você, mas nem isso eu consigo. Eu tenho medo de um dia esquecer sua voz, esquecer como foi bom ser amada por você. Eu não quero te esquecer nunca.

Haverá sempre um caos na minha vida, haverá sempre um vazio. Vou levá-lo comigo para o resto da minha vida. Eu nunca vou esquecer e eu nunca vou desistir, era isso que você ia querer se estivesse aqui. E eu vou seguir por você. Por nós.

Eu te amo.

As lágrimas manchavam as palavras recém escritas. Sequei o rosto, encostando a cabeça na cabeceira e fechando os olhos.

Eu não me sentia com menos dor, mas nenhum remédio cura na primeira dose. Talvez isso me ajude. Talvez eu tenha que lembrar dele para seguir em frente, em vez de tentar esquecer. Eu não quero esquecer a memória mais bonita que eu tenho.

A única pessoa que tomou meu corpo, minha alma e meu coração com a mesma intensidade. Sempre vou lembrar dele quando olhar no espelho pela manhã, ou quando olhar para um bebê. Ele queria tanto que nós fossemos uma família, mas não tivemos tempo.

Nós nos encontramos de um jeito errado, começamos de um jeito errado, e quando acertamos tudo, acabou. Sem um porquê, sem uma despedida digna. Negan sempre vai estar aqui, dentro de mim, e um dia, talvez, eu lembre dele e apenas sorria.

Dias depois

— Você é boa em dar ordens — Bellamy diz quando para ao meu lado. Eu tinha acabado de terminar de falar com um grupo de pessoas.

Rick me pediu para cuidar da distribuição de pessoas que iam limpar as estradas que ligavam uma comunidade a outra. Eu finalmente estava voltando a me sentir útil, e quanto mais coisas eu fazia, menos tempo eu tinha para pensar em Negan — isso até eu chegar em casa e desabar.

Por incrível que pareça, muitas pessoas queriam ajudar nisso.

Rick sugeriu que eu fosse até o Reino falar com Ezequiel. Ele me alertou que lá era diferente daqui, que ele era um rei e que tinha uma tigresa. Eu achei que ele estava brincando, mas era verdade. Eu iria até lá enquanto Rick iria a Hilltop falar com Maggie e Jax ao Santuário, falar com Dwight.

Eu iria lá fazer o mesmo que estava fazendo aqui, recrutar pessoas e explicar como ia funcionar o sistema de limpeza de rotas, e esperava que as pessoas de lá quisessem ajudar também.

— Eu não imaginava que tantas pessoas iam querer ajudar. É um trabalho meio solitário, vão ficar longe de pessoas vivas por semanas — eu disse, enquanto caminhávamos para fora da igreja.

Uma tontura me atingiu em cheio, e eu me apoiei em Bellamy para não cair.

— Você está bem? — Bellamy perguntou, me segurando e me sentando em um dos bancos.

— Sim, só fiquei um pouco tonta — eu apertei os olhos, focando no rosto de Bellamy.

Eu estava assim a uns dois dias, tonta e enjoada. Eu não estava me alimentando direito, e estava correndo para lá e para cá, tentando me ocupar o máximo que podia.

— Tem certeza? — ele perguntou preocupado.

— Sim. Não estou comendo direito — me apressei e fiquei em pé — Estou bem. A gente se vê amanhã.

— Tem certeza? — ele perguntou, com as sobrancelhas franzidas.

— Sim. Boa noite — acenei antes de ir.

Entrei em casa e fechei os olhos, com medo de pensar no que estava pensando. Minha menstruação estava atrasada.

Minha menstruação sempre atrasava, ainda mais agora, que eu parei de tomar o anticoncepcional. Sempre acontecia assim antes, levava algum tempo até regular de novo. Mas a combinação enjôo+tontura+menstruação atrasada me fez gelar o sangue. Eu poderia estar grávida.

— Oi, Emma. Posso te ajudar? — Denise perguntou, simpática como sempre, quando entrei na enfermaria. Dei uma olhada ao redor, e não tinha ninguém além de nós.

— Sim, eu... — eu travei. Ela continuou me olhando, esperando eu complementar. Engoli em seco, limpando a garganta — Eu preciso de um teste de gravidez.

Se ela tentou esconder o espanto em seu rosto, ela falhou. Denise se agachou e começou a mexer dentro de um armário. Quando levantou, ela me entregou a caixinha fina e comprida.

— Se precisar de alguma outra coisa — ela ofereceu, docemente.

— Você tem algo para enjoo? — perguntei e ela concordou, mexendo rapidamente em um dos armários e me entregou uma caixa de remédios.

— Pode tomar sem preocupação. Não vai ter problemas se você estiver... — ela deu um pequeno sorriso afetuoso.

— Obrigado — enfiei o remédio e o teste no bolso do casaco antes de sair de lá.

Encostei na pia do banheiro, colocando o teste em cima, enterrando as mãos nos cabelos. Se eu estivesse... isso mudaria tudo. O medo de estar grávida competia com o medo de não estar. Depois de minutos que pareciam horas, finalmente o resultado.

Meu estômago encolheu. Duas linhas rosas. Positivo. Dois simples riscos faziam tudo mudar. Sentei na beira da banheira, enquanto segurava o teste com as mãos trêmulas, tentando assimila-lo.

Grávida, eu estava grávida.

Eu ainda estava processando isso em minha mente, junto a um turbilhão de dúvidas. Mas apesar do medo, naquele momento algo dentro de mim me fazia sentir uma felicidade estranha e gigante, como se a minha vida fosse voltar a ser completa novamente, como se a metade levada por Negan pudesse finalmente ser preenchida.

Eu seguiria em frente, eu viveria. Por mim, mas principalmente por aquela criança que crescia dentro do meu ventre. Esse bebê seria toda a minha vida a partir de agora.

Eu devo engravidado na última vez que ficamos juntos — um dia antes de Negan partir.

Por um segundo achei que não teria forças pra permanecer de pé, mas algo dentro de mim pareceu se acender. Eu não estaria sozinha. A partir de agora eu teria meu filho.

Nosso filho. Sorri em meio às lágrimas, lembrando da certeza que Negan tinha que seria um menino. Não importava se fosse menina ou menino, era nosso bebê.

Deixei o teste em cima da pia e fui para a cama. Tirei a nossa foto de baixo do travesseiro. Não pude segurar a enxurrada de lágrimas, mas dessa vez não era só de dor. Eu estava feliz. Peguei o caderno embaixo da cama.

Eu estou escrevendo hoje porque eu tenho uma novidade pra te contar. Eu estou grávida, do nosso bebê. Ele ainda tá pequenininho aqui dentro.

Você lembra que você disse que no momento certo ele viria? Você estava certo. Se não fosse por esse bebê eu não sei se aguentaria tudo isso dessa forma, Negan.

Mas eu não sei se ele veio na hora certa, dói saber que tem um pedaço seu dentro de mim e você não está aqui comigo. Você queria tanto isso, uma família. Nossa família. Desculpe não poder ter dado essa alegria para você a tempo. Mas sei que de algum lugar, você está olhando para mim, para nós, com um sorriso e o coração cheio de amor. Obrigado por esse presente.

Eu te amo tanto.

Respirei fundo, sentindo um sentimento novo, um misto de medo e felicidade. Negan não estava aqui para ver, mas ele deixou um pedacinho do nosso amor dentro de mim.

Depois do fim, sempre há um recomeço. Olhei para baixo e acariciei minha barriga.

— Agora somos nós dois, meu amor.

FIM


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