Capítulo 45

Acordei sem ninguém ao meu lado. Havia um papel em cima do travesseiro de Negan. Peguei o papel com uma mão e esfreguei os olhos, piscando até focar e ler o que estava escrito.

Fui cuidar da nossa segurança. É isso que as pessoas que se amam fazem. Fique bem.

Negan

Ele já tinha partido para Alexandria.

Alexandria

Dwight tinha conseguido avisar para Rick que Negan iria até Alexandria na manhã seguinte. Foi um pouco tarde e Rick não conseguiu trazer todos os reforços antes dos Salvadores chegarem.

Mesmo em guerra, Rick não arriscou em trazer todas as pessoas capazes para um lugar só, Negan poderia atacar em qualquer comunidade e pegá-los sem defesa.

Apesar que Negan soubesse que as outras comunidades também estavam contra ele, ele iria atacar Alexandria primeiro. Se fosse em outro momento, ele atacaria todas no mesmo momento, mas dada às baixas, ele teve que fazer uma por vez.

— Foi uma granada, eu vi passando por cima do muro — Jax diz depois da primeira explosão.

Eles chegaram.

— Tinha alguém dentro da casa? — Michonne pergunta. Ela havia mandado Carl se proteger com Judith.

— Acho que não. Era uma das casas vagas — Jax responde, olhando a correria das pessoas enquanto mais bombas explodem.

— Avise todos para ficar longe dos muros! — Rick grita e olha por cima do muro, vendo Negan em cima do capo de um caminhão, com Lucille nos ombros.

— Rick, saia daí, venha aqui fora. Não se mije de medo ainda, para sua sorte, eu só vim conversar. Espero que isso — Negan levanta uma granada - Tenha chamado sua atenção. Há outras de onde veio essa.

Rick sai de perto do muro, indo em direção ao portão.

— Você não vem mesmo, caralho? — Negan pergunta, incrédulo. Ele sabia que Rick era um cara esperto e queria evitar mortes. Assim como Emma, ele pensou — Talvez isso chame sua atenção.

Ele faz sinal para tirarem Sasha de dentro do caminhão. Ela está com um saco na cabeça e as mãos amarradas para trás. Rick para em frente ao portão, olhando preocupado para o homem que segura Sasha.

Jax e Daryl estão um em cada lado do portão, cobrindo Rick, assim como Rosita e Tara. Eles estavam com poucas armas, já que essas fora divididas entre todas as comunidades. Eles eram fortes unidos, separados eram apenas uma comunidade enfrentando os Salvadores.

— Te trouxe um presente. Podia muito bem ter metido uma bala na cabeça dela. Quer ela de volta, Rick? — Negan pergunta.

— Solta ela. Vou abrir o portão. Assim que ela estiver dentro, aí vamos conversar — Rick avisa. Como ele imaginou, Negan usou Sasha para ter uma vantagem.

— Deixe ela ir — Negan diz ao homem, que empurra Sasha que começa a andar.

— Venha, Sasha. Siga minha voz — Rick diz, não obtendo nenhuma resposta — Você amordaçou ela? — pergunta a Negan.

— Ela falou demais — Negan ri — Aceite a oferta e pare de reclamar, Rick.

Rick abre o portão e Sasha entra. Jax passa os braços pelos ombros de Sasha.

— Você está segura agora. Deixa eu tirar isso de você — Jax começa a remover o saco que cobre a cabeça de Sasha. Quando ele tira, vê Sasha já com os olhos leitosos de caminhante. Ela abre a boca para mordê-lo, mas Jax consegue chutá-la antes.

Negan havia matado Sasha quando ela contou sobre Emma. Parte por raiva, mas ele já tinha tido a ideia de transformá-la em caminhante antes. Era uma boa jogada, ela morderia alguém e causaria um caos, assim distraindo e dando a chance de ele atacar.

Ataquem! - eles ouvem Negan gritar e bombas começarem a ser lançadas — Você fez isso com si mesmo, Rick. Eu estava querendo trabalhar com você. Tudo que você tinha que fazer era seguir a porra das regras.

Jax e Tara correm, avisando a todos para saírem das casas, enquanto mais bombas explodem dentro dos muros.

— Cerquem o lugar. Acuem eles até que não haja para onde ir. Vamos derrubar esse lugar — Negan comanda para Dwight.

Dwight teve que obedecer e foi com alguns homens para a parte de trás da comunidade.

— Faça como Negan disse. Se espalhem e joguem as granadas por cima do muro.

Quando uma granada foi jogada, Jax a segurou e conseguiu jogá-la para fora, explodindo alguns homens de Negan que estavam com Dwight.

— Que se foda — Dwight disse antes de sacar a arma e atirar nos homens que restaram. Jax viu por cima do muro Dwight matando eles.

— Pensei que era um dos nossos que estava aqui fora — Jax diz olhando por cima do muro.

Eles não confiavam em Dwight, mas ali estava a prova que ele realmente estava do lado deles

— Eu estou do lado de vocês, já esqueceu? — Dwight perguntou — Vou mandar essas granadas aqui para você, e dizer ao Negan que fomos atacados. Certifique-se que Rick saiba que eu estou fazendo minha parte. Quero que vocês confiem em mim.

Negan jogou mais algumas granadas, quando de repente começaram a ser alvejados por tiros.

— Da onde tá vindo essa merda? Eles estão atirando como? — Negan gritou para seus homens. Alguns foram atingidos antes de se esconder atrás do caminhão.

Era impossível ser as pessoas de Alexandria, já que estava um inferno total lá dentro, todos tentando se salvar em vez de contra atacar.

— Está vindo de outro lugar! — um de seus homens grita — Está vindo daqui de fora!

— Vamos embora — Negan grita e faz sinal para todos entrarem nos caminhões.

— Continuem atirando — Jesus ordena, vendo os Salvadores se retirando — Vamos fazer eles correrem daqui.

Depois do ataque aos Salvadores, Gregory disse que Hilltop estava fora da guerra. Ele não queria ir contra Negan por medo.

Maggie o ignorou e mandou todas as pessoas de Hilltop que queriam lutar de verdade para Alexandria. Alguma coisa dizia para ela que Negan atacaria lá primeiro.

Ela ficou com Glenn em Hilltop, e com alguns outros que estavam apoiando Rick para ter certeza que teria defesa caso fossem atacados. Ela mandou Paul comandar as pessoas que foram ajudar Rick. Graças a Deus eles chegaram a tempo.

Negan partiu com seus homens, mas logo um dos caminhões parou. Negan, Dwight e o homem que dirigia saltaram para fora do veículo, enquanto os demais também pararam atrás.

— Vazou combustível — o homem fala quando abre o capô — Deve ter sido atingido na nossa retirada.

— Retirada? — Negan ri, olhando para o homem que se encolhe — Não teve porra de retirada nenhuma. Olha lá, no caralho do horizonte — Negan aponta com Lucille para a fumaça escura que sobe pelo céu — Tá vendo aquela fumaça? Essa fumaça quer dizer que nós vencemos, porra.

》》

Dois dias.

Dois malditos dias até que os caminhões entraram no Santuário. A primeira pessoa que eu vi foi Jasper. Ele estava sujo de sangue, mas estava bem.

— Como foi? — perguntei e vi Negan descendo de um dos caminhões. Eu não consegui ir até ele, mesmo estando feliz por ele não estar ferido. Jasper fez aquela cara de você sabe como foi.

— Onde está Bellamy? — eu perguntei. Jasper baixou a cabeça e passou a mão no cabelo. Meu coração veio a boca — Ele... ele morreu?

Jasper não disse nada, mas seu olhar focou em algo atrás de mim. Foi quando eu vi dois caras arrastando Bellamy para dentro da fábrica. Realmente arrastando, por que ele mal ficava de pé.

— Porque estão arrastando ele? O que aconteceu? — dizer que estava desesperada era ser gentil. Eu estava aterrorizada.

— Negan descobriu que foi ele quem ajudou no ataque — Jasper diz.

— Não foi ele — eu sussurrei. Meu Deus, como a culpa foi cair sobre Bellamy?

— Sei que ele é seu amigo, mas ele traiu. Não se meta nisso, Emma. Negan vai fazer o que tem que ser feito, ele...

O ar começa a escapar, o desespero toma conta do meu corpo e eu já não ouço mais Jasper. Eu saio correndo, entrando na fábrica. Não vejo Bellamy nem os homens que estavam o segurando. Quando vejo, já estou dentro do quarto.

Como isso aconteceu? De onde surgiu a mentira que Bellamy era o traidor? Ele não era, eu era. Eu não poderia deixar Bellamy morrer por minha causa. Eu tinha que dizer a verdade.

Dou um pulo quando a porta se abre e Negan entra. Não digo nada, as palavras estão todas presas na minha garganta. Como vou contar que fiz isso?

Ele deixa o bastão encostado na parede ao lado da porta e vem até mim sorrindo. Eu aproveito para desfrutar disso, por que depois que eu dizer a verdade, eu não vou ver mais esse sorriso que tanto me fez feliz.

— Porra, nem um oi, senti sua falta? — Negan ri, segura meu rosto e me beija — Senti sua falta, meu anjo — ele diz antes de me abraçar. Meus braços estão grudados ao lado do meu corpo, e eu não consigo retribuir o abraço.

— O que você vai fazer com Bellamy? — eu perguntei. Negan ficou rígido na mesma hora, e se afastou, me olhando.

— Foi ele quem facilitou as coisas para Rick. Foi ele quem me traiu — disse contido, não esperando que esse seria o assunto depois de dois dias fora.

Eu cruzei os braços na frente do corpo quando senti minhas mãos tremendo. Eu me sentia a beira do precipício com os dedos escorregando.

— Você tem provas? 

— Hoje dois homens meus contaram viram ele saindo do meu escritório quando eu não estava. Ele gosta de você. As coisas se encaixaram. Ele tinha um motivo para me derrubar. Eu não preciso de mais nada — Negan disse enquanto tirava a jaqueta e jogava em cima da cama.

— Não foi ele. Foi eu — eu sussurro, parecia que eu ia me partir em mil pedaços. Negan me olhou irritado.

— Para de tentar defender aquele merda — Negan me repreendeu e saiu andando para a sala.

Não sei como, mas fui atrás dele. Sentia meu corpo pesar uma tonelada. Negan não ia acreditar, não depois da última vez que estivemos juntos. Ele confiava em mim, ele me pediu desculpas por desconfiar de mim. Ele estava achando que era para defender Bellamy que eu estava falando isso.

— Foi eu. Eu roubei as informações do seu escritório. Sei que você tem um posto que cada 3 km ao redor do Santuário e depois a cada 8 km — minha voz tremeu quando eu disse isso. Essa informação só quem tinha os papéis saberia.

Negan parou onde estava, sem se virar. Eu correria se meus pés não estivessem cimentados no chão. Sequei a lágrima que escorreu pelo meu rosto com as costas de minha mão.

— Você... Como... porque? — havia dor e incredulidade em cada palavra. Naquele momento eu senti pela primeira vez, de verdade o peso da decisão que eu tinha tomado.

— Eu queria ajudar você. Eu sei que você é bom, Negan. As coisas podem ser diferentes... — eu me calei quando ele se virou para mim.

— Fique quieta — seu rosto estava vermelho. Ele rangeu os dentes e me encarou com os olhos ardendo em fúria.

— Negan, por favor, eu...

— Cala essa boca! — ele me agarrou pelos cotovelos e me sacudiu. Eu não conseguia olhar seu rosto mais. Eu não conseguia acreditar que era eu quem estava o fazendo sofrer assim.

Negan balbuciou algo que eu não consegui entender e eu me permiti derramar as lágrimas.

— Depois de tudo... Depois de tudo que eu fiz tudo pra você... você plantou uma faca nas minhas costas.

Havia mágoa na voz dele. Respirei, trêmula, sentindo o ambiente pesar cada vez mais. Ele me soltou, fazendo eu tropeçar e começou a quebrar tudo que estava ao seu alcance.

— Como você foi capaz? — ele arfava com o peito ofegante — Maldita traidora do caralho.

— Eu só queria te ajudar...

— Não faz isso, porra. Não abre essa maldita boca ou eu vou acabar com você.

A estante com vidros veio ao chão, se estilhaçando no chão de madeira com um estrondo. Lutando contra a voz que dizia para eu fugir dali caso tivesse algum juízo, eu fui até ele.

— Vou matar todos eles. E você vai ver eu esmagar a cabeça deles um por um.

Tento me aproximar dele, mas ele desvia. Ele andava de um lado para o outro, descontando a raiva quebrando o que viesse pela frente.

— Eu confiei em você...

— Olha pra mim — eu o segurei pela camisa — Não faz isso. Ainda tem tempo de você conversar com eles. Resolver isso sem ninguém mais morrer. Só depende de você.

Uma coisa eu aprendi nesse tempo que eu estou com ele é que não dá para combater fogo com fogo. Quando ele ficava louco, eu tinha que me controlar, porque se eu surtasse de também, acabaríamos colocando fogo nesse lugar.

Ele arrancou as minhas mãos dele, me empurrando contra a parede. Minhas costas bateram com força, fazendo eu arquear o corpo para frente com um grito. Negan segurou meus pulsos contra a parede.

— Sua puta — ele rosnou contra meu rosto — Você acha que isso vai acontecer? Acha que eu vou ter misericórdia? — ele gritou, totalmente descontrolado.

 — Eu não sou uma puta — eu disse entredentes, os olhos embaçados de chorar. Nunca pensei que fosse ouvir isso de Negan.

 — Você estava certa quando disse que era diferente das outras. Elas estariam chupando meu pau em vez de tramar pelas minhas costas. 

Eu nunca senti medo de Negan — eu sentia medo do que ele podia fazer as outras pessoas, mas sobre mim, eu nunca temi ele, nem com toda essa pose. Mas agora, a raiva, o jeito que ele me segura...

Era como se nunca tivesse havido algo. Como se nós nunca tivéssemos dividido um quarto, uma cama, um sentimento. Eu já não sabia o que fazer. Sentir tudo o que sentia por ele, nesse momento, não fazia sentido algum.

— Negan — eu disse em voz baixa, quando senti o aperto aumentar — Me larga, vamos conversar.

Ele riu, a risada mais fria que alguém poderia dar.

Conversar? Você quer conversar, caralho? Você pensou em conversar quando roubou informações e deu a eles? — seu aperto nos meus pulsos aumentou.

— Você tá me machucando — eu tentei ficar parada, sem me mexer, para ele perceber que eu não faria nada se ele me soltasse. Mas ele não ligou.

Uma mão apertou meu maxilar e eu tentei afasta-lo, mas só o fez apertar mais forte. Meu instinto de proteção falou mais alto e eu levantei meu joelho, o acertando entre as pernas. Ele me soltou, ao mesmo tempo que xingou.

Eu corri em direção a porta, mas fui derrubada antes de conseguir chegar perto. Quando cai, raspei a testa na quina da mesa de centro, e senti a pele rasgar na mesma hora.

Negan já estava em cima de mim, segurando meus pulsos ao lado da cabeça. Seus lábios tremiam e seus olhos estavam vermelhos.

— Lembra quando você me derrubou assim na floresta? Foi a primeira vez que você disse que nunca me machucaria.

Senti meu peito rasgando. Todas as lembranças de nós dois rodavam na minha cabeça enquanto eu via ele me olhar com tanta raiva. Eu amava esse homem de uma forma que eu não sabia explicar, e agora estava tudo destruído.

— Cala a boca — eu percebi pelo seu tom de voz que a lembrança o havia acertado em cheio. As lágrimas desciam pelo meu rosto como uma cachoeira.

De todos os momentos que eu pensei que era o fim da linha, esse foi o que eu menos lutei. Se eu tivesse dito não quando Paul apareceu, eu teria traído todos de Alexandria, mas a partir do momento que eu concordei, eu trai ele. Trai o que nós tínhamos.

Eu não queria ficar aqui e ver quem eu gosto morrer — porque pessoas iam morrer de ambos os lados — ou ver o homem que eu amo morrer. Tremendo, ele encostou a testa contra a minha.

— Por que você fez isso? Eu não fui bom pra você? — a voz dele era um sussurro, e eu senti a dor dele em cada palavra.

— Por que eu amo você. Espero que um dia você entenda. Espero que não seja tarde — ele ouviu o que eu disse com os olhos fechados, parecendo que se feria com as palavras.

— Você me traiu — ele proferiu depois de alguns segundos — Você podia ter me feito feliz, mas escolheu me destruir - Negan se levantou comigo, puxando firme no meu braço para mais perto de seu corpo — Você quer ser uma vadia traidora, vou te tratar como uma.

Seu aperto nunca afrouxou enquanto ele saia do quarto e descia as escadas comigo, deixando as pessoas pelo caminho com os olhos arregalados. Eu achei que ele me levaria para o pátio e me mataria na frente de todos, mas quando chegamos lá em baixo ele virou e abriu uma porta, descendo mais escadas.

Eu não sabia que esse lugar existia aqui, era muito mais escuro que qualquer outro lugar da fábrica, pareciam pequenos depósitos. Celas.

Ele ia me deixar aqui? Ele ia me deixar aqui para morrer? Até decidir quando ia me matar?

— Não faz isso — eu tentei de novo, tirar seu duro aperto do meu braço — Negan, você está me machucando.

— Eu disse para se calar — ele gritou enquanto me empurrava contra a parede — Você não fala. Você escuta — seu rosto a centímetros do meu era angustiante.

Ele de repente virou de costas, esfregando o rosto. Eu pensei em sair correndo, mas não iria longe. Passei a mão ao lado da minha testa quando senti algo escorrer, voltando com a mão suja de sangue.

— Você me traiu. Mentiu pra mim, porra. Depois de tudo o que nos tivemos... Porque? — ele perguntou, e eu ouvi sua voz tremer, antes de ele ser virar de novo, duro e frio — Foda-se. Você sabia...

O medo estava escrachado dentro de mim. Ouvi o rangido da porta se abrir. Em um instante, a mão de Negan voltou a ser enrolada em meu braço e ele me empurrou para dentro da cela. Eu tentei lutar com ele, mas seu aperto foi firme em meu braço.

Ele me jogou na cela, tão duro que eu tropecei e tive que me apoiar na parede para não dar de cara no chão.

Me virei ligeiramente para olhar para trás para ele, e ele ficou ali, aquela expressão sem emoção em seu rosto, antes que ele batesse a porta com o eco ensurdecedor naquele corredor. Levou alguns minutos antes de eu ouvir seus passos pesados marchar pelo corredor até desaparecer.

Rastejei até o fundo da cela e sentei com as costas contra a parede. A dor no corte da minha cabeça não era nada em comparação com o que eu tinha dentro de mim.

As lágrimas rastejaram até os cantos de meus olhos e deslizaram por minhas bochechas. Puxei meus joelhos para o peito, silenciosamente chorando. Foi um dia inteiro, se não mais, até que a porta se abrisse revelando Dwight com um sanduíche na mão junto com uma garrafa de água.

— Aqui — ele disse enquanto andava na cela entregando-me. Eu olhei para o sanduíche e meus olhos estalaram para Dwight quando ele deixou escapar uma suspiro.

— É um sanduíche de presunto, não está envenenado. Aqui está a água.

— Preciso ir no banheiro — eu pedi, sem pegar a comida. Ele me olhou desconfiado — Eu não vou fazer nada. Eu preciso.

Ele só acenou com a cabeça, saindo e dando espaço para eu passar. Dwight apontou para a segunda porta a direita. Era só um pequeno banheiro, com uma pequena janela que não passaria nem minha cabeça, muito menos o resto do meu corpo.

Quando sai, Dwight estava encostado ao lado da porta da cela. Ele me entregou a comida e a água.

— Eu não sei o que você fez, ninguém sabe, mas faça o que ele manda. Logo isso vai acabar — Dwight diz e com isso saiu da cela fechando a porta, me deixando no escuro mais uma vez.

Eu não comi. Nada descia pela minha garganta. Não sentia fome nem dor. Não dor física, só o tormento de ver o rosto triste e decepcionado de Negan cada vez que eu fechava os olhos. Eu o amava e o machuquei. Ele me amava e me trancou aqui como um bicho.

No outro momento em que a porta abriu, Simon apareceu. Ele parou na porta, me olhando com um sorriso. Se eu tivesse algo no estômago, teria vomitado em cima dele. Ele estava com a mesma comida que Dwight trouxe e uma garrafa de água.

— Não sei o que você fez para estar aqui, mas foi uma merda grande. Negan nunca colocou uma mulher aqui. Pelo menos não uma que ele come.

— Vai se foder — eu cuspi. Eu nunca odiei alguém, mas eu queria que Simon morresse.

Não que Negan precisasse de alguém para ser assim como ele é, mas Simon o incitava mais ainda. Eu tinha nojo só de olhar para ele.

— Sorte sua que ele deu ordens para não te machucar. Eu adoraria — ele deixou a comida e a garrafa no chão antes de sair.

Na próxima vez que a porta abriu, o que parecia ser dias mais tarde, Negan apareceu na porta. Seu casaco de couro estava longe de ser visto e ele não tinha Lucille. Meu peito ardeu quando finalmente olhei seu rosto. Seu cabelo estava desgrenhado, e parecia que ele não tinha dormido há muito tempo.

— Você não comeu — ele disse com uma voz sem vida, enquanto olhava a comida no chão.

Eu só tinha tomado a água e mordido uma ou duas vezes o pão quando me traziam comida. Ele me trancou como um animal e esperava que eu tivesse apetite?

Ele andou na cela e estendeu a mão. Em vez de tomá-la, eu a empurrei da minha frente. Seus olhos estavam olhando o corte na minha cabeça.

Pelo olhar em seus olhos, eu vi o arrependimento imediato. Ele se agachou e tentou segurar meu rosto para ver o dano. Quando ele chegou, eu me retrai tentando o melhor para chegar tão longe dele quanto possível. Ele levantou, saiu da cela e parou.

— Vamos. Você precisa ver o médico.

Eu não esperava sair daqui. Eu pensei que nunca mais o veria. Na verdade eu estava uma bagunça e não sabia o que pensar. Mas eu queria sair daqui.

Eu me empurrei para cima do chão frio, me segurando na parede quando minhas pernas vacilaram. Quando passei por ele na porta, fiquei tonta e ele me segurou.

— Não toque em mim — sussurrei com a voz carregada pelos dias chorando, enquanto passava por ele.

Eu imagine que ele fosse agarrar meu braço e gritar comigo de novo, mas quando olhei para trás, ele ainda estava parado. Ele ficou ali, com a cabeça baixa, a mão esfregando o pescoço, enquanto eu me afastava dele.

Quando entrei no corredor de Carson, dei de cara com Lauren. A confusão estava clara em seu rosto enquanto ela me olhava.

— Emma, você está bem? — ela perguntou, olhando minha cabeça. Eu sabia que tinha sangue no meu rosto, eu sentia ele seco e ressecado na minha pele.

— Sim — eu disse. Minha cara devia estar uma merda assim como eu me sentia, o olhar de pena de Lauren denunciou isso.

Eu não queria que ela soubesse o que realmente aconteceu, Negan por algum motivo não contou para ninguém que tinha sido eu que o traiu, mas todos sabiam que eu tinha ficado presa — todos viram quando ele me arrastou escada a baixo.

— Jasper está bem? — perguntei. Ele era minha preocupação, já que Negan deve ter liberado Bellamy assim que eu confessei.

— Sim. Ele ficou louco, mas eu consegui controlá-lo — ela disse e eu concordei. Ainda bem que ele tem Lauren.

— Emma, o que aconteceu? Por que você estava lá em baixo? Porque está sangrando?

Eu estava tão exausta, tão fraca e esgotada que não conseguia falar.

— Avise a Jasper que estou bem — disse antes de dar as costas a ela. 

Devia ser noite, porque só vi Lauren, mais ninguém pelos corredores. Carson parou o que estava fazendo quando eu entrei na enfermaria e ele me viu.

— O que aconteceu com sua cabeça? — ele perguntou preocupado.

— Tropecei — eu estava prestes a chorar. Eu queria chorar. A tristeza estava pesada em meu peito.

— Tudo bem, vamos limpá-la — Carson disse docemente, tocou meu braço e gentilmente me puxou para a maca, me sentando.

Ele se afastou por um segundo antes de voltar com uma tigela de água e uma toalha. Ele gentilmente começou a limpar o sangue seco da minha cabeça.

— O que realmente aconteceu com você? — ele perguntou, como se já não soubesse. Minha garganta ficou seca lembrando de Negan quando eu contei. Eu nunca ia esquecer aqueles olhos decepcionados, como nunca ia esquecer o tempo que passei naquela cela escura.

— Foi Negan? Ele machucou você? — Carson perguntou me dando uma garrafa de água que estava por perto.

Eu tentei falar, mas não podia, então apenas neguei com a cabeça. Ele não havia feito isso — não diretamente. Eu me machuquei enquanto tentava fugir. Fugir dele. Carson suspirou enquanto continuava a limpar meu machucado. Eu estava dormente demais para sentir o que ele estava fazendo.

Uma batida na porta chamou a atenção e Carson se aproximou para abrir a porta, revelando Simon. Ele entrou na sala, apoiou-se contra a parede com os braços cruzados e ficou me observando.

Em vez de olhá-lo, eu foquei inexpressivamente na parede até que Carson me deu um tapinha no ombro, sinalizando que ele tinha terminado.

— Aqui — o ouvi dizer enquanto me entregava duas pequenas pílulas azuis. Eu as joguei em minha boca e engoli com a água da garrafa.

— Você precisa limpar o machucado para não infeccionar. Já ficou tempo sem cuidados.

— Tudo bem — eu disse quando me afastava e comecei a sair da sala, quando Simon falou.

— Negan quer ver você.

Ignorei e continuei pelo corredor.

— Negan quer te ver — disse Simon mais alto enquanto me seguia pelo corredor.

— Não me importa — disse simplesmente enquanto continuava a andar. Eu iria para o quarto de Jasper, talvez ele me deixasse ficar e dormisse no de Lauren. Não tinha porque eu voltar lá para cima, não tinha mais nada lá.

Eu estava prestes a subir as escadas quando senti a mão dele em meu ombro. Eu rapidamente puxei meu corpo para longe dele.

— Eu não dou a mínima. Eu não sou um maldito cão que rasteja para ele quando ele me chama.

— Você tem toda essa boca mesmo depois da sua estadia lá em baixo? — ele riu — Você deve ser boa no que faz para o Negan não ter cortado sua língua. Eu já teria arrancado.

— Você não é ele, nem nunca vai ser. É só uma cópia ruim...

Parei de falar quando comecei a ficar tonta e minha visão embaçou. O rosto de Simon foi a última coisa que eu vi antes de tudo fica escuro.

Hey pessoinhas, não sei de quem eu fiquei com mais pena nesse capítulo 😭

Beijitos e até o proximoooo


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