Capítulo 42

1 mês depois

O último mês foi ótimo. As coisas estavam mais tranquilas no Santuário. As pessoas pareciam mais... leves, por mais maluco que pareça ser.

Parte disso era porque Negan também estava mais leve. A cada dia nos estávamos mais próximos e eu me sentia feliz, como nunca estive desde que o mundo virou merda.

Ele não gostava de conversar sobre os negócios que ele tinha, parte disso porque ele sabia que era errado quando forma como ele lidava com as coisas. Mas eu sentia que a cada dia, a cada conversa, eu estava amolecendo ele um pouco.

As únicas notícias que eu tinha sobre Alexandria eram as que Dwight me falava, e ninguém de lá foi morto ou machucado, mas não significava que não estavam sofrendo. Eu rezava toda noite para que eu tivesse mais tempo de mudar a cabeça de Negan antes deles atacarem.

Me viro, observando Negan roncar suavemente, mais como um ursinho de pelúcia do que um grande lobo mal.

Eu era a única a vê-lo assim. Eu o amava. Não havia dúvida sobre isso. Ele era o homem que eu queria, a pessoa que eu escolhi lutar para salva-lo dele mesmo. Passei a ponta do dedo em sua testa, tocando os suaves cabelos escuros.

Ele podia ser o temível e imprevisível líder, mas eu o conhecia melhor do que qualquer um. Eu tinha visto seus pensamentos mais profundos e seus instintos mais gentis. Se eu tivesse ido embora daqui, fugido como um dia quis, eu nunca teria encontrado o homem que ele é por dentro. Nunca teria a chance de ajudá-lo a mudar.

Eu já estava pronta para trabalhar, mas Negan estava derrubado na cama ainda. Eu sorri, o vendo dormir, lembrando do dia que ele me contou que a anos não dormia. Ontem ele disse que sonhou comigo, na praia, com um biquíni azul. Fodidamente sexy, toda molhada saindo do mar. Ri, lembrando de suas palavras.

Quando peguei na maçaneta, ouvi um resmungo de preguiça e uma voz rouca me chamar pausadamente.

— Onde você pensa que vai, senhorita?

Me virei e encarei Negan que se encontrava sentado na cama, me fitando com os olhos semicerrados.

— Trabalhar? — perguntei como se a coisa fosse óbvia.

— Não — ele resmungou baixo, me fazendo rir — Vem aqui — ele abriu os braços.

Caminhei até a cama ele me puxou para seu colo, seu corpo quentinho de sono se cola ao meu e ele me beija.

— Não gosto de acordar sem você na cama — resmungou com o rosto enterrado nos meus cabelos.

Meus lábios se curvaram num sorriso e eu ri baixinho. Para quem não dormia com ninguém na cama, isso era um grande passo.

— Não é engraçado — ele aperta minha coxa — Vou fazer você lembrar de como isso não é legal — seu tom grave me arrepia, por mais que eu saiba que ele está brincando. Coloquei meus braços em volta do seu pescoço.

— Desculpe, senhor — eu digo, tentando não rir.

— Posso me acostumar com você me chamando assim — sua língua traça seu lábio inferior, ao mesmo tempo que mil pensamentos impuros rolam na sua cabeça, mesmo sem ele dizer. Eu rio, negando com a cabeça.

— Isso não vai acontecer.

— Você precisa de outros vestidos. Alguma coisa com mais cor — Negan diz, brincando com a barra do vestido que estou usando.

Foi Lauren quem me deu esse. Era um vestido largo, já meio velho, um pouco batido, mas hoje não se pode escolher roupa. E eu só usava quando trabalhava dentro do Santuário — até porque trabalhar de vestido na horta seria complicado.

— Virou crítico de moda a essa altura do campeonato? — eu ergo uma sobrancelha, e olho para minha roupa — Eu gosto desse.

— Não disse que não gosto, eu gosto. São práticos — sua mão entra debaixo do meu vestido, afastando minhas pernas.

— Meu Deus, Negan. Você nunca desliga? — dei um tapa no seu braço, em vão.

— Por que eu desligaria quando você gosta tanto?

— Não temos tempo pra isso — eu o repreendo, tirando sua mão — Você já está atrasado também.

— Culpa sua que não me deixou dormir ontem à noite — um sorriso brilhante ilumina seu rosto — Me deixou sem fôlego.

— Esqueci que você não tem mais idade para isso — eu provoquei — Deus me livre você morrer do coração trepando comigo.

Negan dá um apertão nas minhas costelas, me fazendo gargalhar e pular da cama para longe dele.

— Levanta. Vou fazer algo para comer — eu aviso antes de sair do quarto, ouvindo ele resmungar.

Minutos depois Negan atravessa a sala, vindo até a cozinha. A imagem do seu corpo esguio e músculos firmes, só de cueca caminhando para mim sem desviar o olhar me sacode. As tatuagens em seu corpo, a forma como seu sorriso emoldurado pela barba cai tão bem em seu rosto. Eu nunca cansaria de olhá-lo.

— Você sabe que tem ovo, farinha e todas essas merdas no armário, né?

Negan fala quando eu empurro um pote com frutas picadas e aveia na sua frente.

Pelo que ele me disse, algumas das frutas vinham de outra comunidade que não era Hilltop. Eu não sabia da onde tinha surgido aveia, mas estava muito feliz em comer algo saudável.

— Come logo — eu reviro os olhos, enquanto ele se encosta na ilha da cozinha, mexendo na comida com a colher.

— Quando você disse vou fazer algo para comer, eu meio que esperava panquecas com geleia — ele ri, levando uma colherada a boca.

— Isso — eu aponto com a minha colher para seu pote — É muito mais saudável. E vai te ajudar a perder essa barriguinha aí.

Ele franziu as sobrancelhas com meu comentário e eu ri. Ele não tinha nenhuma barriga para perder. Dou a última colherada no restante da comida vendo Negan vir até meu lado com o pote nas mãos.

— Não foi isso que você disse ontem à noite. Quais eram as palavras, mesmo? Me fod... — eu coloquei a mão na sua boca, o impedindo de terminar. Ele riu, me vendo com vergonha.

— Estou falando sério — esfrego as mãos em seus braços — Você tem que comer direito.

Eu suspiro, lembrando que quando era só eu e Jasper, nós nunca encontramos nada assim para comer. Acho que o único motivo para eu não ter ficado doente, era que desde criança eu sempre tive uma alimentação boa.

— É muito sexy você cuidando de mim, sabia? — a voz grossa de Negan me tirou dos meus pensamentos.

— Temos que cuidar dos mais velhos — eu aperto os lábios, segurando a risada. A idade dele era sempre um ponto divertido para se cutucar.

— Você está com uma boca muito esperta hoje, garotinha — disse, me olhando de cima como tivesse tentando me intimidar. Eu sorri para ele.

— Você não me intimida, Negan. Nem um pouco — a minha declaração o fez levantar as sobrancelhas.

— Ah, é mesmo? — ele colocou as mãos em ambos os lados do mármore atrás de mim e ficou com o rosto colado ao meu.

Eu coloquei minhas mãos em seu peito e empurrei para fora da minha frente. Ele olhou para mim surpreendido enquanto eu caminhava para a porta. Ele poderia ter facilmente me segurado, mas ele gostava dessa coisa de mandar.

— Volte aqui agora. Eu quero terminar o que começamos mais cedo — ele apontou para o chão na frente dele.

Ele estava me tratando como uma criança, então eu iria agir como uma. Além disso, eu gostava de provocá-lo.

— Não, nós não começamos nada mais cedo então não há nada para terminar. Além disso, tenho coisas para fazer.

Ele riu de minhas palavras e começou a se mover em direção a mim.

— O que há de tão importante que você tem que fazer hoje? — ele zombou de mim e revirou os olhos.

— Não sei... Talvez eu tenha que caminhar pelos corredores todo grande e mau. Tenha que ser o patrão de todos e andar por aí com o meu pau grande.

Ele jogou a cabeça para trás e riu.

— Você sabe que eu tenho um pau grande e que está prestes a preencher essa sua boca.

— Tudo o que vai na minha boca é mastigado pelos meus dentes — arqueei as sobrancelhas.

— Não se atreva a abrir a porta — ele olhou para mim tentando ser sério. Eu torci a maçaneta olhando para ele — Não faça isso, eu quero dizer — ele deu um passo em minha direção.

— Peça — eu disse, e seu rosto se torceu em uma careta, mas que logo virou um sorriso.

— Me dê um beijo antes de ir, mulher — Negan estendeu a mão, um convite que eu nunca recusaria.

Eu o abraço pela cintura e me beija, calmo e doce. Negan se separa de mim e acaricia meu rosto, sorrindo.

— Tenha um bom dia, querida.

Sinto o afeto em cada palavra. Nós estávamos nos encarando tão próximos, que eu sentia sua respiração fazendo carinho em meu rosto.

— Seja bom — eu pedi, encostando o rosto em seu peito. Eu senti a vibração da sua risada enquanto seus braços me apertavam.

— Você sabe que eu sempre sou bom pra caralho.

Um barulho de explosão ecoou, fazendo as janelas tremerem. Alguns barulhos de disparos começaram a ricochetear. Que diabos...?

Nos olhamos assustados. Negan correu para o quarto no mesmo instante e começou a se vestir. Quando fui para as janelas olhar, sua mão me puxou de volta. Mesmo sem ver, eu já sabia o que era, só não queria acreditar.

— Fique longe das janelas — ele avisou, os tiros continuando a serem disparados.

Alguém bateu na porta, e eu fui abrir, vendo Dwight respirando pesado, como se tivesse corrido uma maratona. Dei espaço para ele entrar e Negan apareceu ao meu lado, com Lucille nas mãos.

— É o Rick. Ele está lá fora e quer falar com você — Dwight fala entre respirações.

A certeza sugou o ar dos meus pulmões. Eu não esperava que fosse acontecer tão rápido. Meu coração batia como o de um coelho quando é pego em uma armadilha.

— Rick? Essa explosão foi o Rick? — Negan começa a andar apressado pelos corredores e Dwight confirma.

— Eles estão em grande número. E estão armados. Explosivos, armas...

Como estão com armas? — Negan gritou, balançando a cabeça em seguida quando Dwight ia explicar — Foda-se. Como os outros postos não viram eles chegando? — Negan o cortou.

— Não sei. Eles não respondem no rádio — Dwight diz, me olhando estranho, e eu sinto minhas pernas tremerem.

Eles devem ter atacado primeiro os postos, depois vieram para cá, assim Negan não teria reforço.

— Porra, porra! Filhos da puta do caralho — Negan pragueja, passando a mão nos cabelos.

Quando chegamos no térreo da fábrica, todos os olhares eram de espanto. Parte esperando o que Negan faria, parte não acreditando que alguém teve coragem de atacar. Simon vem ao encontro de Negan.

— Podemos atirar, mas não vamos conseguir derrubar todos — Simon diz — Ele quer falar com você. Podemos ganhar tempo para descobrir o que aconteceu com os outros postos.

— Faça isso. Vou arrancar as tripas dele e dar para o filho comer.

Lauren aparece ao meu lado, seu rosto preocupado assim como o meu. Mas o meu tem um misto de culpa. Jasper está mais afastado, ouvindo atentamente o que um homem fala para ele.

— Fique aqui — Negan fala olhando para mim. Ele olha para Lauren e ela concorda, como se fosse me manter ali.

Negan faz sinal e a porta da fábrica se abre e ele caminha para fora com Simon e Dwight.

— Onde você vai? — ela segura meu braço quando eu vou na direção da porta.

— Vou lá perto — digo me soltando dela — Eu preciso.

Ela concorda relutante, me acompanhando para onde há uma brecha que podemos ver sem sermos vistas.

— Ninguém pode dizer que você não é corajoso pra caralho, Rick — Negan diz assim que pisa do lado de fora.

Viemos dar a chance para você se render — ouvi a voz marcante de Rick responder.

— Render? — Negan ri — Para mim isso soa mais como um pedido de joelhos para eu fazer uma chacina.

Não queremos mais mortes. Basta deixar todas as comunidades em paz e não haverá guerra.

Pela abertura, eu vi Rick, mais à frente da linha de pessoas atrás dele. Eram muitas pessoas. E todos estavam armados.

Eles ainda estavam do lado de fora dos portões. Havia um ônibus e carros. Em pouco tempo eles tinham reunido pessoas e armas o suficiente para uma guerra.

— Você declarou guerra a partir do momento que colocou os pés aqui — a voz de Negan era docemente ameaçadora.

Negan falou mais alguma coisa quando um carro arrebentou o portão do Santuário, e tiros começaram a ser disparados de ambos os lados.

Fechem as portas! — alguém gritou, mas mesmo assim os tiros continuavam. Negan e as pessoas que estavam fora entraram.

— Subam no telhado, atirem pelas janelas. Matem o máximo desses filhos da puta — Negan gritou e seus homens começaram a subir as escadas.

Pessoas feridas começaram a entrar pelas portas laterais. Parecia que tudo era um sonho em câmera lenta. Um pesadelo.

— Veja se quem está naquele carro ainda está vivo. Quero o desgraçado — Negan diz para Dwight. Provavelmente a pessoa já foi devorada ou morta, com a quantidade de caminhantes e tiros lá fora. Só rezava para não ser alguém de Alexandria.

— Quero um grupo indo para fora agora ver o que aconteceu nos outros postos — Negan olha para Simon.

— Não temos como sair, estamos cercados por caminhantes. Os tiros atraíram uma horda gigante para cá — ele responde.

— Foda-se. Dê um jeito, caralho. Quero um grupo saindo em meia hora— Simon concorda e faz sinal para algumas pessoas o seguirem.

O olho de Negan bate em mim, e ele para na minha frente.

— Quero que suba e fique lá. Leve Lauren se quiser — ele diz, as marcas de expressão do seu rosto destacadas pela carranca.

— Não. Vou ajudar Carson. Tem muitas pessoas feridas — passo a mão na testa, limpando o suor frio. Eu achei que estaria preparada, mas não tem como se preparar para isso.

Eu precisava ajudar, pelo menos isso me faria sentir menos culpada. Nem todas as pessoas daqui eram ruins. Eu desviei o olhar dele e virei, mas Negan me puxou de volta.

— Não se preocupe. Eu vou resolver essa merda — ele diz com o rosto próximo ao meu.

A raiva emanava do seu corpo, e quando ele disse resolver, não seria resolver, e sim mais mortes, mais guerra. Ele não ia se entregar fácil e sem luta. Assenti e subi as escadas. Agora os corredores cinzas pareciam mais escuros ainda.

Algumas pessoas estavam paradas na frente da sala do Carson. Alguns com cortes, sangue nas roupas, amparando uma as outras.

Elas abriram espaço para mim quando viram quem eu era. Eu detestava isso, elas terem medo até de me olhar porque eu estava com Negan. Agora isso começou a pesar mais do que antes.

— Precisa de alguma coisa? — Carson perguntou quando eu entrei, solicito como sempre.

Ele deixou a pessoa de quem estava cuidando e veio até mim. Eu sabia que ele era prestativo assim comigo só por causa de Negan.

— Quero ajudar — disse e ele arregalou os olhos — Só me diga o que fazer.

— A maioria das pessoas foi atingida por estilhaços ou está com cortes — ele fala enquanto mexe no armário e entrega um par de luvas.

— Você sutura, eu limpo e faço o curativo — sugeri e Carson concordou. O lugar estava apertado e sufocante pela quantidade de pessoas.

— Vou ficar na sala da frente — disse para ele enquanto vestia as luvas — Você manda as pessoas para lá quando terminar com elas — aviso. A sala da frente era um pequeno deposito de remédios e coisas da enfermaria. Carson concorda.

Depois de ajudar as pessoas — a maioria homens de Negan que não falaram nenhuma palavra para mim a não ser obrigado, diferente do que seria se eu não estivesse com ele — eu pensei que havia acabado, quando vi Bellamy entrar com a camisa ensanguentada e meu coração veio na boca.

— Bellamy — disse indo até ele.

— Foi só de raspão — ele disse quando minhas mãos levantaram sua camisa.

Havia um rasgo na horizontal na sua costela, mas já havia sido suturado, e sangue escorrido por sua barriga.

— Só preciso de um curativo para cobrir — ele diz, abaixando sua camisa.

— Deixa eu limpar — peço, molhando a gaze.

Bellamy tira a camisa e se encosta na mesa. Se eu já estava mal, vendo ele machucado piorou mil vezes. E se o tiro tivesse acertado? E se Bellamy estivesse morto?

Levo a gaze com as mãos tremendo, quando Bellamy as segura.

— Fique calma — ele dá um leve aperto.

— Me desculpe. Isso é tudo culpa minha — sussurrei, olhando nossas mãos. Eu não poderia perder Bellamy, não queria perder ninguém.

— Nada disso é culpa sua. Essas coisas já aconteciam antes de você estar aqui.

— Se você tivesse se machucado... se machucado mais, eu não sei o que faria — eu aperto suas mãos.

— Pessoas vão morrer. É assim que as coisas são — Bellamy disse com a voz mais contida. Eu odiava isso, essa frase foi a que eu mais ouvi desde estou aqui.

— Para de falar isso — soltei nossas mãos — É assim que são, mas não é assim que tem que ser.

— Só estou falando isso porque... — ele parou, limpando a garganta — Quero que esteja preparada para perder pessoas.

Continuei limpando seu machucado, vendo seus músculos se contraindo de dor. Queria não ter ouvido o que Bellamy disse. Perder pessoas. O peso dessas palavras amassava meu peito.

Peguei uma um algodão e comecei a limpar os sangue do seu rosto. Sua bochecha estava marcada de arranhões machucados.

Eu tentei não olhar seus olhos, sabendo que o olhando assim tão perto, meu coração não aguentaria e eu desabaria. Mas foi em vão, porque quando olhei, seus olhos escuros estavam fisgados no meu rosto.

Bellamy era tão bom que eu não sabia como ele conseguia conviver com as pessoas daqui. Tirei seu cabelo da testa e passei o algodão ali, tirando o sangue e a sujeira da sua pele, quando vejo Negan parado na porta olhando.

Sua expressão irritada fez o ar pesar instantaneamente. Seu olhar demorou alguns momentos em mim, e eu realmente desejava poder ler sua mente. Ele entra, calmo, mas pisando pesado, com Lucille no ombro. Eu me afasto e Bellamy veste sua camisa.

— Acho que Bellamy consegue lidar com alguns arranhões, não é? — sua expressão é dura, fazendo os pêlos da minha nuca ficarem de pé — Mas eu entendo. No seu lugar, eu não reclamaria de estar sendo cuidado por uma mulher linda assim.

Negan deu um sorriso zombeteiro e Bellamy não disse nada, estava tão desconfortável quanto eu. Peguei algumas coisas para fazer curativos e dei a ele.

— Troque o curativo quando sujar — disse e Bellamy assentiu, saindo em seguida. Negan empurra a porta com o bastão, a fechando com um estrondo.

Eu não disse uma palavra, diferente do que faria se fosse em outro momento. Já havia merda demais acontecendo para adicionar mais uma. Comecei a recolher as gazes e algodões sujos de sangue.

— Para quem não era mais amiga dele, vocês estavam próximo demais — Negan comentou enquanto eu jogava os materiais usados no lixo.

— Ele levou um tiro. Poderia estar morto agora — engoli os xingamentos que queria dirigir a ele e decidi usar a lógica — Bellamy é importante para o funcionamento do Santuário.

Seus olhos se apertaram e ele colocou o bastão em cima da mesa.

- Só o ajudou por isso? Porque ele é importante para o Santuário?— sua entonação pareceu mais calma.

— Sim — menti e fiquei de costas, guardando o que não usei de volta nas caixas — E você, não devia estar dando ordens em vez de estar aqui?

Eu não alimentava esse lado ciumento dele, sempre preferi desviar o foco.

— Me falaram que tinha uma enfermeira incrível aqui e decidi conferir — eu ouvia o sorriso em sua voz, e se fosse em outro momento, seria encantador — Talvez ela consiga dar um jeito nisso — Negan abre sua jaqueta e uma marca vermelha está manchando sua camisa branca.

— O que aconteceu? — larguei o que tinha nas mãos e levantei sua camisa. Havia um corte acima do umbigo, fundo o suficiente para ter sangrado bastante, mas não precisaria de pontos por que já não sangrava mais.

— Os ânimos se exaltaram um pouco lá em baixo — ele sorriu, me desarmando por um momento — Já foi resolvido.

Negan sob aquele exterior encantador, era brutal. Ele podia sorrir e estar arrastando uma faca ao longo da garganta de alguém ao mesmo tempo, era algo natural para ele. Se alguém fez isso com ele, provavelmente já não estava mais respirando.

Cuidei do seu machucado em silêncio, até Negan se manifestar.

— Conseguimos fechar o portão. Estamos abrindo as portas e matando os caminhantes que estão por perto. Aos poucos vamos eliminar esses fodidos.

Não sabia dizer se achava isso uma boa ou má notícia. Ficar presa aqui dentro era tenebroso, mas ao mesmo tempo ninguém estava morrendo pelas mãos dos Salvadores.

— Quem estava no carro? — perguntei, mesmo sabendo que a resposta poderia me quebrar. Poderia ser Jax, Daryl... Carl era louco o suficiente para fazer isso.

— Não sei. Foi devorado — concordei, engolindo o nó na minha garganta. Negan segurou meu queixo — Eu prometo a você. Você está segura. Nada de ruim vai te acontecer.

Eu queria dizer que ele não devia revidar, devia os deixar em paz. Mas queria ter essa conversa quando estivéssemos em casa por que eu sabia que nós íamos brigar feio, mas não havia tempo para esperar a melhor hora. Seria agora.

— Negan, você não pode... — fui interrompida quando a porta se abriu e um dos Salvadores disse que precisava de Negan para decidir algo lá em baixo.

— Preciso ir, querida — Negan fala vestindo a jaqueta e pegando Lucille - Logo essa merda vai estar resolvida.

Eu sabia que de alguma forma seria resolvida, e esperava que fosse do jeito certo.

*

Era noite quando todos foram chamados para o pátio. As pessoas — que não morreram — que Negan tinha mandado para conferir os outros postos ao redor do Santuário estavam de volta.

Tudo estava um caos porque todos estavam na parte de dentro, já que havia caminhantes do lado de fora.

Eu não sabia quando iam conseguir matar todos os andantes, mas pelo que vi pela janela, seria um trabalho grande. O portão tinha sido fechado, o que era bom pois impedia mais dessas coisas entrarem, mas não diminuía que horda que já estava dentro.

Os grunhidos eram perturbadores, e eu podia ouvir as unhas dos caminhantes arranhando as portas de ferro como unhas na lousa. Não tinha chance de eles entrarem aqui, mas eles estarem que uma parede de distância era assustador.

— Sofremos um ataque hoje — Negan começou, andando entre as pessoas que ouviam em absoluto silêncio — Rick junto com as outras comunidades resolveram se rebelar contra nós, atacando nossos postos e depois atacando aqui.

— Mataram nossas pessoas, roubaram as armas que tinham nos postos, e nós deixaram presos aqui dentro por uma horda de caminhantes. Nós vamos limpar o Santuário dessas coisas e vamos atrás deles, fazer esses fodidos pagar pelo que fizeram. Agora é guerra. Vamos tomar o que é nosso.

As pessoas aplaudiram, motivadas pelo discurso. Eu não sabia o que pensar. Como elas tinham essa confiança cega em Negan? Como apoiavam um massacre?

Do mesmo jeito que Alexandria apoiava Rick.

Todos estavam o apoiando porque perderam pessoas hoje, todos queriam vingança.

— Agora — Negan bateu com a ponta do bastão em cima de uma mesa de ferro, fazendo todos pularem de susto e se calarem — Eu vou dar a oportunidade do filho da puta traidor do caralho que deu informações sobre a localização dos outros postos se entregar.

Meu sangue congelou nas veias, e parecia que meus pés não estavam no chão. As pessoas permaneceram em silêncio, apenas olhando umas para as outras. Olhei para Bellamy, que estava com os olhos grudados em mim, e eu senti minha garganta apertar mais.

Negan sorriu, um sorriso frio e calculista, como se admirasse o que estava pensando.

— A chance foi dada. Quando eu descobrir quem foi, Lucille irá trabalhar duro. Não vai ser o ferro quente, como seria se tivesse confessado e pedisse desculpa para mim.

Dwight parou ao meu lado, olhando para Negan.

— Dwight, deixe o ferro quente, algo me diz que vamos descobrir o traidor logo, logo.

Ele estava esquentando o ferro para mim.

*

Eu estava encostando no janela, olhando os caminhantes lá em baixo, pensando no que aconteceu hoje.

Tudo desmoronou. Negan estava procurando o traidor, não sabendo que era eu. Eu tinha planejado contar isso quando tudo tivesse acabado, todos escrevessem bem, mas não era assim que iria funcionar. Sequei as lágrimas de pressa quando Negan entrou no quarto, com o rosto sujo de sangue.

— O que aconteceu? — eu perguntei, indo atrás dele quando entrou no banheiro. Negan apoiou as mãos na pia, olhando para a torneira. Molhei uma toalha no chuveiro e comecei a limpar seu rosto.

— Você chorou? — ele perguntou enquanto eu o limpava. Eu fiquei parada por um momento antes de balançar a cabeça.

— Não importa — disse começando a limpar o queixo onde havia um respingo de sangue.

Fiquei surpresa quando ele de repente pegou meu pulso, impedindo que eu continuasse. Eu olhei olhou para ele, atordoada. Negan não afastou os olhos dos meus, a mesma centelha de tristeza brilhando em seus olhos.

— Por que você chorou? — Negan perguntou em uma voz neutra.

— Você devia estar se preocupando com o que realmente importa em vez de disso.

Esse foi o momento. Era agora, eu precisava entrar no assunto. Mas, novamente, ele não se incomodou em responder à minha pergunta.

— Disse que não precisa se preocupar. Nada vai acontecer com você.

— Não estou preocupada comigo, estou preocupada com o que você vai fazer com eles.

Eu aparentemente toquei o ponto sensível porque ele reagiu às minhas palavras, seus olhos se alargaram por meio segundo. Meu coração afundou com dor quando vi.

— Você sabe o que vai acontecer.

— É sobre isso que quero falar — eu disse, firme. Ele não disse nada, apenas soltou meu pulso e foi para sair do banheiro. Eu não o deixei ir, ficando em seu caminho.

— Eu quero que você os deixe em paz, que não revide o ataque.

— Apenas feche a boca, querida, você não tem ideia de que diabos você está falando agora — a raiva de Negan estava começando a aparecer. Ele me tirou do caminho, e foi para o quarto.

— Posso não saber do que estou falando, mas pelo menos eu não tento agir como se eu soubesse o que estou fazendo, quando na realidade eu estou fazendo uma merda atrás da outra — eu levantei a voz e percebi imediatamente que tinha atravessado a linha. Eu queria que fosse uma conversa pacifica.

Sem hesitar, ele inclinou a cabeça como se estivesse tentando descobrir com quem eu estava falando. Lentamente, fazendo o seu caminho em direção a mim, ele riu ameaçadoramente e fez com que eu desse um passo para trás a cada passo que ele deu em direção a mim, até que tinha atingido a parede.

— Você está dizendo que eu não sei como fazer a porra do meu trabalho? Que eu não sei como lidar com essa merda? — Negan falou com dentes cerrados, sua voz era baixa.

Ele parou quando estava praticamente pressionando seu corpo contra o meu. Uma pessoa sã estaria assustada, inferno, uma pessoa normal provavelmente nem sequer estaria nessa situação para começar. Essa era minha última chance para fazê-lo desistir.

— Eu posso ajudar. Se você quiser que eu fale com Rick...

Ele riu, se afastou e colocou as mãos no ar e, em seguida, sobre a sua cabeça.

— Puta que pariu. Você tem que estar brincando comigo.

— Isso vai ficar pior, vai ficar maior. As pessoas vão morrer, suas pessoas vão morrer. Podemos viver em paz, basta você...

— Eu sei o que você vai dizer — ele me cortou — A resposta é não. Eu não estou indo retrair meus negócios com qualquer uma das comunidades do entorno. Esta é a forma como as coisas são. Passei muito tempo e esforço para essas comunidades se submeterem a mim e eu não vou dar para trás agora. Esta é a forma como sobrevivemos aqui. Não há nada a mudar.

Olhei para ele e olhou para mim. Eu abri minha boca para falar e ele levantou a mão para me impedir.

— Não. Essa conversa acabou. Vai ser melhor não falar disso novamente — ele me deu um último olhar antes de voltar para o banheiro. Eu fui atrás.

— O que há de errado com você? Porque você faz isso? Basta os deixar em paz — eu implorei com a voz quebrando.

— Você não me diz o que fazer — ele gritou, olhando por cima do ombro para mim com um olhar irritado — Que diabos você espera que eu faça? Eles vieram aqui e atacam os meus homens. Meu povo está se machucando. Eu sou o líder aqui, que tipo de líder eu seria se deixasse isso impune?

— Seria uma pessoa melhor, um...

Fui interrompida pelo movimento dele jogando as mãos para cima no ar para me silenciar.

— Eu gosto de você, Emma. Mas se você acha que tem algum tipo de influência sobre mim, você está errada. Você está comigo. Nada vai mudar isso. Eu sei que soa duro, mas essa é a maneira como as coisas são. Esta é a nossa forma de sobrevivência por aqui. Você já deveria ter se acostumado.

— Nunca vou me acostumar. O que você faz é errado, meu Deus, você não vê?

— Eu lhes dei um sistema de negociação...

— Um sistema que ou eles trabalham para você, ou você os mata — eu interrompi — Isso não é uma escolha.

Ele inclinou a cabeça para o lado, claramente não apreciando a interrupção. Ele se aproximou de mim, deixando apenas alguns centímetros entre nós dois. Ele se erguia sobre mim, mas eu não ia agir intimidada por ele. Negan era muito bom em entrar no espaço pessoal das pessoas e as fazer se sentir desconfortáveis.

— Você sabia quem eu era. Você sabia o que eu fazia. Você sabe tudo isso e ainda assim está comigo — Negan deu um passo à frente fazendo eu me encurralar contra a porta do banheiro — Eu só acho que você está desesperada assim porque uma vez que você está comigo, você não pode mais palestrar sobre o que é bom ou ruim. Você seria uma hipócrita porque se você está comigo, isso significa que você gosta de quem eu sou, em todos os sentidos e isso fodidamente aterroriza sua bundinha bonita.

Houve um silêncio entre nós dois enquanto ele assentia com a cabeça e lambia seu lábio inferior antes de mordê-lo com os dentes.

— Diga-me que eu estou errado — ele rosnou, estendendo as mãos, batendo-as contra a porta. O movimento fez meu corpo tremer. Um suspiro caiu de meus lábios quando ele se pressionou mais contra mim e sua respiração ficou pesada.

— Você não pode dizer essa merda porque você sabe que eu estou certo. Você me quis desde o primeiro momento em que veio para cá. Mas você estava com muito medo de admitir. Assim como eu quis você desde que coloquei os olhos nesse lindo rosto.

Eu sabia o que ele estava tentando fazer, estava querendo me distrair. Mas ele não conseguiria, porque minha mente não estava focada nisso.

— Eu achei que conseguiria mudar você — disse, mais para mim mesmo do que para ele. As palavras o atingiram, mas ele disfarçou.

— Querida, se suas intenções eram para me mudar, não é exatamente o que vai acontecer. Eu sou o mesmo homem.

Assim que ele disse isso senti uma dor atacar meu coração. Eu tentei manter minhas emoções sob controle. Tinha que ser feito. Mesmo eu o amando, não podia continuar com ele enquanto ele massacrava as pessoas. Meu plano de muda-lo não deu certo, como ele mesmo disse, então não havia mais nada para eu fazer.

— Não podemos ficar mais juntos — não desviei os olhos dele quando disse isso. Queria que ele visse o que estava fazendo, estava destruindo o que nós tínhamos por poder — Vou embora assim que as portas forem liberadas.

— Vai é o cacete. Você vai ficar aqui, comigo — ele se afastou, e eu aproveitei a brecha para sair de perto dele. Quando cheguei a porta do quarto e a abri, sua mão se espalmou a fechando.

— Você não vai a lugar nenhum — ele me segurou pelo braço. Toda aquela arrogância havia ido embora, e ele estava quebrado pelo que ouviu, assim como eu estava depois de dizer que iria deixá-lo. Mas era isso.

— Tira as mãos de mim — eu puxei o braço de seu aperto, e ele trancou a porta do quarto com a chave, a guardando no jeans.

— Abre a porta — pedi tentando manter a calma.

— Você vai ficar aqui. Você é minha mulher. Eu não vou deixar você ir embora — ele passou a mão na barba, seus olhos correndo por todo meu rosto.

Eu queria abraça-lo, dizer que o amava e que ficaria com ele, mas eu não podia ignorar o que ele faz. Eu já fiz isso por tempo demais, mas porque eu achei que conseguiria o ajudar. Era melhor que ele ficasse com raiva e me deixasse ir.

— Eu não sou seu animal de estimação muito menos sua escrava. Abre essa merda agora — eu gritei, o empurrando.

— Para com isso — ele me prensou contra a porta. Suas mãos seguraram meu rosto e ele me beijou.

Segurei as lágrimas. Nossas brigas sempre terminavam assim, ele me segurando, me beijando e nós nos acertando, como um casal feliz. Mas não seria o caso dessa. Eu não o beijei de volta. Ele encostou a testa na minha.

— Não me ignora assim. Não faz isso agora. Eu vou ficar louco — seus olhos estavam fechados firmemente, e ele parecia lutar para falar — Você tem que estar comigo.

— Você tem que resolver isso, Negan — eu o abracei. Seu corpo estava tenso, rígido como nunca.

— Você acha que eu não sei? — ele abriu os olhos, me fitando com aqueles olhos escuros tempestuosos. Eu estava quebrada em mil pedaços.

— Não. Você tem que fazer do jeito certo. Deixe-os em paz. Eu vou estar aqui com você. Por favor.

Negan se afastou, passando as mãos no rosto.

— Eu não posso fazer isso. Simplesmente não posso. Isso é loucura. Eu não posso retrair o negócio. Eu poderia perder tudo — ele começou a ficar louco. Eu olhei para ele confusa.

— Eu não entendo, porque você não pode?

— Isso pode me fazer parecer fraco. Temos de permanecer no poder. Isso não vai funcionar. Como você acha que o meu povo vai se sentir sobre isso? Isso poderia me fazer perder o controle de tudo.

— Você já perdeu. Mas pode evitar de se transformar em uma guerra.

Ele olhou para mim e eu podia ver a raiva em seus olhos. Antes que ele pudesse reagir, pressionei meus lábios contra os dele. Eu os mantive lá e coloquei minhas mãos em seu cabelo.

— Eu não posso suportar a ideia de perder você. Eu não posso, Negan. Não faça isso comigo — eu odiava implorar, mas isso valia a pena. Ele valia a pena.

Negan se afastou lentamente de mim, sem dizer nada, abriu a porta e saiu. Meu coração dizia que ele estava indo fazer a coisa certa. Pelo menos eu queria que fosse.

A gif maravilhosa foi para compensar o capítulo tenso 😂

Beijos, até 😘

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