Capítulo 40
Dias depois
Carson disse que essa semana ainda eu tiraria os pontos. Cinco pontos ao todo, e eu só levei eles porque ele não estava achando a bala e teve que ficar procurando e isso fez o ferimento ficar maior.
Carson vinha me ver aqui, mas eu já estava cansada disso, e já que agora eu conseguia andar como um ser humano normal, eu fui até ele.
— Achei que fosse levar mais alguns dias, mas vamos tirar hoje — ele fala enquanto olhava minha coxa.
Esse lugar não me trazia boas recordações. Foi aqui que eu quase sangrei até a morte, que eu senti a pior dor da minha vida.
Ele comeca a cortar a linha e quando vejo que ele vai puxa-las, eu viro o rosto. A única coisa que eu sinto é elas sendo puxadas para fora da minha pele, mas sem nenhuma dor.
— Pronto — ele fala depois de um tempo e eu olho minha coxa, encontrando ali uma cicatriz vermelha, meio repuxada.
— Você pode pedir para conseguirem para você alguma pomada para diminuir a marca da cicatriz — Carson diz.
— Não me importo com a cicatriz — dou os ombros. Com tantas outras coisas mais importantes, eu não ia focar numa cicatriz.
— Você ainda tem aqueles itens que eu levei para você? — Carson pergunta. Ele deixou algumas coisas comigo, caso eu precisasse limpar o machucado — Estou precisando, posso ir buscar — ele oferece.
— Eu trago para você — eu faria qualquer coisa, estava de saco cheio de ficar parada e me sentir inútil.
Quando entrei em casa, vi Negan na sala. Corri e pulei no seu colo, enlaçando as pernas na sua cintura.
— Não sabia que tinha chegado — segurei seu rosto e o beijei.
Ele tinha saido a dois dias, e mesmo Negan dizendo para eu não me preocupar porque ele sempre volta, ele levava parte de mim junto quando saia daqui.
— Que bela recepção — ele resmungou com a boca na minha, me apertando mais contra seu corpo. Passei a mão em seus cabelos molhados do banho.
— Chegou quando?
— Pouco tempo. Você não iria me abraçar assim depois de dois dias sem banho — disse, me sentando em cima da mesa de jantar — E você, onde estava?
— Não notou nada? — olhei para minha coxa e seu olhar seguiu o meu.
— Achei que fosse demorar mais para tirar — comentou, analisando — Ficou bem em você — ele passa o dedo de leve em cima da cicatriz. Eu ergo as sobrancelhas, pensando que ele está debochando, mas ele mantém o semblante sério. Ele ainda se sentia culpado pelo que aconteceu.
— Você acha? — acariciei seu rosto e vi as nuvens de frustração que encobriam seus olhos se dissiparem. Negan abriu aquele sorriso de marca registrada que aqueceu meu coração.
— Estou surpreso pra caralho por você não ser coberta por cicatrizes, sendo louca assim — ele segurou minha mão que estava em seu rosto e a beijou.
— Eu sei me cuidar.
— Disso eu não tenho dúvidas.
— Deu tudo certo? — perguntei. Estava meio hesitante em querer saber, porque quando dava certo para Negan, não dava para as outras pessoas. Ele passou a mão no rosto antes de responder.
— Perdemos algumas pessoas.
— Sinto muito — disse dando um afago gentil em seu ombro — Vai ficar aqui?
— Ainda tenho algumas coisas para fazer — ele diz e eu concordo, dou um beijo nele e desço da mesa.
— Vou levar os curativos que Carson deixou aqui — aviso, indo para o banheiro.
— Por que ele não busca? — Negan me segue, se encostando no batente da porta.
— Porque eu posso fazer isso — dou os ombros, tirando as faixas, gaze e soro de dentro do armário.
— Acho que ele se apaixonou por você
— ele provoca, trancando a passagem da porta com seu corpo.
— Você é nojento. Ele poderia ser meu pai — disse com desgosto e ele riu.
— Não sei. Você tem uma queda por homens mais velhos — disse enquanto eu o empurrava do caminho. Ele não saiu, e eu olhei revirei os olhos para ele.
— Tenho uma queda por você — fiquei na ponta do pé para beijá-lo.
》》》
Negan e eu descemos juntos e nos separamos quando entrei no corredor da sala do Carson. Quando ia entrar, vi Bellamy entrando em uma sala no fim do corredor.
Eu não o via desde o dia do tiro, e queria muito falar com ele. Já faziam quase duas semanas desde o incidente.
— Oi — disse ainda na porta da sala. Era a sala do arsenal, onde nós tivemos a última conversa decente antes do que aconteceu no galpão.
— Emma — ele me olhou surpreso, desceu o olhar para minha perna e voltou para meu rosto — Como está?
— Bem — eu aponto para minha coxa
— Acabei de tirar os pontos — eu encosto a porta, queria conversar com ele e temia que alguém ouvisse sobre qual assunto era.
— Que bom — ele abaixou a cabeça e um minúsculo sorriso enfeitou seus lábios. Nos olhamos de novo e ficamos em silêncio.
— O que aconteceu com a sua mão? — perguntei, quebrando a tensão quando notei que sua mão parecia machucada.
— Foi só um corte — ele dá os ombros, olhando para a mão que está meio enrolada em o que parece ser um pedaço de pano rasgado. Coloquei as coisas que ia entregar a Carson em cima da mesa.
— Deixa eu ver — eu peço e pego sua mão. Bellamy me olha meio desconfortável enquanto eu desenrolo o pano da sua mão e vejo o corte diagonal que cobre grande parte da palma de sua mão.
Parecia que estava sem cuidados desde que cortou. O sangue já estava seco ao redor do machucado. O corte era fundo, mas não tão ruim para precisar de pontos.
— Não precisa — ele diz quando eu tiro uma gaze e umedeço com soro. Continuo segurando sua mão, ignorando o que ele disse.
— Como fez isso? — pergunto, passando a gaze úmida pelo corte.
— Vidro — ele diz, simplesmente.
— Obrigado por me ajudar naquele dia. Por ficar comigo lá... Eu lembro de tudo — coloquei a gaze suja na mesa. Ele ficou em silêncio enquanto eu enfaixava sua mão, mas eu sabia que estava me olhando.
— Só falou aquilo porque achou que eu fosse morrer ou você me perdoou mesmo? — perguntei, arriscando olhá-lo e confirmei seu olhar fixo em mim.
— Tudo que eu disse era verdade — sua voz grave resoou em meus ouvidos. Mesmo ele me perdoando, eu queria me explicar.
— O que eu falei aquele dia no galpão... Eu nunca faria aquilo. Eu me sinto horrível por...
— Eu sei — ele me interrompeu — Você só estava assustada. Pessoas fazem merdas quando estão assustadas.
Terminei de cuidar da sua mão, mas não a soltei.
— Me desculpe. Eu tento concertar as coisas mas não consigo — as palavras saíram rápidas, como flechas em direção ao alvo, e eu não pude contê-las.
— Talvez não devesse tentar concertar. Talvez assim seja melhor, você não percebe?
— Não percebo o quê?
— É assim que as coisas são. Você não pode lutar com algo maior que você — em seu tom não havia raiva, apenas tristeza.
— Ele é bom para mim. Eu sei que ele pode ser com as outras pessoas também — isso soava verdadeiro para mim, mas Bellamy me encarava como se eu tivesse falado a maior loucura do mundo.
— Você o ama? — Bellamy perguntou. Eu fiquei o olhando, não querendo responder. Eu o amava? Se não fosse amor, porque eu estava arriscando tanto?
— Você ama — ele confirmou — Por isso está lutando. O que você fez foi um erro, é verdade, mas suas intenções eram puras.
Eu não sabia se me fazia ficar melhor ou pior ele ser tão compreensivo. Mas isso não aliviava minha consciência.
— Eu não sei o que fazer. Eu trai os dois lados — minha voz estremece um pouco — Traí as pessoas de Alexandria estando com Negan e traí Negan dando informações a eles. Eu não sou uma boa pessoa.
— Quem somos e quem precisamos ser para sobreviver são coisas muito diferentes — ele sussurrou. Seus olhos estavam acesos como a luz do fogo —
O que você está fazendo... O que está tentando fazer é muito perigoso.
— Vale a pena o risco. Eu sei que vai dar certo.
Ele olha para mim com aqueles olhos profundos e escuros. Ele entendeu o que eu queria fazer, mas tinha certeza que não ia dar certo.
— Não quero que se machuque — seu lábio estremeceu, um rápido gesto que durou apenas um segundo, antes que ele recuperasse a compostura.
— O que você faria no meu lugar?
— É aqui que eu te dou conselhos e você finge que vai ouvir? Eu gosto desta parte — ele sorriu, quebrando qualquer resquício de tensão que restava.
Na mesma hora, o abracei com toda a minha força e Bellamy me abraçou de volta, afagando meus cabelos.
— Está tudo bem — ele sussurrou em meu ouvido, eu assenti e o abracei com mais força.
Bellamy sempre tem um jeito de me fazer sentir melhor, mesmo que ele não saiba. Eu o adorava, e ele nem precisava se esforçar para isso. Ele afastou o rosto, e ainda me abraçando, e passou o polegar pelo meu rosto. Seus olhos escuros não transmitiam mágoa pelo que eu fiz, havia outra coisa ali, mas quando fui me afastar, ele me segurou.
— Eu nunca estive bravo — ele começou, a voz baixa e grave — A única coisa que eu pensei era que você poderia se machucar. Isso me deixou com medo — a preocupação em sua voz me faz querer segurá-lo, mostrar-lhe que ia ficar tudo bem.
— Eu sei, eu... - paro, sem saber descrever meus pensamentos. Seu olhar se desloca para cada um dos meus olhos enquanto ele aproxima o rosto do meu, fazendo meu sangue gelar.
— Bellamy — eu empurro seu ombro, gentilmente me afastando dele, quando alguém abriu a porta. Dwight.
Ele nos olhou com as sobrancelhas franzidas, antes de abrir a boca e falar.
— Negan está chamando todos — ele continuou na porta, me esperando sair.
Dwight e Bellamy desceram juntos, e eu deixei as coisas com Carson e também desci, vendo todos reunidos no pátio da fábrica. Encontrei Jasper e fiquei ao seu lado.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei.
— Não que eu saiba — Jasper diz.
Assim que Negan apareceu na plataforma de ferro, todas as conversas cessaram. Me dava um frio na barriga a forma como as pessoas o respeitavam. Com uma carranca, ele correu os olhos pelas pessoas, até chegar em mim, mas logo desviou e começou a falar.
Por fim o motivo de reunir a todos foi para comunicar que haveria mais grupos saindo para fazer buscas e que quem se candidatasse, ganharia mais pontos do que ficar trabalhando no Santuário. Negan deu a notícia saiu, deixando as pessoas cochichando.
— Onde está Lauren? — perguntei quando começamos a sair do pátio.
Seu olhar voou para o outro lado, e eu vi Lauren encostada em uma parede falando com outra mulher. Eu puxei Jasper num canto.
— Sei que as coisas estão confusas. Sei como você se sente. Mas você não pode se afastar dela agora.
— Você nunca vai entender — ele cruzou os braços, olhando para frente. Eu sabia que era difícil para os dois, e eu realmente nunca entenderia, mas eu queria ajudar.
— Jasper — eu o chamo — Você não poderia ter feito nada. Mas você pode agora. Pode cuidar dela.
Vi que Lauren começou a subir as escadas sozinha. Eu puxei Jasper, indo atrás dela.
— Lauren — a chamei antes de ela virar o primeiro corredor. Ela olhou para trás, cerrando os olhos quando viu Jasper.
— Eu e Jasper vamos jogar poquêr — eu olho para Jasper, que franze a testa sem entender — Quer ir?
— Claro — ela parou ao meu lado. Lauren parecia melhor, já estava com aquele ar desafiante que tinha quando eu a conheci. Ela era direta, e se não quisesse mais nada com ele, ia dizer um sonoro não e sai andando.
— Então vamos — eu disse quando Negan apareceu ao meu lado.
— Você não vai. Nós estamos subindo
— Negan colocou a mão na minhas costas em advertência.
— Pode subir e me esperar — disse no mesmo tom arrogante que ele usou.
Continuamos nos encarando, e uma tensão que eu não sentia a muito tempo pairou entre nós.
O problema não era eu ir, eu não queria ir de qualquer forma, fiz isso por Jasper e Lauren. O problema foi Negan dizer que eu não iria.
— Tudo bem, vamos eu e Lauren — Jasper diz, tranquilizando, mas na verdade ele estava com medo da forma que eu e Negan estávamos nos olhando.
— Boa noite, casal — Negan disse dando um tchauzinho enquanto eles se afastavam.
Com um empurrão, eu tirei a mão dele de mim. Eu queria xingá-lo e dizer o quanto ele foi idiota em me tratar assim, como se mandasse no que eu faço, mas fiz o que ele odeia mais ainda: dei as costas e sai andando.
No próximo teremos pov do Negan 😘
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